terça-feira, setembro 07, 2010

Ipê com florada no Cosme Velho - Rio de Janeiro


Belíssima foto enviada pelo leitor Francisco Peixoto para o jornal O Globo

SPONHOLZ

Gandhi e a ética na comunicação

Gandhi e a ética na comunicação
Por Evandro Ouriques*, para a Plurale
Em uma conhecida lista de discussão a respeito de ética e mídia alguém qualificou Mahatma Gandhi e Dom Hélder Câmara de"falsos profetas", chegando a esta conclusão inquietante, e sintomática como procurarei mostrar, apenas avaliando dois pensamentos destes homens, que haviam sido gentilmente postados na lista por outra pessoa.
Dom Hélder foi considerado "falso profeta" por ter dito algum dia que "o segredo para ser e permanecer sempre jovem, mesmo quando o peso dos anos castiga o corpo, é ter uma causa a que dedicar a vida". Isto foi considerado um sofisma, pois para se viver se precisaria saúde, e em relação a se ter uma causa para isto, foi recomendado cuidado, pois Hitler também "tinha, e bem definida, uma causa". Por sua vez, o crime de Gandhi foi ter dito, também um dia, que "a satisfação está no esforço e não no resultado final". Esse princípio, central no pensamento gandhiano, foi considerado uma "falácia", pois "em qualquer atividade o importante é o resultado".
Eles foram assim sumariamente julgados e condenados em exatas 57 palavras, incluindo a assinatura da mensagem a qual analiso: tanto Gandhi, o homem prático que recusou os modelos simplificadores e criou uma ética operacional política que libertou os "intocáveis" e a Índia por meios não-violentos, fundando assim um novo regime político e um Estado, e pondo a pá-de-cal no Império Britânico; quanto Dom Hélder, o ganhador do exigente Prêmio Popular da
Paz, defensor enérgico da Teologia da Libertação e da Não-violência durante a sombria Ditadura Militar brasileira.
Reflitamos um pouco sobre este caso. O que Gandhi -que nunca foi profeta, quanto mais falso- fez ao falar do desapego em relação ao resultado das ações, é negar o produtivismo, essa mentalidade doentia que, hoje de forma ainda mais intensa do que nos dias gandhianos, sincroniza os aspectos sombrios do capitalismo tardio com a irreferência da pós-modernidade, paradoxalmente referenciada no "livre" exercício de quaisquer desejos, cuja legitimidade é apenas a de sentí-los, e no dinheiro como equivalente geral, como Marx o denominava.
O que está em vigência hoje, sabe-se bem, é a mercantilização absoluta das relações, (como se tal fosse inevitável...) quando nos obrigamos a calcular o lucro que cada ação e cada relação nossa nos trará, para que o acumulemos, como se isto fosse ‘felicidade’. É esta mentalidade, precisamente, que fez com que a cultura de comunicação fosse depreciada diante da atual cultura da informação, pois a experiência de comunicação, jea mostrou brilantemente Marcio Tavares d’Amaral, é aquela da ordem da diferença, e, portanto, aquela que se produz apenas no entre, nas relações, na surpresa e na entrega da verdadeira conversa, do diálogo, de fato.
A cultura da informação, ao contrário, é exatamente a que se constrói no dirigir-se a, ou seja, é aquela a qual só interessam os ‘resultados’ da atividade, que serão obtidos junto à audiência pela transmissão da informação dirigida a ela, da maneira a "mais eficaz possível". É daí que temos a cultura da eficácia, do produtivismo, e o entendimento da Comunicação não como 'communication' mas apenas como 'communications', ou seja, apenas como 'meios de comunicação', como 'mídia', ‘meio(s) de persuasão’. (Im)puro convencimento.
Lembro como esta perspectiva alimenta a insustentabilidade e o autoritarismo patriarcal, já que é ela que o sustenta ao garantir o esquecimento da experiência -sempre livre e desinteressada, repito- da comunicação (pois nunca podemos saber onde as conversações nos levam) em prol da ação interessada no mundo, da redução da complexidade da Vida e do mundo à unidimensionalidade do mercado, do sujeito a consumidor e do pensante a idiota, seja lá qual for a cor de sua pele.
É importante observar que é exatamente no tempo da mentalidade imperativa dos resultados que os resultados ambientais e sociais são os que bem sabemos. Ou seja, quando afirmamos que ‘We get what we measure’ em verdade deveríamos afirmar que obtemos o que deixamos de medir: a felicidade verdadeira, a justiça verdadeira, a possibilidade de criarmos um outro mundo em que os impulsos destrutivos sejam dominados pela vontade.
