sábado, outubro 30, 2010

Martha Medeiros: “A separação é uma pequena morte”

Martha Medeiros: “A separação é uma pequena morte”
Em novo livro, a autora de “Divã” descreve as dores que marcam o fim de um relacionamento
Martha Mendonça – Revista ÉPOCA
Perder um amor é como sobreviver a um acidente de avião. Primeiro se ouvem as turbinas parando, então vêm a parada definitiva e um estrondo. É assim que começa o novo livro de Martha Medeiros, Fora de mim, o relato ficcional de uma mulher no fim de um relacionamento. Mal foi lançado, o livro já está na lista dos mais vendidos de ÉPOCA. Martha Medeiros é uma escritora que descobriu em si as vozes de várias mulheres. Além de seu livro Divã – que, depois de teatro e cinema, deverá virar série de televisão –, outros dois foram adaptados para o teatro e estão em cartaz no Rio de Janeiro: Doidas e santas e o monólogo Tudo que eu queria te dizer. Influente no universo feminino, ela diz que já recebe mais e-mails de homens: “Eles também querem relações estáveis”.
QUEM É Gaúcha de 49 anos, é separada e mãe de duas adolescentes
O QUE FEZ Colunista e escritora, tornou-se uma espécie de referência para assuntos relacionados ao universo feminino
O QUE PUBLICOU Dezenove livros, entre eles os best-sellers Divã, Doidas e santas e Tudo que eu queria te dizer
ÉPOCA – Por que um livro sobre a dor da separação?
Martha Medeiros – Separação deixou de ser uma situação excepcional na vida das pessoas. Acontece com recorrência, em função do maior número de relações que temos durante a vida. E é uma dor que nada tem de amena. A perda de um amor verdadeiro é algo com o qual não sabemos lidar com desenvoltura. É uma pequena morte.
ÉPOCA – De onde saiu a comparação entre a separação e um acidente aéreo?
Martha – Não me lembro de onde surgiu essa ideia. Gosto muito de uma música do Pedro Verissimo, filho de Luis Fernando Verissimo, em que a letra diz que O amor foi como um acidente/foi como quebrar os dentes/foi cortante e de repente/e olha o que restou. Escuto muito essa música em minhas caminhadas, talvez seja daí. A verdade é que a dor do amor parece mesmo com um acidente a que sobrevivemos. É preciso superar o choque.
ÉPOCA – O que há de autobiográfico em Fora de mim?
Martha – O começo do livro tem a ver com dores já vividas, com uma paixão turbulenta que tive. Quem já não passou por um sofrimento de amor? Mas, passado o início do livro, o resto foi ficção pura. Busquei a latin lover que há em mim, meu lado Almodóvar, meu lado Frida Kahlo. Tenho atração pela passionalidade do amor.
ÉPOCA – Por que as mulheres se identificam tanto com o que a senhora escreve?
Martha – Creio que tenha a ver com a facilidade da escrita. Sou uma devota da simplificação e da objetividade. Tenho horror a enrolação. Gosto de pegar atalhos e ir direto ao ponto. Mulheres gostam de quem “fala” com elas de igual para igual.
ÉPOCA – Como se pode responder à pergunta “o que as mulheres querem”?
Martha – As mulheres querem tudo. Simples assim – e impossível assim.
ÉPOCA – No que o mundo de hoje está mais fácil e mais difícil para as mulheres?
Martha – Está mais fácil conquistar uma liberdade que sempre foi sonhada e que antes não passava de uma utopia. Hoje ela é palpável, real. O difícil é lidar com o preço que temos de pagar por ela.
ÉPOCA – A senhora está perto dos 50 anos, uma idade em que são comuns mudanças e questionamentos. Quais são os seus?
Martha – Pela primeira vez estou acusando o golpe da idade. O que me preocupa é que tenho um espírito muito jovem. Temo a falta de sintonia entre saúde física e saúde mental. Estou solteira, como só estive antes dos 20 anos. É um reencontro muito bacana comigo mesma, estou reconectando os fios que me unem a minha essência, mas pela primeira vez dá um friozinho na barriga quando penso em solidão. Ainda pretendo amar de novo.
ÉPOCA – Seus livros têm virado peças de teatro e ao menos um filme, Divã. A senhora vê sua criação nessas adaptações?
Martha – Tenho consciência de que, ao autorizar adaptações, deixo de ser a proprietária privada de minha obra. Passa a ser um trabalho de equipe. Aprendi a me desapegar, não posso exigir fidelidade absoluta ao que escrevi.
ÉPOCA – A senhora recebe centenas de e-mails e cartas. São sempre de mulheres?
Martha – Os homens estão quase se tornando maioria entre as mensagens que me chegam por e-mail, o que confirma que é um estereótipo a ideia de que eles só se interessam por sexo, carros e futebol. Eles também desejam relações estáveis, também têm medo da solidão, se preocupam com os filhos, não gostam da ideia de envelhecer...

