terça-feira, agosto 31, 2010

Solda, para O Estado do Paraná

Argentina ameaça bater EUA como 2º maior importador

Argentina ameaça bater EUA como 2º maior importador
Vizinhos já superam americanos em alguns meses na compra de itens brasileiros

Para Rubens Ricupero, produções argentina e brasileira se tornaram mais concorrentes do que complementares
ÁLVARO FAGUNDES DE SÃO PAULO VERENA FORNETTI DO RIO – Folha de S. Paulo
Diz a anedota que, no início do século passado, o barão do Rio Branco falou a diplomatas argentinos que eles não poderiam esperar o mesmo tratamento dado aos norte-americanos, que compravam mais trigo do Brasil.
No mês passado, a situação se inverteu. A Argentina ficou com 9,2% das vendas do Brasil ao exterior (ante 8,9% dos norte-americanos) e ameaça se tornar o segundo maior mercado comprador dos produtos brasileiros -a China é o primeiro.
De dezembro para cá, o Brasil vendeu em três meses mais para a Argentina que para os EUA, algo impensável em outros anos. Em 2002, por exemplo, um quarto das exportações brasileiras foram para os EUA, enquanto 4% tiveram como destino o país vizinho, que vivia grave crise, com queda de 10,9% no PIB.
Mas, mesmo depois que a economia argentina melhorou, os EUA mantiveram sempre boa vantagem. Esse cenário, porém, foi sendo corroído aos poucos pela China, que, em 2009, ganhou o posto de maior importador brasileiro. De 25%, em 2002, a exportação aos EUA foi reduzida a 10% em 2009. Enquanto isso, as vendas para a Argentina ficaram praticamente estáveis, oscilando em torno de 8% e 9%.
CRISE GLOBAL
O professor Antônio Correa de Lacerda, da PUC-SP, afirma que a situação se relaciona com a recuperação frágil dos Estados Unidos e da Europa após a crise. "A tendência é que não só a Argentina mas também outros países emergentes ganhem espaço na pauta de exportações brasileiras."
O embaixador Rubens Ricupero tem dúvidas de que a Argentina se manterá como segundo maior comprador do Brasil. A China tem ampliado as vendas para o país vizinho e, segundo Ricupero, nos últimos anos, as produções argentina e brasileira se tornaram mais concorrentes que complementares. Os dois países são grandes exportadores de commodities, e a Argentina está buscando a reindustrialização após sucessivas crises.
"Os argentinos dizem que não querem trocar trigo por aço. E que não querem ser a granja da América do Sul", afirma o embaixador. Para ele, uma relação comercial mais profícua depende de um aprofundamento do Mercosul, com a criação de órgão de solução de controvérsias e maior integração das cadeias produtivas.
PERSPECTIVAS
Segundo relatório do Morgan Stanley, a Argentina caminha para ser um dos países com maior crescimento na América Latina neste ano. A análise do banco aponta o aquecimento da economia brasileira como uma das razões mais importantes para a recuperação do país vizinho após a crise internacional. "A recuperação das exportações agrícolas e industriais para o Brasil é um importante motor da expansão argentina", diz o relatório. Os outros fatores são a demanda por commodities no mercado internacional e o avanço do consumo interno.

Envelhecimento da população desafia o mercado de trabalho

Envelhecimento da população desafia o mercado de trabalho
Interesse pela mão de obra de idosos cresce, mas não acompanha acelerado avanço da faixa etária
Chico Otavio – O Globo

