quinta-feira, setembro 30, 2010

Folhas de Outono, Japão

Photograph by Michael Yamashita, National Geographic

Vale tudo por este malote

Vale tudo por este malote
Por trás da crise que derrubou Erenice Guerra estão a disputa entre PT e PMDB pelos Correios e a criação de uma nova estatal. Pode ser só o começo
Marcelo Rocha e Murilo Ramos – Revista ÉPOCA
Em junho, em uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ministros e o então presidente dos Correios, Carlos Henrique Custódio, a então chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, afirmou que os Correios enfrentavam uma crise operacional. Para exemplificar o quadro e constranger Custódio, Erenice contou a história de um envelope enviado por Sedex a ela a partir de Santo Antônio de Posse, no interior de São Paulo, para Brasília. Segundo ela, o pacote teria demorado entre quatro e cinco dias para chegar. Lula ficou mais impressionado com a origem do documento do que com a informação da demora do Sedex.
“Santo Antônio de Posse é a terra do Neto (ex-jogador do Corinthians e comentarista de futebol)”, disse Lula. “Mas o que é que você tem lá?” Erenice afirmou: “Meu marido é de lá”. Há pouco tempo, soube-se que o marido de Erenice, o empresário José Roberto Camargo Campos, foi beneficiado por decisões da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e tem cinco empresas de consultoria de telecomunicações e energia em Santo Antônio de Posse, a “cidade do Neto”.
A provocação de Erenice foi considerada parte de uma estratégia para afastar a diretoria dos Correios. No loteamento da administração pública, o setor estava nas mãos do PMDB. Custódio havia sido indicado pelo ex-ministro das Comunicações Hélio Costa e por políticos do partido. Erenice queria derrubar a turma do PMDB e distribuir os cargos para o PT. Pouco tempo após a reunião, o primeiro passo foi dado. Um dos protegidos de Hélio Costa, Marco Antônio Oliveira, foi exonerado da diretoria de Operações, área que mantém contratos bilionários. Três meses depois, surgiram as denúncias de que o filho de Erenice, Israel Guerra, atuou como lobista entre o governo e a MTA, empresa aérea que presta serviços de transporte de carga dos Correios. Era a deflagração da guerra entre PT e PMDB. A mesma que ensaia contaminar a montagem de um eventual governo Dilma Rousseff.
Marco Antônio Oliveira não foi o primeiro diretor dos Correios a perder o emprego por acaso. Sob sua responsabilidade estava um negócio promissor. Tratava-se de substituir as empresas aéreas que prestam serviço para os Correios pela criação de uma nova estatal. A empresa se dedicaria a transportar cargas dos Correios. A justificativa, no argumento de Hélio Costa, é que essa seria a solução para contornar as persistentes falhas nas aeronaves das prestadoras de serviços e, portanto, os atrasos na entrega de correspondências. Nos últimos dez anos, algumas empresas contratadas pelos Correios têm sido investigadas pelo Ministério Público e Polícia Federal por envolvimento em possíveis irregularidades. As empresas são acusadas de conluio para fraudar concorrências e suspeitas de pagar propina para obter contratos com a empresa estatal.
No final de julho, Erenice conseguiu o que queria. Afastou o presidente dos Correios, Carlos Henrique Custódio, e o diretor de Recursos Humanos, Pedro Magalhães, ambos ligados ao PMDB, e nomeou para a diretoria operacional Eduardo Artur Rodrigues. Coronel da reserva da Aeronáutica, Rodrigues foi indicado a Erenice pelo advogado Roberto Teixeira, compadre do presidente Lula. As demissões e as nomeações feitas por Erenice não passaram pelo crivo do ministro das Comunicações, José Artur Filardi, ex-chefe de Gabinete de Hélio Costa e, em última instância, o chefe dos Correios.
O escanteamento de Filardi reforça a ideia de que a Casa Civil estava disposta a não dividir as decisões relativas aos Correios com o PMDB. Mas Erenice enfrentou resistências. O senador Leomar Quintanilha (PMDB-TO), que havia apadrinhado Marco Antônio Oliveira para o cargo, esteve com Filardi e pediu a nomeação do ex-senador pelo Amapá Jonas Pinheiro Borges. Quintanilha também falou sobre o assunto com o senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Quintanilha afirma que não indicou ninguém para os Correios. Mas foi um dos quatro senadores a ter audiência com Erenice Guerra durante os cinco meses em que ela esteve à frente da Casa Civil. A insistência do PMDB em permanecer nos Correios chegou ao conhecimento de Lula. “Mas já não tirou o PMDB de lá?”, perguntou o presidente, dando a entender que o PMDB não tinha mais a diretoria de Operações dos Correios.
Antes de ser detonado pela Casa Civil, Marco Antônio levantou para a direção dos Correios a suspeita de que os carros que atendem o colegiado estariam grampeados. O assunto foi discutido numa reunião entre os diretores. No começo de maio, a estatal enviou ofícios à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e à Polícia Federal solicitando os préstimos das duas instituições para apurar “eventual prática de crime contra a administração pública, decorrente de instalação, sem anuência ou s conhecimento prévio da ECT, de dispositivos de rastreamento em veículos usados por dirigentes da ECT”. No final de junho, a Polícia Federal respondeu aos Correios dizendo não haver justa causa para instaurar inquérito policial. A Abin nem respondeu à estatal porque o trabalho não faria parte de suas atribuições.
