segunda-feira, agosto 09, 2010

Miran, para Charge Online

Quem nasce para voar é passarinho

Quem nasce para voar é passarinho

FERREIRA GULLAR – Folha de São Paulo
O melhor é ficar em terra mesmo. Morrer é o de menos, pior é o pânico que antecede o desastre

SABEM POR QUE deixei de viajar de avião? Porque não quero me estressar. Vejam bem, viajei de avião durante mais de 50 anos e só parei quando causas estressantes atingiram um ponto, para mim, intolerável.
Na verdade, certa noite, vinha de São Paulo, num voo da ponte aérea, quando, ao nos aproximarmos do Rio, o avião sofreu uma queda brusca que pôs em pânico os passageiros. Foi apenas um susto, mas tamanho susto que, quando pousamos, todos, aliviados, aplaudimos o milagre. E eu, ao atravessar a pista e ver uma fila de infelizes que esperavam para embarcar, dei graças aos céus por não estar entre eles.

Mas, dali a um mês, estava de novo dentro de um avião, na mesma ponte aérea. Mal completamos 15 minutos de voo, o comandante avisou que chovia muito em São Paulo e que Congonhas estava fechado, assim como Guarulhos. De fato, ficamos 40 minutos rodando no ar até que pudemos aterrissar, sob raios e trovões. Desde aquela manhã, prometi nunca mais entrar num avião. E passei a viajar apenas de carro.
Essa opção, se me livra desses estresses, atrapalha-me a vida, impede-me de ir a São Luís, minha cidade natal, e de atender a convites para visitar lugares mais distantes.
Sucedeu, porém, que, há uns três anos, aceitei ir a Madri para atender a um convite tentador. Topei e me arrependi amargamente. De saída, enfrentei um atraso de três horas antes de embarcar e mais uma hora dentro do avião esperando permissão para decolar. Durante o voo, turbulências intermináveis que não me deixavam dormir. Ao descer em Madri, estava um trapo e me aterrorizava pensar que teria que tomar outro avião para retornar ao Brasil.
Mas houve uma coisa compensadora: conheci o TAV -o trem de alta velocidade-, que me levou de Madri a Sevilha, viagem maravilhosa, com pouco mais de uma hora de duração e nenhum susto. Embarcamos sem ter quer fazer check in e desembarcamos sem ter que esperar a devolução da bagagem.
Num trem desses, faço qualquer viagem, vou até o polo norte. Acredito que, dentro de alguns anos, o avião vai ficar apenas para voos intercontinentais. E o trem, além do mais, não polui, é ecologicamente correto.
Enquanto isso não ocorre, uso o automóvel, que me pega à porta de minha casa e me deixa à porta do hotel em São Paulo ou Belo Horizonte. E me distraio lendo as notícias acerca das encrencas em que se metem os que continuam a viajar de avião.
Não faz muito, li no jornal o artigo de um cidadão que levou 60 horas para ir de São Paulo ao Rio, viagem que dura menos de 40 minutos. É que mergulhou numa tempestade cheia de raios e turbulências que obrigou o piloto a desistir de pousar no Rio e dirigir-se para Belo Horizonte. Ali dormiram e, no dia seguinte, tomaram o rumo do Rio, mas uma nova tempestade o fez retornarem a Belo Horizonte, onde tiveram que dormir de novo para, na manhã seguinte, conseguirem finalmente pousar no Santos Dumont. Muito divertido, não?
Outro caso bem mais recente foi o daquele avião da Air France que teve de pousar em Recife devido ao boato de que havia uma bomba a bordo. Não havia, mas o voo atrasou 24 horas. Em seguida, outro avião da mesma companhia teve de voltar para o aeroporto Tom Jobim, após duas horas de voo, porque os banheiros haviam entrado em colapso. E, logo depois, um avião com destino a Chicago entrou em zona de tanta turbulência que foi obrigado a pousar onde pôde: dezenas de passageiros, feridos, foram hospitalizados. Naquela semana mesma, um desastre no Paquistão matou os 175 passageiros. Esta semana, no Brasil, instala-se o caos aéreo.
Esses fatos só fortalecem em mim a convicção de que o melhor é ficar em terra mesmo. Morrer é o de menos, pior é o pânico que antecede ou anuncia o desastre. Há pessoas que se dispõem a enfrentar qualquer situação porque amam voar, e há outras que têm que fazê-lo por necessidade profissional.
Difícil, para mim, é entender aqueles que escolheram ser piloto de avião ou comissário de bordo. Sentem-se tão à vontade voando a 10 mil metros de altura quanto eu na minha sala. Devem pensar que ninguém se vai antes da hora, que quem morre de véspera é peru. Aproveito para lhes desejar, antecipadamente, um feliz Natal

