quinta-feira, agosto 12, 2010

Maniqueísmo

Maniqueísmo
Já há algum tempo em nosso País vigora uma "norma" ditada por certas camadas influentes, nas mais diversas áreas de atuação, de que as pessoas só podem escrever artigos, reportagens ou qualquer manifestação de idéias numa determinada direção. Ai de quem ousar navegar contra a corrente! É imediatamente execrado e brindado com os mais cruéis "elogios". Alguns dos "censores" chegam ao cúmulo de desprezar biografias obtidas com muito esforço e dedicação em prol de classificações espúrias e pior, dadas por quem não tem sequer uma biografia que esteja à altura daquele que foi desconsiderado. E isso cansa, enche a nossa paciência de cidadão.
Alguns políticos, jornalistas, administradores nos tratam como se fôssemos todos os brasileiros uns idiotas com firma reconhecida. Não pensem que pelo fato de uma enorme camada da população ainda se embriagar com políticas de "assistencialismo", porque não lhes foi dada a Educação que abriria as comportas de suas mentes no sentido de não mais se deixarem levar por enganações, que o porcentual de cidadãos que já conseguem perceber os desvios de caminhos e estejam cansados desses jogos de poder não esteja crescendo em progressão geométrica. Basta ir às ruas e conversar. Verificar que estamos cansados de candidatos que repetem "ad nauseam" as mesmas promessas vãs e usam de jogadas sujas para denegrir seus adversários na luta pela permanência no poder.
A candidata Marina Silva fez uma afirmação, em sua entrevista no Jornal Nacional, que poucos deram as atenções devidas e a significação real. Provocada pelo entrevistador como conseguiria governar apenas com os quadros de seu partido, afirmou: Quem disse que para governar precisa de colocar em cargos apenas os de seu partido? Há quadros bons em todas as correntes de pensamento, nem todos são corruptíveis. Exemplificou com sua passagem pelo Ministério do Meio Ambiente. Não se trata de complexo de Poliana, como correram a classificar alguns. Eu, pessoalmente, já estou cansada de pessoas que são maniqueístas e que aquilatam as pessoas conforme os seus próprios parâmetros. E o candidato José Serra, no dia seguinte, ao ser questionado por algumas alianças, tidas como incompatíveis, imediatamente, sem titubear, colocou de forma veemente que caso fosse eleito, a primazia das indicações de cargos não estaria ao dispor de dessas alianças e citou sua experiência como prefeito e governador.
Pergunto se alguém que não lê todas as correntes de opinião, as que aplaudem e as que discordam – com a mente livre e sem preconceito, tem isenção para emitir verdadeiros "julgamentos" depreciativos e deseducados, alguns imersos na mais bruta e irracional grosseria, típica de quem não possui argumentos.
Em meu Blog publico todos os artigos que me chamam a atenção pela sua argumentação, mesmo que em partes haja alguma discordância. Para mim, isso é democracia. Não existem, no mundo humano, muitas verdades absolutas. E certamente, ninguém está acima do bem e do mal. Já recebi e-mails protestando sobre a publicação de alguns posts apenas pela autoria do artigo, sem qualquer arrazoado pelo que foi exposto. É a eterna mania de etiquetar as pessoas e querer colocá-las no limbo, como se jamais pudessem defender posturas corretas.
Confesso que tenho receio de comportamentos absolutistas, de intolerância aos contrários. A História da humanidade está cheia de passagens triste e lamentáveis que retratam os momentos de opressão e idéias de regimes ditatoriais, intransigentes, racistas. Não é esse o modelo ideal de vida que se deseja aos seus semelhantes.
Não estou falando em utopias, não sou ingênua e muito menos néscia. Lembro-me de todos os candidatos em que votei, para os diversos cargos e tenho costume de manter comunicação por e-mails com os mesmos. Não fico passiva. A internet colocou uma enorme e poderosa ferramenta de expressão na mão de quem deseja se expressar livremente e com base em idéias, fora do anonimato covarde.
Se algum deles vai, no futuro, nos decepcionar? Não sei, não sou profeta e nem acredito nessas coisas. No entanto, tenho uma certeza: se alguém com bagagem digna e vontade, tem planos e metas para a melhoria, por que não dar a oportunidade? Democracia pressupõe alternância de poder.
Dolores Fernández – www.fatosnoespelho.blogspot.com

Pádua, para O Estado de Goiás

Tristes tempos: já não podemos falar mais nada!

