sexta-feira, outubro 01, 2010

No palanque

No palanque
Nelson Motta – O Globo
 Poucas situações podem levar um ser humano – até mesmo os mais dignos, honestos e respeitáveis - a parecer tão ridículo ou patético como em um palanque eleitoral. É onde até os melhores ficam piores, mais falsos e paródicos, pela própria natureza da situação.
O melhor, ou pior, exemplo é o grande escritor Mario Vargas Llosa, que foi candidato a presidente do Peru e perdeu por um focinho para Fujimori. Nos palanques, a inteligência e a lucidez de um dos maiores escritores vivos se diluíram em demagogia e arrogância, e o fizeram parecer um personagem do ficcionista Vargas Llosa.
Com apoio político qualificado e ótimo programa de governo, era infinitamente superior ao facinoroso Fujimori. Mas, nos palanques, ele tinha que se “vender” à massa, dizer que é melhor do que os outros, que é o bem e eles o mal, numa situação-limite para alguém dotado de um mínimo de compostura e autocrítica. Vacilou, perdeu.
Alguns poucos homens e mulheres, discretos e corretos, se submetem ao sacrifício pelo seu país, por seus filhos, sua causa ou sua fé. Outros sobem prazerosamente nos palanques e os fazem palco para exibicionismo, picadeiro para bravatas e autoelogios, oportunidade para se sentirem “amados” pelas massas amorfas e anônimas. Há gosto para tudo.
Experimentem ver imagens de um candidato discursando em um palanque e tirem o som. Tirem também as crianças da sala porque a cena é apavorante: homens e mulheres gritando e esbravejando, com as veias saltadas, de dedos em riste e punhos fechados, entre esgares e sorrisos congelados, aplaudidos por suas claques e militâncias amestradas. Será que eles pensam que aquele pessoal gosta mesmo deles? Ou fingem que não sabem quem está pagando a conta?
Diante das novas linguagens, mais  sintéticas e objetivas, que a televisão, a publicidade e a internet trouxeram para as campanhas eleitorais, o discurso político de palanque, por sua forma e conteúdo, soa tão antiquado e anacrônico como um Sarney.
E para não dizer que não falei de flores, como não estou satisfeito com o discurso da situação, e nem com o da oposição, voto em Marina Silva.

Longe de Você - Vitor Ramil.

Do que falamos ao falarmos de felicidade.

