terça-feira, outubro 05, 2010

Caracas na rota do terror basco

Caracas na rota do terror basco
Membros do ETA confessam ter recebido treinamento militar na Venezuela; Chávez nega
Priscila Guilayn - Correspondente • MADRI – O Globo
Os dois supostos membros do grupo separatista basco ETA,
que disseram ter recebido treinamento na Venezuela
(Ministério do Interior/EFE)
 Apesar do recente cessar-fogo e do desejo expresso pelo grupo separatista basco ETA de entrar legalmente na arena política, a Justiça da Espanha não dá trégua à militância: em documentos divulgados ontem, promotores públicos afirmam que dois integrantes do ETA, presos na semana passada, confessaram ter recebido treinamento militar na Venezuela. A revelação foi rechaçada com veemência pela Chancelaria venezuelana.
Mas, além de golpear novamente seu velho inimigo interno, o governo espanhol espera renovar a pressão diplomática internacional para que o presidente Hugo Chávez — já acusado de permitir a ação de militantes armados em seu território no passado — se explique.
— Essas são declarações as quais não se pode dar credibilidade. O governo não está vinculado de maneira alguma com nenhuma organização terrorista ou com o grupo basco ETA — assegurou o embaixador venezuelano em Madri, Isaías Rodríguez, à Rádio Nacional da Espanha.
Em Caracas, o Ministério das Relações Exteriores, também negou qualquer envolvimento e atacou a imprensa. Num comunicado, a Chancelaria afirma que as acusações são “uma campanha de desprestígio adiantada por alguns meios de comunicação espanhóis”.
Os militantes foram detidos no último dia 29 em Guipuzcoa, no País Basco, numa operação que apreendeu 100 quilos de explosivos.
A ação foi determinada pelo juiz Ismael Moreno, que pediu a prisão de Juan Carlos Besance e Xavier Atristain — membros da unidade chamada Comando Imanol — por porte de armas e explosivos.
A dupla foi treinada na França e na Venezuela no verão de 2008 antes de regressar à Espanha.
Na Venezuela, teriam participado de um curso para decifrar mensagens, além de aprender limpeza e desmontagem de armas e posições de tiro. As investigações apontam José Lorenzo Aiestaran Legorburu, que já está preso, como um dos organizadores do curso.
O outro seria Arturo Cubillas, de 46 anos, que ocupa cargos de responsabilidade no governo de Hugo Chávez desde 2005. Primeiro, foi nomeado diretor do escritório de Administração e Serviços, e atualmente é responsável do departamento de segurança do Instituto Nacional de Terras, ambos subordinados ao Ministério da Agricultura. Sua mulher, a jornalista Goizeder Odriozola, filha de bascos, é diretora do gabinete de relações públicas do mesmo ministério e braço-direito do vice-presidente venezuelano, Elías Jaua.
Cubillas teve sua prisão decretada em março, mas até agora o governo venezuelano se recusa a extraditá-lo. Ele foi processado junto a outros cinco membros do ETA e sete das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) pelo juiz espanhol Eloy Velasco, da Audiência Nacional — a Suprema Corte do país.
Cubillas foi deportado da Argélia à Venezuela durante o segundo mandato do então presidente venezuelano Carlos Andrés Pérez (1989-1993) — resultado de um acordo político entre Argélia, França, Espanha e Venezuela. Como ele, mais de 40 membros do ETA foram enviados ao país latino-americano durante o mandato do premier espanhol Felipe González (1982-1996).
Atualmente, calcula-se que cerca de 60 “etarras” vivam na Venezuela, embora a maioria deles não esteja na ativa. Os serviços de inteligência espanhóis, no entanto, denunciam que, nos últimos anos, vem ocorrendo “um constante traslado de membros do ETA que estavam no México e na França para a Venezuela”.
Para o governo espanhol, a revelação indica ainda que a cooperação entre as polícias francesa e espanhola tem dado resultados no sul da França — antigo bastião da ala responsável pelas estratégias do ETA.
— Ambos estão vinculados a dois atentados, um frustrado e outro no qual um membro da UPN (partido União do Povo Navarro) foi morto na explosão de uma bomba colocada debaixo de seu carro — afirmou o ministro de Interior, Alfredo Pérez Rubalcaba.
O governo do socialista José Luis Rodríguez Zapatero já havia pedido explicações em março passado a Caracas. O governo Chávez, no entanto, considerou as acusações inaceitáveis e tendenciosas.
Desde dezembro de 2008, Velasco vinha investigando uma denúncia de intercâmbio segundo a qual integrantes das Farc e da Frente de Liberação Bolivariana seriam treinados pelo ETA em cursos sobre manipulação de explosivos na Venezuela.
— O governo espanhol deveria atuar de forma enérgica e emitir imediatamente um protesto diplomático com todas as suas consequências.
Não pode mostrar medo nem temor na hora de defender os interesses de nosso país — afirmou Jorge Maragas, coordenador de Relações Internacionais do conservador Partido Popular, na oposição.
Até então, as provas de utilização da Venezuela como quartel-general do ETA consistiam em documentos confiscados durante apreensões na França e e-mails guardados pelo líder das Farc, Raúl Reyes, morto pelo Exército colombiano.

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