terça-feira, novembro 09, 2010

Sobra mau gosto, falta brincadeira

Sobra mau gosto, falta brincadeira
ROSELY SAYÃO
Crianças são humilhadas em episódios chamados de "brincadeira de mau gosto"
A EXPRESSÃO "brincadeira de mau gosto", agora, virou moda entre crianças, adolescentes e até adultos.
E pior: ela tem sido usada, principalmente pelos mais novos, para explicar as situações mais absurdas e até tragédias que acontecem em nosso mundo.
Você se lembra, caro leitor, do garoto de nove anos que morreu na escola que ele frequentava, vítima de um tiro?
Pois em uma reportagem que abordava o assunto, colegas do menino chegaram a enunciar a hipótese de a tragédia ter ocorrido pelo descontrole do que seria, inicialmente, uma "brincadeira de mau gosto" entre colegas.
E o tal "rodeio de gordas", uma espécie de jogo universitário em que alunos da Unesp do campus de Assis demonstravam interesse em paquerar alunas com sobrepeso e, depois de conquistar a atenção delas, agarravam as garotas por trás e tentavam se manter nessa posição o maior tempo possível, simulando um rodeio? Da mesma maneira, o evento foi descrito por alguns alunos como uma "brincadeira de mau gosto".
Em escolas, é comum crianças serem humilhadas com apelidos, por colegas, ou serem excluídas e isoladas pelos mais diversos motivos e, da mesma maneira, as crianças nomeiam tais situações com a mesma expressão.
Até programas de televisão, agora, exploram o tema com as já conhecidas "pegadinhas" que, invariavelmente, colocam pessoas em situação de vexame, humilhação etc. Pois não é que as pegadinhas são chamadas de brincadeiras? De mau gosto, é claro. Que pena que juntamos nessa expressão conceitos tão antagônicos.
Brincadeira supõe, acima de qualquer coisa, diversão das pessoas envolvidas. Brincar é um ato lúdico muito próprio da infância, e que acaba por se estender pela vida toda. O que seria da nossa vida sem as brincadeiras e o prazer que elas proporcionam?
Por isso, fica difícil de entender a popularização da expressão em questão. Sabemos que o tempo que vivemos não ajuda os mais novos a construírem um sentido para a vida. Ao contrário: vivemos uma época dominada pela cultura do tédio, situação muito bem abordada e explanada por Yves de La Taille em seu último livro, "Formação Ética do Tédio ao Respeito de Si" (Editora Artmed). Concomitantemente, a importância do poder de um sobre o(s) outro(s) e o valor do individualismo também colaboram para esse clima de vazio da existência que começa a ser sentido por muitos, já na infância.
Em conjunto, talvez essas características do mundo contemporâneo, combinadas com algumas outras, tenham favorecido o surgimento e o crescimento das tais "brincadeiras de mau gosto", cada vez mais frequentes e presentes na vida dos mais novos. E é bom lembrar que o lugar de vítima e de agente, nesses casos, podem se alternar na vida de qualquer um deles.
Precisamos intervir nessa história para que crianças, adolescentes e jovens entendam que a vida social sustenta a vida pessoal e, portanto, quando não colaboramos para que os relacionamentos sociais sejam respeitosos, comprometemos nossa própria vida pessoal.
Da forma que temos permitido e inclusive participado de várias maneiras da criação dessas chamadas "brincadeiras de mau gosto", desconstruímos o conceito tão caro do ato de brincar, principalmente na infância e, mais ainda, contribuímos decisivamente para uma cultura de desrespeito, de si e do outro. É um futuro com tais características que desejamos aos nossos filhos?
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)