Gandhi fala exatamente do disto. Ele não age porque vai ‘ganhar’ alguma com isso no sentido vulgar. Ele age porque este comportamento é da ordem da ‘ética’. É ético, ou seja, faz parte do fio que sustenta a sociabilidade, que sustenta a Vida, como mostra tão bem Humberto Maturana ao verificar laboratorialmente que o amor é a base do biológico e do social. E, por ser ético, e por ético ser esta sustentação, o comportamento basta a si próprio, não necessitando de nenhum resultado idealizado como ‘objetivo’.
Se alguém está entendendo estas rápidas considerações como mera’ divagação’, o que é compreensível pela falta de hábito desenvolvimentista de pensar, ainda mais por sua dificuldade de pensar de maneira profunda, o que demanda tempo, sublinho que do ponto de vista o mais pragmático de fato que seja, é através do desapego dos resultados da ação que podemos eliminar, por exemplo, a correspondente frustação e depressão -um dos padrões psiquícos mais presentes na humanidade hoje, com as decorrentes violiencia contra si e contra o outro- que teremos que incorporar e administrar se vivemos na expectativa do reconhecimento alheio para cada atitude nossa.
Generosidade é outro nome deste desapego, que certamente é da ordem da Sustentabilidade e das Poleiticas Públicas Sociais, que falam, como o Fórum Social Mundial, que um outro mundo é possível, o que demanda que um outro conceito de comunicação seja possível.
A precipitação de tal julgamento infeliz feito na referida lista me faz lembrar de todos os meus próprios julgamentos infelizes, que acabaram por me convencer, inclusive a partir do exemplo de pessoas extraordinárias como Gandhi e Dom Hélder, que se queremos ética, e consequentemente ética na comunicação, devemos avaliar sempre de maneira profunda e vagarosa tudo o que se apresenta, ou seja pela gestão de nossos estados mentais (pensamentos, afetos e percepções), pois, como se sabe, a superficialidade promovida pela velocidade extrema é exatamente pilar da cultura tecno-lógica, na qual a tecnologia tornou-se a própria lógica de tudo. E, pro isto, acabamos sendo pensados e sendo sentidos pelo discurso que nos atravessa e que, pelo hábito e pela suposta ‘objetividade apressada’ em obter ‘resultados’ com nossas atividades, terminamos tragicamente acreditando ser nosso enfrentando os devastadores resultados psíquicos, sociais e ambientais.
Neste sentido, em relação a Gandhi, por exemplo, sugiro para os que querem superar o jugo do deste padrão mental insustentável ("o estado de espírito bárbaro está em cada um de nós", citando Maffesoli), a leitura de O caminho é a meta, Gandhi hoje, de Johan Galtung (Editora Palas Athena, 2003). Ele é o pioneiro e renomado cientista social especialista em estudos para a paz e teoria dos conflitos, que atua nas universidades do Havaí, de Witten/Herdecke, de Tromsoe e na Universidade Européia da Paz, e fundador da Transcend (transcend.org), e que já trabalhava pelo jornalismo para a paz na década de 70. Antes, portanto, de grande parte dos participantes desta lista, suponho, ter nascido.
O que Gandhi fez, em suma, foi constituir uma moral pelo exemplo, aplicando à sua própria vida as reformas que pregou e conclamando os cidadãos a demonstrarem a capacidade política de se governarem, através do exercício diário do auto-domínio, estimulando o outro, através do exemplo, a modificar o seu comportamento: lutando, portanto, primeiro contra si próprio para dominar-se em relação por exemplo à sequência mental eu-quero-porque-quero (a lógica do consumo) e dessa forma ganhar ascendência sobre si; a maneira, aí sim, mais eficaz de nos livrarmos da obsessão do interesse e do poder auto-referenciados e de seus nefastos resultados.
*Evandro Vieira Ouriques é Colunista de Plurale, colaborando com artigos sobre Sustentabilidade. Coordenador do Núcleo de Estudos Transdisciplinares de Comunicação e Consciência da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (NETCCON.ECO.UFRJ), consultor organizacional, coordenador do curso Jornalismo de Políticas Públicas Sociais (NETCCON.ECO.UFRJ e ANDI – http://territoriojpps.ning.com), é criador da metodologia Gestão da Mente Sustentável, o Quarto Bottom Line, pós-doutor em Comunicação, Estados Mentais e Ação no Mundo, pelo PACC.FCC.UFRJ, e diretor de Comunicação e Cultura do Núcleo de Estudos do Futuro da PUC-SP - evouriques@terra.com.br - @EvandroOuriques  (Envolverde/Revista Plurale)

