domingo, outubro 10, 2010

Fernandes, para Diário do ABC


Diferença entre candidatos é menor que parece

Diferença entre candidatos é menor que parece
José Roberto de Toledo - O Estado de S. Paulo
A diferença de sete pontos porcentuais entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) captada pela primeira pesquisa do segundo turno parece maior do que é de fato. Com apenas dois candidatos na disputa, o que sai de um vai para o outro. Os vira-casaca contam dobrado.
Se 4% dos votos válidos trocassem de lado, Serra empataria com Dilma, ou a petista dobraria sua vantagem - dependendo de para onde o vento sopre. Como se vê, é uma margem apertada.
Além disso, o Datafolha encontrou 7% de eleitores indecisos. Um cenário possível é que eles venham a se distribuir da mesma maneira que os eleitores de Marina Silva (PV) e dos nanicos já se distribuíram até agora, isto é, na proporção de dois para um em favor de Serra. Se isso acontecer, o tucano passaria de 41% para entre 45% e 46% do total de votos, enquanto Dilma iria de 48% para entre 50% e 51%. A diferença entre eles poderia cair de 7 pontos para, no limite mínimo, 4 pontos.
Em 2006, o porcentual de votos brancos e nulos caiu do primeiro para o segundo turno da eleição presidencial (porque eram menos cargos e a votação ficou mais fácil), mas a abstenção aumentou. A quantidade de votos válidos foi praticamente igual.
Mantido esse cenário em 2010, Dilma e Serra estariam disputando 101,6 milhões de votos (os válidos do primeiro turno). Aplicados os índices do Datafolha, a petista teria hoje 50,8 milhões de votos, e o tucano, 43,4 milhões.
A diferença entre eles, de pouco mais de 7 milhões de eleitores, equivale aos 7% de indecisos, que na urna precisarão votar em alguém. Se conquistados todos pelo tucano, o que é improvável, seriam suficientes para Serra empatar com Dilma, sem precisar cooptar nenhum eleitor dela.
A grande maioria dos eleitores que votaram em outros candidatos no primeiro turno não ficou esperando a orientação de quem quer que seja para decidir seu voto. E não deve ser isso que vai definir o destino da eleição, apesar de petistas e tucanos bajularem Marina por seu apoio formal.
Em comparação ao primeiro turno, Dilma ganhou até agora 3,1 milhões de votos, e Serra amealhou 10,2 milhões de novos eleitores. Os que trocaram Dilma por Marina na reta final do primeiro turno por motivos religiosos provavelmente já migraram para Serra e dificilmente voltarão para o colo da petista. Pelos números do Datafolha, são principalmente do sexo feminino.
A seu favor, Dilma conta com o eleitorado do Nordeste e dos municípios onde o Bolsa-Família tem mais peso. O programa funciona como uma espécie de paraquedas da petista, lhe fornecendo um piso alto nessa região.
Com dificuldades para crescer no Norte/Nordeste, resta a Serra ampliar sua vantagem no Sul e ganhar votos no Sudeste, principalmente nas maiores cidades, onde se concentra o eleitorado que votou em Marina. É lá que deve ser travada a batalha do segundo turno.
É JORNALISTA ESPECIALIZADO EM PESQUISAS

Cláudio Humberto

Cláudio Humberto
“O que motiva o apoio a Dilma é Michel Temer como vice”
GEDDEL VIEIRA LIMA, JUSTIFICANDO O APOIO DO PMDB À CANDIDATURA DE DILMA ROUSSEFF
OAB: LULA TEM VOCAÇÃO PARA COMANDAR O BOPE  O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, Ophir Cavalcante, ficou perplexo com a declaração do presidente Lula, no Rio de Janeiro, defendo que “polícia bate em que tem que bater”. Cavalcante ironizou o primarismo de Lula: “Ele parece ter vocação para comandar o Bope”, disse, numa referencia à tropa de choque da Polícia Militar conhecida pela atitude violenta no combate ao crime.