'O iluminado'

'O iluminado'
Arnaldo Bloch – O Globo
Eu nasci há dez mil... Não, não era nada disso que eu ia dizer. Nem que sou a mosca da tua sopa, embora às vezes isso pareça bem plausível. O que eu ia dizer era que estou em Minas Gerais, aqui, onde nasci. Ou melhor, onde fui concebido. Passei os últimos três dias a trabalho em Caxambu, uma dessas estâncias hidrominerais onde antigamente tinha cassino e para onde o pessoal vinha tomar banhos termais perolados, ou em águas sulfurosas, o famoso banho com cheiro de pum, água-pum, o pum do bem, pum-pum sem Protex protege o bumbum.
Peraí. O serviço de quarto bateu à porta.
Um desses hotéis antigos, com pé-direito de uns cinco metros e portas que são o triplo do meu tamanho e têm janelas no alto.
Os corredores têm tapetes vinho-escuro ao longo dos quais se encontram uns berços antigos, onde um ancestral meu poderia perfeitamente ter sido ninado nas férias dos pais. Ou abandonado nas mãos de uma enfermeira má enquanto os pais iam tomar banho de pum.
Talvez fosse eu mesmo ali, no berço vazio no corredor, um ano após o nascimento, para comemorar os dois anos da concepção. Minha mãe sempre me disse que foi em Caxambu.
Ou terá sido em Cambuquira? Meu pessoal vinha pra essas bandas. Em Cambuquira o tio Jorge dava o primeiro grito de carnaval montado num burrico. Há fotos.
Ou terá sido em São Lourenço? Poderia ligar para minha mãe agora e esclarecer tudo, mas não consigo parar de escrever, e nessas horas é bom aproveitar, principalmente quando se está tendo prazer, como estou, agora. Prazer de me rever nascer. Ou melhor, correr rumo ao ovo. Corrida ao ovo. Essa eu venci, essa ninguém me tira.
Posso ter perdido muitas, ou todas as outras, mas ninguém tasca minha faixa de campeão da corrida ao ovo, quando eu ainda era leite (papai gosta de dizer: “Você veio do meu leite”). Leite com ovos, daí sai algum bolo. O bolo sou eu. Bolo em Caxambu.
Ou será Lambari? Não, Lambari não foi. Mas foi por aqui, num desses grandes hotéis. O hotel aqui às vezes é sinistro. Portas rangem quando piso num certo ponto do assoalho. Basculantes sopram em meus ouvidos palavras jamais ditas.
E esses corredores com berços vazios? Fazem-me imediatamente pensar nos corredores de “O iluminado”, que o menino percorria com seu velotrol. Cadê meu velotrol? Rosebud... Redrum... Quem viu ambos os filmes já decifrou, quem não viu vá googlar depois de ler a crônica.
Teria que ser um velotrol gigante pra sustentar o menino de 45 anos, jornalista, fazendo matéria pro jornal sobre um grande evento que reúne sociólogos, antropólogos, cientistas políticos. Digito no teclado do netbook, sentado numa das cadeiras de plástico de bar que compõem o auditório do debate.
Em dado momento dou uma relaxada, estico bem os braços para trás, pendendo para um dos lados. Uma das pernas da cadeira cede no piso liso, entorta, caio esparramado no chão, eu prum lado, computador pro outro, celular, caneta, bloco.
— Tudo bem aí? — pergunta um dos conferencistas.
— Sem feridos — respondo, arrancando risos moderados do público.
— E o computador? Quebrou? — O computador está bem — digo, e agora os risos mal se ouvem.
— Podemos continuar então? — Podem — autorizo, e sussurro, baixinho, para ninguém ouvir: — Essa cadeira é uma armadilha para a mídia.
E rio de mim mesmo, recomposto. A mídia.
Mídia aqui é uma baita minoria. TVs não cobrem, só eu, a Cláudia da “Folha”, a Isabella de uma revista de ciência e um cara de uma Gazeta cujo nome agora esqueço.
Com dois mil participantes, dá um ser da mídia para 500 pensadores. Esses caras têm imprensa... Também, precisa ver o veneninho que escorre quando um sociólogo profere a palavra “mídia”... Não tem jeito, mesmo que seja amigão de jornalistas, não dá para a palavra “mídia” soar neutra como devem ser os vários “atores” num discurso de ciências sociais.
Mas isso tudo é brincadeira. Como andar de velotrol num corredor cujo tapete é vinho escuro. Cor de sangue. O sangue que desce por todas as frestas da porta, o menino de Kubrick no velotrol, fascínio e terror.
Aqui há várias portas no corredor, mas não aquela do fundo, com o sangue. Aqui, no fundo do corredor, há duas janelas, de onde se vê ora um prédio, ora uma colina.
Colina de Minas Gerais.
Amanhã cedo, antes de voltar ao Rio, vou tomar um banho. Banho perolado. Que pum que nada. Nem vim fazer filho, não. Aqui fui feito. E não foi com um dedinho. Hoje um jornalista, um eleitor, uma alma, bolo de ovo e leite, que a qualquer momento vai se encontrar, nesses corredores, consigo próprio, antes, lá, fronteira final, onde nenhum outro homem antes esteve, nem nunca estará.
E-mail: arnaldo@oglobo.com.br