Grilagem no Pará começa a ser discutida em fórum nacional

Grilagem no Pará começa a ser discutida em fórum nacional
Estado com 30% de terras griladas no país sedia encontro com presidentes do CNJ, STF e BC
Luiz Orlando Carneiro – Jornal do Brasil
 Os presidentes do Conselho Nacional de Justiça e do Supremo Tribunal Federal, Cezar Peluso, e do Banco Central, Henrique Meirelles, estarão em Belém, na quinta- feira, para a abertura do 2º Encontro Nacional do Fórum de Assuntos Fundiários, com duração prevista de três dias. O Pará foi escolhido para sediar o encontro devido ao histórico de conflitos relacionados com a posse de terras no estado, que teria uma área considerada grilada de mais de 30 milhões de hectares entre 25% e 30% da superfície do estado de um total estimado de 100 milhões de hectares grilados em todo o país.
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, e o presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Rolf Hackbart, também participam da reunião.
De acordo com o juiz Marcelo Berthe, coordenador do Fórum e auxiliar da presidência do CNJ, desde setembro do ano passado começaram os trabalhos de saneamento dos registros de imóveis rurais no Pará, principalmente nos municípios de Altamira e Marabá.
As inspeções promovidas pelo CNJ e os levantamentos já  existentes demonstram que 90% das terras do Pará são públicas, da União ou do estado, mas os registros imobiliários ultrapassam esse imenso percentual informa o magistrado. A purificação desses registros é fundamental para a paz social na região, porque viabiliza os assentamentos, sobretudo os do Programa Terra Legal.
Há 20 dias, o então corregedor nacional de Justiça, ministro Gilson Dipp, determinou o cancelamento de cerca de 5 mil títulos de propriedade de terras considerados  irregulares no Pará, a fim de que sejam conferidos os dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário sobre a extensão da área grilada. Em setembro do ano passado, o corregedor já tinha tomado a mesma providência com relação à comarca de Altamira, onde os registros de propriedades rurais corresponderiam a uma área superior a 410 milhões de  hectares o equivalente à metade do território nacional.
No despacho mais recente que atendeu a um pedido de providências da Procurado - ria-Geral do Estado do Pará o ministro Dipp mandou cancelar as matrículas de imóveis rurais registradas entre 16/07/1934 e 8/11/1964 com área superior a 10 mil hectares; de  09/11/64 a 04/10/88 com mais de 3 mil hectares; e a partir desta última data com mais de 2.500 hectares (as datas referem-se à vigência das constituições federais que tratam da matéria). A Corregedoria- Geral do Pará orientou então os cartórios estaduais para que cancelem os registros e matrículas dessas terras até o fim deste mês. Cancelado o registro, a pessoa física que tem a posse do imóvel fica impedida de vendê-lo ou utilizá- lo como garantia em transações bancárias, até que a situação  da propriedade seja regularizada.
Mas o corregedor nacional encareceu às autoridades encarregadas do cancelamento em massa dos títulos imobiliários que tenham o absoluto cuidado e a necessária cautela ante a eventual e abrupta liberação de tais terras, já que não interessa ao patrimônio público que, com o cancelamento, abra-se novo e talvez mais grave avanço sobre esses bens públicos, ou se instalem distúrbios, disputas ou crimes a propósito deles.

Pátria Minha - Chico Buarque, Caetano Veloso, Edu Lobo...