Newton Silva, para O Jangadeiro Online

Mais do mesmo

Mais do mesmo

Mary Zaidan Blog do Noblat

 Até o próximo debate, e há pelo menos outros quatro ou cinco planejados, muito ainda vai se falar sobre o primeiro embate televisivo da campanha de 2010. Da estréia meio trôpega, mas sem maiores tropeços de Dilma Rousseff, à confirmação do carisma quase zero do candidato José Serra, pouco ou quase nada deverá ficar na memória do eleitor.
Não demora muito, os minutos de fama do ex-democrata cristão, ex-emedebista e ex-petista Plínio Arruda Sampaio, hoje no PSOL, vão virar pó. E ninguém mais dará importância à performance titubeante e pouco convincente de Marina Silva, para quem todas as soluções para o Brasil passam por "estratégias de integração", seja lá o que isso queira dizer. Muito menos terá algum valor a poesia que a verde declamou ao final, algo que dividiu as opiniões entre o sensacional e o patético.
Folclores à parte, o que importa mesmo são os dois principais concorrentes. Nenhum deles foi propriamente brilhante ou desastrosamente mal. Tiveram seus altos e baixos, não frustraram nem agradaram tanto às suas torcidas, embora ambas tenham saído cantando vitória, algo recorrente, sobretudo em disputas acirradas.
Dilma gaguejou, enrolou em frases, deixou várias inconclusas. Pecou nas obviedades, nos chavões, em especial ao falar de educação e saúde. E, embora tenha citado repetidamente o "nosso governo", estranhamente falou pouco, muito pouco, do presidente Lula, sua maior, senão única, credencial para a disputa. Escondeu o seu criador, aquele que lhe fornece luz, ar e fôlego. Até foi alertada, mas já era tarde. Com isso, perdeu. Ou, no mínimo, deixou de ganhar.
Serra, por sua vez, se não negou de todo, como fizera em 2002, demonstrou constrangimento ao ser interrogado sobre o governo de Fernando Henrique Cardoso. Preferiu a frase de efeito – "não olhar para o retrovisor" – à defesa de seu mais fiel correligionário.
É fato que o tucano defendeu a privatização, pelo menos das telecomunicações. E até criou algum mal-estar ao citar o apoio do coordenador da campanha de Dilma e ex-ministro da Fazenda de Lula, Antônio Pallocci, à política econômica de FHC. Mas titubeou ao, de saída, negar o passado, permitindo o melhor momento de sua adversária.
Perdeu a chance de recuperar e reivindicar FHC para si.
E cabe aqui uma curiosidade.
Mesmo sem disputar votos há três eleições, Fernando Henrique Cardoso continua sendo estrela de primeira grandeza em todas elas. É o principal parâmetro do PT e de Lula – por ele derrotado duas vezes consecutivas e, ainda por cima, no primeiro turno. Tudo que o governo Lula faz, mesmo quando marca os seus gols, tem FHC como referência.
De alguma forma, Lula e o PT inventaram o índice FHC de qualidade. Medem tudo por ele.
E o PSDB entra no jogo. Parece não entender que essa é uma métrica que poderia lhe render frutos ao invés de reveses.
Outros debates virão. Possivelmente, mais do mesmo. Pouco atraentes, modorrentos, com a repetição de regras que privilegiam o relógio ao bom embate. Aliás, o calendário prevê uma concentração deles – MTV, Record, SBT, TV Gazeta/Estadão, TV Globo e portal UOL –, com ou sem a participação dos candidatos Dilma e Serra. Mas, certamente, com os astros Lula e FHC.
 Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa

Alma limpa só vota em ficha-limpa

Alma limpa só vota em ficha-limpa
SANDRA CAVALCANTI O Estado de S.Paulo - 09/08/10