NADA DEMAIS  Ao contrário da OAB, o Ministério Público nada viu no discurso de Lula. O artigo 37 da Constituição impõe respeito aos direitos humanos.
ILÓGICO O fim do jejum de “Lulinha, paz e amor” com mais uma frase de (mau) efeito mata no peito o sentido da “pacificação”. Vira P, de porrada.
USOS E COSTUMES Um mar de lama, que começou na Hungria, ainda assusta a Europa. Habituado, o Brasil nem dá mais bola para isso.
PERGUNTAR NÃO DESPENTEIA Será que até o final do segundo turno a Dilma vai descabelar aquela escova progressiva?
LA BELLE VIE À BRASILEIRA, E POR NOSSA CONTA Nada como ser da “zelite” do governo: um filho de Antonio Patriota, secretário-geral do Ministério de Relações Exteriores, residente em Paris, ganhou uma boquinha na Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República e levou de brinde a mudança para Brasília por nossa conta: R$ 15 mil. Apenas diplomatas têm direito a isso, mas Thomas Patriota disse a esta coluna que apenas estudava em Paris.
JEITINHO A Presidência da República admite não possuir contrato para mudança “de servidor oriundo do exterior”. Ainda assim, vai pagar a conta.
SEM RUMO Piada da hora em Santa Catarina: os petistas tentam consolar a derrotada candidata ao governo dizendo “Ideli ali, Ide aqui”.
É A VIDA Alçada por Lula à “mãe do PAC” e depois à “mãe dos brasileiros”, a candidata Dilma enfrenta agora uma polêmica envolvendo... aborto.
SUMIÇO DE DOAÇÃO... Destinatário da carga, o Instituto Adventista, de São Paulo, discute se entrará na Justiça em razão do sumiço de US$ 6 milhões em roupas e brinquedos doados a crianças pobres pela Solidary, entidade internacional de empresários, sediada em Miami.
...PODE IR À JUSTIÇA Os vinte contêineres com roupas e brinquedos sumiram do porto de Santos há dois anos, após o deputado federal Vicente Cândido (PT-SP), ligado aos adventistas, intermediar nos EUA a ajuda humanitária.
SEM CENSURA O Tribunal de Justiça de São Paulo deu um passa-fora no prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT): ele tentou impedir um jornal do ABC de citá-lo em reportagens. Ouviu que “a censura acabou no País”.
DEMORA DIMINUI MARINA As dissensões internas no partido de Marina Silva e a demora em definir o apoio a Serra ou Dilma no segundo turno minam o enorme capital eleitoral conquistado pela Verde, disseminando desconfianças no eleitorado que optou pela “mudança” na forma de fazer política.
DEDO VERDE O governador eleito Tarso Genro (PT-RS) lembrou em público, há dias, que é mais amigo de Marina Silva do que de Dilma, quando, ministro da Justiça, ajudou a ex-ministra do Meio Ambiente em rolos PF-Ibama.
FUNDO DO SACO Deve ficar para o próximo presidente ou para o fundo dos precatórios o pagamento de US$ 94 mil de indenização determinada pela OEA à família do agricultor do MST Sétimo Garibaldi, assassinado em 1998.
MORTOS QUE CAMINHAM Multiplicam-se os estranhos telefonemas perguntando nomes de falecidos com bens inexistentes. De uma leitora do Rio, 87, queriam saber se a mãe “comprou uma motocicleta”. Hum...
DEUS CASTIGA Batizada e crismada, igual a Dilma, a evangélica Magda Aparecida dos Reis quis tirar o nome da santa padroeira do Brasil, escolhido pelos pais: “Causa de constrangimento”. A Justiça do Paraná negou.
PENSANDO BEM......será que a escaveira chilena conseguiria chegar ao fundo do poço dos escândalos da família Guerra?
PODER SEM PUDOR
CONSPIRAÇÃO PERNAMBUCANA
Oito horas da manhã, o governador de Pernambuco, Moura Cavalcanti, dirigia-se ao Palácio do Campo das Princesas, no Recife, quando ouviu no rádio da Casa Militar: “O secretário de Indústria e Comércio chama para reunião o secretário de Fazenda, Gustavo Krause, o secretário de Planejamento, Luiz Otávio Cavalcanti, o secretário de Educação, José Jorge Vasconcelos...” Moura pegou o microfone e ordenou:
- Chame a polícia para saber que diabo de reunião é essa que o governador do Estado não foi informado!

