terça-feira, agosto 24, 2010

Sempre é preciso um passo adiante

Sempre é preciso um passo adiante
Editorial, Jornal do Brasil
RIO - O lamentável episódio da invasão do Hotel Intercontinental por bandidos e traficantes, na manhã de sábado – além de um tão grave tiroteio com a polícia ao longo das principais vias de São Conrado, Zona Sul do Rio – deixa uma boa reflexão a ser feita pelo comando da segurança pública do estado. E confirma o que ela já sabe: a questão da violência não tem fim, e tem de ser tratada com todo o esmero a todo momento.
Após o desfecho do caótico incidente, o secretário José Mariano Beltrame deu entrevistas, nas quais exaltou o desempenho dos policiais envolvidos na operação. Lembrou que nenhum dos reféns foi ferido, que a única morte foi de uma mulher que integrava o bando de desordeiros, e que todos os demais foram presos.
É verdade. Dada a natureza e gravidade do ocorrido, o desfecho poderia ter sido bem pior. Em outros tempos, talvez a ação policial não terminasse com um final tão feliz – ainda está vivo na mente dos cariocas o trágico fim do episódio do cerco ao ônibus da linha 174, no Jardim Botânico, apesar de já se terem passado dez anos.
Seria uma injustiça não reconhecer que a polícia reagiu com rapidez e fez o que era possível para minimizar as perdas causadas pela criminalidade. Mas há um dado que foge ao domínio das autoridades: não basta haver segurança, é preciso parecer que há segurança. Para os hóspedes do hotel, especialmente os estrangeiros, não haverá entrevista que os convença de que o Rio é uma cidade segura, ou campanha que os faça voltar à nossa cidade.
Para os que não se conformam com a vitória do Rio como sede olímpica de 2016, e como palco da final da Copa do Mundo de 2014, foi sublime a chance que tiveram de enrijecer os indicadores e apontar: “Vejam a insegurança do Rio, vejam como os bandidos tomam conta das ruas, imaginem se fosse em 2014 ou 2016”, bradam desde a a manhã de sábado.
Assim, por mais que se tenham diminuído em quantidade os casos de ataques mais acintosos dos bandidos à população, é imperioso que as inteligências das polícias civil e militar deem um passo à frente não apenas no sentido de antever a movimentação da bandidagem como para, no dia a dia, promover o sufocamento do tráfico e sua movimentação pelas comunidades mais carentes. O Estado precisa, como já vem começando a fazer, entrar cada vez mais nessas localidades e tomar o lugar dos criminosos como provedor de serviços.
Se colocamos uma lupa bem em cima do incidente de sábado, concordamos que o trabalho da polícia foi mesmo o que deveria ter sido feito. Mas, se aumentarmos a amplitude da lente, o que é também o dever da mídia, não dá para chegar a outra conclusão senão a de que o Rio e sua população não podem mais aceitar esse tipo de desafio a céu aberto. É preciso reprimir quando se é agredido, mas, mais do que isso, é fundamental impedir de todas as formas que a agressão se repita.
21:59 - 23/08/2010

