quinta-feira, maio 27, 2010

Livros didáticos novos são flagrados em meio a lixo reciclável em Colina, SP

DESCASO
Livros didáticos novos são flagrados em meio a lixo reciclável em Colina, SP
O Globo - Plantão | Publicada em 27/05/2010 às 21h52m
SÃO PAULO - Centenas de livros didáticos novos foram encontradas nesta quinta-feira em um barracão da Cooperativa de Reciclagem em Colina, a 399 km de São Paulo, na região de Ribeirão Preto. O material impresso em anos anteriores a 2010 faz parte do Programa Nacional do Livro Didático do governo federal e foi flagrado pela reportagem da EPTV, afiliada da Rede Globo na região, prestes a ser reciclado pelos catadores.
Em uma parte dos livros que ainda estavam embalados era possível identificar uma nota endereçada a escola municipal José Venâncio Dias. A diretora não quis comentar o assunto.
Segundo a secretária da Educação, Elizabeth Melani Neme, o material foi distribuído pelas editoras, mas não chegou a ser usado pelos alunos. Como estava ultrapassado, foi doado para entidades assistenciais de Colina e levado pelo caminhão que faz a coleta do lixo reciclável na cidade.
A secretária não soube explicar como os livros foram parar no barracão, mas afirmou que o caso será averiguado. De acordo com ela, o material encontrado é parte de um volume muito maior, que foi doado a essas entidades.
As instituições Casa Assistencial e Supercenter confirmaram o recebimento e a utilização dos livros nas aulas de reforço. Por telefone, a coordenadora geral do Programa de Livros do Ministério da Educação, em Brasília, Sonia Chuartz, disse que a sobra do material deveria ter sido comunicada ao Ministério. Segundo ela, esses livros poderiam ter sido utilizados em outras cidades do país.

Transformer doméstico

Em Hong Kong, por causa do espaço, os apartamentos são pequenos e caros. Gary Chang, um arquiteto, decidiu criar um apartamento de 344 metros quadrados para ser capaz de se transformar em 24 diferentes modelos, tudo por apenas painéis deslizantes e paredes. Ele chama a isto Transformer "doméstico".

