domingo, outubro 10, 2010

Quando o bolso é mais importante que a fé

Quando o bolso é mais importante que a fé
Em Lins, bairro do Rio onde Serra foi mais votado, promessa de mínimo de R$ 600 atraiu eleitores
Henrique Gomes Batista – O Globo
 Indiferentes às discussões religiosas e morais que dominam o segundo turno das eleições presidenciais, um grupo considerável de eleitores definirá seu voto, mais uma vez, pensando com o bolso. Se, no primeiro turno, o bom momento econômico do país foi um dos pilares do crescimento dos votos em Dilma Rousseff (PT), agora as promessas de José Serra de elevar o salário mínimo para R$ 600, aumentar em 10% as aposentadorias e criar o 13º do Bolsa Família já fazem com que o tucano avance sobre a classe C, considerada reduto tradicional dos petistas.
Em Lins, bairro da Zona Norte do Rio onde Serra foi mais votado, somando o apoio de 25% dos eleitores em 3 de outubro — contra uma média inferior a 20% em localidades vizinhas — é comum encontrar eleitores do tucano que assumem a “traição” a Lula, em prol do que imaginam um futuro melhor de sua economia doméstica: — Gosto do Lula, já votei nele, mas meu marido é aposentado. Não tem jeito, a gente em casa vai ter que votar em quem oferece mais para a gente, a vida está dura — disse a dona de casa Antônia Soares da Silva, contando que votou no primeiro turno no tucano já por causa dessas promessas.
As duas promessas de Serra atingem diretamente um contingente de mais de 50 milhões de pessoas: 26,879 milhões de trabalhadores que recebem o mínimo (dados do IBGE de 2008) e mais 23,995 milhões de aposentados e pensionistas do INSS (destes, 18,425 milhões ganham o mínimo).
Para Marcelo Simas, coordenador do FGV-Opinião, propostas como essas tendem a ganhar importância na campanha: — Dou minha cara a tapa se essa questão do aborto for realmente relevante, decidir sozinha o voto, de grande parcela da população. Os votos se decidem por uma combinação de fatores. E 40% da população economicamente ativa ganham salário mínimo. Apesar de não acreditar na viabilidade dessa promessa, até porque pode causar inflação e corroer o ganho real, ela é muito importante para um segmento relevante dos eleitores.
Assim como o que acontece com Antônia, um grupo de jovens do bairro, Yago Bruno, André de Freitas, Marcos Santos e Mikauer de Freitas, todos entre 16 e 19 anos, já votaram no tucano e prometem repetir a escolha no segundo turno.
Eles disseram que não se importam com essa discussão de aborto, lembrando que “quem quer fazer, hoje, já faz”. Mas que a proposta de R$ 600 de salário mínimo mudou o voto deles.
Yago — único do grupo com emprego formal, e também o único que está fora da escola — acredita que o dinheiro extra será fundamental para sua família e mostrará que há opção para quem se esforça, para quem fez um curso profissionalizante, como ele. Confiantes, ambos acreditam que o perfil de Serra, que já foi governador, ajuda: — Ele é mais “cascudo”. Gosto da Dilma, mas acho que ela fica sempre lá, de braço dado com o Lula. O Serra já foi um monte de coisa, acho que ele não ia mentir, chegar lá e não dar os R$ 600 de salário mínimo — disse o estudante André, que faz um bico vendendo DVDs piratas nas ruas.
O baiano Samuel Moraes de Almeida, aposentado de 69 anos que vive no Rio desde 1957, é convicto ao afirmar o motivo do voto no tucano: — Sou aposentado, ganho R$ 2.500 por mês.
Com 10%, são mais R$ 250, faz diferença.
Elsa Rosa, de 77 anos, afirma que seu bairro, assim como a sua casa, está dividido: metade votará em Dilma, e a outra parte, em Serra. Tucana fiel — diz que sempre votou no partido —, Elsa afirma que está tendo mais facilidade para convencer vizinhos com essas propostas: — Eu voto sempre nele, mas muitos vizinhos mudaram com essas promessas.

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