quinta-feira, setembro 30, 2010
Sopa de chuchu sem sal
Sopa de chuchu sem sal
Villas-Bôas Corrêa - JORNAL DO BRASIL
Não sei se alguém já tentou fazer o prato mais insosso que conseguiu imaginar. Mas é o que imagino de mais parecido com a campanha eleitoral, com a vitória virtualmente assegurada do presidente Lula, que deve ser reeleito com o pseudônimo de Dilma Rousseff. A oposição não conseguiu inscrever um candidato com as mínimas possibilidades de vitória. No vácuo da campanha sem mote do tucano José Serra, que repetiu como papagaio ensinado a lista de milagres que realizaria quando eleito, e a verde Marina Silva, que pregou a urgência da defesa do meio ambiente. E ficamos por aí.
A verdade é que a campanha não era mais para valer, uma brincadeira do faz de conta para fugir dos temas ausentes, taticamente escondidos no ridículo do programa de propaganda eleitoral, com o patusco blá-blá-blá de candidatos que não diziam coisa com coisa e pior quando tentavam propor soluções para a crise da desmoralização do Legislativo e a orgia de gastos do Executivo.
Mas não havia como consertar o pau que nasceu torto. A campanha fugiu sempre, no blá-blá-blá dos candidatos dos temas que a desafiavam e para os quais nem governo nem oposição têm propostas claras e viáveis.
A bagunça que se instalou no Legislativo, com o avanço ao cofre da Viúva para o mais descarado saque que transformou o mandato de senador e de deputado copiados pelas assembleias estaduais e câmaras municipais num dos melhores empregos do mundo, só tem paralelo na distribuição de sinecuras aos seus cupinchas nos dois mandatos do presidente Lula, o viajante que correu o mundo na cabala para o reconhecimento como o líder mais popular do planeta.
Ninguém na campanha apresentou uma proposta para enxugar o monstrengo do ministério que inchou até a obesidade mórbida, a reclamar dieta severa, a pão e laranja.
E o que se propôs para moralizar Brasília, a capital construída pelo presidente Juscelino Kubitscheck e inaugurada antes de estar pronta em 21 de abril de 1960, um canteiro de obras no lamaçal do planalto? Dos 350 mil habitantes, nela se espremem mais de 3 milhões. Em vez do Distrito Federal, sede dos três poderes, é uma cidade com governador, assembleia legislativa, câmara municipal invadidas pelos rorizes, com os espetáculos da distribuição de pacotes de propinas escondidas nas meias, nas cuecas.
No terceiro mandato de Lula-Dilma não há uma gaveta de escrivaninha para tais aborrecimentos. Mas, certamente, continuaremos a construir milhares de casas populares, a distribuir cestas básicas que garantem as três refeições diárias dos pobres e demais itens da rotina de trabalho do presidente Lula. A malha rodoviária em pandarecos depois dos temporais deste ano continuam à espera de reparos. Não se pode fazer tudo ao mesmo tempo.
Depois, ninguém é de ferro. O presidente precisa viajar, conhecer o mundo para ser conhecido. E, reconheça, nenhum presidente na história viajou mais do que o presidente Lula. A presidente Dilma Rousseff parece mais sossegada.
Os servidores do Palácio do Planalto vão estranhar muito.
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