Cometas

Nosso homem em Teerã

Nosso homem em Teerã

Demétrio Magnoli - O Estado de S. Paulo - 27/05/2010


Paira no ar um falso mistério, exposto por Clóvis Rossi na Folha de S.Paulo sob a forma de uma indagação: "Por que os EUA resolveram torpedear o acordo Brasil-Turquia-Irã?" Gilles Lapouge, no Estado, ofereceu uma resposta, que está implícita na própria pergunta: "À primeira vista, podemos pensar que os grandes da diplomacia mundial simplesmente ficaram melindrados ao ver que Ancara e Brasília obtiveram de um só golpe o que os "gênios" não conseguiram." Rossi e Lapouge são analistas independentes, não porta-vozes informais de Lula e Celso Amorim, como tantos outros. Pergunta e resposta, contudo, funcionam como senhas de uma narrativa oficiosa brasileira de graves implicações estratégicas.
A narrativa é a seguinte: 1) O acordo tripartite obtido por Brasil e Turquia é idêntico ao proposto em outubro pela Agência Internacional de Energia Atômica e rejeitado pelo Irã; 2) os EUA estimularam o Brasil a perseguir o acordo, como atestariam trechos vazados de uma carta de Barack Obama a Lula; 3) Washington rejeitou o acordo com a finalidade de barrar a ascensão de Brasil e Turquia ao estatuto de mediadores da questão iraniana; 4) assim como George W. Bush, Obama não está interessado em negociações, perseguindo uma confrontação com o Irã.
A indagação de Rossi merece uma resposta direta: maio não é outubro. Em outubro, o acordo rechaçado por Teerã abriria uma janela para negociações, pois o envio de 1.200 quilos de urânio levemente enriquecido (LEU) ao exterior deixaria o Irã sem combustível suficiente para avançar no rumo da bomba durante um intervalo razoável. Agora, após sete meses de operação das centrífugas iranianas, a mesma quantidade de LEU representa apenas pouco mais de metade do combustível disponível, de modo que Teerã poderia escapar das sanções e seguir enriquecendo urânio.
Quando Mahmoud Ahmadinejad e Lula ergueram os braços em triunfo, eles celebravam pontos diferentes do acordo. O brasileiro comemorava os itens que reproduzem trechos da carta de Obama, enquanto o iraniano comemorava o item 10. Nele, acintosamente, está escrito que Turquia e Brasil "apreciaram o compromisso iraniano com o TNP e seu papel construtivo na busca da realização dos direitos na área nuclear dos Estados membros". A frase é senha diplomática para afirmar um "direito" iraniano de enriquecer urânio, contrariando três resoluções do Conselho de Segurança da ONU. Virtualmente ignorada em meio ao surto patriótico que cegou quase todos os nossos jornalistas, a passagem foi registrada em Washington, Moscou e Pequim. Para esclarecer de vez o significado do acordo, o ministro do Exterior iraniano afirmou que seu país continuaria a enriquecer urânio, uma declaração descartada como bravata irrelevante por Celso Amorim.
A resposta de Lapouge só faz sentido para quem começou a acompanhar a crise iraniana na hora da viagem de Lula a Teerã. Há dois anos, na campanha eleitoral americana, enquanto Hillary Clinton prometia "obliterar" o Irã, Obama ousou sugerir que negociaria com o país persa. No governo, estendeu a mão a Teerã e conservou-a no ar durante quase um ano, até o rechaço do acordo de outubro. Nesse intervalo, congelou a proposta de novas sanções da ONU, resistindo às pressões do Congresso. Agora, não pode ser ludibriado por Ahmadinejad, sob pena de assistir à implosão de toda a sua estratégia para o Oriente Médio.
O Congresso americano tem pronto para ser votado um pacote unilateral de sanções que atingiriam em cheio a economia iraniana. É uma espada suspensa sobre Obama, pois sua aprovação forneceria um estandarte nacionalista para Ahmadinejad isolar a oposição no Irã e prejudicaria a ação multilateral das potências. No fundo, a iniciativa do Congresso equivaleria a um atestado de falência do Executivo na política de contenção do programa nuclear iraniano. Como efeito colateral se evaporariam as chances de Obama conseguir apoio doméstico para pressionar Israel a negociar seriamente com os palestinos.
Obama e Hillary dispararam telefonemas para Moscou e Pequim logo que vieram à luz os termos do acordo tripartite concluído em Teerã. Um projeto de sanções multilaterais desceu como um raio à mesa do Conselho de Segurança. Os EUA provavelmente pagaram caro pelo compromisso das potências recalcitrantes. Mas o consenso alcançado deriva do reconhecimento de que o Irã não é uma segunda Índia. No Subcontinente Indiano, configurou-se um cenário de dissuasão mútua entre Índia e Paquistão. No Oriente Médio, a hipótese de um equilíbrio nuclear entre Irã e Israel ampara-se na premissa incongruente de que os rivais árabes do Irã - Egito, Arábia Saudita e Iraque - aceitariam acocorar-se à sombra da bomba persa.
Enrolados num pano verde e amarelo, analistas brasileiros especulam à vontade sobre os motivos de Obama para rejeitar o acordo tripartite, mas não se perguntam sobre as motivações dos que puseram sua assinatura junto à do Irã. A Turquia, governada por um partido islâmico moderado, tem razões nacionais para jogar a carta iraniana: Ancara está dizendo que o veto persistente ao seu ingresso na União Europeia desvia sua política externa na direção do mundo muçulmano. O Brasil, ao contrário, sacrifica seus interesses nacionais no altar de imperativos partidários e ideológicos quando oferece álibis ao governo de Ahmadinejad. O preço dessa escolha começou a ser pago no momento em que as cinco potências da ONU rasgaram o acordo tripartite de Teerã.
Há, contudo, mistérios de verdade. Lula traveste-se de negociador global, capaz de solucionar a crise iraniana e mediar o impasse entre Israel e os palestinos. Alguém aí pode explicar por que nosso homem em Teerã não moveu uma pedrinha para conciliar os interesses da Colômbia e da Venezuela ou, ali na esquina, acertar os ponteiros entre Argentina e Uruguai na patética "guerra das papeleras"?