Tristes tempos: já não podemos falar mais nada!
Por Sandra Cavalcanti
O País está vivendo uma fase de completo e total desrespeito às leis. A Lei Maior, aquela que o País aprovou por meio de seus representantes, não existe. Para uns, todas as leniências. Para outros, todos as violências.
Em 14 de abril de 1930, aos 36 anos, Vladimir Maiakóvski, o maior poeta russo da era contemporânea, deu um fim trágico à sua atormentada vida. Matou-se porque perdeu toda a esperança e se viu diante de uma estrada sem saída.
Sua obra é absolutamente revolucionária, como revolucionárias eram as suas idéias. Mas o poeta, dizia ele, por mais revolucionário que seja, não pode perder a alma!
Ele acreditou piamente na Revolução Russa e pensou que um mundo melhor surgiria de toda aquela brusca e violenta transformação. Aos poucos, porém, foi percebendo que seus líderes haviam perdido a alma. A brutalidade crescia. A impunidade era a regra. O desrespeito às criaturas era a norma geral. Toda e qualquer reação resultava em mais iniqüidades, em mais violência. Um stalinismo brutal assolou a pátria russa. Uma onda avassaladora de horror e impotência tomou conta de seu espírito, embora ainda tentasse protestar. Mas foi em vão. Rendeu-se e saiu de cena.
Em 1936, escreveu Eduardo Alves da Costa o poema No caminho com Maiakóvski, que resume sua desoladora tragédia.

"... Na primeira noite eles se aproximam/ e roubam uma flor/ de nosso jardim./ E não dizemos nada./ Na segunda noite, já não se escondem:/ pisam as flores,/ matam nosso cão,/ e não dizemos nada./ Até que um dia,/ o mais frágil deles/ entra sozinho em nossa casa,/ rouba-nos a luz e,/ conhecendo nosso medo,/ arranca-nos a voz da garganta./ E já não podemos dizer nada."
Nestes tristes tempos, muitos estão vivendo as angústias desabafadas neste poema. Também acreditaram em líderes milagrosos, tiveram esperanças em dias mais serenos, esperaram por oportunidades melhores e sonharam com paz e alegria. Nunca imaginaram que, em seu lugar, viriam a impunidade, a violência, o rancor e a cobiça. Os que chegaram ao poder, sem nenhuma noção de servir ao povo, logo revelaram a sua verdadeira face.