Eu não sei dizer Te Amo - Frejat

Humberto, hoje no Jornal do Commercio (PE)


A economia mundial com os nervos à flor da pele

A economia mundial com os nervos à flor da pele
O Globo
AS PRINCIPAIS ECONOMIAS do planeta estão reunidas em Washington com uma preocupação em comum: como evitar o que especialistas e governos vêm chamando de guerra cambial. Diversos países, entre eles Estados Unidos e Brasil, reclamam de outros países, notadamente os emergentes, que estariam forçando a desvalorização de suas moedas como estratégia para beneficiar suas exportações.
O foco principal da chiação é a China, que tem o controle cambial sobre sua moeda, o yuan – enquanto nas principais economias do mundo as moedas flutuam de acordo com o humor do mercado. Para muitos economistas, essa diferença entre os regimes provoca distorções na economia financeira internacional, levando à natural adoção de medidas de retaliação.
O Brasil tem suas armas nessa contenda. Em menos de uma semana anunciou duas medidas para atenuar a valorização do real. A principal foi a elevação de 2% para 4% do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre o capital estrangeiro que entra no país em busca de rendimentos de curto prazo (basicamente, títulos do governo).
Já os Estados Unidos, apesar de mais cautelosos devido a forte ligação econômica com Pequim, também têm subido o tom contra a desvalorização da moeda chinesa.
No mês passado, a Câmara dos EUA aprovou um projeto de lei que permitirá ao governo americano tratar a desvalorização do iene como um subsídio, abrindo as portas para uma série de medidas protecionistas contra a importação de produtos chineses.
O drama para os americanos – e também para seus parceiros europeus – é que os efeitos da crise econômica de 2008/2009 ainda são muito sentidos nesses países, e a China sempre pode ser um desafogo.
Algumas medidas poderiam atenuar o problema, como um maior controle sobre gastos públicos pelos países ricos, e uma maior disposição da China em aceitar a valorização de sua moeda. Mas nada disso é simples.
Será caso, como se vê, para tornar-se tema não apenas da reunião do FMI mas também da cúpula do G-20, em novembro. E daí para muito mais.

Martha Medeiros: Em que esquina dobrei errado?

Martha Medeiros: Em que esquina dobrei errado?
Quanta gente perde a vida que almejou por ter virado numa esquina que não conduzia a lugar algum?
Aconteceu em Paris. Estava sozinha e tinha duas horas livres antes de chamar o táxi que me levaria ao aeroporto, de onde embarcaria de volta para o Brasil. Mala fechada, resolvi gastar esse par de horas caminhando até a Place des Voges, que era perto do hotel. Depois de chuvas torrenciais, fazia sol na minha última manhã na cidade, então Place des Voges, lá vou eu. E fui.
Sem um mapa à mão, tinha certeza de que acertaria o caminho, não era minha primeira vez na cidade. Mas por um desatino do meu senso de orientação, dobrei errado numa esquina. Em vez de ir para a esquerda, entrei à direita. Mais adiante, aí sim, virei à esquerda, mas não encontrei nenhuma referência do que desejava. Segui reto: estaria a Place des Voges logo em frente? Mais umas quadras, esquerda de novo. Gozado, era por aqui, eu pensava. Não que fosse um sacrifício se perder em Paris, mas eu parecia estar mais longe do hotel do que era conveniente. Mais caminhada, e então, várias quadras adiante, não foi a Place des Voges que surgiu, e sim a Place de la Republique. Eu tinha atravessado uns três bairros de Paris, mon Dieu.
Perguntei a um morador o caminho mais curto para voltar à rua onde ficava meu hotel, e ele me apontou um táxi. Teimosa, pensei: ainda tenho um tempinho, voltarei a pé. E assim foram minhas duas últimas horas em Paris, uma estabanada andando às pressas, saltando as poças da noite anterior, olhando aflita para o relógio em vez de flanar como a cidade pede. Cheguei bufando no hotel, peguei minha mala e, por causa da correria, esqueci no hall de entrada uma gravura linda que havia comprado e que planejava trazer em mãos no voo. Tudo por causa de uma esquina que dobrei errado.
Foram apenas duas horas inúteis e cansativas, e duas horas não é nada na vida de ninguém. Mas quanta gente perde a vida que almejou por ter virado numa esquina que não conduzia a lugar algum?
Alguns desacertos pelo caminho fazem a gente perder três anos da nossa juventude, fazem a gente perder uma oportunidade profissional, fazem a gente perder um amor, fazem a gente perder uma chance de evoluir. Por desorientação, vamos parar no lado oposto de onde nos aguardava uma área de conforto, onde encontraríamos pessoas afetivas e uma felicidade não de cinema, mas real. Por sair em desatino sem a humildade de pedir informação a quem conhece bem o trajeto ou de consultar um mapa, gastamos sola de sapato à toa e um tempo que ninguém tem para esbanjar. Se a vida fosse férias em Paris, perder-se poderia resultar apenas numa aventura, mesmo com o risco de o avião partir sem nós. Mas a vida não é férias em Paris, e aí um dia a gente se olha no espelho e enxerga um rosto envelhecido e amargurado, um rosto de quem não realizou o que desejava, não alcançou suas metas, perdeu o rumo: não consegue voltar para o início, para os seus amores, para as suas verdades, para o que deixou pra trás. Não existe GPS que assegure se estamos no caminho certo. Só nos resta prestar mais atenção.

