quinta-feira, janeiro 06, 2011

Son Salvador, hoje no Estado de Minas


Patrick Poivre d'Arvor é acusado de plágio por uma biografia de Ernest Hemingway

Patrick Poivre d'Arvor é acusado de plágio por uma biografia de Ernest Hemingway
Thomas Wieder – Le Monde
Patrick Poivre d’Arvor 
Patrick Poivre d’Arvor escreveu um livro desnecessário? Para isso seria preciso que ele o tivesse escrito. Segundo Jérôme Dupuis, jornalista do “L’Express”, o ex-apresentador do jornal das 20h da TF1, em sua biografia de Ernest Hemingway a ser publicada pela editora Arthaud, no dia 19 de janeiro, “pura e simplesmente copiou passagens inteiras” de um livro publicado em 1985 nos Estados Unidos.
Em um artigo publicado na terça-feira (4) no site L’Express.fr, Jérôme Dupuis faz uma demonstração exemplar. À esquerda, três excertos da biografia assinada por Peter Griffin (já falecido) e traduzida pela editora Gallimard em 1989. À direita, três passagens de “Hemingway, la vie jusqu’à l’excès”, de Patrick Poivre d’Arvor.
Ernest Hemingway 
Entre o original e a cópia, a diferença é tênue. Exemplo: “Quando as noites de agosto eram particularmente quentes, ela molhava a testa de Ernest com um lenço úmido, passava água fria em seu pescoço e seu peito”, lê-se na obra de Griffin. Sob a pena de Patrick Poivre d’Arvor, virou: “Durante as noites quentes que o deixavam melado de suor, ela passava um lenço úmido em sua testa, refrescava seu pescoço e seu peito”.
Contatado pelo “Le Monde”, Jérôme Dupuis foi categórico: “No total, dezenas de parágrafos foram copiados”. Claro, cá e lá “foram utilizados sinônimos, inverteram a ordem das palavras”. Segundo Jérôme Dupuis, é a “própria estrutura” do livro de Griffin, centrado na juventude de Hemingway, inclusive  “a ordem na qual as histórias se encadeavam”, que Patrick Poivre d’Arvor teria plagiado. “Da página 25 à página 143 (de 414 no total), a biografia de D’Arvor se calcou inteiramente na de Griffin”, afirma o jornalista.
Na terça-feira (4), o celular de Patrick Poivre d’Arvor tocou e tocou. No final da tarde, em compensação, o “Le Monde” conseguiu ter uma longa conversa com sua editora, Noëlle Meimaroglou, da casa Arthaud, que pertence ao grupo Flammarion.
Esta se diz “envergonhada” e “ultrajada”. Sim, reconhece, “a primeira parte que foi impressa é de uma paráfrase grosseira, uma espécie de ficha de leitura gigante do livro de Griffin”. Mas, continua, “não se trata absolutamente de plágio”. Por uma simples razão: “A versão citada por Jérôme Dupuis é somente uma versão de trabalho. A versão definitiva, que será publicada em 19 de janeiro, é muito diferente”.
Uma versão de trabalho? A explicação poderia convencer se Jérôme Dupuis tivesse citado um manuscrito em um estado ainda largamente provisório. Ora, não é esse o caso, pois foi o próprio livro, com capa, preço, caderno de fotos, código de barras e número de edição que o jornalista teve em suas mãos. Uma versão que tem toda a cara de ser definitiva, idêntica àquela recebida há alguns dias pelo “Le Monde”, e que por tantas vezes Patrick Poivre d’Arvor autografou.
Um autor autografando uma versão de trabalho: Noëlle Meimaroglou admite que o costume é no mínimo pouco habitual. E com razão: Patrick Poivre d’Arvor teria “ignorado” que o texto que ele autografava não era o certo.  Tudo isso, garante a editora, em razão de um “erro técnico grosseiro”.
O suposto erro teria se originado no início de dezembro de 2010. A editora está agora “de férias, longe de Paris”. Ela explica que “no serviço de impressão eles pegaram no servidor o arquivo errado, e foi esse que imprimiram”. Ora, esse arquivo, explica, era constituído de “notas de leitura” que não eram “destinadas a serem publicadas”. “É documentação, como qualquer autor de biografia faz”, acrescenta Noëlle Meimaroglou.
Como pode a documentação de um autor se encontrar no sistema de sua editora e, de lá, chegar até a gráfica sem que ninguém se dê conta? Além disso, como se explica que a obra de Peter Griffin não figure entre os estudos citados por Patrick Poivre d’Arvor em sua bibliografia, no fim da obra? Noëlle Meimaroglou responde: “Tudo aconteceu rápido demais, é nossa culpa, Patrick está furioso, com razão, e assumo nossa responsabilidade".
Em 1991, uma falsa entrevista de Fidel Castro, transmitida pela TF1, já havia colocado Patrick Poivre d’Arvor no centro de uma polêmica. “Tem gente que quer ser como Patrick Poivre d’Arvor”, deduz sua editora, a respeito desse novo caso.
Jérôme Dupuis, que conversou com Patrick Poivre d’Arvor pelo telefone, na segunda-feira (3), comenta: “Ele me passou a impressão de assumir aquilo que estava escrito, me explicando que havia passado um ano e meio trabalhando, que ele não ia reinventar a vida de Hemingway sob pretexto de que outras biografias haviam sido escritas antes da sua, obstinando-se a negar todas as acusações de plágio. Mas em nenhum momento ele falou de uma versão errada. Ele não me disse que se tratava de uma ficha de leitura que havia sido impressa. Tudo isso me parece uma grande fábula”.
Tradução: Lana Lim