Do que falamos ao falarmos de felicidade.
Artigo de Serge Latouche
É preciso remontar à segunda metade do século XVII para encontrar as origens do pensamento econômico que faz coincidir o "bem-estar" [benessere] estatístico com o "bem-ter" [ben avere], embora, no mesmo período, o iluminista napolitano Antonio Genovesi destacou a necessidade de uma economia fundada na busca do bem comum. Temas que são repropostos hoje com grande urgência e que requerem a elaboração de novos códigos e regras.
Publicamos aqui a análise do economista, sociólogo e antropólogo francês Serge Latouche, professor de Ciências Econômicas da Universidade de Paris-Sul e presidente da Associação Linha do Horizonte.
Eis o texto.
Para conceber e construir uma sociedade de abundância frugal e uma nova forma de felicidade é necessário desconstruir a ideologia da felicidade quantificada da modernidade. Em outras palavras, para descolonizar o imaginário do PIB per capita, devemos entender como ele se enraizou.
Às vésperas da Revolução Francesa, quando Saint-Just declara que a felicidade é uma ideia nova na Europa, é claro que não se trata da bem-aventurança celeste e da felicidade pública, mas de um bem-estar material e individual, antessala do PIB per capita dos economistas. Efetivamente, nesse sentido, trata-se justamente de uma ideia nova que surge um pouco em todos os lugares da Europa, mas principalmente na Inglaterra e na França.
A Declaração de Independência do dia 4 de julho de 1776 dos Estados Unidos da América, país em que se realiza o ideal do Iluminismo em um campo considerado virgem, proclama como objetivo: "A vida, a liberdade e a busca da felicidade". Na passagem da felicidade para o PIB per capita, verifica-se uma tripla redução suplementar: a felicidade terrestre é assimilada ao bem-estar material, com a matéria sendo concebido no sentido físico do termo. O bem-estar material é reconduzido ao "bem-ter" estatístico, isto é, à quantidade de bens e serviços comerciais e afins, produzidos e consumidos. A estimativa da soma dos bens e dos serviços é calculada sem descontos, ou seja, sem levar em conta a perda do patrimônio natural e artificial necessária para a sua produção.
O primeiro ponto está formulado no debate entre Robert Malthus e Jean Baptiste Say. Malthus começa comunicando-lhe a sua própria perplexidade: "Se a pena que nos dá por cantar uma canção é um trabalho produtivo, por que os esforços que são feitos para tornar uma conversa divertida e instrutiva e que seguramente oferecem um resultado bem mais interessante deveriam ser excluídos do grupo das produções atuais? Por que não se deveriam incluir nisso os esforços que devemos fazer para moderar as nossas paixões e para nos tornarmos obedientes a todas as leis divinas e humanas que são, sem possibilidade de desmentir, os bens mais preciosos? Por que, em substância, devemos excluir uma ação qualquer cujo fim é o de obter o prazer ou de evitar a dor, seja no momento ou no futuro?".
Materiais e imateriais
Certo, mas é o próprio Malthus depois que observa que essa solução levaria diretamente à autodestruição da economia como campo específico. "É verdade que, de tal modo, poderiam ser incluídas nisso todas as atividades da espécie humana em todos os momentos da vida", nota com justiça. Por fim, adere ao ponto de vista redutivo de Say: "Se depois, junto com Say", escreve Malthus, "desejamos fazer da economia política uma ciência positiva, fundada na experiência e capaz de dar resultados precisos, devemos ser particularmente precisos na definição do termo principal do qual ela se serve (isto é, a riqueza) e compreender nele somente aqueles objetos cujo aumento ou diminuição sejam tais que possam ser avaliados. E a linha mais óbvia e útil a ser traçada é a que separa os objetos materiais dos imateriais".