Diretores do PMDB queriam criar uma empresa aérea estatal de transporte de cargas dos Correios
A confusão causada pelas desconfianças de Marco Antônio tem outra razão. De acordo com Renato Fonseca, responsável pela prestadora de serviço, o que houve foi a instalação de rastreadores nos veículos dos diretores para aferir a quilometragem e a localização dos carros. O contrato entre a locadora e os Correios previa um limite de 2.000 quilômetros por mês somente no Distrito Federal. “O Marco Antônio ia com o carro dos Correios e o motorista até para Juiz Fora”, diz Fonseca. “O carro que ficava à disposição dele excedia em até 5.000 quilômetros a franquia prevista no contrato.”
O substituto de Marco Antônio, coronel Eduardo Artur, apadrinhado de Roberto Teixeira, assumiu o cargo alardeando que compraria 13 aviões por US$ 30 milhões cada um. A criação de uma subsidiária dos Correios de capital misto já havia despertado o interesse de gigantes do setor aéreo. Consórcios estavam sendo organizados por empresas aéreas como a TAM e a Azul, a fabricante Embraer e até multinacionais como a francesa Peugeot, que tem um braço com atuação na área de logística, interessadas em participar da parceria. “Os Correios não têm experiência para cuidar desse negócio”, afirma Respício Espírito Santo, presidente do Instituto Brasileiro de Estudos Estratégicos e de Políticas Públicas em Transporte Aéreo (Cepta). “É um equívoco. Certamente vai sair mais caro e pior do que se houvesse uma licitação realizada com correção.” Respício diz que haveria implicações de difícil solução, entre elas a necessidade em manter pilotos e tripulantes de avião, um tipo de mão de obra especializada estranho à estatal. Na semana passada, o coronel Eduardo Artur Rodrigues pediu demissão.
A ânsia de Erenice em controlar os Correios provocou efeitos colaterais há três semanas. Ela perdeu o emprego por causa do envolvimento do filho Israel Guerra nos negócios com a MTA. Entre março e julho, a MTA venceu quatro contratos e hoje é a segunda empresa que mais fatura em transporte de cargas dentro da estatal. Um dos parceiros de Israel Guerra nos negócios seria Vinícius Castro, funcionário da Casa Civil até o escândalo estourar. Castro participou de ao menos duas reuniões relacionadas aos Correios, onde seu tio, Marco Antônio Oliveira, foi diretor de Operações. Vinícius também caiu.
A família de Marco Antônio Oliveira e de Vinícius Castro é de Bicas, cidade mineira próxima a Juiz de Fora. Em abril, quando Hélio Costa já havia deixado o Ministério das Comunicações e fazia pré-campanha para ser governador pelo interior do Estado, visitou Bicas e participou da inauguração de uma agência dos Correios no município. Marco Antônio acompanhou Costa. Os dois chegaram de helicóptero à cidade. Marco Antônio reuniu as principais lideranças da comunidade num almoço oferecido ao aliado. Durante o evento, o ex-ministro considerou como certa a transferência do Centro de Distribuição dos Correios que funciona no Aeroporto Internacional Franco Montoro, em Guarulhos, São Paulo, para o Aeroporto Regional da Zona da Mata. A ideia é atribuída a Marco Antônio e serviria para Costa angariar votos no sul de Minas. Grande parte da coleta e entrega de correspondências está em São Paulo, onde funciona o atual Centro de Distribuição dos Correios.
Em meio às mudanças na direção dos Correios, a área financeira, comandada por Décio Oliveira, apresentou números do desempenho da estatal. O lucro da empresa triplicou nos sete primeiros meses de 2010 na comparação com o mesmo período do ano passado. “Diante desses números, não entendia as mudanças ocorridas na direção dos Correios”, afirma o ex-presidente da estatal Carlos Henrique Custódio. “Somente agora tenho uma compreensão melhor.” As mudanças promovidas por Erenice deveriam fazer com que os Correios voltassem à normalidade. Isso, ao menos por enquanto, está distante. A crise desencadeada pela disputa entre PT e PMDB ainda não acabou. Se está assim no final de um governo, a concorrência entre os dois partidos unidos na corrida eleitoral promete muito mais quando eles tiverem de dividir os milhares de cargos em um eventual governo Dilma Rousseff.
Cartas-bomba
Os escândalos nos Correios nos últimos 15 anos
Ailto de Freitas
  1995
O presidente dos Correios, Henrique Hargreaves, pede demissão ao ser acusado de receber R$ 20 mil mensais do Sebrae sem trabalhar
2005
Um vídeo mostra o diretor Maurício Marinho recebendo propina de um empresário interessado em participar de licitação. Marinho afirmou, na ocasião, ter respaldo do deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ). Acuado, Jefferson denunciou a existência do mensalão e foi instaurada a CPI dos Correios
reprodução de TV 
 A CPI dos Correios descobre o superfaturamento de R$ 64 milhões nos serviços prestados pela empresa Skymaster no correio aéreo postal noturno. Um dirigente dos Correios teria recebido R$ 600 mil para facilitar os negócios da Skymaster
2010
Israel Guerra, filho da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra, teria ajudado a empresa aérea MTA a renovar concessão na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e, assim, estar apta a conseguir contratos de R$ 60 milhões com os Correios. O ex-diretor de Operações dos Correios Eduardo Artur Rodrigues tinha ligações com a MTA