Pelicano para o Bom Dia, SP


Humanae Vitae: Muito além da pílula

Humanae Vitae: Muito além da pílula

Maria Clara Lucchetti Bingemer

No dia  23 de abril de 1960 – portanto, há exatos 50 anos atrás -  a pílula anticoncepcional recebia a permissão para ser receitada, distribuída e vendida explicitamente como anticoncepcional oral nos Estados Unidos. Começava uma “revolução” que incidiria nos anos seguintes na vida de milhões de mulheres de todo o mundo, e através delas nos homens, nas famílias e nas sociedades de todas as nações.
Qual era a grande novidade trazida pelo pequeno comprimido que, engolido por milhares e milhões de mulheres, passou a ser o símbolo de uma “libertação”?  Libertação da vinculação necessária do exercício da sexualidade com a possibilidade de uma nova gravidez.  Libertação do desejo e da satisfação sexual pessoal de suas concretas conseqüências, no caso, um filho não planejado nem desejado.  Libertação, em certo sentido, da corporeidade feminina com relação à masculina, já que agora as mulheres não estariam mais sujeitas a conseqüências de suas relações sexuais, tais como sempre o haviam sido os homens.
Era o fim de uma ditadura que dizia que “em homem nada pega”, “o homem é polígamo por natureza” e por outro lado confinava as moças “de família” a uma excessiva proteção ou mesmo confinamento, já que uma prematura ou indesejada gravidez ainda solteiras poderia expo-las à execração pública, e condená-las a uma vida de solidão, sem marido e sem respeitabilidade. Com a pílula, as mulheres poderiam enfim tomar as rédeas de sua vida sexual e decidir com quem, quando e em que circunstâncias desejariam que seus ventres ficassem grávidos de filhos queridos, planejados, desejados.
A Encíclica “Humanae Vitae”, do Papa Paulo VI, documento que trata justamente da concepção e contracepção da vida humana, lançado já dois anos antes da liberação da pílula anticoncepcional, em 1968 ficou conhecida como a “encíclica da pílula”.  Justamente por se posicionar contra a mesma antes mesmo de sua liberação, mas já a prevendo.
A nosso ver, isso é uma injustiça.  Na “Humanae Vitae” há muito mais que uma condenação da pílula.  Há, isso sim, uma profunda e bela reflexão sobre a vida humana em sua totalidade e integralidade.  O documento papal se move e se expressa dentro da dinâmica que permeia toda a revelação e a teologia que dela é reflexão: a dinâmica do dom.
Se há algo central para a fé cristã, trata-se do fato de que tudo é - primordial e inalienavelmente, - dom de Deus.  A economia da fé e da salvação cristãs é, pois, uma economia do dom, e não uma economia de domínio e de poder, onde a indústria humana é quem toma as decisões fundamentais sobre algo que não produziu nem pode produzir, mas que é dado por Deus.  O ser humano se define por ser alguém que é paciente mesmo quando agente. Portanto, criado em liberdade, percebe não poder produzir-se a si mesmo, dar-se a si mesmo o ser.  Tem que recebê-lo de outro.
Esta recepção gratuita e amorosa não invade nem desrespeita sua liberdade, mas inversamente, pede sua colaboração e sua ativa participação.  Assim é que o ser humano, homem ou mulher, é chamado a conduzir a história na direção que o Senhor lhe mostra como sendo a de sua plena realização.  Como segurança e garantia, nada mais do que as palavras que Abraão escutou e, na sua esteira, todos os homens e mulheres que fizeram na história a bela e transcendental experiência da fé: “Eu estarei contigo”.
O documento que se posiciona contra a pílula anticoncepcional por ser um método artificial de evitar a gravidez é o mesmo que estimula os casais cristãos e católicos a exercerem a paternidade e maternidade responsável.  Ou seja, sabe o Papa e o magistério da Igreja que a vida moderna não permite que se deixe acontecer a prole sem um planejamento responsável, maduro, refletido e assumido conjugal e comunitariamente, na oração, no discernimento e na escuta da comunidade eclesial.
Contra que está a Igreja ao se declarar contra a pílula, então?
1. Está contra a invectiva de reduzir a natalidade – tentação diabolicamente neo-malthusiana – pela qual os países ricos querem penalizar os países pobres para poder usufruir mais e mais impunemente de suas riquezas e ter que reparti-las com menos pessoas.
2. Está contra uma paternidade e maternidade que se auto-constituam em juízes únicos e absolutos da prole que pretendem ter.  Embora reconhecendo explicitamente o direito que os cônjuges têm de “ em relação às condições físicas, econômicas, psicológicas e sociais, ... fazer crescer uma família numerosa, como com a decisão, tomada por motivos graves e com respeito pela lei moral, de evitar temporariamente, ou mesmo por tempo indeterminado, um novo nascimento. “ (n. 10)
3. Está contra uma utilização irresponsável de meios artificiais que tornem infecundo o ato conjugal e abram por aí uma porta a outras medidas como o aborto ou a esterilização involuntária de mulheres como acontece ou tem acontecido por parte de organizações privadas ou públicas e até mesmo de governos irresponsáveis (cf. o que diz a encíclica no n. 17)
4. stá contra recomendar o uso (há cinqüenta anos atrás) de um recurso químico recente, do qual ainda não se sabiam nem conheciam as conseqüências.  A equipe de peritos convocada já por João XXIII em 1963 e que por sete anos trabalhou com ele e com seu sucessor Paulo VI não tinha nenhuma certeza sobre as conseqüências que a pílula poderia trazer ao corpo da mulher ou aos filhos que ela viesse a gerar após ingerir a pílula.
A favor de que está então o Papa ao escrever a Humanae Vitae?
1.  Em primeiro lugar e inegavelmente, podemos afirmar que está a favor da vida.  E isso pode ser sentido desde o primeiro parágrafo até o último do texto pontifício.  Sua única preocupação é proteger e preservar a vida em sua sacralidade e sua beleza, tal como a deseja e a concebeu o Criador.
2.  Em segundo lugar, quer proteger a instituição do matrimonio cristão.  Quer colocar bem altos seus ideais, suas finalidades, seus objetivos.  Quer reafirmar a beleza da união entre o homem e a mulher no matrimonio e apontar para o fato de que esta união tem finalidades mais altas do que simplesmente o prazer imediato e a satisfação de necessidades biológicas.
3.  Quer reforçar a responsabilidade e o dever gravíssimos que implica o fato de ter filhos e gerar novas vidas.  Trata-se de uma participação direta na obra do Criador, portanto algo que fala alto sobre a criação do ser humano à sua imagem e semelhança.
Finalmente, gostaríamos de ressaltar o grande benefício que significou para a humanidade  a descoberta da pílula anticoncepcional.  Evitou certamente a morte de milhares e mesmo milhões de mulheres que sem ela estariam irremediavelmente condenadas à morte por partos sucessivos ou inevitáveis ou ao aborto muitas vezes feitos em condições inadequadas e por isso mesmo também e igualmente mortais.
Hoje, com a distância histórica de cinqüenta anos, é possível ver que a produção dos anticoncepcionais também avançou.  Há mais cuidado por parte dos médicos ao receitar pílulas a suas pacientes e por parte destas em tomá-los.  Há várias mulheres que preferem outros métodos para evitar a gravidez, sem química, sem interferência direta em seu organismo.
Porque não se pode esquecer , sobretudo quando se é mulher, que ao fazer a tão temida mamografia, exame doloroso e atemorizador para rastrear e agarrar precocemente o câncer de mama, uma das primeiras perguntas que ouvimos por parte do radiologista é esta: “Toma ou tomou pílula anticoncepcional”?
O Papa Paulo VI e seus assessores não estavam tão errados ao não recomendar a pílula sobretudo em um momento em que esta apenas iniciava sua trajetória de distribuição ao grande público.  Mesmo se não foi este o motivo principal porque a condenaram.  Eis aí um motivo a mais para não simplificarmos uma reflexão que está longe de ser simples, pois o passar do tempo só faz complexificá-la ainda mais.