De acordo com Jean-Baptiste Say, que define assim a felicidade do consumo, há não muito tempo, Jan Tinbergen propunha que se rebatizasse o PNB [Produto Nacional Bruto] simplesmente como FNB [Felicidade Nacional Bruta]. Na realidade, essa pretensão arrogante do economista holandês é só um retorno às fontes.
Se a felicidade se materializa em bem-estar, versão eufemizada do "bem-ter", qualquer tentativa de encontrar outros indicadores de riqueza e de felicidade seriam vãos. O PIB é a felicidade quantificada. É fácil condenar essa pretensão de equiparar felicidade e PIB per capita, demonstrando que o produto interno ou nacional mede só a "riqueza" comercial.
Com efeito, do PIB, são excluídas as transações fora do mercado (trabalhos domésticos, voluntariado, trabalho informal), enquanto, pelo contrário, os custos de "reparação" são contadas positivamente, e os danos gerados (externalidades negativas) não são deduzidos, nem a perda do patrimônio cultural. Diz-se ainda que o PIB mede os outputs ou a produção, não os outcomes ou os resultados. É apropriado lembrar o belíssimo discurso de Robert Kennedy (escrito provavelmente por John Kenneth Galbraith), pronunciado alguns dias antes do seu assassinato: "O nosso PIB (…) inclui a poluição do ar, a publicidade dos cigarros e as corridas das ambulâncias que recolhem os feridos nas ruas. Inclui a destruição das nossas florestas e o desaparecimento da natureza. Inclui as napalms e o custo da estocagem dos rejeitos radioativos. Em compensação, o PIB não contabiliza a saúde das nossas crianças, a qualidade da sua educação, a alegria dos seus jogos, a beleza da nossa poesia ou a solidez dos nossos matrimônios. Não leva em consideração a nossa coragem, a nossa integridade, a nossa inteligência, a nossa sabedoria. Mede qualquer coisa, mas não aquilo pelo qual a vida vale a pena ser vivida".
A sociedade econômica do crescimento e do bem-estar não realiza o objetivo proclamado pela modernidade, isto é: a maior felicidade para o maior número de pessoas. Constatamos isso claramente: "No século XIX, nota Jacques Ellul, a felicidade está ligada essencialmente ao bem-estar, obtido graças a meios mecânicos, industriais, e graças à produção. (…) Uma tal imagem da felicidade nos levou à sociedade do consumo. Agora que sabemos por experiência que o consumo não faz a felicidade, conhecemos uma crise de valores".
O fato é que, na redução economicista, como observa Arnaud Berthoud, "tudo aquilo que faz a alegria de viver juntos e todos os prazeres do espetáculo social onde cada um se mostra aos outros em todos os lugares do mundo – mercados, laboratórios, escolas, administrações, ruas ou praças públicas, vida doméstica, lugares de diversão... – são removidos da esfera econômica e colocados na esfera da moral, da psicologia ou da política. A única felicidade que ainda se pode esperar do consumo está separada da felicidade dos outros e da alegria comum". (...)
O projeto de uma "economia" civil ou da felicidade desenvolvido principalmente por um grupo de economistas italianos (representado principalmente por Stefano Zamagli, Luigino Bruni, Benedetto Gui, Stefano Bartolini e Leonardo Becchetti) se reconecta à tradição aristotélica e traz sua origem de uma crítica ao individualismo. A construção de uma tal economia ressuscita a "felicidade pública" de Antonio Genovesi e da escola napolitana do século XVIII que o triunfo da economia política escocesa rejeitou.