(In)feliz ano novo

(In)feliz ano novo
Francisco Bosco – O Globo
Neste réveillon, em meio à confraternização generalizada, à rara abertura que se coloca entre amigos e até desconhecidos, em meio à euforia também generalizada, através da qual aqui e ali se percebe um ricto revelador, em meio a tanta festa vi alguns casais brigarem, e brigarem feio. Nada de surpreendente: o réveillon é o momento mais perigoso do ano na vida de um casal. Vou tentar compreender aqui por que os casais estão especialmente propensos a se desamar na noite do 31 de dezembro.
O réveillon é um evento cósmico: aniversaria a Terra.
E, com a renovação da Terra, com o recomeço de suas estações, aniversariamos também nós, humanos, para quem tudo recomeça uma vez mais. O réveillon é o aniversário da Humanidade inteira, independente de credo, cor e classe social. Daí a confraternização irrestrita que se instaura: nessa noite, todos são irmãos, é um evento comum da Humanidade o que se comemora. Simbolicamente, trata-se, portanto de um renascimento. Esse sentido de renascimento, entretanto, quando misturado a outros ingredientes, típicos do tempo em que vivemos, forma com esses um coquetel explosivo.
É sabido que, hoje, um imperativo cultural implacável ordena que todos devem gozar.
Gozar sem parar, quanto mais melhor. Promove-se a sensação difusa de que todos estão gozando loucamente — menos nós. E então temos que nos esforçar para gozar à altura do suposto gozo dos outros. Essa situação produz uma inversão paradoxal no campo da culpa: não nos culpamos mais apenas por realizar ou desejarmos realizar algo que entra em conflito com os ideais culturais, mas também, e talvez, sobretudo, por não realizarmos os imperativos de gozo do ideal cultural.
Somos culpados por não gozar. Essa mudança radical corresponde às transformações do capitalismo. Na sociedade de consumo, gozar é uma condição capital do capitalismo.
Gozar perdeu em grande parte seu poder subversivo e virou uma engrenagem fundamental para a manutenção do status quo. Assim, como sintetiza Maria Rita Kehl, em seu livro “O tempo e o cão: a atualidade das depressões”, esse “imperativo do gozo se articula aos ideais de eficácia econômica.
Tal articulação subverteu os ideais de renúncia pulsional que oprimiam os contemporâneos de Freud, convocados a sacrificar suas modestas possibilidades de prazer em favor da produtividade, no período de consolidação do capitalismo industrial”.
Pois esse imperativo de gozo é um dos ingredientes do coquetel molotov que está prestes a explodir no réveillon.
Acrescente-se que a exigência de gozar é também a exigência de determinadas formas de gozo, correspondentes aos ideais do capitalismo de consumo. Aqui, pelo menos sob certos aspectos, o casamento aparece como uma forma anacrônica, um obstáculo aos modos de gozar do ideal cultural. O capitalismo de consumo requer substituição, acumulação, novidade. O casamento é, por definição, o avesso disso tudo. Pois bem, junte-se então o imperativo de gozar intensamente, mais os modos de gozar cujos ideais são os de novidade e substituição, mais o sentido de renovação inscrito na simbologia do réveillon, misture-se tudo e dê na mão do primeiro casal que passar todo de branco à sua frente: ele explodirá. A galopante expectativa de gozo já é um erro por si só, pois o acaso ainda é o regente imponderável da alegria humana.

A decepção provável com o acontecimento — como um gozo pode estar à altura dos fogos magníficos explodindo sobre nossas cabeças? — tem tudo para acabar na velha fórmula acusativa, típica da dinâmica de frustrações do casamento: “Todo mundo gozou, só eu não gozei, e por culpa sua.” Assim, não é que só os casais estejam expostos à exigência desmedida de gozo no réveillon, e à sua decepção provável: é que só alguém casado pode culpar o parceiro por não gozar como acha que deveria.
De minha parte, fui duplamente agraciado pelo acaso neste réveillon. Enquanto pensava em economizar minhas energias para gastá-las todas de noite, com os convidados, eu e Antonia, para um almoço na casa de nossos amigos Plínio e Paula.
De início evitei beber, para não queimar a largada, mas o almoço foi se tornando tão alegre, tão delicioso, que todo mundo deixou de calcular o gozo. Abriram-se garrafas, um peixe magnífico surgiu da cozinha pelas mãos de Karine e Juliana, a alegria se instalou a seu modo único: inesperada. O almoço virou festa, o cálculo foi pras cucuias e a largada virou o caminho, e ao caminho não importa a chegada.
Plínio colocava canções maravilhosas (é um DJ dos que eu gosto: só toca músicas que têm alma), todos dançavam, chegaram outros amigos. Saímos de lá faltando só duas horas para a meia-noite.
Mais tarde, a segunda obra do acaso. Fomos para a praia, na companhia de outros queridos amigos: Claudio, Renato, Isa, Luisa, Karla. O Arpoador, antes da meia-noite, estava ainda agradável, sem tanta gente.
Na hora da virada, brindamos e nos confraternizamos.
Meia hora depois, a praia já começava a lotar. Combináramos de ir a uma festa, mas as amigas que iam conosco se perderam de nós e estavam sem celular.
Assim, já de alma lavada e cansados pelo longo dia, eu e Antonia fomos para casa, felizes, com os votos mais do que nunca renovados, renascidos.
À minha família, aos meus amigos, a todos que eu amo, e aos leitores que me têm acompanhado nesse espaço ,um feliz ano novo.

Skoob

BBC Brasil Atualidades

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