Estamos órfãos de um estadista

Estamos órfãos de um estadista
Paulo Panossian - JORNAL DO BRASIL - 07/09/10
Pobre nação que elege um presidente como Luiz Inácio Lula da Silva, que há oitos anos desrespeita o cargo que ocupa e principalmente a sociedade..
E neste exato momento em que uma eleição majoritária está em curso, é que a Receita Federal dá um golpe nos contribuintes escancarando o sigilo fiscal.
Mesmo tudo regiamente comprovado, e sob auspícios do PT, ainda assim vem o presidente zombar deste grave crime, questionando: "Cadê esse tal de sigilo que não apareceu
Em inúmeras ocasiões, Lula tem deixado de agir com pulso firme e não penalizou integrantes do seu partido
até agora? Cadê o vazamento das informações?".
Sabemos que o Lula é inculto, mas não acredito que não saiba o que é quebra de sigilo fiscal, ou bancário, porque o Palocci deve ter lhe explicado por que quebrou o do France-nildo.
Não dá mais para digerir tanta desfaçatez deste chefe de Estado que a cada dia se mostra mais inconveniente e ram-peiro com o poder.
O Lula pela sua forma dócil e irresponsável de acomodar seus companheiros, que têm cometido graves ilícitos, promove uma escola de bandidagem institucional no país, na medida em que manda às favas a ética, acoberta a corrupção no seu governo. É só verificar quantos petistas históricos estão denunciados por formação de quadrilha no STF.
Sabemos que a máquina federal é composta por milhares de servidores públicos, e assim como em qualquer atividade humana encontramos os vis.
Mas o presidente em inúmeras ocasiões tem deixado de agir com pulso firme, e não tem penalizado esses componentes de seu partido, consagrando assim que o crime contra o erário, e no caso o da invasão de privacidade do sigilo fiscal de contribuintes e opositores, pela Receita Federal, compensa.
As duas caras do Lula também são frequentes! E pela pressão da opinião pública sobre a quebra de sigilo fiscal de membros da cúpula do PSDB, e em seguida da filha do candidato Serra, ele afirmou que isso é "uma bandidagem".
Mas, posteriormente, discursando em Guarulhos, cinicamente demonstrando não ter nenhum pudor com relação aos contribuintes, disse: "Cadê esse tal de sigilo? Cadê o vazamento das informações". É muito deprimente.
Apesar de o próprio secretário da Receita Federal ter confirmado este crime indige-rível, e sabendo que seu autor é um filiado ao PT, em Mauá (SP), o Lula, com a rara facilidade que tem para mentir, tenta negar este fato escabroso e continua zombando da população.
É assim que o nosso presidente vem agindo desde sua posse. Transforma, há muito, crimes graves contra nossas instituições, como o mensalão, dossiês fajutos fabricados por Dilma Rousseff contra FHC, e tantos outros, como se fossem maro-linhas! Coisas da oposição, etc. Foge da verdade, e manda a sociedade deixar para lá.
Não à toa, e sempre que pela imprensa aparecem denúncias de falcatruas do petismo, o que infelizmente acontece muitas vezes, a cúpula do partido e o Lula procuram com mentiras deslavadas diminuir o impacto político destas acusações, achando que o povo é idiota.
Lula transforma crimes graves, caso dos dossiês fajutos fabricados contra FHC, como se fossem marolinhas
Ou, como sempre, o presidente diz não saber nunca denada! Como se este senhor, ex-metalúrgico, não tenha nada a ver com a nação.
Certamente até 3 de outubro, muitas outras denúncias verdadeiras virão, como esta mais recente, que em Formiga, Minas Gerais: a de que outro filiado ao PT também e por 10 vezes acessou os dados fiscais de Eduardo Jorge, do PSDB.
Esta tem sido a vocação do Partido dos Trabalhadores, que pela tentativa de se perpetuar no poder faz qualquer negócio, não importando a forma, mesmo que macule a imagem da nação.
Até quando vamos ter que conviver com esta mediocridade?

Bruno, para o Vale Paraibano

#fotografia #photo #photography #fotojornalismo Ocaso em Baía Formosa, eu e ela, que luxo! #botequimtuitajoaquim by Johnguardacosta

