quinta-feira, maio 27, 2010
Combate ao crime no Rio se sofistica
Combate ao crime no Rio se sofistica
Patrick Brock - The Wall Street Journal, de Nova York
Otávio Azevedo, presidente do grupo Andrade Gutierrez, divide seu tempo entre São Paulo e Rio de Janeiro. Apesar da fama de violenta do Rio, ele nunca foi assaltado na cidade; já em São Paulo, foi assaltado cinco vezes. Na sua opinião, a percepção da violência no Rio é extremamente midiática. Incidentes com balas perdidas, por exemplo, acontecem em muitas cidades brasileiras, mas só são noticiados quando ocorrem no Rio.
O grupo dirigido por Azevedo, que opera nos segmentos de construção civil, telecomunicação e concessão de serviços públicos, está apostando alto na capital fluminense, com destaque para a revitalização da zona portuária, onde a empresa planeja construir a sede da operadora de telefonia celular Oi.
O prédio também servirá como centro de imprensa da Olimpíada e abrigará os cerca de 5 mil jornalistas que deverão ser escalados para cobrir o evento.
O depoimento de Azevedo marcou o debate sobre a questão da segurança no Rio durante o seminário Invest in Rio, ontem, no Plaza Hotel, em Nova York. Autoridades de segurança pública do Estado e empresários locais afirmam que a recente profissionalização na gestão da polícia e a implantação de novas técnicas estão diminuindo a violência na cidade, marcada em anos recentes pela territorialização do crime e o uso de armamentos cada vez mais pesados nas disputas entre traficantes e policiais.
José Beltrame, secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, afirma que chegou ao cargo em 2007 e encontrou falta de planejamento e politização marcantes no órgão. "Cerca de 50% das viaturas não rodavam", conta Beltrame, lembrando que encontrou essa e outras situações bem parecidas com as cenas do filme "Tropa de Elite". Entre as medidas iniciais, houve o estabelecimento de metas para a Polícia Civil, com as delegacias tendo que apresentar um determinado número de investigações encaminháveis ao Ministério Público e ao Judiciário, que possam resultar em condenações. "Hoje há delegados e políticos presos", afirma Beltrame, que cita isso como um exemplo de moralização das forças de segurança cariocas.
As autoridades também dividiram a cidade em microrregiões onde há mais incidência de crimes e começaram a implantar as chamadas Unidades de Polícia Pacificadora em oito favelas da capital. Há três anos, o numero de homicídios era de 37 por grupo de 100 mil pessoas; hoje, caiu para 34.
Segundo Beltrame, as unidades contam com policiais recém-formados pela academia e versados em direitos humanos. Em vez de realizar ações pontuais e deixar a favela, essas unidades estabelecem uma presença contínua que permite criar um verdadeiro relacionamento com a comunidade, substituindo o poder do tráfico pela presença do Estado.
Um exemplo do sucesso dessa iniciativa é a Cidade de Deus, que Beltrame afirma ter tido apenas um homicídio num período de um ano e quatro meses. Mais de 100 mil pessoas das comunidades em que houve intervenções teriam sido "libertadas" da cultura das armas e do tráfico de drogas, diz.
"Criamos esse projeto para ser uma política de Estado, não de governo. Queremos que haja continuidade nesse processo."
Segundo a empresária carioca Celina Borges, uma das sócias do grupo de navegação Libra, as bases da reação recente do governo contra a violência são transparência, previsibilidade e gestão. Criadora da ONG Rio Como Vamos, destinada a divulgar dados sobre os serviços e a qualidade de vida da cidade, Borges diz que "é impossível prosperar numa cidade doente, e a doença do Rio é a violência". Contudo, ela enxerga uma mudança nas expectativas do empresariado local. Após anos de descrença total numa solução para a violência, os empresários voltaram a confiar na capacidade do governo e colocaram a segurança como principal prioridade.
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