O País está vivendo uma fase de completo e total desrespeito às leis. A Lei Maior, aquela que o País aprovou por meio de seus representantes, não existe. Para uns, todas as leniências. Para outros, todos as violências. Nas grandes cidades, dois governos, duas autoridades: a tradicional e a dos marginais. No campo, ausência de direitos e deveres. Uma malta de desocupados, chefiados por líderes atrevidos e até debochados, está conseguindo levar o desassossego e a insegurança aos milhões de trabalhadores rurais que ali se esforçam para sobreviver. Isso já vem acontecendo há muito tempo e não há sinal de que alguma autoridade pretenda submetê-los às penas da lei. Ao contrário. Eles gozam de imenso prestígio junto ao presidente, que não se acanha em lhes dar cobertura e agir com a maior cumplicidade.
A ausência das autoridades tem sido o grande estímulo para que esses grupos, e outros que vão surgindo, venham conseguindo, num crescendo de audácia e desrespeito, levar o pânico aos que vivem do trabalho no campo. A mesma audácia impune garante também a expansão das quadrilhas de narcotraficantes em todo o País. A cada dia que passa eles chegam mais perto de nós. Se examinarmos com atenção os acontecimentos destes últimos dois anos, dá para entender o nosso medo.
Quando explodiu o caso do Waldomiro Diniz, as autoridades estavam na obrigação de investigar tudo e dar uma punição exemplar. O que se viu? Uma porção de manobras para encobrir os fatos e manter os esquemas intocáveis. E qual foi a reação do povo? Nenhuma.
Roubaram uma flor de nosso jardim, a flor da decência, da dignidade, da ética, e nós não dissemos nada!
Quando, da noite para o dia, dezenas de deputados largaram suas legendas e se bandearam para as hostes do governo, era preciso explicar tão misteriosa adesão. O que se viu? Uma descarada e desafiadora alegria no alto comando do País! E qual foi a reação do povo? Nenhuma. Eles nem se esconderam. Pisaram em nossas flores, mataram o cão que nos podia defender. E nós não dissemos nada!
Quando um parlamentar, que integrava a tal maioria, veio denunciar o uso de recursos públicos, desviados de forma indecente, com a conivência dos altos ocupantes do governo, provando que a direção do PT e do governo sabiam de tudo e de tudo se haviam aproveitado, qual foi a reação do povo? Nenhuma.
Eles nem se importaram com o fato de terem sido descobertos. O mais frágil deles entrou em nossa vida, roubou a luz de nossas esperanças e, conhecendo o nosso medo, ainda se deu ao luxo de arrancar a nossa voz da garganta.

Será que vamos aceitar? Não vamos dizer nada? Será que o povo brasileiro perdeu de vez a sua capacidade de se indignar? A sua capacidade de discernir? A sua capacidade de punir?
Acho que não. Torço para que isso não esteja acontecendo. Sinto, por onde ando e por onde vou, que lá no mar alto uma onda de nojo está crescendo, avolumando-se, preparando-se para chegar e afogar esses aventureiros. Não se trata, simplesmente, de uma questão eleitoral. Não se cuida apenas de ganhar uma eleição. O importante é não perder a alma. O direito de sonhar. A vontade de viver melhor.
Colocar este momento como uma simples luta entre governo e oposição é muito pouco. E derrotá-los, simplesmente, também é muito pouco, diante do crime que eles praticaram contra as esperanças de um povo de boa-fé.

O que vai hoje na alma das pessoas é o corajoso sentimento de que é preciso vencer o pavor e o pânico diante da audácia dessa gente, não permitindo que eles nos calem para sempre. Se não forem enfrentados, se não forem punidos, se seus métodos e processos não forem repudiados, nosso futuro terá sido roubado. Nossa voz terá sido arrancada de nossa garganta.
E já não poderemos dizer nada.
Sandra Cavalcanti - é professora, foi deputada federal constituinte, secretária de Serviços Sociais no governo Lacerda, fundadora e presidente do BNH.

Fonte; http://www.claudiohumberto.com.br/

Chris Sundive feat. Irene Love - Alone (ReOrder Remix)