Procura-se profissional acima dos 60 anos... Para um mercado de trabalho que insiste em enxergar o Brasil como um país jovem, o anúncio de emprego pode sugerir um trote. Mas não é. Gente como o comerciante Antônio Fiori, a empresária Márcia Lima Gabionetta e a assistente social Renata Hauck faz parte de um pequeno, mas promissor, grupo de empregadores que resolveu trocar o vigor da juventude pela experiência e a assiduidade dos mais velhos. Para as vagas abertas em seus negócios, eles optaram pelo trabalhador idoso.
As projeções indicam que o país a ser revelado pelo Censo 2010 do IBGE terá um contingente de 14 milhões de idosos. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) reforçam o fenômeno: se a população total cresce à taxa de 0,9% ao ano, o incremento de pessoas acima dos 60 anos avança quatro vezes mais (3,8% anuais).
Para muitos, os números sinalizam um problema quando cruzados com as contas da Previdência ou com o sistema de saúde. Há outros, porém, que preferem entendêlos como nicho de negócios: — O retorno é garantido. Os idosos são pessoas responsáveis e centradas. Não dão trabalho, não faltam. Já os jovens têm outras ambições, como as baladas do fim de semana — afirma o comerciante paulista Antônio Fiori, dono de uma fornecedora de areia e pedras, que acaba de contratar um idoso para gerente.
Como o país está envelhecendo, o desafio civilizatório que se impõe, preveem os demógrafos, é aumentar a idade produtiva da população. Em vez de estimular a ociosidade da terceira idade ou alterar o fator previdenciário, para evitar que o equilíbrio atuarial fique insustentável, a alternativa seria dotar os idosos de capacidade física para adiar a retirada da vida produtiva.
— O Brasil não estava preparado para envelhecer. Se a perspectiva era se aposentar e viver no máximo oito anos, hoje a pessoa chega a ter mais 20, 30 anos de vida. Nenhuma sociedade pode jogar fora essa mão de obra — diz o médico Renato Veras, diretor da Universidade Aberta da Terceira Idade (Unati/Uerj).
No caminho de volta ao mercado, o aposentado tem deixado a carteira de trabalho em casa. Quase metade dos trabalhadores ocupados acima dos 60 anos (44%) é autônoma, enquanto 31,4% são assalariados, 9,8%, empregados domésticos e 9,7%, empregadores.
— Há dois tipos de idosos no mercado informal: o mais escolarizado, que geralmente é um profissional liberal e se beneficia de sua experiência, e o menos escolarizado, que encontramos muito na agricultura — explica a economista Ana Amélia Camarano, coordenadora de Pesquisa em População e Cidadania do Ipea.

No ano passado, 55% da população masculina entre 60 e 69 anos ainda trabalhavam. Muitos, principalmente nas faixas de renda mais baixas, prolongaram a idade produtiva para reforçar a diminuta aposentadoria quando a família cresceu.
Um deles é Horacildo de Castro, de 69 anos, que virou homemplaca pelas ruas de São Paulo.
Ex-metalúrgico da Mafersa, Horacildo passou em casa os primeiros anos da aposentadoria, na década de 90. Até que a sua mulher resolveu adotar uma recém-nascida.
Desde então, o velho operário do aço trabalha com outros metais: fica nove horas por dia na rua para ganhar R$ 20 anunciando a compra de ouro, platina e brilhantes.
— Sem o biscate, não daria para criar a menina. Carrego a placa faça chuva, faça sol. Os seguranças das lojas vivem me tocando para outro lugar — diz o homem-placa, cuja filha de criação já tem 15 anos.
Mas, apesar das intempéries, Horacildo segue em frente. E é isso que encanta os empregadores que têm optado pela terceira idade.

Com o idoso, não há tempo ruim.
Principalmente quando o desafio profissional é conviver com pessoas da mesma idade.
A assistente social Renata Hauck ajudou a tia, médica, a procurar uma aposentada para ser funcionária do seu consultório, em Belo Horizonte: — Jovens têm sempre problemas.