Feio quanto parece

Feio quanto parece
Thomas L. Friedman - O Globo - 27/05/2010

 Confesso que quando vi a foto do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, com seu colega brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e o premier turco, Recep Tayyip Erdogan, de braços levantados, depois de assinar o acordo para supostamente desarmar a crise sobre o programa nuclear iraniano, tudo o que pude pensar foi: há algo pior do que assistir a democratas vendendo outros democratas a um criminoso iraniano, que nega o Holocausto e frauda eleições, só para implicar com os EUA e mostrar que eles também podem tomar parte do jogo dos poderosos? Durante anos, países não alinhados e em desenvolvimento acusaram os EUA de satisfazer cinicamente seus interesses, sem levar em conta os direitos humanos, observou Karim Sadjadpour, da Carnegie Endowment. À medida que Turquia e Brasil aspiram a atuar globalmente, vão se defrontar com as mesmas críticas que antes faziam. A visita de Lula e Erdogan ocorreu dias após o Irã executar cinco prisioneiros políticos. Eles abraçaram Ahmadinejad, mas nada disseram sobre direitos humanos.
Turquia e Brasil são democracias nascentes que superaram suas próprias ditaduras militares. É vergonhoso que seus líderes fortaleçam um presidente que usa o exército para matar democratas iranianos que buscam a mesma liberdade política e de expressão de que turcos e brasileiros hoje desfrutam. Lula é um gigante político, mas moralmente tem sido decepcionante, disse Moisés Naím, editor da revista Foreign Policy. Lula tem apoiado os que frustram a democracia na América Latina, observou. Ele regularmente elogia Hugo Chávez, da Venezuela, e o ditador cubano Fidel Castro e agora Ahmadinejad , enquanto denuncia a Colômbia, uma das histórias democráticas de sucesso, porque o país permitiu que os EUA usem bases locais para combater o narcotráfico. Lula tem sido ótimo para o Brasil, mas terrível para seus vizinhos democráticos, disse Naím. Lula se tornou conhecido como líder dos trabalhadores no Brasil, mas virou as costas a líderes dos trabalhadores duramente reprimidos no Irã. O Irã tem hoje 2.200 quilos de urânio com baixo teor de enriquecimento. Pelo acordo do dia 17, o país supostamente concordou em enviar 1.200 quilos à Turquia para conversão em combustível para seu reator médico em Teerã que não pode ser usado para uma bomba.
Mas isto ainda deixaria o Irã com cerca de 1.000 quilos, que o país continua se recusando a submeter à inspeção internacional e está livre para continuar a reprocessar aos elevados níveis de enriquecimento requeridos para a bomba. Especialistas afirmam que o Irã levaria seis meses para acumular novamente quantidade suficiente para uma arma nuclear. Assim, o que esse acordo faz é o que o Irã queria: enfraquecer a coalizão que pressiona o país a abrir suas instalações nucleares aos inspetores da ONU e, como um bônus especial, legitima Ahmadinejad no primeiro aniversário da repressão ordenada por ele contra o movimento democrático iraniano, que pedia uma recontagem dos votos das eleições fraudulentas de 2009.
A meu ver, a Revolução Verde no Irã é o mais importante movimento democrático espontâneo a surgir no Oriente Médio em décadas. Ele foi suprimido mas não desapareceu e, no final das contas, seu sucesso é a única fonte de segurança e estabilidade. É como me disse Abbas Milani, da Universidade de Stanford: A única solução de longo prazo para o impasse é um regime mais democrático, responsável e transparente em Teerã. Os clérigos iranianos praticam com sucesso um grande jogo de enganação ao fazer da questão nuclear quase o único ponto focal de suas relações com os EUA e o Ocidente. Estes deveriam ter adotado uma política de duas vias: sérias negociações sobre a questão nuclear e não menos sérias discussões sobre direitos humanos e democracia no Irã. Preferiria que o Irã nunca tivesse a bomba. O mundo seria muito mais seguro sem novas armas nucleares, especialmente no Oriente Médio. Mas se o Irã conseguir, fará uma grande diferença se o dedo no gatilho for o de um Irã democrático ou o da atual ditadura religiosa e criminosa. Quem trabalhar para adiar isto e promover a democracia no Irã estará ao lado dos anjos. Quem ajudar esse regime tirânico e der cobertura a sua maldade nuclear um dia terá de prestar contas ao povo iraniano