Edra, para Charge Online

Alarmismo antipopular

Alarmismo antipopular
CLAUDIO WEBER ABRAMO
Não são poucos nem pouco poderosos aqueles que se opõem ao próprio espírito da Lei da Ficha Limpa
O JULGAMENTO, pelo Supremo Tribunal Federal, de recurso apresentado pelo político paraense Jader Barbalho contra decisão do Tribunal Superior Eleitoral que lhe negara registro de candidatura nas eleições deste ano trouxe de novo à atenção a chamada "Lei da Ficha Limpa".
Essa legislação, inédita mundialmente, apareceu como decorrência da necessidade, amplamente reconhecida, de reduzir a desenvoltura com que, no Brasil, aventureiros invadem e ocupam a política. Não são poucos nem pouco poderosos aqueles que se opõem ao próprio espírito dessa lei.
Um exemplo saliente é o do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal. Durante o julgamento do recurso de Barbalho, Mendes exibiu com notável truculência a natureza conservadora das resistências que persistem à Lei da Ficha Limpa.
Embora expressas no contexto da aplicabilidade, ao pleito de 2010, do famoso inciso "k" (em que se enquadravam Barbalho, Joaquim Roriz e outros), o alarmismo transparentemente posado de Mendes tinha como objeto o princípio inspirador da nova legislação.
Mesmo num ambiente judicial marcado por escandalosa ineficiência, Mendes exprimiu contrariedade ao impedimento de participação, em eleições, de quem não tenha tido condenação transitada em julgado, ou seja, irrecorrível.
Como o Judiciário brasileiro garante procrastinação infinita desde que o réu seja endinheirado e possa pagar advogados caros (como costuma ser o caso de políticos, e mais ainda de políticos ladrões), o ponto de vista do qual Gilmar Mendes é porta-voz advoga a perpetuação da iniquidade.
As referências de Mendes ao fascismo, à barbárie, à pretensa hediondez da lei, significam, na prática, a reiteração do princípio reacionário de que a administração de justiça deve mesmo depender do poder de manipulação de códigos e procedimentos.
Não se enxerga naqueles que, como Mendes, veem a administração da justiça como um jogo, nenhuma indignação em relação ao fato de ladrões de alto coturno terem vida mansa no Judiciário brasileiro. Nenhuma palavra é dedicada à injustiça fundamental da Justiça brasileira.
Essa gente acha normal que ladrões manipulem o sistema, com a inestimável ajuda de desembargadores e ministros de tribunais superiores, mas acha anormal que o Supremo julgue algum caso levando-se em consideração o direito coletivo à justiça.
Observe-se que esse direito coletivo não advém do número de assinaturas de apoiamento que a lei em questão recebeu quando ainda era projeto. Advém, sim, de uma postura que se pode dizer ideológica em relação aos privilégios dos políticos corruptos e seus apaniguados.
É nesse mesmo território que se desvenda a indignação fake de Gilmar Mendes: vem da ideologia antipopular que representa.
CLAUDIO WEBER ABRAMO é diretor-executivo da Transparência Brasil

