sábado, outubro 02, 2010

Campanha eleitoral, o fim

Campanha eleitoral, o fim
Termina a campanha mais personalista, despolitizada e burra em um quarto de século de democracia
VINICIUS TORRES FREIRE - Folha de São Paulo
CHEGOU AO fim a campanha eleitoral mais vazia, burra, mesquinha, odienta e personalista desde que o país voltava à democracia, história que, com alguma boa vontade, pode se dizer que começou na eleição para governadores de 1982. Lula estava lá - era candidato ao governo de São Paulo. Foi então que o agora presidente de saída disse, num famoso debate, que não era nem marxista, nem comunista ou socialista, mas apenas um torneiro mecânico, sendo aplaudido pela plateia. Mais tarde, saber-se-ia que falava a verdade - Lula era apenas uma "metamorfose ambulante".
Lula perdeu a eleição para Franco Montoro (1916-1999), então no PMDB, um dos líderes do bloco que viria a ser o PSDB, no final dos anos 1980. Montoro nomeou José Serra seu secretário do Planejamento, na prática um premiê. Foi o primeiro cargo público de Serra. Foi quando Serra se lançou na política nacional e tornou-se, desde então, candidato eterno a ser ministro da Fazenda, posição que jamais ocupou, e aí começou seu sonho presidencial.
Quase 30 anos depois, Lula e Serra estão no centro do palco, embora de saída. Mas a política, quanta diferença...
Pouco antes de 1982, futuros petistas e tucanos ainda se misturavam no MDB, na frente contra a ditadura. Então se discutia seriamente se deveria ser formado um partido operário ou socialista ou se a "frente democrática popular" deveria continuar unida. A querela, basicamente paulista, resultou na formação do PT e na ala tucana do PMDB. Talvez hoje se lamente ou se repudie aquele tipo de debate, feito de ideias com prazo de validade vencido ao menos desde o início dos anos 1970. Mas passemos. Pelo menos havia ideias, alguma grandeza, projetos políticos coletivos, programas partidários e até alguma paixão admirável.
No entanto, o país está hoje muito melhor que nos anos 1980 ou 1990. Mas é possível que continue a melhorar tendo a política chegado a um nível ainda tão mais baixo?
A política partidária se degradou no Brasil, e perdeu importância no mundo dito "globalizado". Políticos se tornaram monstros que, em sua perfeição, existem apenas na teoria microeconômica, maximizadores do seu interesse, para dizê-lo de forma sarcástica. Grandes conversas fiadas ideológicas caíram em desuso. O melhor debate político se tornou a discussão de reformas modestas, localizadas, discutidas o quanto possível de modo racional e democrático, sem ambição maior.
Mas até essa política modesta desapareceu, nos partidos, ao menos, e o debate é ainda mais degradado que em outras democracias maiores, porém também na lama.
Serra nem se amolou de apresentar um programa, um grupo político, um grupo de pensadores. Dilma Rousseff tratou o programa de seu PT como um desses atestados inúteis de cartório. Serra renegou o governo FHC, e o PSDB se desfez. Lula desfez o PT para se fazer presidente e governar, e escolheu com um dedaço sua candidata. Mais do que nunca, a campanha presidencial foi feita de populismos e palanquismos municipais, personalismo, truques, pegadinhas e imagens. De concreto sobre o futuro do país, sabe-se que há um cada vez mais vago consenso econômico, já insuficiente para dar conta de futuros problemas, e que uma caixa-preta voluntarista tomará posse em janeiro.
vinit@uol.com.br