Cícero, para O Jornal de Brasília


FLIC FLAC - THE MODERN ART OF CIRCUS

SINDICATOS COMO NEGÓCIOS

SINDICATOS COMO NEGÓCIOS

EDITORIAL- O ESTADO DE S. PAULO - 27/5/2010

O Brasil livrou-se, anos atrás, de se tornar uma república sindicalista, mas descambou para outro mal. Os sindicatos enveredaram pelo mundo dos negócios à custa do trabalhador com carteira assinada, de cujos contracheques são descontados R$ 2 bilhões por ano, com tendência a crescer. Por obra e graça do Imposto Sindical, o sindicalismo é uma atividade próspera, com poucos benefícios para os sindicalizados, mas muito lucro para os dirigentes. O Brasil hoje tem 9.046 sindicatos, dos quais 126 registrados só neste ano, o que dá uma média de um por dia. Longe de ser expressão da liberdade sindical, trata-se de uma caríssima farra.
É constitucionalmente garantido o direito de associação para a defesa de melhores condições de trabalho, mas o que se vê são muitos sindicatos que só se mobilizam para campanhas salariais nas datas-base. Ou, como no caso de sindicatos de servidores públicos, para pleitear, por meio de greves em ano eleitoral, reestruturações de carreiras, com aumento de adicionais aos seus proventos.  Mas não é apenas isso que está acontecendo hoje no País, depois que o Ministério do Trabalho, por motivos políticos, passou a omitir-se com relação ao desmembramento de sindicatos. Antes limitados a uma determinada base geográfica para cada categoria, eles passaram a se multiplicar, o que não foi consequência apenas de rachas políticos ou ideológicos. O objetivo é arrecadar dinheiro. 
Reportagem do Estado (23/5) identificou vários casos de irregularidades, algumas delas gritantes. Na região de Rio Verde, em Goiás, por exemplo, surgiu o Sindicato dos Trabalhadores de Movimentação de Mercadorias em Geral (Sintram), que gerou filhotes nos Estados do Tocantins, Bahia, Mato Grosso e no Distrito Federal. Típico sindicato pirata, o Sintram foi registrado pelo Ministério do Trabalho e tem sede em Brasília em endereço flagrantemente fictício, numa sala desocupada e fechada. A entidade tem uma receita anual de R$ 1 milhão, como se constatou, mas a sua ação extrapola as finalidades que justificariam a fundação de um sindicato. O Sintram funciona como uma rede de prestação de serviços para empresas do agronegócio à procura de mão de obra. Não se trata de anunciar gratuitamente empregos ou de facilitar o acesso a empregos para os trabalhadores. O Sintram exerce uma função muito semelhante à dos chamados "gatos", ou seja, agentes de empreendimentos que buscam contratar mão de obra, mediante o pagamento de comissão. Esta, no caso, é de 15%, sendo descontada todo mês dos salários dos trabalhadores. Os pelegos ou donos desses sindicatos são gatos gordos, pois, além dessas comissões ilegais, recebem sua parcela do Imposto Sindical.
Essa proliferação de sindicatos artificiais é lucrativa para as centrais de trabalhadores, que nada fazem para coibir essa distorção, uma vez que embolsam 10% do bolo das contribuições sindicais, distribuídos proporcionalmente ao número de entidades filiadas. Ainda por cima, as centrais sindicais, por uma benesse do governo do presidente Lula, estão desobrigadas de prestar contas ao TCU ou a quem quer que seja.
O Ministério do Trabalho até agora tem feito vista grossa para essa abundância de entidades sindicais. Mas alguns setores já começam a se preocupar com a infração do princípio legal da unicidade sindical. "A minha premissa é de que os dirigentes pararam de ser dirigentes para serem empresários. Fundam sindicatos como se fossem empresas", como disse Antônio Cavalcante Rodrigues, procurador do Ministério Público do Trabalho.
Como se vê, vão longe os tempos em que alguns sindicatos tinham comissões de sindicância, que complementavam ou supriam a função fiscalizadora de que o Ministério do Trabalho está incumbido. Entidades nunca fiscalizadas se vêm transformando em indústrias subsidiadas pelo governo por meio do Imposto Sindical, uma herança da ditadura getulista que o regime democrático foi incapaz de eliminar. A persistência desse maná fez surgir o que o presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, chama, sem meias palavras, de "banditismo sindical". 