ELVIS, para o Correio Amazonense


Visão restrospectiva politicamente possível

Visão restrospectiva politicamente possível
Wilson Figueiredo JORNAL DO BRASIL (online)
O acerto de divergências entre duas gerações que se desentenderam cedo e vieram a se confrontar nesta sucessão presidencial, no recomeço da história, mais uma vez está adiado por tempo imprevisível. Outro não ocorrerá tão cedo. Dilma Rousseff e José Serra já não representam as ideias que os moviam na passagem da juventude para a idade adulta, por causa das duas gerações a que pertenciam. Serra formou seus conceitos políticos, ainda estudante e já militante, num Brasil que não resolvera suas contradições acumuladas em torno do nacionalismo econômico dos anos 50 e do insucesso da democracia, como a concebeu a Constituição de 1946.
Dilma Rousseff veio com a geração seguinte, nos anos 60. Depois do AI-5, a prioridade juvenil escolheu o confronto com a ditadura e, ao mesmo tempo, um projeto de esquerda, a ser definido depois, atropelou as duas gerações e interrompeu, por vinte anos, a continuidade constitucional do Brasil na segunda metade do século 20.
Pode-se dizer que ambos, Serra e Dilma, representaram modos políticos de ver e resolver questões econômicas e sociais que envolveram as duas gerações. Serra se beneficiou da revigorada visão democrática que, incluindo o Brasil, aliviou o mundo com a vitória militar sobre o fascismo e o nazismo. Foi contemporâneo da formulação e da expansão do pensamento econômico associado à democracia revigorada pelo nacionalismo econômico. Dilma Rousseff pertence à geração seguinte, que se apresentou muito cedo à resistência radical contra a ditadura. Com o advento das crises políticas e o ocaso das liberdades democráticas nos anos 60, a geração – ainda estudantil – anteciparia presença no espaço onde a representação política exercia o ócio sem dignidade.Inevitável que formas de luta que não convenciam os mais velhos parecessem perfeitamente viáveis à juventude.
O acerto das divergências entre as duas gerações veio sendo adiado ao longo do tempo pela impossibilidade de conciliar, na teoria e na prática, a via democrática com aalternativa da luta armada. Prevaleceu a iniciativa de mobilizar a classe média para a empreitada, mas as diferenças se multiplicaram. Desse desencontro resultou o distanciamento entre a esquerda representada pelo partidão e os movimentos radicais com pequenas diferenças entre eles. A divergência se prolongou com dificuldades imprevistas e resistiu à volta, lenta e gradual, à legalidade. E fomentou a má vontade que se estabeleceu entre as diferentes visões de esquerda e levou à criação do PT, somando a juventude católica, o movimento sindical e intelectuais por uma visão política em torno da qual se estruturou o partido quando as condições permitiram. Desde logo o PT recorreu ao sectarismo como método para se manter isolado, ter candidatos puro-sangue e destilar intolerância no relacionamento com outras tendências.
Primeiro foi a recusa de participar da negociação com o governo militar e depois com a candidatura de Tancredo Neves à eleição indireta. O ato político definitivo foi a representação petista na Constituinte recusar-se a assinar a Constituição. A difícil convivência com outras tendências, mesmo de esquerda e particularmente com a social-democracia recém-chegada ao Brasil, malbaratou a oportunidade de recomeço democrático. Foi quando se sedimentou o ressentimento petista, que se manifestou no segundo turno da campanha presidencial vivida por Dilma Rousseff e José Serra. Duas candidaturas de esquerda são um luxo ocioso, como ficou evidente no último capítulo de uma evolução desnecessariamente lenta e inutilmente gradual. Desde o começo, tudo se entende, mas nada se explica.
A presidente Dilma Rousseff é, por enquanto, a expressão do politicamente possível, mas à espera de não se sabe exatamente o que será.