LIMITES ESTREITOS DA ÉTICA EVANGÉLICA BRASILEIRA

LIMITES ESTREITOS DA ÉTICA EVANGÉLICA BRASILEIRA
Antônio Carlos Costa - 01/10/2010
Há certos temas que são recorrentes na maior parte dos púlpitos brasileiros. Percebe-se a igreja, por exemplo, bastante preocupada com a pedofilia, a lei da homofobia, o aborto, a pornografia, o divórcio. Por motivo de integridade intelectual, não se pode crer no Novo Testamento e menosprezar esses assuntos. A liberdade de expressão, os direitos da criança, a santidade da vida humana, a pureza sexual e a importância do matrimônio são valores inegociáveis do cristianismo. Teme-se que - se essas iniquidades não forem combatidas pela igreja-, Deus julgará o seu povo.
Temos motivos, de fato, para nos preocupar. Porém, muito mais amplos do que o que inquieta a maior parte da igreja. Por que? Porque essas não são as únicas transgressões que a Bíblia denuncia e condena. Há iniquidades, tão graves quanto as supramencionadas - que passam despercebidas por aqueles cujos nomes constam no rol de membros das igrejas brasileiras-, e presentes de modo histórico, disseminado e crônico no Brasil.
Não se menciona nos nossos púlpitos a desigualdade social, o homicídio, as péssimas condições de moradia do pobre, a superlotação dos presídios, os salários baixos, a fome, a condição precária dos nossos hospitais, a falta de acesso a educação de qualidade. Como pensar que seremos julgados por Deus pela prática daqueles pecados e não destes? O fato de uns estarem em vias de ser institucionalizados e outros não, não faz diferença, pois jamais houve o caso de um povo ser justificado diante de Deus pela beleza da sua legislação. A lei sem obras é morta.
Tem que ser igualmente enfatizado que - o juízo de Deus começa pela sua casa. O que falar dos que dizem representar os interesses da igreja nas assembleias legislativas estaduais e Congresso Nacional, eleitos com o voto do crente, em campanhas realizadas no horário do culto a Deus? Alguns são reputados como os mais reacionários, vaidosos, alienados, corruptos que se tem notícia. Como deixar de fazer menção das igrejas que lavam dinheiro? Como não mencionar os pastores que deixam suas congregações se transformarem em currais eleitorais de canalhas, em troca de concessão de rádio, aparelhagem de som, legalização de propriedade e tijolo para construir templo? Não podemos deixar de deplorar as grandes mobilizações -passeatas ufanistas-, capazes de levar milhares para as ruas para nada, absolutamente nada. Pessoas são assassinadas aos milhares nas cidades brasileiras, dinheiro público escoa pelo bueiro da corrupção, metade da população habita em bairros sem rede de esgoto, e a igreja se reúne em número incontável, nas principais cidades do Brasil, sem anunciar que está indo para as ruas a fim de combater esses pecados, e isso porque, a preocupação com a miséria não está presente no corações dos seus membros, completamente alheios à obscenidade da violação dos direitos humanos, muitas vezes perpetrada pelo próprio Estado.
Deixaremos de denunciar as nossas instituições de ensino teológico, muitas das quais ensinam o exato oposto proclamado pelas Escrituras Sagradas, sem ter quem faça oposição? De igual modo, muitos dos nossos pastores terão antes que aprender a se desfazer das joias de ouro que ostentam, dos seus ternos caríssimos, dos carros luxuosos e padrão de vida endossado por uma teologia que só serve para justificar a riqueza dos profetas da causa própria, enquanto uma massa de crentes é mantida no padrão social mais baixo do país. Envergonham os céus, campanhas para levantamento de ofertas, que fazem tropeçar todo e qualquer brasileiro que tem cérebro, capazes de apelar para a ignorância e crendice, num contexto de total falta de transparência da administração financeira das contas de suas instituições.
As afrontas a Deus em nossa nação e na igreja são mais amplas e sérias do que pensamos. Temos provocado a Deus. Por isso p desrespeito da população brasileira pela igreja, o menosprezo à função do pastor, a falta de interesse dos meios de comunicação pelo que essa igreja ensina. Perdemos a credibilidade. Setores inteiros da nossa sociedade não conseguem se imaginar presentes em cultos barulhentos, onde não se fala coisa com coisa e dirigidos por homens de vida dúbia.
As maiores ofensas a Deus que ocorrem na nossa nação, só serão combatidas pela igreja, quando esta deixar de agir de modo espasmódico, ingênuo, estreito e superficial. Esses batalhas não se vencem sem evangelização que prega arrependimento para com Deus e fé em Jesus Cristo, oração, protesto nas ruas, busca de informação, pressão sobre as três esferas de poder da república, entre outras ações mais, tão ausentes da praxis das igrejas do nosso país. Somos protestantes. Atrás de nós, há uma multidão, que selou seu testemunho com sangue ao longo da história, por protestar.
Enquanto nossa mensagem for determinada por uma pregação estranha às reais demandas morais e espirituais do Brasil, carente de relevância, pobre de pertinência histórica, falta de discernimento dos tempos e privada de fidelidade às Escrituras, continuaremos a deixar de pregar sobre aquilo que tão extensamente encontramos nos textos proféticos da Bíblia, e que seria proclamado com clareza, paixão e ousadia por qualquer profeta do passado que estivesse em nosso lugar, homens que costumavam ser valentes não apenas dentro do templo, mas nos locais onde a verdade referente às demandas do direito e da justiça tinham que fluir como um grande e caudaloso rio.
Antônio Carlos Costa – Blog Palavra Plena