A felicidade terrestre, à espera da bem-aventurança prometida aos justos no além, gerada por um governo reto (bom governo) que busca o bem comum, era, com efeito, o objeto de reflexão dos Iluministas napolitanos. Integrando o mercado, a concorrência e a busca por parte do sujeito comercial de um interesse pessoal próprio, eles não repudiavam a herança do tomismo. Esses teóricos da economia civil são perfeitamente conscientes do "paradoxo da felicidade" redescoberto pelo economista norte-americano Richard Easterlin. "É lei do universo – escrevia Genovesi – que não se pode fazer a nossa felicidade sem fazer a dos outros".
Foram necessários dois séculos de destruição frenética do planeta graças ao "bom governo" da mão invisível e do interesse individual elevado a divindade para redescobrir essas verdades elementares. (...)
Mercadorias fictícias
Como Baudrillard havia visto bem em seu tempo, "uma das contradições do crescimento é que ele produz bens e necessidades ao mesmo tempo, mas não os produz no mesmo ritmo". Resulta disso aquilo que ele chama de "uma pauperização psicológica", um estado de insatisfação generalizada, que, diz, "define a sociedade de crescimento como o oposto de uma sociedade da abundância".
A frugalidade reencontrada permite reconstruir uma sociedade da abundância com base naquilo que Ivan Illich chamava de "subsistência moderna". Isto é, "o modo de vida em uma economia pós-industrial dentro da qual as pessoas conseguiram reduzir sua própria dependência com relação ao mercado e fizeram isso protegendo – com meios políticos – uma infraestrutura em que técnicas e instrumentos servem, essencialmente, para criar valores de uso não quantificado e não quantificável pelos fabricantes profissionais de necessidades".
Trata-se de sair do imaginário do desenvolvimento e do crescimento e de reencaixar o domínio da economia no social por meio de uma Aufhebung (remoção/superação).
Porém, sair do imaginário econômico implica em rupturas muito concretas. Será necessário fixar regras que enquadrem e limitem a explosão da avidez dos agentes (busca do lucro, do sempre mais): protecionismo ecológico e social, legislação do trabalho, limitação da dimensão das empresas e assim por diante. E, em primeiro lugar, a "desmercantilização" daquelas três mercadorias fictícias que são o trabalho, a terra e a moeda.
Sabe-se que Karl Polanyi via na transformação forçada desses pilares da vida social em mercadoria o momento fundante do mercado autorregulador. A sua retirada do mercado mundializada marcaria o ponto de partida de uma reincorporação/reenxerto da economia no social.
Paralelamente a uma luta contra o espírito do capitalismo, será oportuno, portanto, favorecer as empresas mistas em que o espírito do dom e a busca da justiça mitiguem a aspereza do mercado. Certamente, para partir do estado atual e alcançar a "abundância frugal", a transição implica em novas regras e hibridizações, e, nesse sentido, as propostas concretas dos altermundialistas, dos defensores da economia solidária até às exortações à simplicidade voluntária podem receber o apoio incondicional dos partidários do decrescimento.
Se o rigor teórico (a ética da convicção de Max Weber) exclui os compromissos do pensamento, o realismo político (a ética da responsabilidade) pressupõe o compromisso pela ação. A concepção da utopia concreta da construção de uma sociedade de decrescimento é revolucionária, mas o programa de transição para alcançá-la é necessariamente reformista. Muitas propostas "alternativas" que não reivindicam explicitamente o decrescimento podem, assim, felizmente, encontrar lugar dentro do programa.