IQUE - No Jornal do Brasil

FOME DE MARINA*

FOME DE MARINA*
Por José Ribamar Bessa Freire*
Há pouco, Caetano Veloso descartou do seu horizonte eleitoral o presidente Lula da Silva, justificando: "Lula é analfabeto". Por isso, o cantor baiano aderiu à candidatura da senadora Marina da Silva, que tem diploma universitário. Agora, vem a roqueira Rita Lee dizendo que nem assim vota em Marina para presidente, "porque ela tem cara de quem está com fome".
Os Silva não têm saída: se correr o Caetano pega, se ficar a Rita come.
Tais declarações são espantosas, porque foram feitas não por pistoleiros truculentos, mas por dois artistas refinados, sensíveis e contestadores, cujas músicas nos embalam e nos ajudam a compreender a aventura da
existência humana.
Num país dominado durante cinco séculos por bacharéis cevados, roliços e enxudiosos, eles naturalizaram o canudo de papel e a banha como requisitos indispensáveis ao exercício de governar, para o qual os Silva, por serem iletrados e subnutridos, estariam despreparados.
Caetano Veloso e Rita Lee foram levianos, deselegantes e preconceituosos. Ofenderam o povo brasileiro, que abriga, afinal, uma multidão de silvas famélicos e desescolarizados.
De um lado, reforçam a ideia burra e cartorial de que o saber só existe se for sacramentado pela escola e que tal saber é condição sine qua non para o exercício do poder. De outro, pecam querendo nos fazer acreditar que quem está com fome carece de qualidades para o exercício da representação política.
A rainha do rock, debochada, irreverente e crítica, a quem todos admiramos, dessa vez pisou na bola. Feio."Venenosa! Êh êh êh êh êh!/ Erva venenosa, êh êh êh êh êh!/ É pior do que cobra cascavel/ O seu veneno é cruel.../ Deus do céu!/ Como ela é maldosa!". Nenhum dos dois - nem Caetano, nem Rita - têm tutano para entender esse Brasil profundo que os silvas representam.
A senadora Marina da Silva tem mesmo cara de quem está com fome? Ou se trata de um preconceito da roqueira, que só vê desnutrição ali onde nós vemos uma beleza frágil e sofrida de Frida Kahlo, com seu cabelo amarrado em um coque, seus vestidos longos e seu inevitável xale? Talvez Rita Lee tenha razão em ver fome na cara de Marina, mas se trata de uma fome plural, cuja geografia precisa ser delineada. Se for fome, é fome de quê?
O mapa da fome
A primeira fome de Marina é, efetivamente, fome de comida, fome que roeu sua infância de menina seringueira, quando comeu a macaxeira que o capiroto ralou. Traz em seu rosto as marcas da pobreza, de uma fome crônica que nasceu com ela na colocação de Breu Velho, dentro do Seringal Bagaço, no Acre.
Órfã da mãe ainda menina, acordava de madrugada, andava quilômetros para cortar seringa, fazia roça, remava, carregava água, pescava e até caçava. Três de seus irmãos não aguentaram e acabaram aumentando o alto índice de mortalidade infantil.
Com seus 53 quilos atuais, a segunda fome de Marina é dos alimentos que, mesmo agora, com salário de senadora, não pode usufruir: carne vermelha, frutos do mar, lactose, condimentos e uma longa lista de uma rigorosa dieta prescrita pelos médicos, em razão de doenças contraídas quando cortava seringa no meio da floresta. Aos seis anos, ela teve o sangue contaminado por mercúrio. Contraiu cinco malárias, três hepatites e uma leishmaniose.
A fome de conhecimentos é a terceira fome de Marina. Não havia escolas no seringal. Ela adquiriu os saberes da floresta através da experiência e do mundo mágico da oralidade.
Quando contraiu hepatite, aos 16 anos, foi para a cidade em busca de tratamento médico e aí mitigou o apetite por novos saberes nas aulas do Mobral e no curso de Educação Integrada, onde aprendeu a ler e escrever.
Fez os supletivos de 1º e 2º graus e depois o vestibular para o Curso de História da Universidade Federal do Acre, trabalhando como empregada doméstica, lavando roupa, cozinhando, faxinando.
Fome e sede de justiça: essa é sua quarta fome. Para saciá-la, militou nas Comunidades Eclesiais de Base, na associação de moradores de seu bairro, no movimento estudantil e sindical. Junto com Chico Mendes, fundou a CUT no Acre e depois ajudou a construir o PT.
Exerceu dois mandatos de vereadora em Rio Branco , quando devolveu o dinheiro das mordomias legais, mas escandalosas, forçando os demais vereadores a fazerem o mesmo. Elegeu-se deputada estadual e depois senadora, também por dois mandatos, defendendo os índios, os trabalhadores rurais e os
povos da floresta.
Quem viveu da floresta, não quer que a floresta morra. A cidadania ambiental faz parte da sua quinta fome. Ministra do Meio Ambiente, ela criou o Serviço Florestal Brasileiro e o Fundo de Desenvolvimento para gerir as florestas e estimular o manejo florestal.
Combateu, através do Ibama, as atividades predatórias. Reduziu, em três anos, o desmatamento da Amazônia de 57%, com a apreensão de um milhão de metros cúbicos de madeira, prisão de mais 700 criminosos ambientais, desmonte de mais de 1,5 mil empresas ilegais e inibição de 37 mil propriedades de grilagem.
*Tudo vira bosta*
Esse é o retrato das fomes de Marina da Silva que - na voz de Rita Lee – a descredencia para o exercício da presidência da República porque, no frigir dos ovos, "o ovo frito, o caviar e o cozido/ a buchada e o cabrito/ o cinzento e o colorido/ a ditadura e o oprimido/ o prometido e não cumprido/ e o programa do partido: tudo vira bosta".