License Plated Road, Nagorno-Karabakh

Photograph by Alex Webb, National Geographic

A preguiça da oposição

A preguiça da oposição
FERNANDO RODRIGUES – Folha de São Paulo
BRASÍLIA - Se Dilma Rousseff vencer amanhã, toneladas de papel e hectolitros de tinta serão usados para analisar a fragilidade da oposição. Um aspecto preliminar deve ser considerado a respeito desse raquitismo: a gênese da anemia.
Há dois fatores principais. O primeiro e mais óbvio é a economia aquecida e Lula nas alturas. O outro é a preguiça dos líderes oposicionistas em períodos adversos.
Vigora entre as siglas anti-Lula uma espécie de aversão atávica ao trabalho de estruturação de seus clubes. Poucos aceitam a imposição natural da vida pela qual é necessário suar a camisa para construir agremiações realmente profissionais e merecedoras de serem chamadas de partidos políticos.
O PSDB ganhou o Planalto nas asas do Plano Real. Passou oito anos no poder e não se sabe exatamente até hoje o que seria e se existe uma militância tucana.
O DEM (ex-PFL) nunca soube ser oposição desde a chegada de Pedro Álvares Cabral. Se não está no governo, grita. Não há notícias de diretórios demistas atuantes em bairros populares de cidades como São Paulo, Rio ou Belo Horizonte.
É difícil a vida na oposição. O PT que o diga. Amargou bancadas minoritárias no Congresso por duas décadas, nos anos 80 e 90. A sigla de Lula aproveitou para crescer na adversidade. Existem diretórios petistas estruturados na maioria das cidades brasileiras.
Alguém dirá que o PT se apoderou do Estado. Incrustou-se em cargos públicos. A explicação é plausível em parte, pois há na sigla uma certa vida partidária real. A ponto de Lula ter sido obrigado a enfrentar uma eleição prévia interna contra Eduardo Suplicy em 2002. Mais de 150 mil filiados foram às urnas.
PSDB e DEM podem sentar e esperar até uma crise econômica abrir as portas do paraíso para a oposição. É uma saída. Mas é pouco se a intenção for construir partidos reais, e não ajuntamentos de interesses de caciques regionais.

Cláudio Humberto

Cláudio Humberto
“Não vi nenhuma novidade na declaração do papa”
LULA TENTANDO DESVINCULAR DA CAMPANHA ELEITORAL A ORIENTAÇÃO DO PAPA SOBRE ABORTO
LULA AMEAÇA DEMITIR DE NOVO A DIRETORIA DA ECT Pior do que estava, ficou, por isso o presidente Lula nem quer esperar o fim do governo para demitir, no começo do mês, o presidente da Empresa de Correios e Telégrafos, David José de Mattos, e todos os diretores indicados pela ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra. Aliados do governo ponderam sobre o risco de acefalia, com a demissão da cúpula da ECT, mas o presidente parece irredutível.
SEM CONFIANÇA Lula se sentiu enganado pela direção da ECT, no caso das franquias, e tem repetido que perdeu a confiança nos subordinados.
O PADRINHO O ministro Paulo Bernardo (Planejamento), que monitora as ações dos Correios, deve indicar o novo presidente da estatal.
NOVO PRESIDENTE O favorito para a presidência da ECT é o atual diretor de Recursos Humanos, Nelson Freitas, homem de confiança de Paulo Bernardo.
O SEM-PODER Queimado pelo escândalo da madrinha Erenice Guerra, David José de Mattos virou na ECT uma espécie de “rainha da Inglaterra”.
MINISTRO TIRA FÉRIAS E MANTÉM EDITAL IRREGULAR O ministro Altemir Gregolin (Pesca) foi pescar e deixou “na rede” o edital nº 7, autorizando o aluguel de 34 barcos estrangeiros para operarem no Brasil sem cumprimento da legislação ambiental e trabalhista. Ignorou três avisos do Ministério do Meio Ambiente para revogar o edital, semana passada. Sua publicação intrigou o ministério: foi sem aviso e, aponta o maior interesse nos barcos japoneses.
CASA COR Capa de tecido e óleo de peroba não dão conta de manter impecáveis sofás do Senado: este ano a manutenção nos custará R$ 336,9 mil.
PREVISÃO DO TEMPO Um tsunami e um vulcão abalaram a Indonésia no início da semana,. No Brasil, a previsão de “terremoto”, amanhã, parece improvável.
FILME DE TERROR Um spam malicioso para roubar dados do bobonauta tem “vídeo de José Serra fazendo sexo no seu gabinete”. Só masoquista cai nessa.
AVANÇO FASCISTA O obscurantismo chega ao Conselho Nacional de Educação, que quer banir das escolas “Caçadas de Pedrinho”, livro de Monteiro Lobado, de 1933, por ser “racista”. Alega, entre outras bobagens, que Anastácia, filha de escravos, chama de “sinhá” d. Benta, sua adorável patroa.
LUIZ QUEM? O programa de TV da Dilma ignorou os oito anos de convivência da candidata com o chefe: na quinta, a legenda mostrava Luis Inácio e não Luiz Inácio Lula da Silva. Merece puxão de orelha. E vai doer.
À FLOR DA PELE A campanha em Alagoas está de vaca não reconhecer bezerro. Até um nervoso Renan Calheiros (PMDB), que apoia Ronaldo Lessa, atrás nas pesquisa, abandonou o tom conciliador para atacar velhos aliados.
VOCÊ É FEIO Ao final do debate entre candidatos ao governo de Alagoas, Ronaldo Lessa (PDT), indiciado pela PF por desvios de R$ 14 milhões, aproximou-se do rival tucano Teotonio Vilela, microfones desligados, e disse: “Não gosto de você como político”. Valentão.
CAROS COLEGAS Preocupa Mato Grosso um certo Conselho Estadual de Comunicação Social, de inspiração fascista, articulado por políticos e o Sindicato dos Jornalistas, para fiscalizar e “recomendar” o teor das notícias.
FALSIDADE Quem se apresenta como “coordenador-geral” da campanha de Agnelo Queiroz (PT) ao governo do DF, tentando somar créditos, peca por falsidade orgânica. Há não apenas um, mas uns vinte coordenadores.
ESTRELAS CADENTES Quatro generais da reserva disseram à coluna que vão votar em Serra, “apesar de ter sido do Partidão”. Temem seus soldos de inativos regidos pelo INSS. Dilma atribui a informação à campanha de Serra.
FESTA NO INTERIOR “Raposa” de oposição da política fluminense aposta que Dilma perderá feio no interior do Estado: terá ampla votação nas zonas Sul e Oeste. E se ganhar de Serra, será por diferença mínima.
PENSANDO BEM... ...o candidato Feriadão pode ser o azarão da disputa de amanhã.
PODER SEM PUDOR  RUMO AO CENTENÁRIO  O senador Edison Lobão (PMDB-MA), gentil, telefonou ao colega Antônio Carlos Magalhães, que estava num hotel, em São Paulo, após receber alta do hospital com um marcapasso no peito:
– Seu coração está preparado para mais 50 anos, senador!
– Cinquenta eu não digo – reagiu o babalaô, então aos 77 anos – mas uns 25 já tava bom...
ACM faleceu em julho de 2007, aos 79 anos de idade.