Chile: o verdadeiro milagre dos milagres

Chile: o verdadeiro milagre dos milagres
Por Ariel Dorfman*
O escritor chileno Ariel Dorfman contextualiza o desastre na mina San José: a secular exploração dos mineiros, a sabedoria organizativa passada de geração em geração. E pede o milagre de que as coisas mudem em seu país. "O mundo maravilhou-se com a maneira pela qual os trinta e três mineiros confinados debaixo da terra de San José se organizaram em turnos, criaram uma hierarquia de mando e elaboraram um plano de sobrevivência usando os talentos e recursos acumulados ao longo de uma vida de trabalho tenaz. Eu confesso, em troca, não sentir surpresa alguma. É assim que os trabalhadores chilenos sempre resistiram e sobreviveram aos desafios mais formidáveis".
Uma vida inteira. Creio que os trinta e três mineiros sepultados nas profundidades da mina San José,no Chile, prepararam-se durante toda sua vida para enfrentar o desafio de ficar vários meses debaixo da terra. Ou talvez possa me aventurar a dizer que essa é uma batalha que vêm travando desde antes mesmo de nascer.
A epopéia de homens que descem às trevas da montanha, separam minerais em meio à escuridão e sofrem um acidente que os deixa a mercê daquela escuridão é parte do DNA do Chile, uma parte integral da história do meu país. Foi uma das primeiras coisas que aprendi sobre o Chile, quando cheguei a Santiago, em 1954, aos doze anos de idade.
Abram seus livros até encontrar “El Chiflón del Diablo” – nos pediu um professor de espanhol. Um conto de Baldomero Lillo, publicado em 1904.
Era um relato de uma catástrofe semelhante a esta que, muitas décadas mais tarde, no dia 6 de agosto de 2010, afetaria os mineiros de San José. Ali se encontra uma tragédia que iria se repetir interminavelmente, como a terra devora aqueles que se atrevem a mergulhar em suas entranhas, uma exploração da miséria que, como tantos outros contos clássicos escritor por Baldomero Lillo no início do século XX, todo estudante chileno deve estudar. É claro que aqueles trinta e três mineiros não sabiam quando leram “El Chiflón del Diablo” no colégio que algum dia teriam que viver esse terror na realidade de suas vidas e não na literatura. Não podiam adivinhar que, mais de cem anos depois de Baldomero Lillo imaginar essa ficção, as precárias condições da vida mineira, a exploração humana, os riscos para os trabalhadores, seguiriam essencialmente inalterados.
A mineração forjou o Chile
Os conquistadores que fundaram as primeiras cidades cruzaram desertos alarmantes e vales proibidos em busca de ouro. Depois passou a se apreciar o valor de outros minérios: o ferro, que era fundido em altos fornos, o cobre que ainda hoje é o principal produto de exportação do Chile, e o carvão do Sul, sobre o qual Lillo escreveu e que foi crucial para os barcos que aportavam para se reabastecer a caminho de uma Flórida presa à febre do ouro. De fato, muitas das técnicas utilizadas na Califórnia, a partir de 1849, deveram-se a chilenos que nasceram e se criaram em Copiapó, perto de onde hoje se encontra a mina San José. Milhares e milhares deles partiram aos Estados Unidos com a repentina ilusão de enriquecer.
Mas, de todos os minerais, foi o salitre que, acima de todos os outros, criou o Chile da modernidade. Essas extensões de crosta salina no Atacama, o deserto mais seco do mundo, constituíam a base para o melhor fertilizante conhecido pelo homem e, além disso, serviam para fabricar explosivos. Centenas de pequenas cidades se levantaram nas planícies pedregosas do Pampa “salitrero” e milhões de toneladas foram enviadas a uma Europa atada a uma revolução industrial que necessitava desesperadamente aumentar sua produção agrícola. Algumas décadas mais tarde, como ocorre com tanta freqüência na América latina e outros lugares tristes do planeta – pensemos na borracha do Amazonas ou na prata de Potosí -, diminuiu a demanda de salitre e só restaram alguns povoados fantasmas, uma diáspora de casas raquíticas esparramadas pelo deserto, uma legião de vidas em ruínas.
O nitrato deixou algo mais do que desolação detrás de si. O mundo maravilhou-se com a maneira pela qual os trinta e três mineiros confinados debaixo da terra de San José se organizaram em turnos, criaram uma hierarquia de mando e elaboraram um plano de sobrevivência usando os talentos e recursos acumulados ao longo de uma vida de trabalho tenaz. Eu confesso, em troca, não sentir surpresa alguma. É assim que os trabalhadores chilenos sempre resistiram e sobreviveram aos desafios mais formidáveis. É o legado daqueles que extraíram o salitre em uma situação de solidão e pobreza, daqueles que, na época em que Baldomero Lillo escrevia sobre os tormentos dos mineiros, souberam estabelecer os primeiros sindicatos, os primeiros grupos de leitura, os primeiros jornais da classe operária. Essas lições de unidade, força e ordem e, sim, astúcia, foram passadas de pai para filho e neto: o que todo homem precisava saber para superar os desastres que o esperavam em um mundo sem misericórdia.
Por certo, uma sorte piedosa visitou os trinta e três mineiros neste dia de agosto, quando a montanha veio abaixo. Mas não foi a sorte que os manteve com vida. Dentro deles se encontrava o treinamento invisível, o alento de seus ancestrais, que se perpetuaram para murmurar-lhes o que deviam fazer para não morrer uma e outra vez na obscuridade. Houve um milagre em San José, mas por a ênfase tão somente na fortuna benigna é perder de vista o que pode ser talvez o significado mais recôndito do que ocorreu nesse lugar, e que segue ocorrendo, é deixar de lado as perguntas que verdadeiramente importam.
Como é possível que, mais de um século depois de os contos de Baldomero Lillo denunciarem as circunstâncias ferozes em que se trabalhava sob o solo, ainda persistam a mesma insegurança, os mesmos perigos? Quantos novos acidentes como este faltam ocorrer para que se legisle preventivamente e os mineiros possam tocar seu trabalho cotidiano sem arriscar suas vidas de uma forma indecorosa?
Esses trinta e três mineiros são agora heróis nacionais e internacionais, com todo o Chile, e uma boa parte do mundo, acompanhando seu progresso paulatino rumo à luz do dia. Devido a uma dessas coincidências que a história nos oferece de vez em quando, esses homens ficaram presos no preciso momento em que as últimas estatísticas demonstraram, para nossa vergonha, que a pobreza no Chile aumentou drasticamente pela primeira vez desde que Pinochet deixou de ser o ditador do país.
É demasiado sonhar que as tribulações desses homens perturbarão a consciência do Chile, que ajudarão a criar um país onde, dentro de cem anos, os relatos de Baldomero Lillo e a história dos trinta e três mineiros de San José serão coisa do passado, uma relíquia, algo lendário mas já não rotineiro?
Isso sim é que seria um milagre.
*Ariel Dorfman é o autor da novela “Americanos: Los Pasos de Murieta” e do livro “Memorias del Desierto”, que explora a vida dos mineiros do norte do Chile.
Tradução: Katarina Peixoto (Envolverde/Carta Maior )