Lendo a declaração da roqueira, é o caso de devolver-lhe a letra de outra música - 'Se Manca' - dizendo a ela: "Nem sou Lacan/ pra te botar no divã/ e ouvir sua merda/ Se manca, neném!/ Gente mala a gente trata com desdém/ Se manca, neném/ Não vem se achando bacana/ você é babaca".
Rita Lee é babaca? Talvez não, mas certamente cometeu uma babaquice.
Numa de suas músicas - 'Você vem' - ela faz autocrítica antecipada, confessando: "Não entendo de política/ Juro que o Brasil não é mais chanchada/ Você vem... e faz piada".
Como ela é mutante, esperamos que faça um gesto grandioso, *um pedido de desculpas* dirigido ao povo brasileiro, cantando: "Desculpe o auê/ Eu não queria magoar você".
A mesma bala do preconceito disparada contra Marina atingiu também a ministra Dilma Rousseff, em quem Rita Lee também não vota porque, "ela tem cara de professora de matemática e mete medo".
 Ah, Rita Lee conseguiu o milagre de tornar a ministra Dilma menos antipática!
Não usaria essa imagem, se tivesse aprendido elevar uma fração a uma potência, em Manaus, com a professora Mercedes Ponce de Leão, tão fofinha, ou com Nathércia Menezes, tão altaneira.
Deixa ver se eu entendi direito: Marina não serve porque tem cara de fome. Dilma, porque mete mais medo que um exército de logaritmos, catetos, hipotenusas, senos e co-senos. Serra, todos nós sabemos, tem cara de
vampiro. Sobra quem?
Se for para votar em quem tem cara de quem comeu (e gostou), vamos ressuscitar, então, Paulo Salim Maluf ou Collor de Mello, que exalam saúde por todos os dentes. Ou o Sarney, untuoso, com sua cara de ratazana bigoduda. Por que não chamar o José Roberto Arruda, dono de um apetite voraz e de cuecões multi-bolsos? Como diriam os franceses, "il péte de santé".
O banqueiro Daniel Dantas, bem escanhoado e já desalgemado, tem cara de quem se alimenta bem. Essa é a elite bem nutrida do Brasil...
Rita Lee não se enganou: Marina tem a cara de fome do Brasil, mas isso não é motivo para deixar de votar nela, porque essa é também a cara da resistência, da luta da inteligência contra a brutalidade, do milagre da
sobrevivência, o que lhe dá autoridade e a credencia para o exercício de liderança em nosso país.
Marina Silva, a cara da fome? Esse é um argumento convincente para votar nela. Se eu tinha alguma dúvida, Rita Lee me convenceu definitivamente.*   *
(*) * José Ribamar Bessa Freire* - Professor, coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ) e pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO)
"A descoberta consiste em ver o que todo mundo viu e pensar o que ninguém
pensou."

Rei dos Pinguins


Photograph by David Schultz 

Zeca Pagodinho - Piston de gafieira

Déficit externo triplica este ano

Déficit externo triplica este ano
Rombo chega ao valor recorde de US$ 4,5 bi em julho e soma US$ 28,26 bi de janeiro a julho, o triplo do verificado no ano passado
Fabio Graner, Fernando Nakagawa BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