Israel pede à ANP que suspenda boicote a assentamentos judaicos

Israel pede à ANP que suspenda boicote a assentamentos judaicos

Jerusalém, 12 ago (EFE).- Israel pediu nesta quinta-feira à Autoridade Nacional Palestina (ANP) que suspenda o boicote imposto à produção nos assentamentos judaicos, em um encontro incomum entre dois de seus ministros desde que Benjamin Netanyahu chegou ao poder, no ano passado.
O ministro da Indústria e Comércio de Israel, Binyamin Ben-Eliezer, apresentou o pedido em uma reunião com o ministro de Economia palestino, Hassan Abu Libde, que o negou por considerá-lo um fortalecimento da colonização.
"O pedido (por parte de Ben-Eliezer) não é nada além de um reflexo do sucesso da campanha (de boicote) e de seu impacto na queda econômica dos assentamentos", diz o ministro palestino em comunicado.
Abu Libde assegurou ao ministro israelense que a ANP está decidida a seguir adiante com o boicote, em uma tentativa de tornar os assentamentos ilegítimos politicamente e de impedir que os palestinos contribuam com seu esforço para o desenvolvimento econômico de Israel.
Mais de 25 mil palestinos perderão seus postos de trabalho a partir de janeiro de 2011 em empresas israelenses que se encontram ou funcionam no território da Cisjordânia, que a ANP reivindica, junto com Gaza e Jerusalém Oriental, para o futuro Estado palestino.
Será a segunda etapa de uma campanha que começou em maio com um boicote aos produtos israelenses dos assentamentos vendidos em comércios palestinos e que teve início a pedido do primeiro-ministro da ANP, Salam Fayyad.
Ben-Eliezer, conhecido por suas posturas pacifistas, pediu a reunião com Abu Libde depois que a Federação das Indústrias de Israel exigiu ao Governo de Netanyahu compensações pela perda de receitas.
"O boicote deve ser suspenso imediatamente porque muitas das empresas da Cisjordânia empregam grande quantidade de palestinos", disse o ministro israelense na reunião.
O encontro de hoje foi um dos pouco realizados pelos líderes de Israel e ANP desde que Netanyahu assumiu o cargo de primeiro-ministro em Israel.
O presidente da ANP, Mahmoud Abbas, decidiu então que não haveria contatos diretos com líderes israelenses até que o país interrompesse por completo as construções na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental.
Fonte: UOL Notícias