Duke, hoje no O Tempo (MG)


Serra e Dilma fecham a campanha em Minas

Serra e Dilma fecham a campanha em Minas
Christiane Samarco e Malu Delgado - O ESTADO DE S. PAULO
Por ser o segundo maior colégio eleitoral do País, Estado vira palco para o duelo final de PSDB e PT, que promovem hoje carreatas e caminhadas
O candidato tucano José Serra e a petista Dilma Rousseff encerram a campanha presidencial hoje, em Belo Horizonte, com carreatas e caminhadas pelas ruas da capital mineira. Mais que acreditar na tese de que Minas decidirá a eleição, como no início da campanha, os dois partidos valorizam o simbolismo do Estado.
Entre os tucanos, a rejeição à tese de que Minas decide a eleição é movida pelo medo de serem responsabilizados por uma eventual derrota de Serra. Entre os petistas, pela confiança na vitória e por ser uma forma de mostrar autonomia de Dilma.
Não por acaso, o senador eleito Aécio Neves empreendeu uma ofensiva pessoal em favor de Serra, que foi de comícios, viagens e reuniões à gravação de mensagem de telemarketing em que agradece o apoio e pede o voto "no mesmo 45 do governador (Antonio) Anastasia". Embora sustentem o discurso da virada, os tucanos deixam brecha para um eventual revés. "O voto daqui vale igual ao dos outros. O objetivo é Serra ganhar aqui e no Brasil inteiro", diz Anastasia. O senador Eduardo Azeredo adverte que "Aécio está fazendo tudo o que pode, mas a vitória depende do desempenho do conjunto do Brasil, especialmente São Paulo e Rio".
Para sorte do tucanato, até o deputado Virgílio Guimarães (PT-MG), que coordena a campanha de Dilma no Estado, admite estar ultrapassada a premissa de que a eleição do futuro presidente dependeria de Minas. "A tese não vale mais porque o Brasil não está empatado", afirma. "Minas não decidirá porque o Brasil já se decidiu e é Dilma."
Simbolismo. A decisão da coordenação de campanha de Dilma de encerrar a corrida presidencial em Minas tem um significado eleitoral óbvio, mas também uma simbologia política sobre a caminhada mais autônoma que a candidata precisará traçar, se eleita. No fim do primeiro turno, o palco da despedida foi São Bernardo do Campo (SP), terra de Lula. Agora, Dilma se volta para sua cidade natal. Lula só não estará ao lado da petista, segundo a coordenação, por causa da morte do ex-presidente argentino Nestor Kirchner. Independentemente disso, Dilma transfere uma tradição político-eleitoral do PT de São Paulo para Minas. A candidata, enfim, não é Lula.
Se há um simbolismo político na transferência de São Paulo para Minas, há também uma resposta eleitoral. O grande temor da campanha no segundo turno era uma possível virada dos tucanos no Estado, liderados por Aécio. Escaldada pela derrota que o tucano impôs ao PT no primeiro turno, a militância quer dar o troco com a vitória de Dilma.
O presidente do PT, José Eduardo Dutra, e o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) foram chamados para apaziguar os ânimos no Estado e garantir o engajamento das lideranças políticas dos dois partidos. Padilha levou a tarefa a sério. Na quinta-feira, mandou avisar aos colegas de São Paulo que não participaria de um comício em Araraquara, com Michel Temer (PMDB) e outros ministros, porque cuidava das coisas de Minas. O ministro, em férias, foi escalado para conter o assédio de Aécio aos prefeitos mineiros.
Nos últimos dias, a coordenação da campanha de Dilma comemora as estatísticas de pesquisas feitas para consumo interno.Os números são tão otimistas que a colocam em posição melhor que no primeiro turno, quando obteve quase 17 pontos porcentuais a mais que o tucano.
"É muito simples: mineiro tem trauma da turma do FHC. Não vai votar num candidato que acha que o Brasil começa e termina na Avenida Paulista", diagnostica o presidente estadual do PT de Minas, deputado Reginaldo Lopes.
Enquanto a campanha tucana programou uma caminhada na nobre área sul da cidade, passando pelo bairro em que Lula se irritou com moradores que o vaiaram, no dia 16, a petista percorrerá em carreata bairros da periferia e de Ribeirão das Neves, na região metropolitana e dará coletiva na Casa do Baile, na Pampulha. Mais mineiro e tradicional que isso impossível.
Colaborou Eduardo Kattah