Foi uma luta muito longa, difícil, cheia de obstáculos. Na Assembleia Nacional Constituinte de 1987, um grupo de cidadãos nos procurou com uma sugestão oportuna e corajosa: que a iniciativa de propor projetos de lei também pudesse emanar diretamente dos eleitores, isto é, que pudesse ser de iniciativa popular.
Surgiram argumentos contrários, muitos medos sem sentido e muitas cautelas hipócritas. Mas a ideia acabou sendo aprovada. A Carta Magna de 1988 deu à iniciativa popular o direito de propor projetos de lei, como consta do parágrafo 2.º do artigo 61, no qual estão definidas as cautelas, as exigências que garantem a representatividade da vontade do eleitor.
Para apresentar o projeto de lei a proposta depende da assinatura de, "no mínimo, um por cento do eleitorado nacional". Desse 1%, os signatários devem ser eleitores "em pelo menos cinco Estados" da Federação. E cada um deles "com não menos de três décimos por cento" do eleitorado. Como se pode ver, uma fórmula bastante prudente, com o objetivo de impedir a ação demagógica de lideranças ditatoriais, como as que vemos à nossa volta, aqui, na América Latina.
Promulgada a Carta de 88, as correntes que haviam liderado a ideia da proposta partiram para a hercúlea tarefa de fazer a coleta das assinaturas exigidas. As várias correntes, das mais diferentes origens, reuniam todos os que lutavam por um sistema eleitoral mais limpo e mais garantido.
Checar a identificação de cada signatário foi uma trabalheira incansável, minuciosa e rigorosamente honesta, que contou com a participação da Igreja Católica, de suas paróquias, de entidades sociais e culturais, de escolas, de cooperativas, de associações de moradores e de empresas. E, enfim, do eleitor que sonha com melhores costumes políticos.
Ao final, uma bela vitória: o número de assinaturas superou as exigências! Foi mais do que expressivo. Foi um grito de "basta!", saído da alma de milhões de brasileiros.
A preciosa carga foi entregue solenemente ao Congresso Nacional. Daí em diante, ficou tudo por conta do Poder Legislativo. Cabia a ele, após verificar o atendimento das exigências, discutir o projeto nas comissões e no plenário e, por fim, aprová-lo.
Foi uma longa espera, durante a qual o País sofreu o vexame de suportar a mais deslavada feira de corrupção política de todos os tempos. Nunca antes o Brasil viveu dias tão sujos, tão pornográficos, tão cínicos!
Mais do que nunca ficaram evidentes o dever e a obrigação dos partidos de não inscreverem, em suas chapas, candidatos envolvidos em irregularidades de qualquer natureza, principalmente no trato da coisa pública.
Que o nosso sistema eleitoral é frágil e permissivo, isso todos sabemos. Também sabemos que esse voto proporcional - para todas as Casas Legislativas do País, à exceção do Senado Federal - é um tipo de voto que frauda o desejo e a intenção do eleitor. O eleitor escolhe um e acaba elegendo outro! Por isso é necessário que esse outro também seja confiável. Mesmo com instituições frágeis, pessoas que cultivam valores morais revelam firmeza de comportamento. Ninguém é obrigado a ser desonesto.
O escândalo dos Correios, o escândalo do mensalão do PT, o escândalo do desgoverno de Brasília e todos os outros provam essa tese. A compra de consciências para garantir maiorias obedientes, para aprovar leis suspeitíssimas, para administrar só por medidas provisórias, tudo isso não significa que as instituições é que sejam fracas. Até pelo contrário, fica bem claro que as falcatruas decorrem da falta de caráter dos corruptores e dos corrompidos.
Daí a importância de os brasileiros exigirem políticos com ficha limpa. Quem tem de impor essa exigência nacional são os partidos. É deles a responsabilidade de, na hora de organizar as chapas para as eleições, impedir que os fichas-sujas possam concorrer.
Muitos tentarão burlar esse desejo da maioria de nosso povo. Vão-se basear na expressão "ninguém será julgado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória", que consta do artigo 5.º da Constituição. Tudo bem. Ninguém é contra essa ressalva garantidora. Mas ninguém desconhece, também, o fato de que são longos, difíceis e às vezes quase impossíveis de vencer os prazos, os recursos, os embargos e tudo o mais que atravanca o andamento de processos no nosso Judiciário!
O problema é que os prazos entre as eleições são sempre curtos, enquanto os prazos para sentenças penais, tramitadas em julgado, são sempre muito longos!
Onde estão os políticos flagrados em plena delinquência? Quem já foi atingido por sentença penal transitada em julgado? Quantos estão impedidos de disputar nessas condições? Quem está preso, cumprindo pena? Qual o resultado positivo?
Vamos continuar aguardando o Judiciário? Não dá.
Agora é a hora dos partidos. Dia 3 de outubro vai ser a hora do eleitor. Quem vai ter o poder de não aceitar as inscrições? Os partidos. Só depende deles o Brasil continuar sendo uma democracia de respeito. Só eles, sem ofender o inciso do artigo 5.º da Lei Maior, podem rejeitar quem pretenda usar suas legendas como abrigo.
O candidato está indiciado? Desviou dinheiro público? Usou caixa 2? Bancou corrupção? Ficou rico de repente? Tomou parte em licitações de cartas marcadas? Organizou milícias? Invadiu propriedades? É protegido do crime organizado?
Dá para ser prudente, não dá? Mas se, para tristeza nossa, os partidos abrirem vaga na legenda para os fichas-sujas, cabe a você, eleitor, barrar esses mesmos fichas-sujas na urna.
Eleitor de alma limpa só vota em ficha-limpa!