Microfatos na reta final até domingo definem se haverá ou não 2º turno

Microfatos na reta final até domingo definem se haverá ou não 2º turno
Variação de pequena parcela dos eleitores agora pode fazer balança pender para um dos lados
EVIDENTE QUE TAIS FATOS NÃO MUDAM O RUMO DE UMA CAMPANHA, MAS SÃO RUÍDOS QUE PODEM INCOMODAR O ELEITORADO
FERNANDO RODRIGUES - DE BRASÍLIA – Folha de São Paulo
Formou-se um padrão em eleições presidenciais brasileiras desde 1994. Quem está à frente no primeiro turno, não importando se vencerá ou não, posiciona-se sempre na redondeza dos 50%.
Esse cenário aconteceu com Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em 1994 e 1998, quando ele teve 54,3% e 53,1% dos votos válidos, respectivamente. O fenômeno se repetiu com Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2002 e 2006, cujas votações foram 46,4% e 48,6%.
São cenários semelhantes ao protagonizado agora por Dilma Rousseff, a candidata do PT a presidente. Ela começou a semana com 51% dos votos válidos no Datafolha. Agora, está com 52%.
A petista parece se assemelhar mais a FHC do que a Lula em desempenho, mas a última semana da campanha é sempre um foco de microfatos que podem provocar alterações -o que torna imprevisível o desfecho.
A variação de uma parcela pequena dos eleitores nesta fase final pode fazer a balança pender para um dos lados. Ontem, por exemplo, foi um dia bom para Dilma e ruim para José Serra (PSDB).
O tucano deu uma declaração ambígua sobre elevar a idade mínima para alguém se aposentar. Ao mesmo tempo, Gilberto Kassab (DEM), político ligado ao PSDB, anunciou um aumento da passagem de ônibus na cidade de São Paulo.
É evidente que tais fatos não mudam completamente o rumo de uma campanha, mas são ruídos que podem incomodar (ou agradar) parcelas do eleitorado.
Foi o que se passou em 2006, quando o caso dos aloprados produziu um mal estar em uma parcela dos eleitores. Lula estava pronto para vencer no primeiro turno, mas faltou 1,4 ponto percentual no dia da eleição.
Agora, há também fios desencapados que podem prejudicar a petista. Ainda está vivo o caso do tráfico de influência na Casa Civil, pasta antes comandada por Dilma.
Ontem, a campanha petista providenciou uma vacina contra uma onda de boatos na internet que desqualificava Dilma perante os eleitores mais religiosos. Lula gravou um depoimento em vídeo afirmando que nesta fase da campanha aparecem pessoas do "submundo da política" para dizer "mentiras".
Mas há sempre acontecimentos que estão além do controle dos políticos. A taxa de abstenção é imponderável. A exigência do documento com foto para votar pode provocar uma sangria entre os eleitores menos afluentes. Até um dia muito chuvoso também influi em determinadas regiões.
Os 52% de Dilma colocam a petista como grande favorita. Mas seria temerário afirmar que a eleição já estará concluída no domingo.