Vale tudo

Vale tudo
José Roberto Afonso - O ESTADO DE SÃO PAULO - 30/10/10
Sonhei que lá no céu um grande cantor, alegando que era chamado síndico aqui na Terra, pediu para passar a cuidar das contas do governo celeste.
Quando grave crise se abateu sobre todos os reinos ao fim de 2008 e lhe disseram que seria uma marolinha, anunciou que conseguiria superávit primário acima da meta. Separou R$ 15 bilhões para um fundo - o único soberano que nunca saiu das suas fronteiras. Mas, ao fechar as contas do ano, precisou aumentar em R$ 21,5 bilhões o que restou a pagar. Ficaram em aberto R$ 16,6 bilhões com os aposentados, que receberiam nos primeiros de janeiro, mas uma saída de R$ 11,7 bilhões só foi baixada do caixa em fevereiro e o saldo, estornado em março. Enquanto isso, o reino viveu sua recessão mais curta e profunda. Empresas que apostaram em derivativos cambiais perderam US$ 37 bilhões, em conta oficial (muito mais do que dito na época). Quando o dólar disparou e elevou o valor das reservas em moeda local, o Banco Central lucrou R$ 185 bilhões e, apesar de ser temporário e não realizado, transferiu cash para os cofres reais. Parte foi corretamente usada para abater a dívida, mas outra ficou dormindo em caixa - enquanto o reino emitia títulos para cobrir o rombo que voltou nas contas cambiais, tanto maior quanto mais o dólar despenca. Criatividade não faltou para contar como arrecadação normal aquela ainda pendente de disputa judicial, mas transferida ao seu caixa. Ou para contar a extinção do imposto sobre cheque em meio às desonerações tributárias da economia.
Mas a arte foi maior quando o reino se tornou o emprestador de última instância e a qualquer custo da economia, sem ter de confessar que assim era e atuaria. Passou a emprestar a bancos do reino. Estes socorreram empresas apanhadas pela crise no contrapé e que, se falidas, poderiam arrastar outras e até bancos (muito capital mudou de mãos, muitas vezes para as de estrangeiros). Estatais também foram atendidas: endividaram-se em R$ 44,3 bilhões (2009), dos quais R$ 21,5 bilhões vinculados para investimento, mas este subiu só R$ 17,3 bilhões - foram R$ 9,8 bilhões a menos de recursos próprios (mesmo pagando R$ 14,3 bilhões a menos em tributos e encargos). Ou seja, se endividaram para poupar, menos para investir.
O problema começa com a fonte dos recursos: dívida. O reino emite títulos, os coloca no mercado para poder emprestar ao banco do reino, que por sua vez deveria emprestar ao mesmo mercado, mas devolve parte ao próprio reino. O pretexto (corretíssimo) de apoiar o setor produtivo passou a ceder espaço a um atalho curioso. Cada vez mais o tomador do crédito com o reino passou, coincidentemente, a arrecadar mais para o mesmo credor: comprou receitas futuras (antes, de empresas que nunca distribuíram lucros e, agora, ações advindas da venda do óleo que ainda está no fundo do mar) e pagou mais dividendos e impostos com lucros (muitos oriundos do mesmo reino, pelo diferencial de taxas/prazos e subsídios, que nem sempre chegam aos mutuários).
Forma-se um círculo mais que vicioso - caro e descompassado. Muito já foi dito da diferença de taxas - juros pagos podem ser superiores ao retorno esperado. Mas, mesmo que fossem iguais, isso não resolve o pecado capital. O que se empresta a perder de vista é abatido do que se deve quase à vista (um quarto dos papéis continuam a rolar a cada 22 dias). Virou um modelo que depende de um laranja fora do governo (nem precisa ser o mesmo que tem sido usado) para fazer uma laranjada - a transmutação de endividamento em receita primária (como se fosse tributo), e assim aumenta o gasto, mas também o superávit primário e a dívida nos velhos conceitos (o mais antigo, títulos reais em mercado, acabou de passar de R$ 1,9 trilhão, dos quais R$ 404 bilhões acrescidos nos últimos dois anos).