PROFESSORA, JORNALISTA, FOI DEPUTADA FEDERAL CONSTITUINTE, FUNDOU E PRESIDIU O BNH
NO GOVERNO CASTELO BRANCO

A Cigarra - Renato Teixeira

Bessinha

Flucht nach vorne

Flucht nach vorne
Ricardo Noblat - O GLOBO
"Quando ela veio para a Casa Civil, percebi que estava diante de um animal político não trabalhado." (Lula sobre Dilma)
A expressão alemã acima significa fuga para frente. Cercado, você ataca e seja o que Deus quiser. Pisa fundo no acelerador do carro como fez diante do abismo a dupla do filme Thelma e Louise. Ou então enfia o pé na jaca como parece preferir o vice-presidente José Alencar no caso da suposta filha de 55 anos que teve fora do casamento.
Alencar responde desde 2001 a processo de investigação de paternidade na Vara Civil de Caratinga, Minas Gerais. Ali quando era rapaz conheceu Francisca Nicolino de Morais, de apelido Tita, uma enfermeira de 26 anos, e com ela manteve um relacionamento amoroso entre 1953 e 1955.
Segundo testemunhas ouvidas pelo juiz José Antônio Cordeiro, os dois se viram pela primeira vez nas dependências do Clube Municipal da cidade. Passaram então a se encontrar em média três vezes por semana. E às quartas-feiras dormiam juntos na casa de Tita. O namoro era público.
Aos sábados, o casal podia ser encontrado no clube ou no Bar do Geraldo Pereira. Aos domingos, no Bar da Zica. Alencar chegou a pagar o aluguel da casa de Tita e ajudou-a com outras despesas. Até que Tita engravidou e deu à luz a Rosemary em 1955. O relacionamento acabou. Ao completar 42 anos, Rosemary soube quem seria seu pai.
Ela aproveitou uma visita de Alencar a Caratinga em 1998 para dizer-lhe que era sua filha. Na ocasião, Alencar teria comentado que resolveria tudo. Não o fez. Rosemary foi à Justiça e pediu para ser reconhecida como filha dele. Uma vez aberto o processo, os advogados de Alencar tentaram extingui-lo por meio de sucessivos recursos.

Ouvido em juízo, Alencar negou ter tido qualquer relacionamento com Tita e acusou-a de freqüentar a zona do meretrício de Caratinga. Como profissional, oferecia-se a quem a pagasse por seus préstimos, disse. Ao comentar o caso em Programa do Jô da semana passada, insistiu Alencar: Todo mundo que foi à zona pode ser pai.

Por duas vezes, o juiz Antônio Cordeiro determinou que Alencar se submetesse a exame de DNA. Em vão. A Jô, Alencar insinuou também que está sendo vítima de chantagem econômica e garantiu que o exame de DNA não é 100% seguro. De fato, não é. A margem de acerto do exame é de apenas 99%.
Diz o artigo 2 da Lei 8.560/90: Na ação de investigação de paternidade, todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, serão hábeis para provar a verdade dos fatos. A recusa do réu em se submeter ao exame de código genético DNA gerará a presunção da paternidade, a ser apreciada em conjunto com o contexto probatório.