O namorado ou o filho pequeno.
Se faltam, não há como minha tia fazer os procedimentos do consultório.
Aposentada não tem filho pequeno. Contratamos uma senhora simpática, com experiência de vida. Passa algo agradável às pacientes na sala de espera.
O aposentado representa um baixo custo. Não faz questão de carteira assinada e vê o salário como um complemento de renda. Há casos em que nem salário é necessário.
Com vasta experiência acumulada, saúde e vontade de contribuir, o aposentado abraça o voluntariado.
Na prefeitura de Niterói, por exemplo, os responsáveis por licitações suam frio quando chega o aposentado Guilherme Magalhães.
Ele é um dos trabalhadores idosos qualificados que fazem da experiência a senha para o reingresso na vida produtiva. Ex-gerente de Negócios do Banco do Brasil, onde trabalhou por 32 anos, Magalhães é hoje fiscal voluntário do Observatório Social da cidade, ONG de olho nas contas municipais.
— As pessoas não acreditam que você pode mudar a realidade.
Além disso, precisamos nos sentir produtivos, mesmo sem remuneração — orgulha-se Magalhães.
Não são poucos os casos de aposentados que, sentindo-se produtivos, encontraram as portas do mercado fechadas ou quebraram a cara ao tentar um negócio. O paulista Luiz Pinto Cepinho, também bancário, aderiu ao plano de demissões voluntárias do BB, montou restaurante e faliu.
Hoje, sobrevive como fotógrafo de festas, e luta para voltar ao BB pela via judicial.
Demissões espontâneas, aposentadoria compulsória e outros mecanismos encurtam a vida ativa de milhares de trabalhadores.
Há lugares, porém, em que a experiência com os mais velhos foi tão boa que motivou a continuidade: — Perdi um serralheiro que ainda trabalhava quando morreu aos 80. Para substituí-lo, quero outro idoso — diz a empresária Márcia Lima Gabionetta, dona de uma fábrica de tendas e barracas para feiras.

Sérgio Paulo, para o Jornal Monte Roraima

TEATRO ISRAELENSE SE NEGA A FAZER APRESENTAÇÃO PARA COLONOS

Teatro israelense se nega a fazer apresentação para colonos
30 de agosto de 2010  06h03


Vista de casas da colônia israelense de Ariel, em foto de arquivo
Cerca de 50 atores e profissionais do teatro israelenses se negaram a fazer um espetáculo em uma colônia judia em território palestino, reabrindo o debate sobre a legitimidade do boicote interno à política de ocupação.
O anúncio feito na semana passada de que as principais companhias de teatro nacionais farão apresentações no novo centro cultural do assentamento de Ariel, no norte da Cisjordânia, foi seguido quase imediatamente de declarações de vários atores de que não atuariam ali por motivos ideológicos.
"Os colonos e os assentamentos não são coisas que me divirtam e eu não quero diverti-los", declarou Yousef Sweid, membro de um grupo que se apresenta no Teatro Habima de Tel Aviv.
Às primeiras recusas se somaram outras e já são 53 os diretores, roteiristas e comediantes que assinaram um texto rejeitando atuarem na colônia.
A recusa gerou um conflito nas companhias que já haviam se comprometido a fazer apresentações na nova sala, e levaram o chefe do Governo, Benjamin Netanyahu, a ameaçar retirar o financiamento aos teatros com atores rebeldes.