O menos reparado é que nada passou pelo Orçamento. Os representantes eleitos pelo povo não autorizaram, prévia e especificamente, que o rei realizasse despesas com concessão de empréstimos de R$ 241 bilhões ou aquisição de ações de R$ 74 bilhões. No segundo caso, como não driblar um preceito básico da responsabilidade fiscal - renda com a venda do patrimônio público só se usa na compra de outro bem ou para abater dívida? Só no céu ainda existe um sistema dito integrado, de administração financeira, contábil e orçamentária que consegue não aparecer no Orçamento ou na sua execução - menos se deve quanto mais se emite.
Financiar o superávit fiscal. Nunca antes na história da teoria fiscal de todos os reinos se conseguiu aumentar a dívida para incrementar o superávit. Coisa de artista. Liberou geral. Vale tudo. Antes de dançar, acordei. Ainda bem que isso não se dá na realidade das políticas fiscal, econômica e públicas.
*JOSÉ ROBERTO AFONSO ECONOMISTA, MESTRE PELA UFRJ E DOUTORANDO DA UNICAMP

Sinfrônio, no Diário do Nordeste (CE)


Emulsificação política

Emulsificação política
CESAR MAIA - FOLHA DE SÃO PAULO - 30/10/10
A campanha eleitoral 2010 tem vários custos além do que é mais óbvio: o da campanha.
Nesta eleição, são ao menos seis os custos adicionais.
O primeiro custo é o de cumprir as promessas. O segundo é o de não cumprir as promessas. O terceiro custo é o de a agenda final do primeiro turno e inicial do segundo ter tido um caráter religioso. O quarto é o custo econômico para o Brasil da política econômica eleitoral, com o real valorizado e contas públicas em processo de desmontagem. O quinto é o custo estratégico de se sair de uma campanha sem agenda e sem projeto para o país. O sexto é o custo político de uma Câmara estilhaçada.
Ao primeiro custo (as promessas dos candidatos) devem-se somar aquelas feitas pelos candidatos a governador articuladas com os candidatos a presidente. Se cumpridas, as pressões fiscais e inflacionárias, que já são preocupantes, serão agravadas. O segundo custo é não cumprir as promessas e ganhar tempo e, com isso, antecipar uma inevitável impopularidade, pela sucessão de um presidente cuja popularidade é pessoal, não de seu governo. O terceiro custo é trazer para a agenda eleitoral temas (valores cristãos) que terminaram reforçando a partidarização das igrejas.
O quarto custo é econômico. Se há um ponto em que o governo atual e o anterior se igualam é ter usado o populismo cambial e fiscal em ano eleitoral. O governo anterior pagou por isso em seu segundo momento.
Constrói-se um consenso de que 2011 será um ano perdido, que exigirá um freio de arrumação cambial e fiscal. Estima-se uma inflação nunca inferior a 7% e um crescimento econômico medíocre.
O quinto é o custo estratégico de uma campanha sem agendas. Questões fundamentais para os próximos anos -como a política externa e as circunstâncias internacionais do governo Obama "terminar" dois anos antes; a dependência à China; a guerra das moedas; França e Grã-Bretanha estarem aplicando medidas fiscais severas; a Europa viver a politização da crise da imigração; o chavismo extrapolar suas provocações; o Irã intensificar a instabilidade na região- passaram ao largo da campanha.
E, finalmente, o custo político das relações entre Executivo e Câmara dos Deputados, que tendem a ser as mais inorgânicas desde sempre. São 22 partidos representados, um recorde. Os quatro maiores partidos apenas representarão 50% dela, outro recorde.
E, mais grave, se a inexperiência parlamentar e sua fragilidade potencial (numa das alternativas presidenciais) sinalizarem a seu partido e aos deputados espertos que vale a pena pressionar.
O mais provável é termos em 2011 um estranho caso de emulsificação política.
CESAR MAIA escreve aos sábados nesta coluna.