Com base na recusa de Alencar em fazer o exame de DNA, no conjunto de provas recolhidas e em jurisprudência consolidada do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, o juiz decidiu em 21 de julho passado que a investigante passe a se chamar Rosemary de Morais Gomes da Silva, filha de José Alencar Gomes da Silva.
O delicado estado de saúde de Alencar, que luta há 13 anos contra um câncer, não lhe confere imunidade para agredir grosseiramente o bom senso. Se permanece apto a assumir a Presidência da República na ausência do seu titular era de se imaginar que conservasse intacta sua capacidade de avaliar bem os fatos.
Fernando Collor, Orestes Quércia e Michel Temer, por exemplo, são políticos que reconheceram filhos de relações extraconjugais. Paulo Maluf fez questão de se submeter a um exame de DNA para provar que não era pai de uma menina de nove anos. E provou. Fernando Henrique Cardoso é um caso à parte.
Teve um filho com a jornalista Miriam Dutra pouco antes de se eleger presidente. Os dois sempre negaram que Tomas fosse filho de quem é. Mas Fernando Henrique ajudou a sustentar o filho, recebeu-o várias vezes no Palácio do Planalto, visitou-o na Europa e assumiu-o como tal depois da morte de dona Ruth, sua mulher.
Alencar não é bronco. Mas esse episódio fez emergir uma face dele até aqui desconhecida rude e mesquinha.

Ventos do sudoeste

Ventos do sudoeste

Luiz Werneck Vianna - VALOR ECONÔMICO


Não se perde por esperar porque, lá longe, já sopra um vento sudoeste, e isso, como sempre se soube, é sinal de chuva grossa. A bonança dessa sucessão é de mau agouro, pois mantém a atenção descuidada do que vem por aí, uma vez que ela não corresponde a um estado de coisas realmente existente, e sim à crença que ultimamente se alastrou entre nós, de que atingimos, nestes 16 anos de PSDB e de PT, o ponto ótimo, e final, da história do Brasil.
Confiante nela, a sociedade se entrega ao curso dos acontecimentos, embalada pelo canto de sereia dos êxitos econômicos, pela pujança do seu agronegócio, pela presença afirmativa no cenário internacional e pela estabilidade política e financeira, certa de que, agora, navega no rumo certo. Nesse diapasão, a palavra de ordem não poderia ser outra senão a de continuar, e, uma vez que a política é sempre o terreno da controvérsia e da exploração de outros mundos possíveis, não haveria lugar para ela em meio a tantas certezas, devendo ceder lugar à administração, arte da qual se espera aperfeiçoar o que aí está.
Contudo, é do próprio processo dessa sucessão presidencial que vem os avisos de desvios de rota, mesmo que se possa desconfiar de que eles sejam meramente parte de uma estratégia eleitoral de setores, que no interior do governo, patrocinam a candidatura situacionista. Pois é deles que têm partido a sinalização para uma forma de capitalismo de Estado orientada para objetivos grão-burgueses de grandeza nacional, associando o empresariado, por meio do financiamento estatal, aos seus propósitos. Trata-se da situação clássica de "exasperar, por meio de recursos políticos, a conquista de fins econômicos", tendente, também classicamente, a realizar uma fusão entre essas duas dimensões.
No caso desse empreendimento vingar, decerto que se introduzem importantes elementos de mutação na experiência de social-democracia no país, em uma deriva potencialmente autoritária, na medida em que a sociedade passará a ser objeto passivo de uma tecnocracia de estilo messiânico que traz para si a representação do projeto de nação. Tal processo pode ser ainda mais insidioso se persistem as tendências atuais de estatalização dos sindicatos - do que a recente legislação sobre as centrais sindicais é um sintoma -, dos movimentos sociais e da política assistencialista, cuja inspiração, não custa nada lembrar, é de cepa neoliberal.