O centro cultural de Ariel, com capacidade para 540 lugares e que deve ser inaugurado em 8 de novembro, já começou a vender entradas e anunciou um programa com oito shows de companhias do Habima e o HaCameri, em Tel Aviv; o Teatro de Beer Sheva e o Khan de Jerusalém.
O Governo israelense tentou frear o incipiente boicote com uma taxativa declaração por parte da ministra de Cultura e Esporte, Limor Livnat, que acusou os opositores de "dividir à sociedade israelense", pediu para que separem política de arte e assegurou que "todo israelense tem direito de desfrutar da cultura em qualquer lugar".
Os signatários da carta, entre eles várias estrelas como o diretor, roteirista e escritor Yehoshua Sobol e o ator Yossi Pollak, não questionam o direito dos colonos de desfrutar do teatro, mas defendem seu direito de opor-se à colonização.
Outros artistas, como Gila Almagor, vencedora do Prêmio Israel de teatro, não referendaram a carta, mas asseguram que, da mesma forma, não atuarão nos assentamentos em territórios palestinos.
"Sempre me opus à ocupação e me recusei a atuar além da linha verde (divisão estabelecida após o cessar-fogo da guerra de 1948).
Não irei a locais que contrariam minha visão de mundo", declarou ao jornal "Haaretz" a atriz veterana, que acrescentou que "não pediria aos atores religiosos que trabalhassem no dia do shabat", dia sagrado no judaísmo.
O boicote foi alvo de debate no conselho de ministros e levantou discussões entre os membros do Gabinete.
Netanyahu ameaçou retirar o financiamento dos teatros em que os atores boicotem o centro de Ariel e assinalou que, ao ser Israel "objeto de um ataque de deslegitimação por parte de diferentes elementos na esfera internacional (...) o último que precisa é uma tentativa de boicote interno".
O ministro das Finanças, Yuval Steinitz, disse que "Ariel é uma comunidade em Israel" como qualquer outra e pediu a demissão dos que descumprirem seus contratos.
A mesma exigência é feita pelos representantes dos colonos, que asseguram que os rebeldes "devem ser demitidos imediatamente porque suas companhias são financiadas com impostos que também são pagos pelos cidadãos da Judéia e Samaria (nomes bíblicos para a Cisjordânia)", disse à Efe Aliza Herbst, porta-voz do conselho de colonos Yesha.
Os atores "têm de dedicarem-se a atuação e manterem-se longe da política, porque nem têm formação para isso, nem são personagens políticos, nem têm dotes analíticos brilhantes. Este não é seu campo, mas o da atuação e a isso devem se limitar, não fomentar sanções culturais contra uma parte da população".
O conselho de assentamentos pediu ao público israelense que cancele suas contribuições aos teatros e boicotem as obras daqueles que se neguem a atuar em Ariel.
No outro lado está o jornalista israelense Gideon Levy, quem diz que o debate vai demonstrar se em seu país há "um teatro genuíno ou simplesmente um teatro de marionetes".
"Há uma diferença moral entre Israel soberano e legítimo e as áreas sob ocupação. Entre atuar aqui ou ali, no coração de um assentamento ilegal, construído em uma terra roubada, em um show preparado para proporcionar momentos agradáveis aos colonos que tiveram suprimidos todos os seus direitos", argumenta.
EFE - Agência EFE - Todos os direitos reservados. 