Solda, para O Estado do Paraná

Irã: produção nuclear cresce 15% sob sanções

Irã: produção nuclear cresce 15% sob sanções
O Globo - Relatório da AIEA expõe temor de que país esteja mesmo de olho na bomba atômica; para Teerã, documento é parcial
 VIENA. Apesar de uma nova rodada de sanções impostas pelas Nações Unidas — além de restrições unilaterais aplicadas por outros países — o Irã aumentou sua produção nuclear em pelo menos 15% desde maio passado. Segundo um relatório confidencial da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o país produziu 2,8 toneladas de urânio enriquecido a níveis baixos e pelo menos 22 quilos do material enriquecido em maior concentração.
No texto, a agência demonstra preocupação com as supostas intenções iranianas de fabricar uma bomba atômica e com o fato de que o país segue violando determinações do Conselho de Segurança da ONU e da própria AIEA.
“Estima-se que entre 9 de janeiro de 2010 e 20 de agosto de 2010 (...), 22 quilos de UF6, urânio enriquecido a 20%, foram produzidos em sua usina piloto em Natanz”, afirmou a AIEA, que condenou ainda as “repetidas objeções” ao trabalho dos inspetores da agência no país.
“A agência rejeita as bases pelas quais o Irã tentou justificar a objeção e também está preocupada que as repetidas objeções à indicação de inspetores experientes impeçam o processo de inspeção e prejudiquem as capacidades da agência de implantar salvaguardas ao Irã”, diz outro trecho do texto.
Chanceler francês cogita ir a Teerã interceder por Sakineh A divulgação do documento causou sobres salto em Washington. Um porta-voz da Casa Branca, Tommy Vietor, classificou as informações como preocupantes. Para os Estados Unidos, o relatório prova que Teerã continua tentando desenvolver armas nucleares.
— O último relatório da AIEA sobre o Irã demonstra novamente que o país se nega a cumprir suas obrigações nucleares internacionais e continua o esforço para expandir seu programa e se aproximar da capacidade de produzir armas nucleares — declarou Vietor.
Em Teerã, no entanto, o presidente da agência nuclear iraniana, Ali Asghar Soltanieh, acusou o documento de parcialidade e criticou o presidente da AIEA, Yukia Amano.
— O relatório de Yukiya Amano prejudicou a reputação técnica da agência e não era balanceado, comparado aos de seu antecessor, Mohamed ElBaradei — afirmou o iraniano à agência estatal Mehr, acrescentando: — Todas as atividades nucleares do Irã estão sob a supervisão da AIEA.
Além da pressão sobre a questão nuclear, cresce ainda em Teerã, às vésperas do Eid alFitr, festividade que marca o fim do Ramadã, na próxima quintafeira, a tensão acerca do destino de Sakineh Mohammadi Ashtiani, a mulher condenada ao apedrejamento por adultério e pelo suposto assassinato do marido.
Segundo o advogado da condenada, Javid Houtan Kian, ela pode ser executada em breve, tão logo termine o Ramadã.