Portinari

J. Bosco

Um país de escravos

Um país de escravos

João Luiz Mauad

Todos os países desenvolvidos, que têm sistema de bem-estar social, têm carga tributária bem mais elevada, em cerca de 50% do PIB. Do outro lado, há países mais pobres na América Latina, no Caribe e na África, cuja carga tributária é bem baixa, inferior a 15%. Resultado: eles não têm recursos para adotar políticas sociais e o Estado é praticamente inexistente. O Brasil está numa posição intermediária: em 2009, a carga tributária foi de 34%. A arrecadação nesse patamar é decisiva para que o Estado possa atuar para reduzir as desigualdades sociais, fazer os investimentos necessários em Educação, Saúde, Segurança e atacar as deficiências de infraestrutura.”
Quem disse o que vai acima foi o presidente Lula, respondendo a um leitor de sua coluna semanal, publicada em mais de uma centena de jornais país afora.  Alguma razão lhe assiste, pois sem recursos a existência do Estado seria inviável.  Fora os anarquistas, ninguém discute a necessidade dos impostos.  A questão importante é outra: a relação ótima entre custos e benefícios dos tributos.
Qualquer tributo é, por definição, um ônus forçado aos cidadãos. Não se trata de uma escolha voluntária, mas de uma imposição (daí o nome: imposto). Embora os impostos sejam uma agressão à liberdade e à propriedade, nós os aceitamos por conta da necessidade de financiamento da força estatal, necessária para que tenhamos assegurada nossa segurança individual e coletiva, além dos serviços de infraestrutura que, por dificuldade de individualização e cobrança, não seriam interessantes à iniciativa privada (como urbanização, arruamento e iluminação pública, por exemplo).
Portanto, embora cobrados de forma coercitiva, os tributos pressupõem uma justa contraprestação do Estado em serviços.  É aqui, neste ponto, ao comparar o caso brasileiro com o de países desenvolvidos, que o presidente perde completamente a razão.  Senão, vejamos:
Qualquer pessoa bem informada sabe que a carga tributária no País anda pela casa dos 35% do PIB (equivalente à da Inglaterra).   Esse número é uma medida real do quanto o Leão arranca dos pobres coitados que ainda insistem em produzir riquezas, de maneira formal e civilizada, no Brasil.  Mas há também um outro dado que ainda muito poucos conhecem: trata-se do índice que mede a carga tributária potencial ou, em outras palavras, o limite da voracidade fiscal, o tamanho da mordida do Leão se não houvesse no Brasil sonegação, inadimplência ou informalidade.
De acordo com um estudo de 2006, do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, se todos pagassem corretamente os seus tributos estaríamos transferindo à Fazenda Pública nada menos que 59,38% do PIB.   É isso mesmo, leitor, você não leu errado.  O apetite do fisco chega a incríveis 60% do PIB. 
Pode parecer um cálculo exagerado, mas a realidade não para de corroborar com a conclusão do IBPT, já que a arrecadação vem crescendo bem acima do PIB de forma recorrente, ano após ano, mesmo naqueles em que não houve criação de novos tributos, aumento de alíquotas ou base de cálculo dos existentes.
Como se isso não bastasse, além dos impostos, taxas, contribuições e encargos que o governo nos toma, sem dó nem piedade, precisamos pagar ainda pela nossa saúde, pela educação dos filhos, muitas vezes por segurança particular e por mais uma série de outros serviços que deveriam estar a cargo dos governos.  Não é difícil concluir que o Estado brasileiro gasta mal. 
Segundo dados da  revista Veja, a cada ano aproximadamente 92% dos gastos do governo federal – excluindo-se pagamento de dívidas e transferências – são engolidos pelas engrenagens do Estado. De cada cem reais, 25 são destinados ao pagamento de pessoal e outros 67 ao custeio da máquina – despesas que vão do cafezinho servido nas repartições públicas à gasolina que move os veículos de autoridades.
 Para investimentos em infraestrutura, segurança, defesa, saúde etc., sobram somente 8%.  Resumindo: as atividades-meio consomem muito mais recursos que as atividades- fim.  Qualquer empresa, com tal perfil orçamentário,  já teria falido há muito tempo.
Mas não pense o leitor que o descalabro acaba aí. Um trabalho de 2008, do mesmo IBPT, mostra que, nos primeiros 20 anos após a promulgação da Constituição de 1988, foram emitidas no País nada menos do que 3.7 milhões normas reguladoras da vida dos cidadãos brasileiros, o que equivale ao absurdo de 766 atos editados por dia útil.  Desse total, nada menos que 240.210 foram atos impositivos ou regulamentações de natureza tributária, que equivalem a duas normas por hora.
Nesse emaranhado de leis, decretos, instruções normativas e outros babados, é praticamente impossível a qualquer um conhecer, com um mínimo de segurança, as regras vigentes.  Para sobreviver nessa selva, empresas dependem da assessoria contábil, jurídica e fiscal de inúmeros especialistas, caso queiram manter-se relativamente atualizados em relação às suas obrigações perante a Administração. 
De acordo com  a FIESP, as empresas gastam algo em torno de 1,5% do PIB, por ano, só para manter pessoal, sistemas e equipamentos necessários para satisfazer as normas impostas pela burocracia tributária.  Como não existe almoço grátis, o Brasil tem um dos maiores custos de transação do mundo, com reflexos terríveis nos níveis de competitividade.
Além disso, como direitos e deveres não são nítidos, os pagadores de impostos tornam-se reféns de agentes públicos mal intencionados, que não raro se valem da altíssima complexidade legal em proveito próprio.  “As leis abundam em Estados corruptos”, já dizia Tácito.
Diante de tamanho descalabro, a pergunta óbvia é: que futuro afinal se descortina para uma nação de escravos, subjugada por um Estado obeso e perdulário, que lhe cobra com imensa voracidade mais de 50% de toda riqueza produzida e, de volta, só lhe dá migalhas?  Dá para comparar a nossa situação com a dos países desenvolvidos, como pretende o presidente Lula?
Fonte: Jornal “Diário do comércio” – 5/8/2010

IQUE - No Jornal do Brasil

Façam o que eu digo e esqueçam o que faço

Façam o que eu digo e esqueçam o que faço

Villas-Bôas Corrêa *, Jornal do Brasil
RIO - O presidente Lula acaba de bater todos os seus recordes de caradurismo nas duas últimas semanas, quando decidiu passar um pito nos ministros que descuidam das suas obrigações e exigiu que reajam com dobrada veemência aos ataques da oposição ao governo na campanha, com especial atenção nos debates e entrevistas na propaganda eleitoral gratuita em rede nacional de rádio e televisão.