Um beijo para Marina

Um beijo para Marina
DANUZA LEÃO - FOLHA DE SÃO PAULO - 10/10/10
Não acredito que alguma mulher deixe de fazer um aborto porque a/o presidente do país é contra
EU FAZIA UMA ideia meio geral sobre parte do povo brasileiro: achava que ele não se interessava pela propaganda eleitoral, e quando, entre uma novela e outra, via os candidatos, prestava atenção aos que tinham o tal do carisma, ou votava em quem eles mandavam, e só.
Foi uma grata surpresa (entre outras ingratas) saber, pelos resultados, que muita gente acompanha o que acontece na política mais do que se pensa.
Marina foi o acontecimento, e não pelo ambientalismo; não creio que 20 milhões de brasileiros estejam tão ligados a essa causa.
O que encantou na candidata foi sua sinceridade, ver que ela falava o que pensava, que nada era decorado, e não por estar querendo ganhar a eleição -ela sempre soube que isso não ia acontecer; a honestidade com que se expôs durante o horário eleitoral, com pouco mais de um minuto de tempo, sua alegria genuína, quando comemorou os votos que recebeu com seus seguidores, sua ética, tudo isso foi como uma brisa fresca, diante do engessamento de Serra e Dilma.
Marina resgatou o que alguns de nós ainda temos lá no fundo, mas de que não falamos, para não sermos acusados de idealistas -portanto ridículos-, que acreditamos que ainda existem valores, que pode haver alguma coisa boa na política.
De uns tempos para cá, entramos na cabine eleitoral sem alma nem coração, para votar sempre contra alguém.
Mesmo não estando mais disputando a eleição, é dela que mais se fala. Ninguém me tira da cabeça que Marina não deixou o ministério no escândalo do mensalão para não massacrar ainda mais o PT.
Ela também não conta como foram seus embates com a então ministra Dilma, e se contasse, essa eleição estaria mais do que definida. Mas Marina é fina, educada, discreta, e ninguém a verá, jamais, no centro de uma baixaria. Nem ficará, jamais, com quem entre nesse terreno. Mas não complica demais, tá, Marina?
Voltando à eleição, não acredito que nenhuma mulher, seja ela uma adolescente que engravidou por acaso ou uma vítima de estupro, deixe de fazer um aborto porque a/o presidente da República é contra, e não acredito que os votos de Dilma tenham caído por esse motivo, mas sim porque ouvir a candidata falar (sempre sorrindo, mesmo quando se refere ao superavit primário) é um suplício que ninguém merece -e também por causa de Erenice, que eu queria muito ouvir depondo.
E por mais populares que sejam os líderes, uma hora eles nos cansam e por isso são trocados, salvo quando se vive numa ditadura.
Ok, os dois candidatos prometem educação, saúde, segurança, saneamento básico, ciência e tecnologia, y otras cositas más. O que os eleitores querem saber é: como?
Xô, marqueteiros, e xô para essa mania inventada por vocês de dar um minuto para a pergunta e dois minutos e 75 segundos para a resposta, que ninguém é máquina para falar de assuntos importantes num tempo tão curto.
Será que os candidatos não podem se enfrentar para trocar ideias livremente, os dois, diante de uma câmera? É só o que nós, eleitores, queremos.