Contudo, esse eixo, melhor identificado em grandes personagens da cena atual, como Samuel Pinheiro Guimarães, Nelson Jobim e Mangabeira Unger, não reina solitário. Em outra ponta, o eixo Antonio Palocci-Henrique Meirelles representa tendência oposta, contínua, em seus fundamentos, ao ciclo de dezesseis anos de governos do PSDB e do PT, mais pragmática e refratária a uma estreita vinculação entre política e economia.
A competição entre esses eixos ainda não é aberta, ambos empenhados na candidatura situacionista, que, na eventualidade de uma vitória, deverá fazer sua opção. Um deles sairá perdedor, restando sempre a possibilidade de um compromisso entre eles, tal como vem ocorrendo nesses últimos anos do governo Lula. Esse compromisso se apresenta, desde já, como difícil, não só porque o pêndulo, nos últimos tempos, se deslocou em sentido favorável a uma forma qualquer de capitalismo de Estado, pela biografia da candidata Dilma - em toda sua carreira, uma personagem da administração pública - e, sobretudo, pela falta de Lula, que fez da composição de contrários a sua marca como homem de Estado e, nessa arte, ao que parece, não formou discípulos à altura.
A disputa entre eles, em um eventual governo Dilma, não deve ficar retida nos quadros palacianos, cada qual procurando escoras em organizações e movimentos da sociedade civil, abrindo um debate público em torno de questões programáticas, que, pela sua própria natureza, estimulam a mobilização social.
Ainda na hipótese de uma vitória de Dilma, outro componente novo será a da posição do PMDB, que contará com a vice-presidência, governadores de Estados, ministérios e uma expressiva bancada congressual, que, diante de uma divisão por motivos programáticos no interior do PT e do governo, pode vir a se comportar com orientação própria, ora vetando políticas, ora impondo outras, e já visando a sucessão de 2014, no interior da coalizão governamental. O dissenso em cima deve afrouxar a capacidade de hoje do Estado de controlar os movimentos sociais, que assim poderão interromper o quietismo em que estão imersos.
Em outra perspectiva, se vencer o candidato Serra, é de se aguardar uma forte oposição por parte de movimentos sociais, especialmente daqueles que foram trazidos pelo atual governo para o interior e proximidades do aparato estatal, e que devem perder essas posições. A sombra de Lula, no ostracismo de São Bernardo, pode vir a assombrar o seu governo, como a de Getúlio, em São Borja, assombrou o de Dutra. O capitalismo de Estado no seu governo não será certamente uma alternativa de política, mas sua linhagem de formação intelectual de estilo keynesiano, mas promete, porém, uma forte presença estatal na condução da economia, até preservando quadros da atual administração.
Assim, por fas ou por nefas, é a política que deve voltar, encerrando esse longo período melancólico em que só se falou da administração das coisas. Mais uma vez, constata-se o papel das sucessões presidenciais na liberação de energias novas, o que ocorreu mesmo no regime militar, que, aliás, acabou em uma delas.
Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador do Iuperj e ex-presidente da Anpocs. Escreve às segundas-feiras

Bennet, na Gazeta do Povo

Correios contratam agências sem licitação

Correios contratam agências sem licitação
Os Correios vão contratar sem licitação agências para substituir quase 1.500 postos franqueados, em um negócio de R$ 4 bilhões, informam Leila Coimbra e Andreza Matais. A alegação é evitar um "apagão postal" no país - os atuaís contratos vencem em novembro.
LEILA COIMBRA
ANDREZA MATAIS
DE BRASÍLIA

Os Correios resolveram contratar, sem licitação, novas agências em substituição à rede de quase 1.500 postos de atendimento franqueados, que vencem em novembro e ameaçam paralisar o serviço postal no país.
Trata-se de um negócio de R$ 4 bilhões. A alegação é evitar um "apagão postal".
O processo licitatório de renovação dessas franquias está emperrado na Justiça devido à enxurrada de ações.
O impasse provocou, há duas semanas, a queda do então presidente da estatal, Carlos Henrique Custódio.
O problema se arrasta desde os anos 90, quando essas agências foram distribuídas sem processo licitatório. Em 2009, a Justiça determinou o fim desses contratos em novembro deste ano.
Se os Correios não fizessem uma licitação, essas agências seriam fechadas.