Lute, para o Hoje em Dia


Eu sou você amanhã: será?

Eu sou você amanhã: será?
Cora Rónai – O Globo
Sempre que se fala em Olimpíadas no Rio de Janeiro, a primeira cidade lembrada é Barcelona: Barcelona era uma cidade em decadência antes dos jogos, ninguém visitava Barcelona, o porto de Barcelona era infecto, a segurança de Barcelona também era precária... Eis que se realizaram as Olimpíadas e presto!, de ruína urbana Barcelona virou destino obrigatório para turistas descolados, exemplo vivo do que um evento esportivo pode fazer por uma cidade detonada.
Outra cidade muito lembrada é Londres, que vai sediar as Olimpíadas do ano que vem. Mas será que é mesmo para essas cidades que deveríamos olhar? Barcelona é muito menor do que o Rio e nunca teve problemas tão sérios quanto os nossos. Já a capacidade de organização inglesa é ligeiramente diferente da brasileira; basta dizer que, em Londres, as obras estão adiantadas em relação ao cronograma! Tenho a impressão de que faríamos melhor olhando para Nova Délhi, onde começam, neste domingo, os jogos da comunidade britânica, os Commonwealth Games, que a cada dois anos reúnem as ex-colônias inglesas durante dez dias de esporte de alto nível. Nem que seja para pôr as barbas de molho e aprender como não fazer.
Nova Délhi ganhou a corrida para sediar os jogos em 2003 — e deitou-se sobre os louros até 2008, quando a burocracia começou, enfim, a discutir o que, como e quando construir.
Quando estive lá, há um ano, a cidade parecia um canteiro de obras. Não havia praticamente calçada intacta — as velhas calçadas estavam sendo removidas para dar lugar a novíssimas calçadas, perfeitas e sem buracos.
Mas, no começo desta semana, faltando menos de dez dias para o início dos jogos, as calçadas — segundo o noticiário — continuavam na mesma. Já o orçamento inicial das obras passara de US$ 405 milhões para US$ 2,5 bilhões, com a possibilidade de chegar a estarrecedores US$ 15 bilhões, na esteira de uma corrupção nunca antes vista na História daquele país.
Das 34 torres de alojamentos para as delegações, apenas 18 estavam prontas e, ainda assim, com ressalvas: de acordo com o chefe de missão escocês, os apartamentos visitados por ele eram “impróprios para habitação humana”. Os banheiros vazavam, as descargas não funcionavam e as instalações elétricas eram precárias ou inexistentes.
Sheila Dikshit, ministra-chefe de Nova Délhi, garantiu, no começo da semana, que na quarta-feira (ontem!) praticamente todos os apartamentos estariam prontos. Mas, ainda que isso venha a acontecer, os problemas da Vila do CWG não terão acabado. Desobedecendo aos conselhos de arquitetos e urbanistas, que recomendavam outra localização, as torres foram construídas às margens do rio Yamuna. A cidade vem de um período de seca e o pobre Yamuna, no mais das vezes, é um tímido leito de água que não ameaça ninguém.
Só que, este ano, para atrapalhar ainda mais as já atrapalhadas autoridades, a Índia teve as piores monções em três décadas. O Yamuna transbordou, alagou parte do complexo esportivo e deixou, na vazante, sinistras poças de água parada, de onde saíram nuvens de mosquitos carregando uma epidemia de dengue, com mais de cem casos registrados até agora.
Não foi tudo. Por causa da construção feita às pressas, uma passarela que levava do estacionamento ao estádio Jawaharlal Nehru — onde será realizada a cerimônia de abertura — veio abaixo, ferindo 23 operários. O teto da arena de boxe desabou. Pelo menos um dos estádios programados para os jogos, o Shivaji, já foi descartado, porque os próprios responsáveis pela construção reconheceram que não ficaria pronto a tempo.
A imprensa indiana denunciava o estado das obras há tempos, mas lá, como cá, o governo tende a achar que qualquer notícia que não seja a favor é pura conspiração. Foi preciso que vários atletas de renome se recusassem a ir aos jogos, alegando motivos de saúde e de segurança, e que os delegados estrangeiros pusessem a boca no trombone, para que, enfim, alguém tomasse uma atitude.
Até o começo da semana, ninguém tinha certeza se os jogos seriam ou não realizados.
Houve pressão de todos os lados, o primeiro ministro Manmohan Singh pisou firme, alguns funcionários foram demitidos, outros contratados. Levas de trabalhadores foram recrutadas para limpar o entulho; diretores e gerentes de hotéis cinco estrelas foram chamados às pressas para ajudar no que fosse possível.
Na segunda-feira, finalmente, menos de uma semana antes da abertura dos jogos, apareceu na internet a primeira foto de um quarto limpinho, bonitinho, com duas camas cobertas com lindas colchas temáticas alusivas aos jogos. Ao mesmo tempo, as primeiras delegações começaram a chegar à capital indiana mas, pondo as barbas de molho, instalaramse em hotéis, até que as chefias dessem sinal verde para a Vila do CWG.
Os dramas da realização dos Jogos de Délhi não terminam (e nem começam) aí. Decidida a mostrar uma fachada civilizada para os visitantes, a prefeitura resolveu tirar das ruas 250 mil cães, 45 mil vacas, 350 mil vendedores ambulantes, 120 mil mendigos, 80 mil moradores de rua, para não falar em números não quantificados de camelos, cabras, carneiros e elefantes. Não se sabe em que pé está isso.
E nós com isso? Espero que nada. Mas espero, também, que as autoridades responsáveis por Copas e Olimpíadas estejam acompanhando o que acontece em Nova Délhi, para ver como pode dar errado o que dá errado. Blog: cora.blogspot.com. E-mail: cora@oglobo.com.br