Areia nos olhos do público

Areia nos olhos do público
EDITORIAL O Estado de S. Paulo 31/08/2010
A Receita Federal é um curioso organismo. Trata com implacável rigor o contribuinte, tido por definição como um sonegador em potencial a quem incumbe provar, obedecendo a exigências não raro bizantinas, que está com a sua vida fiscal em ordem. Ao mesmo tempo, para se autoconceder um atestado de inocência política, não se vexa de alegar que o vazamento das declarações de renda de pessoas ligadas ao candidato presidencial do PSDB, José Serra, se explicaria pelos indícios de existência de "um balcão de compra e venda de dados sigilosos", na delegacia do Fisco em Mauá, na Grande São Paulo, com vítimas a granel.
As palavras são do corregedor-geral do órgão, Antônio Carlos D"Ávila. Ele ecoou a posição do secretário da Receita, Otacílio Cartaxo, que disse não acreditar que tenha havido "fins específicos de natureza político-partidária" na devassa dos dados dos companheiros, amigos e familiares do ex-governador Serra, em outubro do ano passado. Tanto assim que, na mesma época e na mesma repartição, 140 outros contribuintes, entre eles os donos das Casas Bahia e a apresentadora de TV Ana Maria Braga, também tiveram os seus registros vasculhados em 320 acessos - dos quais 206 nos computadores de apenas duas servidoras. Destes, 151 não se justificariam.
Para jogar areia nos olhos do público e desmoralizar a denúncia de que Serra foi alvo de uma torpeza com intuitos eleitorais - numa repetição do golpe dos aloprados de 2006, que também o visava -, a cúpula da Receita preferiu se expor à desmoralização, ao mostrar como são porosas as barreiras do outro lado dos seus ávidos guichês que deveriam proteger a privacidade dos cidadãos da bisbilhotice dos próprios servidores públicos. Acionados a toque de caixa pelo governo, inquieto com a frouxidão das suas reações ao escândalo, os hierarcas do Fisco subitamente encontram a verdade que, na versão anterior, demandaria exaustiva investigação.
Essa história se desenrola há três meses. Em maio, a revista Veja informou que operadores da candidatura Dilma Rousseff tratavam de montar um dossiê com evidências comprometedoras para o seu adversário. A notícia custou a cabeça do jornalista que cuidava da assessoria de imprensa da campanha petista - y de otras cositas más. Em julho, o jornal Folha de S.Paulo revelou que um setor da equipe de Dilma estava de posse de cópias de declarações de renda do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira. Na semana passada, enfim, o Estado adiantou que, segundo apurou a Corregedoria-Geral da Receita, foi também violado o sigilo de outros serristas.
Salta aos olhos a quem o golpe sujo poderia interessar. A alegação da Receita, que menciona o comércio de informações confidenciais com "pagamento de propina", em nada altera a substância dos fatos. Os dados passíveis eventualmente de servir de munição à campanha da candidata do presidente Lula podem ter sido oferecidos ou procurados, contra pagamento ou de favor. Em qualquer das hipóteses, a mercadoria chegou ao destino. O acesso a declarações de renda de terceiros - de muitos terceiros, a julgar pelo material clandestino que se vende em plena rua - é uma história à parte. Não tem que ver com a disputa pela Presidência da República.
O que estarrece na série de ilícitos com essa ou aquela intenção é a facilidade com que podem ser cometidos nas tumultuadas entranhas do Fisco. Reportagem publicada domingo neste jornal, com base em depoimentos de analistas tributários e servidores ouvidos no inquérito sobre a violação dos dados do tucano Eduardo Jorge, mostra como senhas individuais de acesso ao acervo de declarações armazenadas em computador passavam de mão em mão e ficavam anotadas em agendas ao alcance de todos quantos passassem pelas mesas dos colegas.
"A segurança dos arquivos da Receita é como queijo suíço, com buraco para tudo", resume o advogado de uma das funcionárias investigadas.
Se, causado por isso ou propiciado por isso, se formou no Fisco "um balcão de compra e venda de dados sigilosos", é de perguntar o que o seu titular, Otacílio Cartaxo, espera para se demitir. Só não é preciso perguntar por que o presidente Lula ainda não mandou demiti-lo.