O espírito do dom
Um elemento importante para sair das aporias da superação da modernidade é a convivialidade. Além de enfrentar a reciclagem dos rejeitos materiais, o decrescimento deve se interessar pela reabilitação dos marginalizados. Se o melhor descarte é aquele que não é produzido, o melhor marginalizado é aquele que a sociedade não gera. Uma sociedade decente ou convivial não produz excluídos.
A convivialidade, cujo termo Ivan Illich toma emprestado do grande gastrônomo francês do século XVIII Brillat Savarin ("A fisiologia do gosto. Meditações sobre gastronomia transcendental") visa justamente a refazer o laço social desfeito pelo "horror econômico" (Rimbaud). A convivialidade reintroduz o espírito do dom no comércio social ao lado da lei da selva e retoma assim a philia (amizade) aristotélica, lembrando ao mesmo tempo o espírito da ágape cristã.
Essa preocupação se reconecta plenamente à intuição de Marcel Mauss que, em seu artigo de 1924, "Apreciação sociológica do bolchevismo", defende, "sob o risco de parecer antiquado", que se deve voltar "aos velhos conceitos gregos e latinos de caritas (que hoje traduzimos tão mal com caridade, de philia, de koinomia, dessa 'amizade' necessária, dessa 'comunidade', que são a essência delicada da cidade".
É importante também desconjurar a rivalidade mimética e a inveja destrutiva que ameaçam toda sociedade democrática. O espírito do dom, fundamental para a construção de uma sociedade de decrescimento, está presente em cada uma dos Rs que formam o círculo virtuoso proposto para dar vida à utopia concreta da sociedade autônoma. Principalmente no primeiro R, reavaliar, já que indica a substituição dos valores da sociedade comercial (a concorrência exacerbada, o cada um por si, o acúmulo sem limites) e da mentalidade predadora nas relações com a natureza, com os valores de altruísmo, de reciprocidade e de respeito ao ambiente.
O mito do inferno de longos tridentes com o qual se abre a segunda parte do livro "La scommessa della decrescita" [A aposta do decrescimento] é explícito: a abundância combinada ao "cada um por si" produz miséria, enquanto a divisão, mesmo na frugalidade, gera satisfação em todos, até alegria de viver.
O segundo R, reconceitualizar, insiste, pelo contrário, na necessidade de repensar a riqueza e a pobreza. A "verdadeira" riqueza é feita de bens relacionais, aqueles fundados justamente na reciprocidade e na não rivalidade, no saber, no amor, na amizade. Pelo contrário, a miséria é principalmente psíquica e deriva do abandona na "multidão solitária", com a qual a modernidade substituiu a comunidade solidária. (...)
É imperativo reduzir o peso do nosso modo de vida na biosfera, reduzir a pegada ecológica cujos excessos se traduzem em empréstimos pedidos às gerações futuras e ao conjunto do cosmos, mas também ao Sul do mundo. Portanto, temos a obrigação de dar em troca aquilo que se encontra no centro da maior parte dos outros três Rs: redistribuir, reduzir, reutilizar, reciclar.
Redistribuir remete à ética da divisão. Reduzir (a própria pegada ecológica), à recusa da predação e do acúmulo. Reutilizar, ao respeito pelo dom recebido. E reciclar, à necessidade de restituir à natureza e à Gaia aquilo que foi tomado de empréstimo delas.
Autor: Serge Latouche Fonte: Il Manifesto e Unisinos