PLANO B
Decidido na semana passada, o plano B dá ao governo o poder de escolher quem cuidará dessas franquias.
Alguns franqueados, portanto, poderão seguir no negócio. O pacote destina R$ 550 milhões da estatal para o aluguel de 1.000 imóveis, contratação de 7.000 pessoas, compra de carros, computadores e mobília.
Ou seja, boa parte dos franqueados serão mantidos e ainda ganharão uma injeção extra de dinheiro.
Atualmente, os Correios não gastam nada com essas agências. Os franqueados, pelo contrário, ficam só com parte do que arrecadam e repassam o resto para a estatal.
As franquias representam 15% do total de 10 mil postos de atendimento dos Correios, mas respondem por 40% do faturamento da estatal.
Só no Estado de São Paulo são 344 postos franqueados, que movimentam 50% de toda a carga postal do país.
A licitação foi definida pelo novo presidente dos Correios, David José de Matos, dois dias após sua posse e teve aval da Casa Civil e do Ministério das Comunicações.
Segundo o presidente dos Correios, o projeto já estava pronto quando ele assumiu. "Estamos nos preparando para atender a eventualidades. A gente não pode ficar sem ter uma alternativa."
A licitação dos franqueados é um processo conturbado: 76,6% das agências em licitação estão sob contestação judicial. Entre as queixas, estão a baixa de remuneração de serviços e a impossibilidade de executar atividades lucrativas como de marketing direto (envio de revistas e propagandas).
No último dia 3, o TCU (Tribunal de Contas da União) aprovou o edital da licitação.
No entanto, o edital dá margem para eventuais correções de desequilíbrios após o leilão.

PRESSÃO
A Folha apurou que, por pressão de alguns franqueados, o edital foi feito de forma pouco atrativa para não chamar atenção dos interessados. Também contém falhas que podem ser contestadas, atrasando o processo.
A intenção é manter o processo licitatório de forma marginal, onde só 23,4% dos 1.500 postos serão leiloados. O restante será suprido com contratação emergencial.
Marco Aurélio de Carvalho, advogado da Abrapost (Associação Brasileira de Franquias Postais), criticou o processo licitatório. A associação já havia entrado com mandado de segurança coletivo na Justiça, apontando irregularidades na licitação.
COMENTÁRIO: Para que o uso do dinheiro do contribuinte seja bem aplicado, os governos devem escolher a proposta mais vantajosa para suas compras. Este processo se dá por meio da licitação. Em outras palavras, as licitações tornam lícitas as compras do governo e, como consequência, a forma como o governo gasta nosso dinheiro.