Cesar e Pedro Mariano - DVD Piano e Voz - "Tudo Bem"

Processo eleitoral: tempo de rever

Processo eleitoral: tempo de rever
WALTER CENEVIVA – Folha de São Paulo
Há normas que até são razoáveis para o equilíbrio eleitoral, mas ofendem a liberdade constitucional
O STF (Supremo Tribunal Federal), em sua composição plena, confirmou por maioria a liminar concedida pelo ministro Ayres Britto, em ação direta de constitucionalidade, na qual se discutia a suspensão de regras do inciso II, da segunda parte do inciso III e dos parágrafos 4º e 5º do art. 45 da lei nº 9.504/97.
Lembro ao leitor que a lei mencionada introduziu grandes alterações na legislação precedente, remanescente do regime militar, mas foi muito mudada desde sua publicação.
Servem de exemplo os parágrafos 4º e 5º mencionados. Foram inseridos em 2004, para definirem trucagem e montagem de partes de vídeo e áudio, destinadas a beneficiar ou prejudicar candidatos. A decisão de Ayres Britto foi correta, ajustada ao texto atualizado da lei nº 9.504, que havia constituído uma consolidação das regras legais, na transferência da ditadura para a democratização.
Os muitos ajustes a transformaram, porém, em uma colcha de retalhos após 13 anos de vigência. É necessário recompor o Código Eleitoral, conforme a Folha defendeu, sendo este o momento certo para redefinir e desenvolver a reestruturação do sistema, de modo a se assegurar a manifestação dos eleitores na hora de ir às urnas.
A lei nº 9.504/97 ainda tem soluções irreais. Serve o exemplo do mencionado art. 45, pelo qual a "partir de 1º de julho do ano da eleição, é vedado às emissoras de rádio e televisão, em sua programação normal e noticiário". Trata-se de composição legislativa a ser reavaliada, pois interfere em consultas populares de natureza eleitoral, o que pode ser inconstitucional.
Com olhos para a realidade, sabe-se de muitas emissoras, de propriedade de políticos ou afiliadas às grandes redes, que têm espaço para inserções locais ou regionais, aptas a influir no resultado das eleições.
Há normas que chegam a ser razoáveis do ponto de vista do equilíbrio eleitoral, mas ofendem a liberdade constitucional. Há outros ângulos de avaliação. Retomo o exemplo do inciso III do art. 45, pelo qual é proibido veicular propaganda política ou difundir opinião favorável ou contrária a candidato, partido, coligação, órgãos ou representantes ou lhes dar tratamento privilegiado.
O defeito se vincula à acolhida coletiva dos votos do partido ou da coligação para determinar quocientes eleitorais. A atualidade do candidato Tiririca, com sua votação altíssima, propicia a eleição de disputantes menos votados individualmente que os de outros partidos, repetindo o caso de Enéas, há anos. Não aprendemos a lição.
Passado o período eleitoral, a contar de amanhã, devemos aproveitar o intervalo até os próximos pleitos para encarar com seriedade a recomposição justa. Será bom termos um código que, por sua natureza, reúna as regras fundamentais do funcionamento eleitoral.
Não impedirá -conforme se vê da legislação vigente- que normas específicas sejam tratadas em leis esparsas, sempre submetidas aos princípios da Constituição, em particular nos incisos IV e IX do art. 5º, e às garantias gerais da liberdade de manifestação do pensamento, inseridas no art. 220.
As experiências a serem revividas até amanhã dão o sinal de partida para o recomeço da reavaliação democrática na trilha dos pleitos.

Skoob

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