Dados divulgados ontem pelo Banco Central mostram que no mês passado a conta corrente brasileira - que registra todas as operações de bens e serviços do Brasil com o exterior - teve saldo negativo de US$ 4,5 bilhões, o pior resultado para julho desde 1947.
No acumulado do ano, o déficit ficou em US$ 28,26 bilhões (2,51% do PIB), também o pior resultado da história para o período e o triplo do verificado de janeiro a julho de 2009.
Não bastasse o elevado déficit em conta corrente, mais uma vez o fluxo de Investimento Estrangeiro Direto (IED), voltado para a produção, não foi suficiente para compensar a saída de dólares. Os ingressos de IED somaram no mês passado US$ 2,64 bilhões, equivalentes a apenas 58% do déficit na conta corrente. Para tapar o buraco, o Brasil precisou mais uma vez dos investimentos em ações e renda fixa e dos empréstimos tomados por empresas brasileiras no exterior, fenômeno que tem sido recorrente nos últimos meses.
No acumulado do ano, o saldo dos investimentos estrangeiros é positivo em US$ 14,7 bilhões, o que representou praticamente a metade do rombo da conta corrente brasileira. O fluxo de investimento estrangeiro para a produção neste ano segue bem abaixo das expectativas do BC, cuja projeção é de ingressos de US$ 38 bilhões.
Perfil. O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, disse não enxergar risco de uma crise futura no balanço de pagamentos - que inclui a conta corrente e a de capitais, por onde ingressam investimentos e empréstimos. Segundo ele, o fato de o IED não cobrir todo o saldo negativo na conta corrente não é problema, pois os empréstimos tomados são de prazo longo e com condições favoráveis, como prazo e taxas de juro.
Altamir destacou ainda que os investimentos produtivos devem ter aceleração, motivada pela exploração do pré-sal, Copa do Mundo e Olimpíada. Ele salientou que o perfil do IED é, hoje, mais voltado para setores que têm forte potencial de vendas no exterior e poderão melhorar a conta corrente.
Para o economista do BES Investimento Flavio Serrano os números das contas externas mostram que realmente há uma mudança de perfil, com o IED insuficiente para cobrir o déficit em conta corrente. Segundo ele, a dependência de outras fontes de financiamento adiciona volatilidade à taxa de câmbio, já que dólares de investimentos em ações e renda fixa podem sair a qualquer momento e o mercado externo de crédito pode secar em uma eventual crise.
Mas ele não vê risco de crise de balanço de pagamentos, como no passado, já que o perfil da conta corrente é mais relacionado ao nível de atividade econômica do País. Segundo ele, o crescente saldo negativo em conta corrente deve levar no médio prazo a uma desvalorização do real.

Newton Silva, para O Jangadeiro Online

Duro golpe à imprensa se vira contra Cristina

Duro golpe à imprensa se vira contra Cristina
Presidente argentina apresenta relatório que liga principais jornais à ditadura; entidades e oposição criticam líder
Mônica Yanakiew
Especial para O GLOBO