Pádua, para O Estado de Goiás


O ANTIEXEMPLO JAMAICANO

O ANTIEXEMPLO JAMAICANO

EDITORIAL - JORNAL DO BRASIL - 27/5/2010

O narcotráfico é um problema que atingiu uma dimensão global cuja principal característica é não distinguir suas vítimas. No plano micro ou local, destrói a saúde e a vida de consumidores boa parte deles pertencentes às classes médias e altas da sociedade e leva violência, medo e morte às áreas depauperadas, que servem de entreposto do comércio e onde os chefes do negócio ilegal se escondem, erguem suas fortalezas e criam suas próprias leis. As populações dominadas sofrem duplamente, pelo arbítrio dos bandidos e pela exposição permanente à guerra entre quadrilhas rivais e/ou ao confronto entre traficantes e polícia. No plano macro ou internacional, o processo se reproduz. O narcotráfico é um fenômeno disseminado, uma chaga tanto para países pobres quanto para ricos.
Viver num mundo sem as consequências destruidoras das drogas, ao que parece, é uma utopia pois sempre haverá pessoas dispostas a correr o risco do vício, que sustenta uma indústria de crime e de violência. A diferença, no entanto, está no grau de penetração do narcotráfico. Nações mais desenvolvidas têm um mercado atraente, com mais circulação de dinheiro. Mas, em princípio, estão mais preparadas para combater o problema. Têm recursos, instituições fortes e políticas públicas para evitar que, pelo menos, o mal se alastre a ponto de a população ter mais confiança nos criminosos do que no governo oficial.
É o que está se passando agora na capital jamaicana. Em Kingston, a caçada a um traficante, como publicado ontem pelo JB, já provocou a morte de mais de 60 pessoas, numa explosão de violência, que é o resultado de uma anomia ainda maior do que a simples e conhecida ausência do Estado.
Se em alguns países as relações promíscuas entre a política e o submundo da ilegalidade se dão no nível individual, com a eleição de candidatos ligados ou mesmo pertencentes a organizações criminosas, na Jamaica os traficantes contaram com a ajuda dos próprios partidos políticos para crescerem. Ganharam tanta importância que recebem o apoio incondicional dos moradores, agradecidos pelas benfeitorias realizadas nas comunidades, e das agremiações políticas, que financiam suas atividades em busca dos votos do curral eleitoral que controlam.
É uma situação de total inversão de valores e à qual, felizmente, o Brasil ainda não chegou. Pelo contrário, parece cada vez mais se afastar, como mostra, no Rio, a experiência bem sucedida das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), que estão expulsando o tráfico, levando o Estado de direito às populações antes dominadas e até servindo de modelo para outros países. Quem sabe, uma saída para o antiexemplo jamaicano.

Kandinsky


DEBATE MAIS ABERTO AJUDA O ELEITOR

DEBATE MAIS ABERTO AJUDA O ELEITOR
EDITORIAL - O GLOBO - 27/5/2010

Pode ser que a subida da candidata Dilma Rousseff nas pesquisas, confirmada pela última sondagem do Datafolha, e o virtual empate em 37% com o candidato tucano tenham feito José Serra mudar de tática, partir para propostas de real tom oposicionista, abandonando o discurso de continuador da obra de Lula, apenas de forma mais competente.
O tom adotado pelo ex-governador de São Paulo na apresentação feita, ao lado de Dilma e Marina Silva, sem debate direto, num encontro promovido em Brasília pela CNI, chama a atenção para a possibilidade da mudança de rumo na campanha tucana. Se ocorrer de fato, ganhará o eleitor.
As promessas, ou defesas de medidas e de políticas feitas pelos três candidatos, abrangeram questões conhecidas e de indiscutível relevância: impostos, gastos públicos, investimentos. É verdade que muito do prometido poderia ter sido executado pelos governos dos quais participaram Serra, Dilma e Marina, todos ministros nas respectivas encarnações governamentais.
Um caso emblemático é o da sempre prometida e nunca realizada reforma de um sistema tributário perverso com o empreendedor, incentivador da evasão por ser bastante oneroso, ingrato para as exportações, e ainda intrincado, confuso, burocratizante.
Na gestão FH, em que Serra foi ministro do Planejamento e, posteriormente, da Saúde, a bandeira foi levantada, porém sem grande empenho do Planalto de então. O mesmo ocorreu na Era Lula, em que Dilma Rousseff ocupou o cargo de ministra de Minas e Energia, antes de assumir a Casa Civil, e Marina Silva tocou a Pasta do Meio Ambiente. Nada também foi feito, tudo ficou, como sempre, na formulação de propostas pela área técnica, sem despertar forte vontade política para executar a reforma.
Se o principal candidato de oposição for efetivamente crítico, ajudará os demais a se posicionar de forma clara diante de temas sérios: como reativar para valer os investimentos públicos na cada vez mais erodida infraestrutura do país; o que fazer para dar eficiência gerencial ao Estado; o manejo da crise fiscal que se desenha como uma possibilidade; e como proteger o país numa conjuntura mundial que pode voltar a se deteriorar.

O esquentamento saudável da campanha poderá coincidir com uma deterioração na Europa, com inexoráveis repercussões em todo o mundo. Por estar em jogo a solvência de países de algum peso, portanto com reflexos no sistema financeiro, há a tendência de haver, como no final de 2008 e início de 2009, um efeito manada na fuga de capitais em busca de aplicações mais seguras (títulos do Tesouro americano). A retração dos investimentos europeus no Brasil no primeiro quadrimestre realça os sinais de alerta sobre as contas externas do país. O ponto é, se houver uma nova retração mundial, a margem de manobra fiscal brasileira para se contrapor às forças recessivas é mínima em comparação com 2008/9. Cabe aos candidatos explorar o tema.
O tucanato teria percebido o perigo na continuação do mantra do tudo vai bem, mas pode ir melhor. Se vai bem, por que trocar? Se se opõem ao governo, Serra e Marina precisam dizer por quê. E, com detalhes, o que e como fariam melhor. O eleitor que julgue.