Miran, para Charge Online

DESORDEM PANDÊMICA

DESORDEM PANDÊMICA
Mario Cesar Flores O Estado de S. Paulo - 31/08/10
A confusão entre licenciosidade e liberdade, inerente ao caráter coletivo brasileiro, estende-se da má educação nos costumes à pusilanimidade com o irregular, à prática pandêmica do ilícito. Mais ainda porque o poder público claudica na contenção do delito, quando não o pratica...
Esta é a realidade: nossos vários estratos sociais tendem ao desrespeito à lei nos níveis à sua conveniência ou visão da vida e de acordo com sua sensação de impunidade. Exemplo simbólico: em arrastão no Rio, um motorista de classe média declarou que "os bandidos se aproveitam que temos de reduzir a velocidade porque aqui há radar"... Ou seja, para ele, arrastão é crime e seus autores são bandidos, já o excesso de velocidade só seria delito e ele, infrator porque há o radar. O elenco da orgia vem crescendo "democraticamente", sem discriminação de classe, idade, raça, sexo e religião, das elites ao povo destituído, da adolescência inimputável à provecta idade, do delito vulgar (estacionar na calçada, não usar a faixa de pedestre...) à violência e criminalidade urbana, à desordem rural, à sonegação de impostos e, emblematicamente nefasta, à venalidade na vida pública.
No cotidiano da mídia, que vem banalizando o irregular: assassinatos, assaltos, invasões, saques, arrastões, vandalismo (até no Congresso Nacional, alvo de vandalismo cujo líder transita com desembaraço no poder público), roubos, bloqueios, sequestros, tomada de reféns, agressão ambiental, drogas, pirataria, aberração sexual, ataques à polícia (ao invés de medo da polícia...), improbidade no mundo político e no serviço público, e por aí vai. A violência exacerbada manifesta-se em grupos criminosos do tipo PCC e CV (cujas "guerras" territoriais se assemelham às dos gângsteres de Chicago nos 1930) e alguns delitos são praticados com aspectos (como foi a agressão ao Congresso) similares aos das SA nazistas, que se valiam da tolerância do regime de Weimar.
A leniência com o desrespeito à lei é bem refletida neste fato: há quem aceite, no poder público e na sociedade, ser tolerável - ou até correto - que centenas de "sem-terra", com seus inocentes instrumentos letais de trabalho (foices, machados e facões), ameacem empregados de fazenda invadida e a vandalizem, mas veja como violência a defesa contra a ameaça. No clima atual de complacência e até concordância com o delito, Lampião provavelmente seria visto como paladino da justiça social rural...! Em evento de reintegração de posse, um líder do MST declarou: "Estão criminalizando os movimentos sociais." Errado: criminalizam-se seus métodos delituosos, e não os movimentos sociais, que, de fato, não têm inspiração criminosa (na acepção rigorosa do termo), mas desafiam a ordem do Estado de Direito. Todos rejeitamos hoje a frase "a questão social é caso de polícia", atribuída a Washington Luís, mas essa rejeição não significa admitir o delito, em vez do Estado de Direito, como a solução de problemas sociais.
A miséria, a exclusão e o correlato vácuo mental alienante, agravados por expectativas induzidas pela propaganda paranoica não acompanhada pela capacidade de satisfazê-las, são por vezes apontados como a razão da violência e da criminalidade. Elas realmente as estimulam, há que reduzi-las e criar expectativas positivas, mas a ilegalidade deve ser tratada pelo que ela é. Ademais, miséria e exclusão não são causas deterministas, tanto assim que a maioria do povo pobre não vive fora da lei, é comumente vítima dos fora da lei. Tampouco explicam boa parte da permissividade vigente: muitos delitos, do desrespeito às regras do trânsito à criminalidade cibernética e à corrupção pública, são cometidos por pessoas que nem de longe nelas se enquadram.
Já é perigosa rotina a indiferença pelo anormal no comportamento societário, no qual se insere o descomprometimento com valores como casamento e família, profissão, emprego, carreira, trabalho e estudo. Já é usual ver como "caretice" respeitar a lei na rotina do cotidiano (respeitar o sinal vermelho...) e ser aceito como permitido o que não é ostensivamente reprimido (limite de velocidade só vale onde há radar ou é compulsado por quebra-molas...). O irregular é diluído no cadinho da leniência, condenado ao esquecimento e logo sucedido por espetáculo novo. Nos noticiários sensacionalistas de rádio e TV é comum o predomínio dos delitos e alguns lhes são quase inteiramente dedicados, com nuanças deprimentes, como é a indisfarçável frustração do apresentador quando os fatos não resultam graves: o dramático dá audiência, o trivial não tem apelo.
É comum nesses noticiários a sensacionalização dos erros da polícia. Erros do nosso sistema policial, de fato, ocorrem com frequência, do âmbito tático (preparo profissional e equipamento) ao moral, quando não até criminoso, mas é ilógico seu vilipêndio sistemático. As balas perdidas são a priori atribuídas aos policiais (os bandidos atirariam com mais precisão, ou talvez porque eles não pagam indenizações, já o Estado está sujeito a pagá-las...). Simbólico desse ânimo coletivo: sepultamento de bandido é atendido por grande número de simpatizantes levados ao cemitério por transporte organizado - quem o paga...? -, já o de policial morto no confronto, apenas pela família e representação da corporação.
A democracia pressupõe a liberdade dentro da lei. Ou ocorre a contenção da metástase generalizada da desordem, violência e criminalidade ou, mais dia menos dia, a saturação da conformidade será atingida nos menos propensos à permissividade (que existem em grau variável em função de suas concepções sobre o certo e o errado, comumente ajustadas às conveniências de sua vida...) e com ela o aumento da sedução da aceitabilidade do componente autoritário do poder, como alternativa à esbórnia. Mais dia, menos dia, a licenciosidade acaba prejudicando a liberdade.