BUENOS AIRES. Numa nova investida contra os meios de comunicação do país, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, apresenta hoje um relatório de 400 páginas, revelando supostos vínculos entre os principais jornais e a ditadura (1976-1983), para compra da Papel Prensa. A divulgação do documento provocou reações de entidades de imprensa, da oposição e dos principais jornais do país, que manifestaram preocupação com a liberdade de expressão argentina.
De acordo com a denúncia do governo, cuja bandeira tem sido a defesa de direitos humanos, trata-se de mais um crime do regime militar.
Tanto os políticos da oposição, quanto os jornais “La Nación” e “Clarín”, garantem que é mais uma manobra do Estado para controlar a imprensa.
Durante o fim de semana, os diários publicaram editoriais denunciando as manobras do governo para coibir a mídia, comparando a política de Cristina com a do venezuelano Hugo Chávez.
Ontem, os jornais receberam apoio da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) e da Associação Internacional de Radiodifusão (AIR), que manifestaram preocupação com as “ameaças à liberdade de expressão na Argentina”.
— Cristina Kirchner inventa causas de direitos humanos e inicia processos de lesa-Humanidade para ficar com bens de outros e, assim, dominar a opinião pública. Seu objetivo é apoderarse da Papel Prensa. Sem papel, não existe imprensa — afirmou Elisa Carrió, líder da Coalizão Cívica, da oposição.
Governo questiona legitimidade da compra Criada em 1972, a Papel Prensa fabrica e fornece papel para 170 jornais argentinos, abastecendo 75% do mercado. Seus principais acionistas são “Clarín” (49%), “La Nación” (22,5%) e o Estado argentino (27.5%). Agora, o governo questiona a legitimidade da aquisição da empresa — ocorrida há 34 anos —, alegando que os antigos donos foram praticamente obrigados a vender porque estavam sendo perseguidos pela ditadura.
Segundo Beatriz Paglieri, representante do governo na direção da Papel Prensa, o relatório de 400 páginas contém “provas irrefutáveis da cumplicidade entre a ditadura e os donos dos jornais ‘Clarín’,‘La Nación’ e ‘La Razón’”, que teriam se aproveitado da conjuntura política para comprar a empresa a um bom preço.
Num comunicado à imprensa internacional, o “Clarín” e o “La Nación” defenderam-se do que garantem ser “falsas acusações”.
Segundo os diários, elas fazem parte de um plano para expropriar a empresa — na qual investiram US$ 140 milhões — para poder “controlar e manipular” os meios de comunicação.
A Papel Prensa pertencia a David Graiver, empresário e banqueiro que tinha ligações e negócios tanto com os militares quanto com o grupo guerrilheiro Montoneros. Em agosto de 1976, poucos meses após o golpe militar, ele morreu num acidente aéreo no México. Seu império, que incluía bancos na Bélgica e nos Estados Unidos, começou a desmoronar, e os credores começaram a bater na porta da viúva, Lídia Papaleo, que vendeu ativos para saldar dívidas.
Mais um golpe ao “Clarín” em uma semana A empresa foi vendida em novembro de 1976 aos jornais “Clarín”, “La Nación” e “La Razón”.
Cinco meses depois, em março de 1977, Lídia Papaleo e outros parentes de seu marido foram presos e torturados pelos militares, que investigavam as ligações de David Gravier com os Montoneros.
— Quando Lídia Papaleo vendeu a Papel Prensa, estava em liberdade.
Foi presa quase meio ano depois por causa da ligação de David Graiver com a guerrilha.
E quando a ditadura caiu, ela não saiu à frente para dizer que tinha sido obrigada a vender a empresa. O governo quer transformar este caso num crime de lesa-Humanidade para dar mais um golpe nos meios de comunicação — disse ao GLOBO um advogado do Grupo Clarín, sob condição de anonimato, acrescentando que não é coincidência que o governo faça da denúncia um show público.
O relatório sobre a Papel Prensa será apresentado hoje num ato na Casa Rosada para o qual foram convidados empresários, políticos, diplomatas e jornalistas. Será o segundo golpe sofrido pelo Grupo Clarín em menos de uma semana: na quinta-feira passada, o governo cassou a licença de Fibertel (uma das empresas do maior conglomerado de mídia do pais), para prover serviços de internet a seus mais de um milhão de clientes.
Os conflitos entre o governo e imprensa datam de 2008, quando o “Clarín” apoiou os ruralistas num confronto com Cristina Kirchner. Em outubro de 2009, foi aprovada uma polêmica lei apresentada pelo governo contra os monopólios da mídia. Além disso, a proprietária do grupo, Ernestina Herrera de Noble, está sendo investigada pela Justiça: ela é suspeita de ter adotado, na ditadura, dois filhos de desaparecidos.

Transferência de bens do devedor, mesmo anterior à dívida, pode ser desfeita

Transferência de bens do devedor, mesmo anterior à dívida, pode ser desfeita
A transferência de bens do devedor para se prevenir de uma futura execução pode ser desfeita pela Justiça mesmo que tenha ocorrido antes da constituição da dívida, bastando que se evidencie a intenção de fraude contra o credor. Com essa tese, a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou provimento a recurso especial interposto por um grupo de devedores de São Paulo e permitiu que a transferência de seus bens a terceiros seja declarada ineficaz. 
Um dos autores da manobra era sócio de concessionária de veículos que, segundo informações do processo, cometeu várias irregularidades em contratos financeiros, em prejuízo do banco financiador. Descoberta a fraude, a empresa concordou em assinar documento de confissão de dívida e deu ao banco notas promissórias que não foram pagas. 
Ainda segundo o processo, desde que as irregularidades começaram a ser apuradas, a família do sócio da empresa tratou de se desfazer dos bens que poderiam vir a ser penhorados em futura execução. Primeiro, o empresário e seus familiares próximos – comprometidos por aval com as notas promissórias – criaram duas empresas e transferiram seus imóveis a elas. Em seguida, cederam suas cotas societárias para empresas off-shore localizadas em um paraíso fiscal. 
A ministra Nancy Andrighi, relatora do caso no STJ, observou que, em princípio, uma transferência de bens só pode ser considerada fraude contra o credor e, assim, desfeita pela Justiça, quando ocorre após a constituição da dívida. Em alguns casos, porém, segundo ela, a interpretação literal da lei não é suficiente para coibir a fraude. 
O intelecto ardiloso intenta – criativo como é – inovar nas práticas ilegais e manobras utilizadas com o intuito de escusar-se do pagamento ao credor. Um desses expedientes é o desfazimento antecipado de bens, já antevendo, num futuro próximo, o surgimento de dívidas, com vistas a afastar o requisito da anterioridade do crédito”, afirmou a ministra em seu voto. 
Os demais integrantes da Terceira Turma concordaram com a posição da relatora, no sentido de relativizar a exigência da anterioridade do crédito sempre que ficar demonstrada a existência de fraude predeterminada para lesar credores futuros. Em seu voto, Nancy Andrighi ressaltou que o STJ já havia adotado esse entendimento pelo menos uma vez, em 1992, em recurso relatado pelo ministro Cláudio Santos.