Patrulhas ideológicas e patrulhas pop

Patrulhas ideológicas e patrulhas pop
Arnaldo Jabor - O Globo e O Estado de S. Paulo - 09/11/10
Meu filme A Suprema Felicidade está sendo aplaudido em cinemas cheios. Pensei: "Oba! O filme é legal; estão gostando!" Uma espectadora me escreveu: "Saí do cinema lotado de pessoas que aplaudiam. Parecia que uma seca tinha acabado. Os que se falavam depois do filme, brindavam com olhos úmidos e a alma encharcada na alegria da dor comum a todos, serenamente revelada."
Fiquei feliz com o email, mas logo vi que estava errado... Descobri que sou um mero "mané" que se ilude. São outros os que sabem a verdade. Os críticos da Folha e da Vejinha decretaram que o filme não merece nem uma análise; apenas frases de pichação, breves xingamentos. Eles são taxativos e cruéis como ativos militantes de novas patrulhas "contemporâneas": "Ele não é mais cineasta" ou "a narração é que estraga..." ou ainda "muitos temas, sem foco" e ainda "acaba de repente". Só isso?
É. O filme tem críticas ótimas com bonequinho batendo palma no O Globo e quatro estrelas no Estadão, mas, na minha trêmula insegurança, só penso nos quatro que trataram o filme como um objeto descartável, um lixo ridículo. E mais: criticam-me mais que o filme. Por que essa raiva? Por quê? Será que eles estão certos? Será que as 180 mil pessoas que já assistiram ao filme em 13 dias, e que fazem a renda crescer no cinema com um boca a boca fervoroso, são um bando de idiotas?
Resolvi entender isso. Pensei, pensei, não só pela vaidade ferida, claro, mas também para denunciar a estupidez de cadernos culturais que viraram meros releases de produtos de massa. Cresce no País uma cultura da incultura, a profundidade do superficial, a rapidez do julgamento, num mundo feito de fugazes emails, celulares tocando, filmes com imagens que não podem ter mais de quatro segundos, porrada, corrida, sem saída, até sem "roteiro", essa coisa antiga do tempo em que os homens (e não robôs e transformers) se relacionavam.
Está fora de moda um filme para ser visto, refletido, com choro, risos, vida... Cinema agora é para manipular os espectadores, que são o videogame da indústria. O desejo dos produtores é justamente apagar o drama humano dentro de nossas cabeças. A ação na tela é incessante, o conflito é permanente, de modo a impedir o espectador de ver seus conflitos internos.
Acontece, patrulheiros pop, que A Suprema Felicidade foi feito justamente contra essa tendência - quero que os espectadores se sintam dentro do filme e não que sejam levados por porradas, som dolby e homens explodindo.
Eu sei que vocês foram modificados geneticamente por décadas de videoclipes, eu compreendo que vocês achem o Michel Gondry o novo Goddard e que o flash-back foi inventado pelo Tarantino. Imagino vosso tremor na hora da entrevista de emprego, com o diretor do jornal perguntando: "Conhece literatura, política, antropologia?" "Não, senhor..." "OK... Secretário, bota ele na crítica de cinema..."
Há em vocês uma esperteza ambiciosa por trás de tanta brevidade implacável - é duro passar a vida botando bolinha preta no Piranha. O cara precisa criar eventos que o promovam.
Eis que, de repente, aquele sujeito que fala na TV, escreve em 20 jornais, fala no rádio há 15 anos, resolveu fazer seu nono filme.
Vocês gritam: "Vamos quebrar a espinha dele!"
Compreendo que isso dá prestígio; é um upgrading. O sujeito entra na redação de testa alta e lábio trêmulo: "Esculachei a besta do Jabor..!" E é olhado com cálida admiração.
Ato de violência. Aí, percebi que não apenas a patrulha pop pautou seus críticos. Lembrei da devastadora crítica de Eduardo Escorel na revista piauí - (não confundir com Lauro Escorel, o grande artista que fotografou o filme). Lembro mesmo que corri à piauí com a esperança de aprender teoria com o velho autor de remotos filmes, como a história sinistra de um esquartejador e a adaptação dialética do Cavalinho Azul, de Maria Clara Machado. Dele eu esperava opiniões cultas, conspícuas frases sobre Bergman, Fellini. Eu esperava encontrar André Bazin e dei de cara com Andrei Zhdanov, o supremo censor de Joseph Stalin (olhem no Google, meninos...)
Mas, mesmo assim, esquartejado, tentei entendê-lo. E tive a revelação, vi a luz!
Eduardo tinha uma missão política, senhores, iluminista mesmo: ele quis salvar o público das mensagens reacionárias que devo ter embutido no filme. Por isso, ele correu a Alphaville, para ver o filme quentinho, ainda no laboratório. Ele correu antes para avisar o povo: "Não vá!... Fuja do demônio neoliberal que fez um filme de época sem mostrar Getúlio ou a luta de classes."
Ele deve ter zelosamente pensado: "Vou pautar também os jovens tenentes das novas "patrulhas pop", porque eu sou egresso das velhas patrulhas ideológicas descobertas por Cacá Diegues e tenho esta missão."
E conseguiu; parabéns, doce Zhdanov com seu lento sorriso superior. Foi um alívio. A sociedade estava salva.
Mesmo assim eu ainda entendo o homem. Sei que grandes frustrações na vida se compensam por elusivas fantasias de grandeza. Sei que a onipotência não realizada, o narcisismo que parou no meio provocam ódio e entendo que ele tenha buscado, digamos, "profissionalizar" seu rancor. Assim, ele descolou esse "bico" para aliviar sua dor interna. Deve ter pensado: "Boa ideia... serei implacável contra todos que ousam fazer filmes corrompidos pelo sucesso e pelo público enganado."
Confesso que admiro sua integridade de não poupar nem amigos nem parentes.
Mas, aí... esbarrei com a frase: "Jabor sempre pareceu mais um "diletante" que um cineasta profissional." Aí, não. Depois de ter trabalhado 30 anos em cinema, fazendo nove filmes, ouvir isso não dá. "Diletante" é você, cara, que fez dois ou três filmes medíocres que sumiram da história de nosso cinema.
E, no final, outro insulto, quando ele diz que, vendo esse filme, ele não tem mais dúvidas de quem sou eu...
Respondo: Se você pudesse saber quem eu sou, você não seria o que é.
E mais, ridículo censor do trabalho alheio: "A dignidade severa é o último refúgio dos fracassados." É só.