Vira uma avacalhação

Vira uma avacalhação
Paulo Brossard - ZERO HORA (RS)
Depois de ser recebido com simpatia por chefes de Estado e de governo, o presidente Luiz Inácio, ou por iniciativa própria, ou por sugestão de seus altos assessores, passando de pato a ganso, lançou-se ao cimo dos patamares diplomáticos; logo chamou a atenção, em vez de exercer sua influência como presidente do Brasil, no sentido de compor conflitos entre nações vizinhas, ignorando-os, jogou-se a pretender modelar questões em terras da Ásia e África, começando a oferecer préstimos a palestinos e israelenses, o que, em matéria de jactância, era o nec plus ultra, e terminando sua escalada em associar-se ao Irã; ora, além de componentes históricos de notória complexidade, o país vive sob o império dos aiatolás; como se não bastasse a temeridade, tomando o rumo da Guiné Setentrional, colocou o Brasil no plano daquele país, dominado por ditador trintenário, possuidor de fortuna miliardária em contraste com a população miserável. Voltando ao Irã, o país pegou com as duas mãos a tolice brasileira, pois nada tinha a perder e tudo a ganhar, principalmente em suas aventuras nucleares e junto à ONU. Valia a pena relembrar esses fatos uma vez que... ... aconteceu nas bandas do companheiro Ahmadinejad outro fato revelador da tontaria cometida pelo governo brasileiro em seus experimentos diplomáticos. Uma mulher de 43 anos, com dois filhos, é acusada de adultério. Resultou a acusação em 99 chibatadas. Depois, subitamente, foi acusada de haver morto seu marido; inocentada dessa imputação, teve revisto processo por adultério e aplicada nova condenação, desta vez aprimorada com a pena capital. Seu advogado, contra o qual fora emitido mandado de prisão, evadiu-se do país. A morte por apedrejamento pode ser cumprida a qualquer momento, ainda que 11 pessoas aguardem a execução, sete das quais mulheres. Os homens são enterrados até a cintura, enquanto as mulheres até o peito, de modo a ficarem com os braços imobilizados. As pedras a serem jogadas sobre as vítimas não devem ser grandes para que o sofrimento seja maior, antes da morte. Como se vê, um delicado refinamento. Segundo divulgado, o apedrejamento foi introduzido no Irã em 1979, depois da revolução islâmica, sob o governo do companheiro Ahmadinejad. Agora, por obra de entidades internacionais, essa modalidade de execução penal, em face da repercussão mundial, parece que pode ser substituída pelo... enforcamento. Como se vê, uma equitativa concessão!
O movimento chegou ao Brasil e houve quem pretendesse que o presidente Luiz Inácio, na qualidade de amigo e companheiro de Ahmadinejad, intercedesse em favor da condenada, que, antes, pelo mesmo fato, já fora condenada a 99 chibatadas, regularmente cumpridas, 99. Mas o presidente, como procedera em relação aos presos políticos cubanos, no dia em que Orlando Zapata morrera, em razão de greve que se prolongara por 85 dias, se recusou em palavras inapagáveis, se começarem a desobedecer às leis deles para atender ao pedido de presidentes, daqui a pouco vira uma avacalhação.
Mas parece que alguém observou que se tratava de uma mulher e a candidata oficial da casa é mulher e isto lhe poderia ser funesto. Seja por fás ou por nefas, em comício no Paraná, o presidente teria sugerido ao seu companheiro islâmico que exilasse a suposta adúltera com seus filhos para o Brasil...
O alvitre brasileiro desagradou ao islâmico, que, pelo porta-voz do Ministério do Exterior, aplicou ao colega brasileiro boa e pública palmatoada por manifestar-se sem conhecimento de causa e sob influência de mídia estrangeira.
 Muita coisa haveria a dizer diante dessa macabra operação, mas limitar-me-ei apenas a uma observação. Foi para associar-se a esse país que o festejado presidente brasileiro se lançou ao mar alto da diplomacia levando consigo o bom nome do Brasil.
Haja avacalhação nisso tudo, para repetir a elegante expressão presidencial.
*Jurista, ministro aposentado do STF

Baby Gibbon Columbus Zoo in Columbus, Ohio.


Photograph by Xen Riggs

Nani, para Charge Online

O Areal

O Areal
Paulo Pacini – Blog Rio Antigo – Jornal do Brasil
Ipanema: de praia solitária a bairro mundialmente famoso

A idéia de aproveitar a faixa de terra entre a Lagoa e o mar, com suas magníficas paisagens, levou José Antônio Moreira Filho — segundo barão de Ipanema desde 1885 — a dar os primeiros passos rumo à transformação daquele vasto e desolado areal em um dos bairros mais conhecidos do país. Através da aquisição paulatina de terrenos, pôde enfim em 1894 lançar o empreendimento imobiliário Villa Ipanema. Com a ajuda de José Silva iniciou a venda de terrenos nas ruas recentemente abertas, das quais muitas ainda trazem o nome original, como Prudente de Moraes, Nascimento Silva e Farme de Amoedo.
A existência do novo bairro tornou-se possível com o abastecimento de água potável, inexistente até então, e, posteriormente, com o fornecimento de energia elétrica. Contudo, por alguns anos ainda ficou desprovida de transporte coletivo, só chegando em 1902, com uma linha de bondes de tração animal que partia do final do ramal da Igrejinha de Copacabana.
Os ares auspiciosos do pequeno local, com 1006 moradores em 1906, levaram Maurício Abreu a vaticinar: "Dentro de um lustro aqueles desertos do Sahara... se converterão em grandes povoações...para onde afluirá a população da cidade".
Dito e feito. O bairro cresceu e tornou-se célebre nos anos 50 e 60, com sua história se confundindo com aquela da Bossa Nova e seus criadores. Apesar das transformações das últimas décadas, Ipanema, hoje cidadã do mundo, para sempre ficaria conhecida pela ligação com a música de Tom e Vinícius, e sua famosa garota.
Ipanema, atualmente

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