Tigre - Kaziranga National Park - India

Photograph by Steve Winter, National Geographic

NANI


Política externa

Política externa
EDITORIAL - FOLHA DE SÃO PAULO
Objetivos do Itamaraty estão corretos, mas sua execução perdeu-se em maniqueísmos, contradições e exibicionismo que é necessário superar
Toda política de um Estado em face dos demais países implica conciliar duas vertentes nem sempre acordes. De um lado, o interesse nacional, manifesto em necessidades de ordem econômica e apoiado, em última análise, na capacidade militar. De outro, o respeito a princípios que deveriam valer para todos os Estados.
No âmbito da civilização ocidental, a que bem ou mal pertencemos, esses princípios são os direitos humanos, a autodeterminação dos povos e a resolução negociada, pacífica até o limite extremo, dos conflitos internacionais.
Quanto mais harmônica for a relação entre os dois termos daquele dilema, mais eficaz será a política externa que a expressa e mais promissora a contribuição do Estado que a adota para a humanidade. É sob esse prisma que se deve avaliar a administração das relações exteriores do Brasil.
O Itamaraty tem acertado, na gestão petista como na tucana, ao enfatizar que o mundo evolui para uma dinâmica multipolar de poder, e ao aproveitar oportunidades que propiciem a países em desenvolvimento maior peso nos rumos da política internacional.
Se os objetivos estão corretos, o mesmo não se pode dizer do modo de alcançá-los durante o período Lula. Desvirtuou-se nossa política externa ao ser empregada para aplacar frustrações da militância partidária doméstica, erro acentuado pelo maniqueísmo tosco que tantas vezes prevaleceu nas decisões do presidente e de seus auxiliares.
Poucas vezes fomos tão incongruentes. Adotamos petulante rigor democrático, por exemplo, na crise de Honduras, mesmo depois de o país centro-americano realizar eleições livres, ao passo que festejamos ditaduras repulsivas como a teocracia do Irã e cultivamos, por sentimentalismo ideológico, não apenas o regime fossilizado de Cuba como seus imitadores autoritários na América do Sul.
O acervo de votos do Brasil nos foros internacionais que tratam de direitos humanos acumula equívocos, omissões e derrotas.
Temos um contencioso amplo e inevitável com os Estados Unidos, que só tende a crescer conforme o Brasil ganha dimensão comercial e geopolítica. Nenhum motivo recomenda incrementar artificialmente, por mero exibicionismo diplomático, uma frente de atritos já em si considerável.
Em relação ao Oriente Médio, a presença de expressivas comunidades de origem judaica e árabe em nossa sociedade, conjugada à distância que nos aparta daquela área conflagrada, deveria ditar uma política isenta, limitada a apoiar a negociação entre as partes. Depois de frenéticas e fúteis gestões numa região onde não temos interesse, perdemos isenção e credibilidade.
Tais percalços foram compensados pelo prestígio internacional que apesar deles continua a cercar o presidente Lula, com base no forte simbolismo de sua trajetória pessoal. Um(a) novo(a) presidente terá ocasião de corrigir os rumos de nossa diplomacia, que precisa ser mais eficiente no apoio à expansão comercial do país e menos contraditória na aplicação de princípios universais.