Bello, hoje na Tribuna de Minas


Um placar que pode esconder o jogo

Um placar que pode esconder o jogo
30/09/10 07:22 | Costábile Nicoletta - Diretor Adjunto do Brasil Econômico
Sempre que se divulgam resultados conflitantes de pesquisas, me vem à mente uma entrevista a que assisti, em meados dos anos 1980, do publicitário Alex Periscinoto - um dos mais respeitados profissionais em sua área de atuação - ao programa Canal Livre, da TV Bandeirantes.
Com a simplicidade objetiva que o caracteriza, Periscinoto explicou que o melhor instituto de pesquisas do mundo era o confessionário da Igreja Católica.
Além de revelarem seus pecados ao sacerdote, os fiéis contam-lhe espontaneamente o que sentem, os problemas que os afligem, as intrigas da vizinhança e um sem-número de informações consideravelmente úteis sobre a paróquia.
Com base nesses relatos e sob juramento de não divulgá-los, o padre prepara os sermões dominicais e atua como conselheiro da comunidade para intervir em desentendimentos e ajudar na resolução de problemas comuns aos moradores do bairro.
É um clérigo imbuído de funções políticas, que arbitra conflitos com base na palavra de Deus, mesmo que exagere na interpretação dos dogmas.
As empresas que realizam pesquisas sobre intenção de voto não levam em consideração preceitos religiosos. Tampouco nutrem a expectativa de captar nos eleitores semelhante pureza com que se revelariam ajoelhados ao fazer esse sacramento.
Talvez a revelação da suprema vontade do eleitor só seja conhecida mesmo às 10 horas da noite do próximo domingo, quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) prevê que seja concluída a contagem dos votos. Então se constatará em que medida se pode confiar nas atuais metodologias empregadas pelos institutos de pesquisa.
Há que se perguntar, também: as pesquisas oferecem alguma serventia aos eleitores? É mais útil a quem ainda estiver indeciso procurar informar-se melhor sobre o que os candidatos pretendem fazer se eleitos e empreender uma vigília para que, uma vez no poder, não cometam o pecado da mentira.
Costábile Nicoletta é diretor adjunto do Brasil Econômico