Ora, não há registro na história deste país de um presidente mais relapso nos seus deveres. Para começo de conversa, não lê nem despacha processos, com o horror pelos livros e por qualquer rabisco. Quando lê algum discurso, escrito pelos assessores, o texto em letras garrafais obriga a troca de páginas a cada parágrafo. No gabinete, em Brasília, recebe visitas e assina papéis sem ler, confiando na ex-ministra chefe do Gabinete Civil, Dilma Rousseff, sua candidata. E, como adora um bom papo e é um conversador desembaraçado e de bom humor, não faltam ouvintes do cordão que cada vez aumenta mais.

Nenhum presidente viajou tanto, seja nos voos domésticos para as visitas demagógicas às obras ou nos giros internacionais da sua prioridade como aspirante à liderança mundial. E, de fato, é dos líderes mais populares nos cinco continentes. A maioria das suas viagens com todos os requintes de conforto, seja como hóspede dos visitados ou nos apartamentos de luxo dos melhores hotéis de cinco estrelas do mundo.

Pois, na toada marota do faça o que eu digo e esqueçam o que faço, o presidente, na terceira reunião ministerial do ano, recomendou aos ministros que arregacem as mangas e se empenhem nas tarefas das suas áreas. O conselheiro bissexto advertiu os ministros e secretários para a ofensiva da oposição que tentará “desconstruir” o seu governo. Enfatizou que não aceitará nenhuma falha que facilite um ataque da oposição que atinja a campanha da sua candidata. O pito atingiu em cheio o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que se omitiu na recente crise aérea, com aeroportos superlotados e a bagunça dos cancelamentos e atrasos de voos.

Abrandou o tom no morde-e-sopra. O governo deve responder a todos os ataques que atinjam a candidata Dilma. A candidata tem que cuidar da sua campanha. E foi enfático: “Nunca perguntei a algum ministro se tinha candidato. E vocês sabem que eu tenho candidata. Mas, o que eu quero é que os ministros defendam o governo”.

E o escândalo da gastança com os cartões corporativos? Pelo visto, não se fala mais num assunto delicado e inexplicável.
* repórter político do JB

Vagalumes, pôr do sol de julho, na estrada de terra, em Nebraska, USA


Fotografia por Blaser Rachel

"O Café" - Candido Portinari

Tancredo: 'Macho é uma palavra unissex'

Tancredo: 'Macho é uma palavra unissex'

JORGE BASTOS MORENO
O maior adversário de Tancredo Neves nas eleições presidenciais de 1985 não foi propriamente Paulo Maluf, mas o malufista capixaba Moacyr Dalla. O jogo era no Congresso Nacional e o juiz era Dalla, presidente do Senado Federal.
Todo dia Moacyr Dalla colocava uma "pegadinha" nas regras do Colégio Eleitoral. Até que ameaçou inverter o critério das escolhas dos delegados estaduais, o que beneficiaria Maluf.
Tancredo enlouqueceu e me ditou uma declaração chamando o presidente do Senado de "desclassificado". Os malufistas reagiram, Dalla ameaçou processar Tancredo, e até o comando de campanha da chamada "Aliança Democrática" criticou o candidato.
Acuado, Tancredo desmentiu a declaração. Com os brios de repórter ferido, perguntei-lhe por que desmentiu o que dissera:
— Eu não chamei aquele cretino de "desclassificado". Você não presta atenção! Eu disse que ele era um "desqualificado" para presidir o Senado.
— Mas não é praticamente a mesma coisa? — rebati. E ele me pegando pelo braço e me conduzindo gentilmente para a porta de saída:
--- Meu filho, quem gosta de debater dicionário é o Jânio Quadros. Não vê que eu não estou enfrentando um candidato, mas uma ditadura inteira?
Semanas depois, a atriz Ruth Escobar leva Tancredo Neves a Porto Alegre para encerrar um congresso de mulheres que apoiavam sua candidatura. No meio do discurso, Tancredo é avisado que o presidente do Senado consolidara a ameaça e alterara a composição do Colégio Eleitoral. E o candidato da moderação surpreende ao anunciar o golpe à plateia:
— Agora, levam a disputa para o terreno raso da política, para um verdadeiro vale-tudo. Se querem assim, assim terão. Mas é bom que saibam que a briga agora é pra macho! É pra macho!
A plateia atônita estava, atônita ficou. Ninguém o aplaudiu.
Ao descer da tribuna, apressado para voltar a Brasília, Tancredo foi abordado por Escobar:
— Como é que o senhor me pisa na bola desse jeito? Defender o machismo num congresso de mulheres?
E Tancredo, já quase perdendo a paciência com a atriz, responde:
— Minha filha, você precisa se atualizar. "Macho", hoje em dia, é uma palavra unissex.
E, ao passar por mim, que estava com um bando de colegas querendo ouvi-lo sobre a decisão de Moacyr Dalla, Tancredo Neves, mesmo alterado, não dá o braço a torcer:
— Você tinha razão: aquele homem é mesmo um desclassificado.
Publicado no Globo. 