Jorge Braga, para O Popular


O político e o cozinheiro

O político e o cozinheiro
Jorge Bastos Moreno – O Globo
O restaurante Piantella, em Brasília, já não é nem mais estabelecimento comercial. É quase um patrimônio público. Está incluído no roteiro de todo turista que visita os pontos políticos mais importantes da cidade. Era a “casa” de Ulysses Guimarães.
A intimidade de Ulysses Guimarães com o restaurante sempre foi tão grande que, na sua campanha de candidato à Presidência da República, poderia faltar vaga para o vice Waldir Pires e até para o presidente do PMDB, Jarbas Vasconcelos, menos para Marco Aurélio Costa, o dono do Piantella.
Os momentos mais importantes do PMDB foram comemorados lá, inclusive a volta de Tancredo ao partido, depois da malsucedida criação do PP — Partido Popular.
Certa vez, o PMDB fechou a parte superior da casa para um jantar de Ulysses com todos os candidatos do partido à primeira eleição direta de governadores.
À tarde, no encontro formal dos candidatos, o fotógrafo do GLOBO flagrara Ulysses às gargalhadas com Tancredo e me pediu para apurar o motivo de tanta descontração.
No jantar perguntei aos dois. Um empurrou a resposta para o outro, até que o próprio Tancredo contou: — Quando chegou a hora do padre Raimundo Pombo (candidato ao governo de Mato Grosso) falar, ele contou que o Júlio Campos, seu opositor, anda dizendo que ele é muito velho e...
Aí, Ulysses socorreu Tancredo: — O padre, para provar sua vitalidade, começou a nos dizer que corre dez quilômetros por dia, nada cem metros de manhã, de tarde e de noite. E aí o nosso amigo aqui me cochichou no ouvido: “Ulysses, segura esse padre, se não, ele desafia nós dois a darmos três, sem tirar de dentro”.
Voltando ao nosso tema, Marco Aurélio sempre teve o defeito de todo dono de restaurante: sentarse à mesa do cliente assíduo, não importa se o sujeito está acompanhado de outras pessoas, e até dar palpites.
Cena rara, mas acontecia: Ulysses e Tancredo, juntos, num cantinho. Ninguém ousava aproximar-se deles. Nem os garçons. Só Marco Aurélio.
E foi aí que a amizade de Ulysses com Marco Aurélio começou a ficar abalada.
Mineiro, Marco Aurélio, com a perspectiva da derrota das Diretas, queria participar da conspiração próTancredo. E começou a tentar amolecer o coração de pedra do velho Ulysses.
— Dr. Ulysses, como vai o nosso grande homem? — Quem? — O dr. Tancredo, quem mais poderia ser?— respondeu Marco Aurélio.
O velho não gostou nada do que ouviu no almoço.
Não voltou para jantar.
Optou por outra casa.
Mas a greve não durou 24 horas. No dia seguinte, lá estava ele de novo. Ulysses era extremamente formal, mas delicado no trato com as pessoas, e avisou seu “maître”: — Francisco, meu maître d’hôtel preferido, avise ao restauranter Marco Aurélio que, se ele vier novamente com essa história de “nosso grande homem”, eu não piso mais os pés aqui.
Chico, naturalmente, não avisou ao patrão. E Marco Aurélio, mais uma vez: — Dr. Ulysses, o senhor precisa conversar mais com o nosso grande homem.
Ele fica em Minas isolado, coitado. Vamos fazer uma reunião com ele aqui? E foi aí que Ulysses proferiu uma das suas frases antológicas, valendo-se do prato preferido na casa: — Marco Aurélio, meu caro, vamos fazer um trato: você vai lá presidir o PMDB e eu venho fazer Manicotti aqui no Piantella!

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