Os excluídos da Europa

Os excluídos da Europa
Com a deportação de milhares de ciganos romenos e búlgaros para seus países de origem por ordem do governo francês nas últimas semanas, mais uma vez a atenção do mundo volta-se para a minoria mais desprivilegiada do continente — a maior parte vivendo no Leste Europeu. Mesmo com o ingresso dos países dessa área na União Europeia (UE), os milhões de ciganos de Romênia, Hungria ou Bulgária continuaram a viver em guetos, como ilhas do Terceiro Mundo na rica UE. Alvos da violência neonazista na Hungria, ameaçados na Romênia, os ciganos tornam-se bodes expiatórios também nos seus países de origem.
— Sempre que a situação fica mais difícil, os ciganos voltam a ser perseguidos, como em tantas vezes na História — lamenta Florian Cioaba, de Sibiu, na Romênia, vice-presidente da Associação Mundial dos Ciganos.
Embora a situação geral tenha melhorado na Europa Oriental com o fim do comunismo há 20 anos e ingresso na UE, para a minoria, as mudanças trouxeram retrocesso.
Na era comunista, eram integrados ao sistema de produção, embora em profissões simples.
Muitos trabalhavam como ajudantes na construção civil. Com a privatização e o fechamento de empresas, foram os primeiros demitidos em consequência da baixa qualificação. E perderam de novo com o ingresso na UE. Com a pressão pelo saneamento das finanças públicas, foram cortadas verbas para minorias pobres, agravando a situação.
Autoproclamado rei dos ciganos, Cioaba, de 57 anos, diz recear o pior. Segundo ele, a ação francesa poderia desencadear “uma reação em cadeia” na Europa. Cioaba teme que mesmo os ciganos da Alemanha ou França, há séculos nesses países, poderiam terminar vítimas de mais discriminação. O medo não é gratuito: uma pesquisa da Comissão Europeia, em 2008, mostrou que 25% dos cidadãos da UE sentiriam desconforto em ter um cigano como vizinho, contra 6% que manifestaram o mesmo em relação a outra minoria. Romani Rose, presidente do Conselho Central dos Ciganos da Alemanha, vê com preocupação o anticiganismo.
Segundo ele, a discriminação atinge um nível nunca visto desde a Segunda Guerra, quando o nazismo assassinou 500 mil ciganos.
Outros países já seguiram trilhas semelhantes à da França. Em 2007, as eleições italianas foram palco de uma inflamada discussão sobre a “ameaça” dos ciganos do leste, que terminou favorecendo a vitória do premier Silvio Berlusconi. Recentemente, acampamentos ciganos têm sido alvo da polícia. Por sua vez, a Alemanha deu inicio à deportação de 12 mil ciganos de Kosovo, que imigraram para o país nos anos 1990 durante a guerra na Iugoslávia.
Em 2009, um acampamento no centro de Berlim foi desmontado sem alarde. Cada um recebeu G 250 para deixar a cidade. Como têm passaporte da UE, eles podem ir para qualquer país sem visto de entrada.
— Aqui acontecem muitas coisas que não despertam a atenção pública como na França — Ines Biesewinkel, da ONG Rom e.V., ressaltando que o governo alemão age na surdina.
Muitos dos deportados pela França vão para Prislop, um gueto cigano a 15 quilômetros de Sibiu, na Romênia, que simboliza a segregação no Leste Europeu. Se em Sibiu 18% da população têm educação superior e quase 100% nível médio, em Prislop a taxa de analfabetismo é grande. Apenas uma minoria termina o Ensino Médio e faz um curso profissionalizante.
A jornalista Ruxandra Stanescu afirma que a minoria foi a que mais perdeu com as transformações dos últimos anos. Eles já eram pobres e foram praticamente abandonados nos guetos, separados e discriminados pelas populações locais.
O retrato disso — e de como a situação pode piorar — está na Hungria, onde o partido Jobbik tornou-se a terceira força no Parlamento com uma campanha contra a “criminalidade cigana”. O deputado Csanad Szegedi apresentou no Parlamento Europeu a proposta de criação de campos de concentração para os ciganos com toque de recolher às 22h. Esse populismo de extrema-direita levou ao aumento de ataques aos ciganos — 20 nos últimos dois anos, com duas mortes. Em Sajokaza, a 200 quilômetros de Budapeste, o gueto cigano pode ser reconhecido pelos casebres de barro. Nas ruas, não há asfalto ou urbanização.
Para Liviya Yaroka, deputada húngara de origem cigana, o problema já existia quando o comunismo acabou, e depois nada foi feito para melhorar seu padrão de vida. Sem emprego, educação nem condições materiais aceitáveis, os ciganos começaram a emigrar para a Europa Ocidental, onde chamam a atenção como pedintes. Segundo a deputada, quase 80% dos europeus julgam que ser cigano é uma desvantagem.
Talvez isto tenha levado Dzoni Sichelschmidt, cigano kosovar de 39 anos, a contar à família da mulher alemã que era albanês. Só mais tarde, o assistente social teve coragem de dizer a verdade.
A deputada Yaroka confirma alguns dos clichês sobre os ciganos, como o de que muitas famílias exploram suas crianças obrigando-as a pedir esmola. Já o nomadismo ela contesta.
Apenas 5% são hoje nômades. As migrações para a Europa Ocidental têm por objetivo o acesso a uma vida melhor. Eles esperam conseguir emprego e uma boa moradia. Mas continuam desempregados e excluídos.
 Autor: Graça Magalhães-Ruether   Fonte: O Globo e Unisinos

SPONHOLZ


Polícia política?