Xalberto, para a Charge Online


Mount St. Helens Shadow

Photograph by Diane Cook and Len Jenshel, National Geographic

A politização da Petrobrás

A politização da Petrobrás
EDITORIAL - O Estado de S. Paulo - 10/10/10
Depois da "maior capitalização da história", a maior empresa do Brasil, a Petrobrás, perdeu R$ 28,4 bilhões de valor de mercado em apenas três dias, encolhendo 7,5% nesse período. Na sexta-feira, suas ações ganharam algum impulso, depois de bater no nível mais baixo em um ano e meio. A onda de vendas foi apenas um "ajuste de carteira", segundo seu presidente, José Sérgio Gabrielli. "É normal as ações subirem e descerem", ponderou o ministro da Fazenda e presidente do conselho da estatal, Guido Mantega. A empresa, acrescentou, está mais forte do que nunca e sua capitalização foi "reconhecida mundialmente como importante". Nenhuma das duas explicações é para ser levada a sério. Oscilações dessa amplitude não são normais no dia a dia nem são meros ajustes de carteira. O problema da Petrobrás é o mesmo de antes da capitalização: uma perigosa subordinação aos interesses políticos de um governo centralizador e voluntarista.
Os investidores foram confrontados durante a semana com duas novidades importantes. Uma delas foi a avaliação negativa divulgada por seis bancos. Diluição de lucros e perspectiva de baixo retorno foram os problemas apontados. A outra foi o rumor sobre irregularidades na administração da empresa.
Este segundo fator seria muito menos importante, se o mercado reconhecesse a gestão da Petrobrás como essencialmente profissional e voltada para objetivos empresariais. Mas esse não é o caso. Há meses, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou publicamente haver mandado a estatal investir em refinarias no Nordeste. Esses investimentos, segundo ele, não teriam ocorrido, se a decisão dependesse da avaliação dos diretores da companhia. Nos últimos dias, o presidente da República voltou a alardear sua intervenção.
A Petrobrás, disse ele na quinta-feira, deixou de ser uma caixa-preta e converteu-se numa caixa branca, ou quase, durante seu governo. Ele teria apontado um fato positivo, se mencionasse apenas o aumento da transparência - discutível, na verdade. Mas foi além disso e se vangloriou, mais uma vez, de mandar na empresa: "A gente sabe o que acontece lá dentro e a gente decide muitas das coisas que ela vai fazer."
"A gente decide" é mais que uma expressão singela. É uma confirmação - mais uma - do estilo centralizador e voluntarista do presidente da República. Não só de um estilo, mas de uma mentalidade. Ele age e fala como se as diretorias das estatais fossem apenas extensões de seu gabinete e não tivessem compromissos com milhões de acionistas. "A gente sabe" e "a gente decide". Ele, de fato, foi além disso. Tentou interferir também na gestão de grandes empresas privatizadas, como a Embraer e a Vale, como se coubesse ao presidente da República orientar as políticas de pessoal e de investimentos dessas companhias.
Esse jogo de interferências não tem sido apenas econômico e administrativo. O envolvimento do presidente da República tem sido sobretudo político e, muitas vezes, político-eleitoral. "A Petrobrás também está no segundo turno", disse Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, ao comentar a inauguração antecipada, na quinta-feira, da Plataforma P-57. Antes da votação de domingo, o evento estava previsto para dezembro.
Também a capitalização da Petrobrás foi politizada, o que complicou o processo. O leilão ocorreu quase no fim do prazo previsto, porque o governo foi incapaz de cuidar do problema com critérios essencialmente econômicos e administrativos. Sua insistência em ampliar a participação do Estado na Petrobrás dificultou a fixação do preço dos 5 bilhões de barris cedidos à empresa pela União. O preço médio foi estabelecido, afinal, por um processo nunca explicado de forma satisfatória, até porque não passa de suposição o volume das jazidas envolvidas no negócio.
A confusão e a insegurança criadas por esse processo politizado afetaram duramente o mercado. O valor da Petrobrás encolheu cerca de 30%, enquanto a empresa, o governo e a Agência Nacional do Petróleo se enrolavam nas dificuldades políticas da capitalização. A empresa continua sob os efeitos de uma gestão politizada e, por isso, vulnerável a rumores e escândalos. O mercado refletiu, nos últimos dias, essa vulnerabilidade.