Além de países como Brasil, França e Itália, o Vaticano também sugeriu que poderia interferir para tentar salvar a vida de Sakineh. Ontem, o ministro das Relações Exteriores da França, Bernard Kouchner, chamou a condenação de “o cúmulo da barbaridade” e cogitou ir a Teerã tentar resgatar Sakineh.
— Estou pronto para fazer qualquer coisa para salvá-la.
Se tiver de ir a Teerã para salvá-la, então vou a Teerã — garantiu o francês.

A política do deboche

A política do deboche
EDITORIAL O ESTADO DE SÃO PAULO - 07/09/10
Quanto mais se acumulam as evidências de que o PT é o mentor do crime continuado da devassa na Receita Federal, de dados sigilosos de aliados e familiares do candidato presidencial do PSDB, José Serra, tanto mais o presidente Lula apela para o escárnio. É assim, desenvolto diante da exposição das novas baixezas de sua gente, que ele procura desqualificar as denúncias de que as violações tinham a única serventia de reunir material que pudesse ser utilizado contra os adversários da candidata governista, Dilma Rousseff.
Do mensalão para cá, essa atitude só se acentuou. No escândalo da compra de votos no Congresso Nacional, em 2005, ele ficou batendo na tecla de que não sabia de nada e que, de mais a mais, o que a companheirada tinha aprontado - diluído na versão de que tudo se resumia a um caso de montagem de caixa 2 - era o que se fazia comumente na política brasileira. Depois, propagou e mandou propagar a confortável teoria de que as acusações eram parte de uma "conspiração das elites" para apeá-lo do poder. Mas não chegou a zombar acintosamente das revelações que iriam ficar gravadas na história de seu partido.
Já no ano seguinte, quando a polícia detonou a tentativa de um grupo de petistas, entre eles o churrasqueiro preferido de Lula, de comprar um falso dossiê contra o mesmo José Serra, então candidato a governador de São Paulo, o presidente incorporou ao léxico político nacional o termo "aloprados" com que, para mascarar a gravidade do episódio, se referiu aos participantes da torpeza. Agora, enquanto escondia a sua escolhida - acusada pelo tucano como responsável, em última instância, pela fabricação de novo dossiê com os documentos subtraídos do Fisco -, o presidente se abandonou ao cinismo.
No fim da semana, em um comício em Guarulhos, na Grande São Paulo, a que Dilma não compareceu, ele acusou Serra de transformar a família em vítima. Ou seja, o que vitimou a filha do candidato não foi a comprovada captura de suas declarações de renda por um personagem do submundo - cuja filiação ao PT só não se consumou por um erro de grafia de seu nome -, mas o "baixo nível" da campanha do pai, que tratou do escândalo no horário de propaganda eleitoral. E ele o teria feito porque "o bicho está em uma raiva só" diante dos resultados desfavoráveis das pesquisas eleitorais. "É próprio de quem não sabe nadar e se debate até morrer afogado", desdenhou.
O auge da avacalhação - para usar uma palavra decerto ao gosto do palanqueiro Lula - foi ele perguntar retoricamente: "Cadê esse tal de sigilo que não apareceu até agora? Cadê os vazamentos?" Se é da filha de Serra que ele falava, o sigilo vazou para os diversos blogs lulistas que publicaram informações a seu respeito que só poderiam ter sido obtidas a partir do acesso ilícito aos seus dados fiscais. E o presidente sabe disso desde janeiro, quando o ainda governador Serra o alertou para a "armação" contra seus familiares na internet. Confrontado com o fato, Lula disse, sem ruborizar-se, ter coisas mais sérias para cuidar do que das "dores de cotovelo do Serra".
Se, no comício, a sua pergunta farsesca tratava das outras pessoas ligadas ao candidato, como, em especial, o vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira, o sigilo vazou para membros do chamado "grupo de inteligência" da candidatura Dilma. No caso de Eduardo Jorge, aliás, a invasão não se limitou à delegacia da Receita em Mauá, no ABC paulista, a primeira cena identificada do crime. Na última quinta-feira, o Estado revelou que um analista tributário lotado na cidade mineira de Formiga, Gilberto Souza Amarante, acessou dez vezes em um mesmo dia os dados cadastrais do tucano. O funcionário é petista de carteirinha desde 2001.
Ninguém mais do que Lula, com o seu imitigado deboche, há de ter contribuído tanto para a "maria-mole moral" em que o País atolou, na apropriada expressão do jurista Carlos Ari Sundfeld, em entrevista no Estado de domingo. Nem a bonança econômica nem os avanços sociais podem obscurecer o perverso legado do lulismo. Por minar os fundamentos das instituições democráticas, essa é hoje a mais desafiadora questão política nacional.