Polícia política?
Ilimar Franco O Globo - 30/09/2010
Agentes da Polícia Civil de Barueri, sem mandado judicial, tentaram na terça-feira entrar na casa do candidato ao Senado Netinho de Paula (PCdoB), em Alphaville (SP). A quatro dias da eleição, eles queriam fotografar o interior da residência do cantor. Uma representação foi feita ontem na Corregedoria da Polícia paulista pedindo para averiguar a conduta dos policiais. A campanha de Netinho vai levar o caso ao governador Alberto Goldman e ao ministro Luiz Paulo Barreto (Justiça).
Ciro em campanha contra TassoO deputado Ciro Gomes (PSB) está usando todo seu prestígio e popularidade para tentar derrotar o senador Tasso Jereissati (PSDB). Ciro não perdoa Tasso pelo fato de sua emissora de TV ter exibido vídeo de Raimundo Morais acusando o seu irmão, governador Cid Gomes, de ser corrupto.
Além disso, o presidente Lula gravou, para uso na TV e no telemarketing, mensagem pedindo o voto casado em Eunício Oliveira (PMDB) e José Pimentel (PT) para o Senado.
Tasso está na frente nas pesquisas, mas sua situação já foi mais confortável. A família Gomes sonha entregar a cadeira de Tasso para um aliado do presidente Lula.
“O povo aprecia a lealdade e detesta a ingratidão” — José Anibal, deputado federal (PSDB-SP), sobre o engajamento de Geraldo Alckmin na campanha de Serra.
O GRANDE VENCEDOR. Na oposição, as pesquisas indicam que o grande vencedor das eleições será o ex-governador mineiro Aécio Neves (PSDB). Ele está fazendo o sucessor e se elegendo para o Senado ao lado do ex-presidente Itamar Franco (PPS). Os tucanos paulistas apostam suas fichas em outro jovem político, Beto Richa (PR), mas sua campanha entrou em parafuso desde que Osmar Dias (PDT) chegou ao empate técnico nas pesquisas.
Bancada federal A projeção do Instituto GPP para a eleição de deputado federal, por coligação, no Rio: PP/PMDB/PSC, 12 a 13; DEM/PPS/PSDB, 5 a 6; PR, 6 a 7; PMN/PSB, 4 a 5; PT, 4 a 6; PTB/PSDC, 1 a 3; PDT, 2 a 3; PV, 1 a 2; PSOL, 1 a 2; e, PCdoB, 1 a 2.
Informado A pesquisa CNT/Sensus, divulgada ontem, constatou que a maioria, 81,2% dos entrevistados, sabe que no dia da votação precisa levar o título de eleitor e um documento com foto.
O STF deve derrubar a lei dos dois documentos.
Dilma quer recato dos aliados
A candidata Dilma Rousseff (PT) pediu aos dirigentes dos partidos aliados que evitem dar declarações, depois da eleição, sobre a divisão de cargos no seu eventual governo. A petista pretende ampliar sua base parlamentar, mesmo que as previsões indiquem que a coligação que a apoia, terá maioria constitucional na Câmara e no Senado. Os aliados, discretamente, dizem que primeiro devem ser atendidos os que venceram e só depois ampliar o apoio político para o novo governo.
No Pará tem o voto Matene Apesar de estar coligado com a governadora Ana Júlia Carepa (PT), que disputa a reeleição, uma parcela do Partido Verde está fazendo campanha para Simão Jatene (PSDB). Os verdes têm até adesivo que diz: “Sou verde, sou Marina, sou Jatene”.
O tucano Simão Jatene lidera a disputa para o governo do estado. Em todo o país a mesma cena se repete: os eleitores e até mesmo os cabos eleitorais formam suas próprias chapas à margem das decisões das cúpulas partidárias
ESPECIALISTAS em pesquisa garantem que a esta altura os entrevistados que se declaram indecisos representam o contingente que não pretende votar.
A CAMPANHA de Marina Silva (PV) comemorava ontem o seu crescimento em Belo Horizonte. Ela teria ultrapassado José Serra. O comando da campanha de Aécio Neves (PSDB) nega a existência da onda verde
OS PETISTAS também dizem que não há onde verde na capital mineira, mas avaliam que se houvesse mais tempo de campanha ela poderia superar Serra