Sexo, mentiras e remédios

Sexo, mentiras e remédios
O Globo – Ciência
Indústria farmacêutica teria ajudado a inventar doença para vender tratamentos
A indústria farmacêutica não só financiou pesquisas como também ajudou a construir a ciência em torno de uma suposta nova condição, chamada “disfunção sexual feminina”, como forma de criar um mercado para novos remédios, afirma artigo publicado na edição desta semana da revista “British Medical Journal” (BMJ).
Em pesquisas para seu novo livro, “Sex, lies and pharmaceuticals” (“Sexo, mentiras e a indústria farmacêutica”, em tradução livre), Ray Moynihan, da Universidade de Newcastle, na Austrália, descobriu que funcionários de laboratórios trabalharam junto com formadores de opinião pagos para desenvolverem um perfil para a doença, além de terem realizado estudos para mostrá-la como generalizada e criado ferramentas diagnósticas para convencer mulheres de que suas dificuldades sexuais tinham rotulação médica que precisavam de tratamento.
— O marketing farmacêutico está se unindo à ciência médica de uma forma fascinante e assustadora que nos faz pensar se não devemos buscar uma nova maneira de definir as doenças — afirma ele, que cita uma funcionária como tendo dito que sua companhia estava interessada em “apressar o desenvolvimento de uma doença” por meio do financiamento de levantamentos que mostrassem que o problema era comum e poderia ser classificado como uma “desordem do desejo sexual hipoativo”.
Pesquisas a serviço dos laboratórios
Segundo Moynihan, muitos dos pesquisadores envolvidos ou eram empregados dos laboratórios farmacêuticos ou tinham ligações financeiras com a indústria. Enquanto isso, estudos conduzidos sem o envolvimento das empresas colocavam em dúvida a existência do distúrbio.
Apesar disso, as companhias lideraram uma campanha para “informar” tanto os profissionais quanto o público em geral sobre a condição.
O laboratório Pfizer, por exemplo, financiou um curso para médicos de todo os EUA no qual afirmava que 63% das mulheres sofriam com disfunções sexuais e que o uso de testosterona associada com o sildenafil (princípio ativo de sua droga Viagra) e terapia comportamental poderiam ajudar a “curá-las”. Já a alemã Boehringer Ingelheim acelerou “atividades educacionais” enquanto planejava o lançamento, este ano, de sua “droga do desejo”, o antidepressivo flibaserin. Em junho, no entanto, o flibaserin acabou rejeitado por conselheiros da FDA, agência que controla medicamentos e alimentos nos EUA, que também desaconselhou o uso do sildenafil após estudos mostrarem que seus efeitos não eram muito diferentes dos de um placebo.
Mesmo assim, alerta o autor, “a estrutura das evidências científicas sobre a condição ainda está presente, criando a impressão de que há enorme demanda reprimida por tratamentos” e, com novos remédios ainda em fase experimental, “a indústria farmacêutica não dá sinais de ter abandonado seus planos de suprir esta demanda que ela mesma ajudou a criar”.
— Frente a uma mulher aos prantos porque sua libido desapareceu e por isso está apavorada com a possibilidade de perder seu parceiro, os médicos podem sentir uma imensa pressão para apresentar uma solução imediata e efetiva — diz Sandy Goldbeck-Wood, especialista em medicina psicossexual em texto-comentário que acompanha o artigo na “BMJ”.
Segundo ela, a pesquisa de Moynihan demonstra tanto os conflitos de interesse quanto a falta de provas de que os problemas sexuais femininos podem ser resolvidos farmacologicamente.
Ainda assim, Goldbeck Wood considera que o argumento do autor de que “a disfunção sexual feminina é uma doença construída por médicos sob a influência das companhias farmacêuticas não vai convencer clínicos e pacientes”, pois as mulheres que conseguiram superar as barreiras psicológicas e sociais em busca de ajuda não vão aceitar terem sido “abandonadas”.
Para Moynihan, porém, é preciso antes de tudo reavaliar a forma como a comunidade médica define síndromes comuns e recomenda tratamentos.
— No mercado da medicina, as idas e vindas normais da vida estão sendo transformadas em doenças lucrativas, como disfunção sexual, bexiga hiperativa e desordem de atenção adulta, enquanto pequenos aumentos nos riscos de doenças futuras estão sendo apresentados como pré-condições cada vez mais amplas — enumera. — O padrão é claro: formadores de opinião ligados a empresas que vendem soluções se encontram para revisar e refinar as definições destas condições, para as quais, então, tratamentos são agressivamente promovidos.