Márcio Bragança - Expresso Oriente

Britânico que caminhou Amazonas elogia consciência ambiental de jovens no Brasil

Britânico que caminhou Amazonas elogia consciência ambiental de jovens no Brasil

Pablo Uchoa - Da BBC Brasil em Londres
O britânico que percorreu o rio Amazonas da nascente à foz disse que ver a destruição da floresta é "de partir o coração", mas contou que está "otimista" em relação à consciência ambiental das novas gerações no Brasil.
Ed Stafford, de 34 anos, falou à BBC Brasil horas depois de completar a façanha de caminhar 859 dias do Peru até a região em que o Amazonas se encontra com o Oceano Atlântico, em Belém.
Ao longo do caminho, "os momentos mais inesquecíveis foram no meio da floresta, em torno do fogo, logo após um banho de rio", disse o aventureiro.
"O isolamento e a sensação de estar perto da floresta é fantástico. Depois disso, entrar em uma área de floresta que acabou de ser cortada, quando a floresta se torna vegetação secundária, é de partir o coração."
Exploração de madeira
Ed saiu do Peru no dia 2 de abril de 2008, em uma viagem que teve como objetivo chamar atenção para os perigos que ameaçam a floresta e levantar recursos para entidades ambientais.
Cinco meses depois, encontrou o peruano Gadiel Sánchez, o Cho, que a princípio entrou na viagem apenas como guia por cinco dias e acabou caminhando por dois anos até o resto da expedição.
"Em termos de desmatamento, infelizmente, essa é uma batalha que ainda não foi vencida", contou Ed, de seu telefone por satélite de Belém. "Há tanta exploração madeireira sendo feita sem nenhuma fiscalização, sem nenhuma autoridade para fazer valer as restrições. É triste."
"Os velhos donos do poder ainda estão mandando, e são eles que se beneficiam da exploração da floresta, e enquanto eles estiverem no poder isso vai continuar acontecendo", disse.
"Por outro lado, as novas gerações, especialmente no Brasil, estão muito, muito conscientes das questões ambientais e têm muito orgulho de sua floresta, então estou otimista em que essa situação pode mudar."
Já o peruano Cho, que vem de uma comunidade humilde baseada na exploração cafeeira e madeireira da floresta, contou que a viagem serviu para fazê-lo "experimentar as coisas que existem na floresta" e que ele não havia percebido.
"A floresta é linda e nós a estamos destruindo", disse, simplesmente. "Precisamos reflorestar, precisamos fazer alguma coisa para preservar a floresta."
Expedição
A saga dos dois terminou na segunda-feira pela manhã, após uma noite passada caminhando. Ed disse que a atenção que recebeu das comunidades por onde passava, principalmente à medida que se aproximava ao fim da expedição, deixou-o "surpreso" e "emocionado".
"Este foi o dia mais fenomenal da minha vida", disse, ao alcançar o mar da costa paraense.
"Eu estava me preparando para a decepção com o dia de hoje porque, depois de dois anos e meio, não se pode esperar que a história ainda seja fantástica. Mas quando cheguei ao mar e senti a positividade dos moradores… as pessoas vieram ver, tocaram música ao vivo, todo mundo estava dançando na praia, além de toda a atenção da imprensa…"
O britânico disse que foi contaminado pela "simpatia e generosidade" dos brasileiros.
"É um contraste tão grande com as comunidades fechadas do Peru", comparou. "No Brasil, fomos recebidos de braços abertos em todos os lugarejos aonde chegávamos."