M. Jacobsen para Charge Online

Tim Maia - Réu Confesso

Política nuclear e debate eleitoral

Política nuclear e debate eleitoral
Análise - Marly Motta – O Globo
 Tema controvertido, e mesmo explosivo, a questão nuclear tem ocupado historicamente um lugar pouco relevante no debate eleitoral brasileiro. Na década de 1950, no auge da polêmica sobre o controle das fontes energéticas do país, o slogan nacionalista “O petróleo é nosso!” inflamou o eleitorado brasileiro.
Essa politização acirrada do assunto “petróleo” e, sobretudo, o caráter sigiloso que envolvia a nova tecnologia nuclear esvaziaram o possível apelo eleitoral da autonomia científica e tecnológica nuclear do Brasil. Distante do calor das urnas, a questão nuclear ficou mais restrita aos gabinetes de cientistas e militares, divididos entre a aproximação com os Estados Unidos, na esperança de uma transferência de tecnologia que dependia da aprovação do Congresso americano, e a busca de uma alternativa tecnológica nacional que garantisse ao país um programa nuclear razoavelmente independente.
A ditadura militar imposta em 1964 não só acabou com as eleições diretas para presidente da República e com o debate eleitoral. Também fez com que o rumo da política nuclear brasileira fosse tratado, a partir de então, como assunto de Estado, já que abria a possibilidade de inserção do Brasil — como ocorreu com a China Comunista em 1964 — no restrito clube de países que dominavam a tecnologia da “bomba”. Por isso mesmo, foi de cautela a posição de Brasil e Argentina em relação às iniciativas promovidas para conter a chamada “proliferação nuclear” — ambos os países, por exemplo, não assinaram o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), aprovado em 1970.
Estava aberto o caminho para a construção de usinas nucleares no Brasil. Restrita a um pequeno grupo do meio científico e militar, a tomada de decisão em relação ao acordo com a empresa norte-americana Westinghouse para a construção de Angra 1 não envolveu, obviamente, um debate mais amplo com a sociedade civil. As restrições à transferência de tecnologia contidas no acordo com a Westinghouse impulsionaram o governo de Ernesto Geisel (1974-79) a assinar, em junho de 1975, um acordo com a Alemanha para a construção de oito usinas no país, incluindo o acesso ao circuito nuclear completo, enriquecimento de urânio incluso.
Na década de 1980, a grave crise econômica, conjugada com a associação entre a ditadura militar e o programa nuclear, e mais o temor provocado pelos acidentes de Chernobyl (1986) e do césio de Goiânia (1987) acabaram levando o tema para a campanha presidencial de 1989. Os principais candidatos — Fernando Collor, Lula e Leonel Brizola — foram instados a responder o que fariam com o programa nuclear. Vitorioso, Collor (1990-92), no seu melhor estilo, jogou uma “pá de cal” no sítio de testes nucleares na Amazônia. A criação da Associação Brasil-Argentina de Contabilidade e Controle (Abacc), em 1991, visando ao controle mútuo dos respectivos programas nucleares, bem como a inclusão do Brasil como signatário do TNP, em 1998, sinalizavam a intenção do país de seguir a ordem internacional estabelecida.
A política nuclear ganhou novo colorido no governo Lula, com a proposta de inserção do Brasil como um ator relevante no cenário internacional.
Não por acaso, a intermediação do presidente brasileiro na questão do polêmico programa nuclear do Irã ganhou as manchetes do mundo inteiro.
Essa visibilidade internacional, no entanto, pelo menos até agora, não conferiu qualquer destaque à questão nuclear no atual debate eleitoral. Ao leitor, um convite à reflexão.

Skoob

BBC Brasil Atualidades

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