BOLERO-RAVEL

Pescador e corvos-marinhos, China


Fotografia por Chris McLennan  Um pescador no rio Li perto Xingping, Guilin Province, China, usa os corvos-marinhos para ajudá-lo. Os peixes são atraídos pela luz da lâmpada, e os corvos-marinhos, que têm anéis ao redor de seus pescoços para impedir que engolam os peixes maiores, pegam o peixe e os trazem para a balsa. Uma vez que o pescador tem o suficiente para alimentar sua família os anéis são removidos e as aves são alimentadas.

Waldez, no Amazônia Jornal

O admirável 'nanomundo'

O admirável 'nanomundo'

MARCO AURÉLIO PACHECO e ANDERSON SINGULANI  - 30/08 às 16h06

Para compreender o potencial da nanotecnologia e seu impacto econômico na sociedade é preciso conhecer a magia que há nesta escala dimensional regida pela física quântica.
Na escala nanométrica, que é um bilionésimo do metro, as propriedades químicas, elétricas, magnéticas, mecânicas e ópticas da matéria não são as mesmas das escalas maiores, que vão dos micrômetros até objetos visíveis a olho nu. E isso faz toda a diferença.
Em outras palavras, o comportamento dos elétrons e outras partículas elementares dentro da matéria é influenciado por variações no tamanho ao seu redor.
Com o uso consciente das propriedades únicas da escala nanométrica, é possível projetar novos materiais a partir de nanopartículas, com a liberdade de se escolher as características desejáveis para o material nas escalas micro e macroscópicas. Tais como capacidade de carga, magnetização, temperatura de fusão, condução de eletricidade, entre outras, sem alterar a composição química dos elementos utilizados.
Pinturas com revestimentos de nanopartículas contra arranhões, corrosão e neutralização de elementos poluidores, janelas autolimpantes, língua eletrônica, filtros solares com alto poder de absorção de raios UV e remédios mais sofisticados, porém menos nocivos, já são realidade.
O impacto das inovações da nanotecnologia na vida cotidiana é inevitável e vai impulsionar diversos setores econômicos, aproximando-nos de novos paradigmas na eletrônica, medicina e engenharia, o que nos levará em breve a tecnologias tão sonhadas como o computador quântico.
É um caminho sem volta, onde os ganhos para a Humanidade serão largamente ampliados através da oferta de produtos inimagináveis atualmente.
Uma característica das nanopartículas muito peculiar e desconhecida para a maioria é a sua enorme área de superfície quando comparada com seu volume.
Em outras palavras, a maioria dos seus (poucos) átomos está disposta na superfície da partícula. Isso as torna ideais em múltiplas aplicações (produção de catalisadores, filtros solares, transporte de fármacos e armazenamento de energia química).
Por exemplo, quanto mais átomos na superfície de um material, naturalmente, maior será a reação química com outros elementos no caso de catalisadores ou maior o bloqueio aos raios ultravioletas em filtros solares.
Outro ponto fundamental quando estudamos o universo em uma escala tão reduzida é a capacidade de auto-organização da matéria, similar ao que ocorre com as entidades biológicas.
Mecanismos respondem a estímulos do ambiente sem a necessidade de um controle consciente - como por exemplo a resposta imunológica do corpo a uma doença qualquer.
Nessas situações, em nenhum momento nós obrigamos o nosso organismo a reagir a um vírus, a uma bactéria ou a qualquer outra praga que nos ataque.
A resposta do nosso corpo ocorre de maneira auto-organizada e independente.
Essa propriedade das nanoestruturas auxilia os cientistas a combinarem material inorgânico em nanoescala às células vivas.
E é igualmente útil para criar novos materiais empregando os próprios recursos de auto-organização da matéria em escala nanométrica - assim como ocorre na natureza.
Diante de todo esse cenário e de suas possibilidades, só nos resta pedir emprestado ao escritor Aldous Huxley o título de sua magnífica obra (sem fazer qualquer paralelo com a história) para descrever a nanotecnologia - "Admirável mundo novo".
MARCO AURÉLIO PACHECO é coordenador do Curso de Engenharia em Nanotecnologia do Centro Técnico Científico da PUC-Rio (CTC/PUC-Rio). ANDERSON SINGULANI é engenheiro. 

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