Até por essa razão, Ed credita a Cho muito do sucesso da expedição. No blog onde contou, ao longo dos anos, o dia-a-dia de sua aventura, ele diz que o peruano escapou da morte diversas vezes por um triz – mas sempre mantendo a calma e a serenidade.
Um dos vídeos mostrados no blog, por exemplo, mostra Cho extremamente debilitado após contrair uma doença tropical. O peruano diz que nunca teve medo de morrer.
"Medo? Não, nunca tive medo de nada. Fiquei preocupado porque não estávamos avançando por minha culpa, porque eu estava doente", disse.
"É claro que eu me preocupava com minha saúde, mas nessas horas, que diferença faz se eu estivesse doente ou saudável? Eu apenas pensava que, se tivesse de morrer, eu morreria. Se tivesse de viver, viveria. Mais cedo ou mais tarde, o que tem de acontecer na vida de alguém acontece."
As estatísticas que a equipe de Ed divulgou aos jornalistas são curiosas. Estima-se que ele tenha recebido 50 mil picadas de mosquitos e ferroadas de milhares de vespas e abelhas ao longo da caminhada.
O britânico também foi picado por um escorpião e uma formiga gigante, contraiu leishmaniose e teve a cabeça populada por ovos da mosca-de-cavalo.
Risco de morte
Mas nada, diz ele, se compara ao temor de ser morto pelos índios ashaninka, que pensaram que ele queria matar crianças para roubar-lhes os órgãos para o tráfico.
"Usávamos uma frequência de rádio para avisar as comunidades que estávamos nas redondezas. No entanto, uma delas respondeu ao nosso comunicado, dizendo que se qualquer homem branco entrasse na área deles seria morto", contou.
Segundo o britânico, Cho teve a ideia de navegar por ilhas e dar a volta pela comunidade. Mas os indígenas perceberam a estratégia e os abordaram com canoas, os homens armados com armas de fogo e arcos e flechas e as mulheres, com facões.
"Eles estavam furiosos. Não tenho dúvida de que se tivéssemos sido agressivos eles estavam prontos para nos matar, mas não fomos, nos comportamos da maneira mais passiva que foi possível", disse Ed. "Ao longo do tempo essa situação foi se desanuviando e percebemos que são pessoas incríveis."
Após a aventura, o ex-capitão do Exército diz que planeja uma nova expedição, possivelmente em setembro de 2011. Mas ele se recusa a revelar os planos "porque essa é uma indústria muito dinâmica e é preciso esconder as cartas do baralho antes de jogar".
Por ora, Ed, que também serviu no Afeganistão, diz que quer simplesmente voltar para casa e "dedicar tempo à família".
"Dois anos e meio é muito tempo para ficar longe. Nesse período, minha irmã se casou e teve um filho, que é meu primeiro sobrinho. Pensando bem, uma expedição deste tipo é algo bastante egoísta", afirma Ed.
"Ainda que a viagem tenha tido uma finalidade educacional, de educar crianças sobre o meio ambiente e levantar fundos para entidades ambientais, no fundo é uma grande aventura de garotão."
Cho - na foto - diz que pretende voltar para sua comunidade e fazer "alguma coisa pelo meio ambiente".
"Quero voltar para o Peru e ter a oportunidade de trabalhar com algum projeto de reflorestamento", afirma. "Se não com alguma comunidade, pelo menos para mim, com um ou dois hectares. Quero fazer o que estiver ao meu alcance."

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