Eu sei que vou te amar - Bebo & Cigala

A união ibérica

A união ibérica
Saramago e Pilar, íntimos, solenes, engraçados
Arthur Dapieve – O Globo
José Saramago liga o portátil em sua casa na ilha de Lanzarote. Alonga os braços.
Boceja enquanto espera o computador carregar os programas. Olha para os lados. Afinal leva as mãos ao teclado. Em qual obra-prima estará a trabalhar? “O evangelho segundo Jesus Cristo”? Ou será “Ensaio sobre a cegueira”? Não, claro que é “A viagem do elefante”. É um momento ao mesmo tempo íntimo e solene, o de se assistir ao prêmio Nobel de Literatura em pleno exercício de sua arte. Então, a câmera assume o ponto de vista do escritor e nos mostra a tela. José Saramago joga paciência.
A cena está bem no começo de “José e Pilar”, documentário do português Miguel Gonçalves Mendes sobre seu conterrâneo autodesterrado e a esposa espanhola, Pilar del Río. A parte do jogo de paciência representa o todo: o filme que teve calorosa estreia mundial no sábado passado, aqui no Festival do Rio, é todo íntimo, solene e bemhumorado.
O casal Saramago franqueou sua casa encravada na paisagem extraterrena das Canárias e a dura rotina de palestras, premiações e autógrafos pelo mundo — ainda mais dura para um octogenário doente — e Mendes teve a sensatez de não ser invasivo.
É uma espécie de reality show recatado e com gente interessante.
“José e Pilar” entra em circuito em Portugal e no Brasil já em novembro, mês de aniversário do escritor. Seus 130 minutos são o suprassumo das 240 horas da filmagem de três anos, de 2006 a 2009. O tom é bem diverso do tom do corte de meia hora apresentado noutro sábado à noite, no começo de agosto, na Flip, na qual este que vos digita mediou um encontro com o diretor de 32 anos. A amostra era mais sombria do que o produto final. Ri-se bastante durante a projeção, exceto, naturalmente, quando Saramago está internado no hospital, na virada de 2007 para 2008, e quando ao fim nos lembramos de que o grande escritor morreu, em junho passado. Ainda nos é impossível estimar a importância de Saramago para o idioma português.
Quando o descobri, em “Memorial do convento”, há quase 30 anos, pensei: “Uau, a minha língua também pode ser assim!” Não que ninguém jamais pudesse ser estúpido a ponto de macaquear-lhe o estilo, mas ele com certeza nos impôs novos desafios. Essa mestria era desprezada por críticos furibundos sempre que o mui comunista Saramago atacava o capitalismo ou, sobretudo, a religião. Em “José e Pilar”, atores leem em off trechos de cartas recebidas quando da publicação de “O evangelho segundo Jesus Cristo”. Uma das vozes, com sotaque brasileiro, lamenta que a Inquisição tenha acabado, porque desejava assistir de camarote à incineração do escritor. Outra, espanhola, excomunga a senhora “Sara Mago”.
O documentário de Mendes, porém, não é sobre as obras de Saramago. O diretor reitera nas entrevistas que essa exegese fica para os livros de teoria literária. Já a partir do título, seu filme declara ser sobre um casal, decerto um casal ímpar, mas ainda assim um casal.
Tanto que, a princípio, o título irônico seria “União ibérica”. Irônico porque portugueses e espanhóis historicamente não se dão bem, o que origina um ditado como “da Espanha não vem nem bom vento nem bom casamento”.
Dessa forma, muita gente em Portugal enxerga em Pilar uma Yoko Ono de castanholas, culpada por levar embora do país o seu maior escritor. Pela mesma desrazão, em “José e Pilar”, um jornalista português insiste em fazer a ela uma pergunta grosseira sobre a “alta proporção de homossexuais na Espanha” e se isso não tornaria difícil arrumar marido no país vizinho.
A diferença de idade entre Saramago e Pilar sempre foi outra fonte de desconfiança. Ele morreu aos 87 anos. Ela hoje tem 60. Vinte e oito anos os separavam, mas tudo o mais os aproximava. E seu casamento, mesmo que não tivesse sido útil para mais nada, para inspirar o escritor, para organizar sua agenda, para jogá-lo no seio de uma grande família andaluz, teria ao menos servido para ensejar uma frase tão bonita quanto “se eu tivesse morrido aos 63 anos, antes de te conhecer, teria morrido muito mais velho do que quando chegar a minha hora”. Saramago não era apenas um grande romancista, era também um grande frasista, coisas que nem sempre andam juntas.
“José e Pilar” evita qualquer discurso sobre a literatura, sim, mas reflete um pouco os volumes de não ficção “Cadernos de Lanzarote” e “As pequenas memórias” em seu acompanhamento do dia a dia do casal. O filme está coalhado tanto dos momentos de carinho quanto das reflexões pessimistas do escritor, um antídoto à overdose mundial de Prozac. É como se Saramago vivesse a recitar, num mau humor divertido, versos perdidos da “Tabacaria” de Pessoa. Este mundo deu errado, não existe céu, a existência é brutalmente passageira, o universo jamais saberá que Homero escreveu a “Ilíada”, ó vida, ó dor, isso não vai dar certo.
Seu casamento com a bonitona Pilar, contudo, deu certo. E o documentário de Mendes ilustra esse sucesso. Noutra cena, Saramago está prestes a ser entrevistado por uma rádio espanhola. Pilar se debruça sobre ele, no escritório de Lanzarote, para ajeitar o telefone e os pesados fones de ouvido. Consciente da presença da câmera, ele disfarça, dá uma olhadinha para a bunda da mulher, dá-lhe uma palmadinha, continua a olhar, de soslaio, fazendo-se de sonso. É isso. Amar é... Olhar a bunda da própria mulher.
E-mail: dapieve@oglobo.com.br