Paixão, em Gazeta do Povo


Com emoção

Com emoção
Renata Lo Prete Folha de S. Paulo - 30/09/2010
O novo Datafolha diminui a zona de conforto de Geraldo Alckmin para definir a eleição no domingo e adiciona temperatura à disputa pelo governo paulista. Além da queda de seis pontos na diferença entre o tucano e Aloizio Mercadante (PT), outro fator passou a ser computado na matemática das campanhas.
Como a linha que separa Alckmin do segundo turno baixou para quatro pontos, a chance de a "onda verde" impulsionar Fábio Feldman (PV) para além do 1%, numa faixa do eleitorado tradicionalmente alinhada ao ex-governador, anima o PT e aflige o PSDB.
Metropolitana Marina Silva (PV) está tecnicamente empatada com José Serra (PSDB) em quatro das sete capitais pesquisadas pelo Datafolha: Rio, Belo Horizonte, Salvador e Recife.
Selvagem Animada por avaliações internas que aplaudem seu desempenho nos últimos debates, Marina está, nas palavras de assessores, decidida a partir "como uma jaguatirica" sobre Dilma e Serra no derradeiro encontro entre os presidenciáveis, hoje, na TV Globo.
Cronômetro Marcado de última hora, o encontro com líderes religiosos tomou quase três horas de Dilma, tempo que seria reservado à preparação para o debate.
Prelúdio Logo após a reunião com a candidata petista, pastores gravaram depoimentos para a internet em que sublinham apoio a Dilma e reforçam o desmentido à boataria que ganhou corpo na rede mundial.
Na tela Mesmo sem consenso, emissoras de TV controladas pelos evangélicos devem reproduzir em programas noticiosos, até domingo, a posição oficial da petista em relação a temas como o aborto. Não por acaso, logo depois do encontro de ontem, Dilma fez o seu mais enfático e direto pronunciamento sobre o assunto.
Mais um A mobilização virtual de José Serra para estimular cada eleitor do tucano a conquistar "mais um voto" em seu círculo ganhou novo bordão: a meta agora é que os simpatizantes "mudem um voto" até domingo.
Daqui eu não saio Erenice Guerra ainda ocupa a residência oficial reservada aos ministros da Casa Civil. Legalmente, ela tem 30 dias para deixar a casa no Lago Sul, em Brasília. O prazo expira no próximo dia 17.
Apelo Contrariado com o acordo que adiou a decisão sobre a validade do Ficha Limpa neste ano, o ministro Ayres Britto telefonou ontem a colegas do STF na tentativa de convencê-los a mudar de ideia antes da sessão.
De olho Com placar favorável de 7 a 0 ao seu pleito, o PT acredita que não haverá clima para Gilmar Mendes, que pediu vista do processo ontem, obstruir a deliberação do Supremo sobre a exigência de dois documentos para votar. O partido espera um voto "técnico" hoje.
Censura seletiva Quando as pesquisas lhe davam vantagem folgada sobre Osmar Dias (PDT) no Paraná, Beto Richa (PSDB) não via nada de errado com a metodologia utilizada, a mesma que ele agora usa como argumento para embargar, na Justiça Eleitoral, a divulgação dos levantamentos.
Deu zebra Candidato ao governo de SP, Paulo Skaf (PSB) se irritou com a ausência do marqueteiro Duda Mendonça no debate da TV Globo. O publicitário preferiu acompanhar Hélio Costa (PMDB) em Minas.
Tiroteio
"As declarações de Lula sobre sua própria popularidade nos fazem lembrar de outro presidente popular que o Brasil já teve: Garrastazu Médici."
DO SENADOR DEMÓSTENES TORRES (DEM-GO), sobre o presidente Lula ter dito ontem na Bahia, ao avaliar seus índices de aprovação de mandato favoráveis nas pesquisas, que hoje o colega americano Barack Obama não apenas o chamaria de "o cara", mas de "o cara do cara".
Contraponto
Nesta data querida
Às vésperas do primeiro turno de 2002, encerrado o debate na Globo, o alto comando da campanha de Lula seguiu para a Osteria dell'Angolo, em Ipanema, onde o marqueteiro Duda Mendonça presenteou o candidato com a célebre garrafa de Romanée-Conti. Como o jantar se estendeu até depois das 4h, os jornalistas, na saída, perguntaram a Lula, brincando, se ele pretendia superar a fama de notívago de José Serra.
Antonio Palocci ofereceu uma explicação:
-É que nós temos o que comemorar...
Antes que o acusassem de subir no salto, emendou:
-O meu aniversário...

Skoob

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