Por pontos

Por pontos
RENATA LO PRETE - FOLHA DE SÃO PAULO - 10/10/10
Relativamente estreita para padrões de segundo turno, etapa da eleição em que qualquer tropeço de um candidato resulta em ganho do único adversário, a diferença entre Dilma Rousseff e José Serra no novo Datafolha sinaliza um debate com muito cálculo de ambas as partes hoje à noite na Band.
A liderança da petista não é tão folgada a ponto de lhe permitir jogar só na defensiva. A desvantagem exige do tucano mais exposição, sem no entanto desconsiderar o risco de uma performance mais agressiva. O PSDB tem na memória o mau passo de Geraldo Alckmin no primeiro debate do segundo turno de 2006.
Eu te disse - Vários cardeais tucanos que depois condenaram Alckmin por ter partido para a jugular de Lula no debate, tática que se revelou desastrosa, colocaram a maior pilha no candidato antes do programa.
Vintage - Serra segue resgatando expressões antigas para o léxico da campanha. Depois de ‘trololó’, ‘numa nice’ e ‘Terceiro Mundo’, ele agora usa ‘pão dormido’ para se referir a questões que considera vencidas.
Matemática - Em reuniões noturnas no Bandeirantes, o governador Alberto Goldman (PSDB-SP) analisa com prefeitos aliados de cidades com mais de 200 mil habitantes as votações de Serra e lhes repassa a meta: elevar a margem do tucano sobre Dilma no Estado de três para dez pontos.
Medo da loba - No PMDB, o comando petista que faz a escolta de Dilma, formado por José Eduardo Dutra, Antonio Palocci e José Eduardo Cardozo, é chamado carinhosamente de ‘Os Três Porquinhos’.
Memória - Também eram conhecidos como ‘Os Três Por quinhos’, em 1989, os pefelistas Hu go Napoleão, Marcondes Ga delha e Edison Lobão, que tentaram, sem sucesso, lançar o empresário e apresentador Silvio Santos à Presidência da República.
Oremos - Comentário de um integrante do comando da campanha petista acerca do número de agendas religiosas na primeira semana do segundo turno: ‘Agora a gente nem precisa planejar. Onde ela vai, alguém dá um jeito de colocar um padre ou um pastor do lado dela’.
Criador... - Há no PT uma ala preocupada com o desempenho de Dilma daqui por diante. O receio se baseia no fato de que o grande trunfo da candidata - sua ligação com Lula - foi o motor da primeira fase da campanha, e talvez não haja muito mais a ser retirado dessa fonte.
...e criatura - Para integrantes dessa corrente de pensamento, a tarefa de Lula agora é emprestar emoção na reta final. O restante terá de vir da própria candidata.
Terapia - Atualmente integrado à coordenação da campanha de Dilma, mas sem mandato a partir do ano que vem, Ciro Gomes (PSB) diz que pretende fundar uma ONG no Ceará para prevenção e tratamento da dependência de crack. Além disso, estuda convites para participar do conselho de administração de duas empresas.
Ônibus - O PMDB quer colocar mais um representante na coordenação da campanha de Dilma e sugeriu Romero Jucá, sob o argumento de contemplar a ala do Senado. Ele está envolvido em investigação sobre compra de votos em Roraima.
Múltipla escolha - Surgiu mais um item na lista de postos cogitados para o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, em caso de vitória de Dilma: embaixador em Washington.
Tiroteio
Com toda essa religiosidade trazida à campanha pelo Serra, acho que passarei a incluir no currículo o tempo em que fui sacristão e coroinha no colégio São Luís.
DE DELCÍDIO AMARAL, senador reeleito pelo PT de Mato Grosso do Sul, a respeito do clima reinante na largada do segundo turno da eleição presidencial.
Contraponto
Na lata  Certo dia, com a campanha eleitoral em curso, José Serra foi abordado pelo neto Antonio, de 7 anos.
- Vô, você já foi deputado, senador, prefeito e depois governador, não é?
O tucano respondeu que sim, e o menino prosseguiu com o questionário:
- E agora você é candidato a presidente...
Diante de nova afirmativa, veio a pergunta final:
- E, se você não ganhar você vai ser o quê, nada?