Água engarrafada opõe Nestlé a verdes

Água engarrafada opõe Nestlé a verdes

Deborah Ball - The Wall Street Journal, de Cascade Locks, EUA
Darryl James para The Wall Street Journal
A fonte no Oregon que a Nestlé espera poder usar para sua água engarrafada

Neste idílico vilarejo no norte de Oregon, noroeste dos Estados Unidos, a autopsia de três trutas arco-íris pode influenciar os esforços da Nestlé SA para reverter uma queda profunda em seus negócios de água engarrafada.
Esse produto, que durante anos fez com que a Nestlé tivesse crescimento na faixa de dois dígitos, vem recebendo fortes críticas de ecologistas. Eles reclamam da energia usada para transportá-lo e os bilhões de garrafas plásticas usadas, e são contrários às tentativas de usar novas fontes, citando temores de escassez de água.
Em Cascade Locks, a Nestlé está tentando retirar de uma nova fonte 378 milhões de litros por ano para sua marca de água mineral Arrowhead — e também satisfazer os ecologistas. Uma parte importante desse esforço é provar que a água tirada da fonte — que também supre um criadouro da espécie de salmão selvagem Oncorhynchus nerka, ameaçada de extinção — pode ser substituída por água do poço municipal sem prejudicar o peixe.
Para fazer isso, a Nestlé está fazendo um teste com duração de um ano para criar 700 trutas arco-íris num tanque com água do poço. Com medo de que ambientalistas sabotem o teste, a Nestlé fechou o acesso ao tanque de 6.400 litros e instalou câmeras de segurança. Autoridades do Departamento de Pesca e Vida Selvagem do Oregon estão monitorando o desenvolvimento do peixe e realizando autópsia dos três que morreram até agora.
"Somos acusados de extrair a água, sugerindo que estamos esgotando esse recurso", diz Kim Jeffrey, diretor-presidente da divisão norte-americana de água mineral da Nestlé. "Em vez disso, tiramos a água de uma maneira sustentável. A noção de que apenas tiramos o que queremos simplesmente não é verdadeira."
O projeto é um exemplo da determinação da Nestlé de reavivar sua divisão de água mineral. As vendas na América do Norte caíram em 2009 para 4,4 bilhões de francos suíços, ou US$ 4,2 bilhões, 13% a menos que em 2007.
"A água é uma categoria que nos deu tantos anos de alegria", disse numa entrevista ao Wall Street Journal o diretor-presidente da Nestlé, Paul Bulcke. "E aí tudo muda subitamente. É isso que machuca."
Até 2007, a água engarrafada era o negócio dos sonhos das Nestlé, dona de marcas como Pureza Vital, Aquarel, Poland Springs e Perrier. O consumo per capita de água engarrafada nos Estados Unidos chegou a 109 litros em 2007, ante 60,5 litros em 2000. A garrafa verde da água com gás San Pellegrino, que pertence à Nestlé, chegou a se tornar um símbolo na moda de preocupação com a saúde.
O crescimento anual das vendas da divisão de água da Nestlé nos EUA chegou a 15% em meados da década. Até o ano passado, a empresa tinha 38% do mercado de água engarrafada dos EUA, de US$ 10 bilhões, mais do que as concorrentes Coca-Cola Co. e PepsiCo Inc. juntas.
Mas as vendas diminuíram nos últimos dois anos, enquanto ecologistas tentavam tornar a água engarrafada uma nova causa nobre. Alguns restaurantes chiques de Los Angeles e Nova York pararam de servir água engarrafada. Uma série de documentários alega que os produtores enganam as pessoas sobre as virtudes da água engarrafada se comparada à da torneira. As vendas de água da Nestlé também foram prejudicadas pela crise econômica, já que as pessoas cortaram a água do orçamento e passaram a tomar a da torneira, mais barata.
Os engarrafadores dizem que a água deles representa uma pequena fração da usada diariamente e é bombeada de maneira sustentável, argumento apoiado por hidrólogos independentes, mas os ataques causaram seus danos.
Em 2007, um grupo lançou uma campanha chamada "Propaganda Mentirosa". Um cartaz afirmava: "Água Engarrafada Causa Cegueira em Cachorrinhos", com uma legenda explicando que "se as produtoras de água engarrafada podem mentir, nós também". E agora circula no Congresso americano uma lei que criaria um imposto de 4% sobre a água engarrafada, para pagar reformas nos sistemas municipais de saneamento, após a ruptura de uma tubulação em maio deixar 2 milhões de moradores de Boston sem água potável.
A Nestlé é um alvo preferencial de ativistas desde os anos 70, quando ela enfrentou duras críticas à maneira como promoveu fórmulas infantis a mães pobres em países subdesenvolvidos. Seu papel como líder do mercado americano de água engarrafada e o fato de que explora fontes em áreas rurais geralmente intocadas a expuseram à crítica particular dos oponentes da água engarrafada.
