sexta-feira, outubro 01, 2010
Continuísmo é mais forte que Lula
Continuísmo é mais forte que Lula
Disputas regionais mostram autonomia em relação à presidencial; 15 estados não deverão ter segundo turno
André de Souza e Gerson Camarotti – O Globo
BRASÍLIA. O presidente Lula se tornou o principal cabo eleitoral do país este ano, pregando a continuidade do seu governo por onde passou, mas as pesquisas mostram que as disputas regionais possuem autonomia em relação à nacional. Embora as pesquisas apontem que as forças governistas devem ganhar na maioria dos estados, o resultado obedece a uma lógica local.
Mesmo com a forte agenda de Lula em estados estratégicos como São Paulo e Minas, por exemplo, as pesquisas divulgadas ontem confirmam que a força do continuísmo local tem barrado a ofensiva presidencial.
De acordo com as pesquisas mais recentes dos institutos Datafolha e Ibope, a eleição deve ser definida já em primeiro turno em 15 estados. Apenas em quatro, há uma indicação clara de segundo turno. Em outros oito, a diferença entre os líderes e a soma dos demais concorrentes está dentro da margem de erro e não seria possível dizer que, se fosse hoje, a eleição já estaria decidida.
O maior exemplo da força da lógica regional ocorreu na sucessão mineira, onde houve grande pressão do senador Hélio Costa (PMDB-MG) por empenho maior de Lula. Mas não adiantou. A pesquisa Datafolha divulgada ontem mostra que o governador Antonio Anastasia (PSDB-MG), afilhado político do ex-governador Aécio Neves, pode vencer em primeiro turno.
Em São Paulo, embora com pequena oscilação negativa, o tucano Geraldo Alckmin também pode vencer no domingo, mesmo com o crescimento de quatro pontos percentuais do senador Aloizio Mercadante (PT), já que o deputado Celso Russomano (PP) estagnou.
— As eleições estaduais têm lógica própria, porque ela é diferente da nacional. Por isso, a influência de Lula é relativa.
Não se pode cobrar dele o mesmo desempenho de transferência para Dilma. Agora, se a situação em Minas está desse jeito, imagine se Lula não tivesse passado por lá! — afirmou o líder do governo, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP).
— Embora a gente queira pasteurizar a política, cada unidade tem uma lógica política própria diferente do quadro nacional, embora o governo federal tente impor a lógica dele — disse o líder do PSDB, deputado João Almeida (BA).
Em 14 estados, candidatos que apoiam a presidenciável petista, Dilma Rousseff, são os favoritos na disputa. A oposição lidera em sete, incluindo os dois maiores colégios eleitorais, São Paulo e Minas. O cenário é indefinido em outros seis: Paraná, Goiás, Alagoas, Rondônia, Amapá e Roraima.
Já em Tocantins, onde havia indefinição, os escândalos envolvendo o governador Carlos Gaguim (PMDB) fizeram o ex-governador Siqueira Campos (PSDB) assumir a liderança. Segundo o levantamento Ibope divulgado anteontem, Campos pulou de 42% para 49%, enquanto Gaguim caiu de 44% para 39%.
Em 16 estados, os favoritos são os governadores que disputam a reeleição ou o candidato apoiado pelo governo estadual.
Em outros seis, a oposição local tem liderado. Em quatro — Paraná, Alagoas, Rondônia e Roraima —, há candidatos competitivos nos dois lados.
O Distrito Federal é um exemplo de que a disputa local tem uma influência maior do que a nacional. O candidato petista Agnelo Queiroz assumiu a dianteira no rastro da disputa judicial que levou o ex-governador Joaquim Roriz (PSC) a renunciar a sua candidatura e indicar para a vaga a sua mulher Weslian.
Para o Senado, as pesquisas do Datafolha e do Ibope divulgadas ontem voltaram a confirmar a liderança de candidatos que já despontavam em levantamentos anteriores. O Datafolha ainda indicou a persistência de um quadro de incerteza na Bahia, onde três candidatos se encontram em empate técnico: Cesar Borges (PR), Lídice da Mata (PSB) e Walter Pinheiro (PT).
O Datafolha voltou ainda a registrar a tendência de crescimento de alguns candidatos, como Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), Fernando Pimentel (PT-MG) e Alberto Fraga (DEM-DF).
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