Tiago Recchia, para Gazeta do Povo


Emoções mais fortes, enfim

Emoções mais fortes, enfim
Clóvis Rossi - FOLHA DE S. PAULO
Marquei minhas férias para a partir da semana que vem, no pressuposto de que a eleição seria liquidada no primeiro turno, com a vitória de Dilma Rousseff. Errei, portanto, o que o leitor atento já terá percebido, dado que pus no papel o meu palpite, como sempre faço.
Esse erro até me perdoo, porque na reta final da campanha entrou o imponderável, na forma de escândalos de vários calibres e da intrigalhada em torno do aborto. É razoável supor que esses fatores tenham contido a onda Dilma.
O erro mais grave, no entanto, é outro: acreditar que, no segundo turno, Dilma daria um passeio. A pesquisa Datafolha que sai hoje mostra que não é bem assim.
Continua  favorita, continua à frente, fora da margem de erro, mas a evolução dos dois finalistas é bem diferente: em votos válidos, Dilma subiu apenas 15% (dos praticamente 47% que obteve no primeiro turno para os 54% da pesquisa).
Já José Serra deu um salto de 44%, batendo em 47% contra apenas 32,61% nas urnas.
Uma primeira explicação, também presente na pesquisa, está dada pela maior porcentagem de eleitores de Marina que estão preferindo Serra (51% contra apenas 22% que cravam Dilma).
Mas é uma explicação insatisfatória: metade dos quase 20% que Marina teve dá apenas 10%, quando Serra cresceu 44%.
Talvez continue valendo o que "El País" e "Le Monde" escreveram sobre o primeiro turno: o eleitorado recusou-se a dar um cheque em branco a Lula. Ou, então, o poder de transferência de votos de Lula para Dilma bateu no teto. Ainda é suficiente para lhe dar a vitória, mas vai ter que suar a camisa bem mais do que o padrinho imaginava.
Saio de férias arrependido por perder emoções mais fortes que antevistas e torcendo para que ambos os candidatos tirem Deus da campanha. Ele não merece.

Nada Além - Orlando Silva

Obscurantismo

Obscurantismo
EDITORIAL: FOLHA DE SÃO PAULO
Na corrida pelos votos, campanha eleitoral foca o tema do aborto por meio de subterfúgios, sem avançar com maturidade na discussão
Ganha destaque, na atual etapa da corrida sucessória, o tema da descriminalização do aborto. Trata-se de questão complexa, que por envolver convicções pessoais e religiosas só poderia, a rigor, ser decidida legitimamente por meio de uma consulta popular.
Nem por isto é despropositado que o assunto se torne presente no debate eleitoral. É direito do cidadão conhecer as opiniões dos candidatos sobre o tema, mas em vez de ocasionar uma discussão racional e franca, a disputa sucessória tem-se caracterizado por uma atitude que, sem exagero, merece ser classificada como obscurantista.
O termo vem a propósito, não pela rasa identificação que se costuma fazer entre a firmeza de convicções religiosas e um espírito medieval de caça às bruxas. Pode-se perfeitamente ser contra o aborto, em qualquer circunstância, sem ser um fanático fundamentalista -e mesmo sem professar nenhuma religião.
O obscurantismo se estabelece na campanha eleitoral quando o que se procura é antes confundir o eleitor do que esclarecer as próprias posições.
Tome-se, por exemplo, o slogan do "direito à vida", presente na propaganda eleitoral de ambos os candidatos ao segundo turno. Como se sabe, tais palavras têm um sentido claro para o eleitorado católico, e cristão de modo geral, no que apontam para uma condenação do aborto, mesmo nos casos já admitidos na lei brasileira -o de gravidez decorrente de estupro e o de risco de morte para a mãe.
Nenhum dos dois candidatos propõe, ao que se saiba, a revogação desse dispositivo. Mas que recorram ao lema do "direito à vida" é sintomático da dificuldade de ambos em defender o que já existe, na legislação, de contrário às ideias dos eleitores que pretendem conquistar.
Esta Folha considera que a legislação vigente deve ser flexibilizada, de modo a permitir que, já sofrendo numa circunstância evidentemente dramática e dolorosa, qualquer mulher possa interromper a gravidez sem que seja considerada criminosa por isto.
Cerca de 1,1 milhão de abortos clandestinos são feitos anualmente no país. Em condições muitas vezes precaríssimas, constituem a terceira ou quarta causa de mortalidade materna no Brasil. Em 56 países, que representam 40% da população mundial, o aborto é permitido sem restrições até a 12ª semana de gravidez -limite máximo que se poderia admitir.
Com certeza, políticas públicas de esclarecimento e garantia de acesso a meios anticoncepcionais, como a pílula do dia seguinte, poderiam, se amplas, intensivas e duradouras, prevenir a gravidez indesejada e reduzir de maneira drástica o número de mulheres que se valem, numa situação extrema, do traumático recurso.
Alguns setores religiosos, como se sabe, opõem-se até mesmo ao uso de anticoncepcionais. A sociedade como um todo evoluiu na direção oposta -e um plebiscito sobre o aborto, mesmo se não confirme essa tendência, haveria, ao menos, de esclarecer os vários aspectos envolvidos na questão.

Skoob

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