Em cima da hora

Em cima da hora
LUIZ GARCIA -  O GLOBO - 01/10/10
Todos preparados para a grande festa eleitoral de domingo? Não se esqueçam: a principal providência pode ser arrumar uma dose extra de paciência cívica. Votar nestas eleições pode exigir bom preparo físico e dose dupla de paciência.
Em primeiro lugar, é voto que não acaba mais: um presidente, dois senadores, um deputado federal, outro estadual.
Quem não levar uma cola com os números dessa turma toda, corre diversos riscos: não votar em todo mundo, votar errado, demorar um tempão na cabine, cair em choro convulsivo etc.
Tem mais: quantos documentos você precisa levar? Até quinta-feira, não se sabia ao certo. Na véspera, o Supremo Tribunal Federal não tinha decidido se era ou não constitucional a lei que obriga a apresentação de duas provas de identidade: o título de eleitor e mais qualquer documento com foto. A tendência dos ministros era de declarar que basta a prova de identidade.
É evidente que a foto é uma garantia de legitimidade do voto. Mas por que não se pensou nisso antes? Afinal de contas, o título sem foto é considerado suficiente há anos e anos — e era mesmo preciso esperar até os últimos dias antes de uma eleição presidencial para resolver se ele basta ou não? Seja qual for a decisão do STF, comunicá-la a todas a seções eleitorais do país vai ser um trabalhão e um fator de confusão. Não? Se o Supremo tiver decidido que basta um documento com foto, terá sido a morte do título de eleitor. Uma pena: vocês, não sei, mas eu tinha um certo orgulho do meu. Assim como tristes lembranças dos anos que ele passou sem sair da gaveta.
Na verdade, o certo seria o título com foto, que dificulta a fraude. E é extraordinário que até não se tenha pensado nisso. Mas é também incrível que só agora, dias antes de uma eleição presidencial, o assunto esteja sendo resolvido.
Como o STF cometeu a descortesia de deixar a decisão para o dia em que tenho de entregar o artigo, esta minhas sábias considerações sobre o assunto poderão estar superadas para o leitor. Lamento muito, mas a culpa é do tribunal.
Que está sendo reincidente: também não conseguiu resolver, pelo menos até quarta-feira, se a Lei da Ficha Limpa está valendo para estas eleições.
Vocês não têm a impressão, de vez em quando, que Brasília fica em outro planeta? Enfim, começamos com problemas a festa cívica. Mas sempre podemos torcer para que o eleitor mostre mais eficiência ao cumprir sua obrigação depois de amanhã.

SPONHOLZ


O que significa: "ZONA" Eleitoral?

O que significa: "ZONA" Eleitoral?
*QUANDO TUDO VOLTAR AO NORMAL...
Será o dia em que:
LULA será somente um animal marinho;
Dilmaaaaa! será um personagem da idade da pedra!
Michael será apenas o rei do pop,
MARINA será simplesmente uma canção!
SERRA será apenas uma ferramenta!
Geraaaldo um humorista,
ROMEU o apaixonado por Julieta!
MARTA jogadora da seleção,
RENAM será um ídolo do Vôlei;
JOBIM será lembrado só pela música;
PIRES será apenas apoio da xícara;
GENUÍNO será algo verdadeiro;
GENRO apenas o marido da filha;
SEVERINO apenas o porteiro do prédio,
FREUD voltará a ser só o criador da Psicanálise;
LORENZETTI será só uma marca de chuveiro;
GREENHALGH voltará a ser um almirante que participou de nossa história;
Dirceu, Palloci, Delúbio, Silvio Pereira, Berzoini, Gedimar,Valdebran,Valdomiro, Bargas, Expedito Veloso, Gushiken, Marcos Valério, Erenice, etc, serão simples PRESIDIÁRIOS .
Agora, quando olho meu titulo de eleitor entendo o verdadeiro significado da palavra 'ZONA ELEITORAL' !!!
Autor desconhecido.
Publicado por Jasiel Botelho em seu Blog

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