Cerca de 80% da água engarrafada da Nestlé é de fontes de água mineral, enquanto o resto é água municipal purificada. As marcas da Coca e da Pepsi são produzidas principalmente com água municipal purificada.
No fim do ano passado, a Nestlé abandonou planos de explorar uma fonte alimentada por geleiras no norte da Califórnia, após uma batalha de seis anos. A empresa também disputou durante seis anos na justiça o direito de continuar usando uma fonte no Estado de Michigan e chegou a um acordo em meados do ano passado. Em outubro, obteve aprovação para usar uma fonte no Colorado após aceitar 44 condições.
Agora, em Cascade Locks, a Nestlé briga contra a oposição dos ecologistas a seu plano de bombear água de uma fonte nesta cidade de 1.100 habitantes.
Encontrar a fonte certa para a água engarrafada não é fácil.
É caro transportar água, por isso a fonte precisa estar relativamente perto dos grandes mercados, mas longe o bastante para que esteja protegida da poluição urbana. Ela precisa ter capacidade suficiente para justificar a construção de uma fábrica de engarrafamento próxima, e a água precisa ter a combinação apropriada de minerais para ter o sabor certo.
A tarefa ficou mais difícil porque a Nestlé está tentando cortar custos e emissões de carbono com a diminuição das distâncias que seus caminhões percorrem. Ela cortou a quilometragem média que cada entrega exige em cerca de 15% desde 2007. Nove das dez fontes candidatas mostraram-se inadequadas, diz Dave Palais, um gerente de recursos da Nestlé.
Cascade Locks é um caso raro. Palais vinha buscando uma fonte para fornecer água aos mercados do noroeste americano desde 2007. A empresa no momento transporta a água em caminhões da Califórnia para a Colúmbia Britânica, no Canadá.
Com cerca de 200 cm de chuva por ano, ligada a uma rodovia, Cascade Locks abriga a fonte Oxbow. Quando a Nestlé se mostrou interessada, em 2008, os patronos da cidade ficaram empolgados. Desde o declínio da indústria madeireira, nos anos 70, Cascade Locks enfrenta dificuldades. Com desemprego de 18%, a cidade viu um êxodo de moradores. No ano passado, a escola de ensino médio fechou as portas, por causa da queda nas matrículas. Em 30 anos, o número de firmas encolheu de cerca de 90 para perto de 10.
Para engarrafar a água da fonte Oxbow, a Nestlé propôs um plano que inclui cuidar do salmão selvagem do criadouro administrado pelo Departamento de Pesca e Vida Selvagem do Oregon.
A Nestlé bombearia água da fonte para uma nova fábrica proposta de US$ 50 milhões que empregaria 53 pessoas. Em troca, bombearia água do poço municipal de Cascade Locks ao criadouro, para repor a água tirada da fonte — comprando 1.100 litros por minuto da cidade para a troca, ou cerca de um sexto da capacidade municipal total.
O projeto ajudaria as combalidas finanças de Cascade Locks ao dobrar os impostos prediais da cidade.
Mas os ambientalistas partiram rápido ao ataque. A Food and Water Watch, uma feroz oponente da Nestlé baseada em Washington, criou uma coalizão de 16 grupos ambientalistas e religiosos e em março enviou um galão d'água de 38 litros com 3.700 assinaturas de oponentes para o Departamento de Pesca e Vida Selvagem do Oregon.
Julia DeGraw, a militante da Food and Water Watch que lidera a campanha, argumenta que um recurso tão precioso como a água nunca deveria cair em mãos de empresas, dizendo que isso desencoraja as cidades a investir na infraestrutura de água e aumenta o risco de que interesses privados possam prevalecer sobre os públicos no caso de uma seca. Ela menciona preocupações ambientais, como o efeito sobre peixes. DeGraw também acusa a Nestlé de voltar-se a cidades em dificuldades econômicas, uma alegação que a empresa nega. Ela diz que a Nestlé tem pagado em média menos de dois décimos de centavo de dólar por litro para comprar água da fonte, enquanto o vende aos consumidores por US$ 1,40.
A Nestlé afirma que oferece às cidades condições justas para usar as fontes e informa plenamente os cidadãos de seus planos. Segundo ela, a diferença entre o preço de compra e o de venda no varejo se deve ao custo de filtragem, engarrafamento e distribuição.
O Departamento de Recursos Hídricos do Oregon planeja ter um período para comentários públicos antes de decidir, enquanto o Departamento de Pesca e Vida Selvagem afirma que incluiria uma cláusula que rompe qualquer contrato com a Nestlé em caso de impactos ambientais adversos.
A empresa afirma estar realizando estudos para tratar de algumas preocupações ambientais. Só depois que os estudos forem feitos, e de um teste de um ano para ver se os peixes sobrevivem na água municipal, ela vai entrar com seu pedido perante as autoridades estaduais.

Skoob

BBC Brasil Atualidades

Visitantes

free counters