Coordenadoria de Editoria e Imprensa

AROEIRA

Heroísmo ou imprudência?PM vai premiar policiais que trocaram tiros em São Conrado; especialistas criticam operação

Heroísmo ou imprudência?
PM vai premiar policiais que trocaram tiros em São Conrado; especialistas criticam operação
Ana Cláudia Costa – O Globo

Entrada do prédio Village São Conrado, que ficou no meio do fogo cruzado | Foto: Fabio Gonçalves / Agência O Dia

Apesar do pânico criado pelo tiroteio entre policiais e traficantes e dos danos que o confronto causou à imagem da cidade, os quatro policiais militares que trocaram tiros com o “bonde” de cerca de 60 traficantes da Rocinha em plena Avenida Aquarela do Brasil serão condecorados e receberão menção honrosa do comandante do 23º BPM (Leblon), tenente coronel Rogério Leitão. Para o oficial, o sargento Juan Alasio, os cabos Luis Cunha e Robson Rodrigues e o soldado Augusto foram heróis ao enfrentarem sozinhos a quadrilha: — A ação dos policiais beirou o heroísmo. A princípio eram dois policiais e depois quatro que enfrentaram o bonde de traficantes. Até ontem (domingo) eles estavam sobressaltados.

Eles foram corajosos.
A opinião não é compartilhada pelo o coronel José Vicente da Silva Filho, ex-secretário Nacional de Segurança.
Para ele, a ação dos PMs foi uma temeridade, pois somente em último caso os PMs devem optar pelo confronto: — Eles foram corajosos no enfrentamento, mas um fracasso do ponto de vista operacional. Ao constatarem a presença de criminosos, os policiais tinham que chamar reforços e tentar fazer um cerco. O policial só atira para se defender ou proteger a população — diz.
Mesmo diante das cenas que mostravam os bandidos atirando, José Vicente é taxativo: — A polícia não pode atirar nos bandidos só porque eles estão atirando.
Se os criminosos estivessem indo para cima dos policiais, ou ameaçando terceiros, os PMs tinham que revidar. Mas se estavam atirando para fugir, não era preciso que a polícia atirasse. Ela tinha que tentar cercar — diz o coronel.
O especialista, porém, elogiou o cerco ao hotel, com a convocação do Bope, mais preparado pra a situação.
José Vicente se disse espantando com a condecoração aos policiais: — Não se faz nem premiação nem investigação precipitada.
Opinião parecida tem o sociólogo Michel Misse, para quem é preciso avaliar o que houve em São Conrado, no sábado: — Pode-se chegar a conclusão que foi heroico, mas equivocado.

Comandante nega operação irregular
O comandante do 23º BPM negou ontem que houvesse uma operação não autorizada com policiais sem farda na favela do Vidigal para prender o traficante Antônio Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha. Rogério Leitão também disse desconhecer um primeiro tiroteio no Vidigal e acrescentou que não haverá investigações administrativas no batalhão para checar tal informação.
Para o coronel, o que aconteceu foi mesmo um encontro de um grupo de traficantes que deixou o baile no Vidigal com a patrulha, que estava fazendo a ronda de rotina.
— Eles estavam fazendo o patrulhamento normal e se depararam com aquele número enorme de traficantes.
Eles estavam muito bem armados e ainda bem que tivemos um saldo positivo com dez presos e oito fuzis apreendidos.
Na manhã de ontem o comandante da PM, coronel Mário Sérgio Duarte, esteve no 23oBPM para conversar com a tropa. Após elogiar a atuação dos militares, Mário Sérgio anunciou que irá deslocar mais policiais e viaturas para reforçar o batalhão do Leblon.
O comandante negou ter havido irregularidades na ação dos policiais: — Até o momento, não chegamos a irregularidade alguma. O que nós temos é uma reação da PM, que foi atrás dos bandidos. Inclusive quatro policiais ficaram feridos no confronto com traficantes.
O coronel explicou que toda a equipe do batalhão foi acionada em poucos minutos pelos policiais que se depararam com bandidos. Após o alerta dado pelos PMs, o carro do Grupamento de Ações Táticas (GAT) que estava na Rocinha para patrulhamento de um evento chegou ao local em menos de dez minutos.
Ontem, o policiamento no entorno do Hotel Intercontinental e em São Conrado permaneceu reforçado, com rondas do Batalhão de Choque e do batalhão de motociclistas, além de policiais em patrulhas. Segundo o comandante do 23º BPM, o reforço na região será por tempo indeterminado, mas descartou uma operação na Rocinha de imediato: — Não vai ter revanchismo agora.
Precisamos ser pontuais e agir com inteligência — disse.
Dois dias após São Conrado ter virado uma praça de guerra, um morador do bairro, que não quis se identificar, contou ter visto quando os traficantes entraram no hotel e pensou que fossem policias civis, pois estavam vestidos de preto. Segundo ele, os criminosos tentaram travar a porta giratória do hotel, mas não conseguiram.
A testemunha pensou que os homens fossem assaltar a joalheria que fica na entrada do hotel: — Eles estavam muito assustados.

Todos armados com fuzis.
Acho que entraram na primeira porta que viram. Eles queriam fugir.
Ontem policiais civis da 15ª DP (Gávea) recolheram imagens do circuito interno do hotel e de condomínios na Avenida Aquarela do Brasil.
Policiais querem identificar os traficantes da Rocinha que escaparam.
Eles vão comparar os traficantes nas imagens com homens ligados ao tráfico de drogas na Rocinha que são investigados pela delegacia.
COLABOROU: Maria Elisa Alves

Camargo Guarnieri - Sonata nº1 - Moviment III-Selvagem - Laura Mac-Knight Maule & Harlan Zackery

A terça-feira começou com céu claro e sol intenso. No Aterro do Flamengo, flores formaram um tapete natural. Foto de Márcia Foletto - O Globo

Waldez, no Amazônia Jornal

A GUERRA DO RIO Traficante da Rocinha teria PMs na escolta

A GUERRA DO RIO
Traficante da Rocinha teria PMs na escolta
Publicada em 23/08/2010 às 23h15m
Sérgio Ramalho

RIO - Uma investigação da Divisão de Capturas da Polinter sobre a quadrilha responsável pela venda de drogas na Rocinha descobriu que policiais militares - entre eles dois ex-integrantes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) - participam da escolta de Antônio Bonfim Lopes, o Nem, chefe do tráfico na comunidade. Não há confirmação, no entanto, de que os PMs tenham participado do confronto de sábado .
O envolvimento de PMs com o bando foi constatado, inclusive, em escutas telefônicas autorizadas pela Justiça. Em algumas delas, Nem é alertado com antecedência sobre ações de policiais na favela. Uma das responsáveis pela investigação, a delegada Roberta Carvalho da Rocha, da Polinter, esteve na 15ª DP (Gávea) para analisar as imagens de bandidos, captadas por câmeras de condomínios de São Conrado, durante a ação de sábado.
Entre os suspeitos que aparecem nos vídeos, três homens usando coletes à prova de balas, com fuzis e radiotransmissores, chamaram a atenção de envolvidos na investigação sobre a quadrilha de Nem. Entre esses três bandidos, o que mais se destaca é um que assume uma posição de comando, como se estivesse chefiando a ação. Usando boné e fones de ouvido ligados a um radiotransmissor, ele demonstra desenvoltura de quem recebeu treinamento militar.
Ao descer da van, o bandido se posiciona no meio da rua. Pouco depois, parte do bando que estava numa das vans do comboio invade o Hotel Intercontinental, onde 35 pessoas foram feitas reféns. Há a suspeita de que a invasão tenha sido uma estratégia para desviar a atenção da polícia, permitindo assim que Nem fugisse. A quadrilha voltava de um baile funk no Morro do Vidigal quando ocorreu o confronto.
Segundo fontes na Polícia Civil, mais de 20 bandidos invadiram o Intercontinental em momentos diferentes. Parte deles fugiu, pulando um muro nos fundos do hotel. Depois, outro grupo foi para o subsolo, onde fica a cozinha, tomando funcionários e hóspedes como reféns.
COLABOROU Gustavo Goulart
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