Nani Humor


O Nordeste saiu de moda

O Nordeste saiu de moda
Marco Antonio Villa - O GLOBO
Muitos temas ficaram fora da agenda eleitoral deste ano. A discussão sobre o semiárido nordestino certamente foi um deles. Temos o semiárido mais populoso do mundo. A maior parte dos seus habitantes vive próximo da miséria. Seus municípios sobrevivem de duas fontes: a aposentadoria rural e o Bolsa Família, que injetam recursos que são fundamentais para movimentar o comércio.
Não há economia local. A produção de alimentos mal dá para a subsistência.
Os rendimentos de agricultura e pecuária são desprezíveis. Nos oito anos da Presidência Lula nada foi feito na região. E não faltaram instrumentos como o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, o Banco do Nordeste, o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas ou a Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste.
O Nordeste saiu de moda. E faz tempo. No pré-64 era tema constante em qualquer roda política. Ligas Camponesas, reforma agrária, Sudene eram temas recorrentes. No cinema, música, teatro e literatura, lá estava o Nordeste seco e suas mazelas.
Durante o regime militar a região continuou em pauta. Várias medidas foram adotadas, como os incentivos fiscais. Com a redemocratização, a região foi caindo no esquecimento. E nos últimos tempos desapareceu do debate político nacional. Nem os velhos setores da esquerda falam do sertão. Até o MST centrou suas ações longe de lá.
A Amazônia acabou ocupando o espaço que foi durante décadas do Nordeste. Saiu do noticiário o latifúndio improdutivo e entrou o meio ambiente.
Basta acompanhar as discussões do Congresso Nacional. Vários temas polêmicos envolvem a Amazônia; já o Nordeste ficou esquecido, como se tivessem sido resolvidos, ou, ao menos, encaminhadas as soluções, os seus problemas seculares.
E seus representantes? As velhas oligarquias continuam firmes e fortes.
E ainda ficaram mais poderosas nos últimos 8 anos. Os órgãos e as agências estatais que atuam na região foram entregues aos oligarcas.
São excelentes cabides de empregos e de bons negócios. Fortaleceram ainda mais seus interesses de classe.
Por outro lado, os sertanejos estão abandonados e cada vez mais dependentes dos oligarcas e de seus instrumentos de dominação, especialmente o Bolsa Família. A maioria das cidades do semiárido tem mais de 60% dos seus habitantes recebendo o benefício.
Mal conseguem se alimentar e não têm nenhuma perspectiva de futuro.
Canudos, no Nordeste da Bahia, é um bom exemplo. É conhecida devido à guerra de 1896-1897 e ao maior clássico brasileiro, “Os sertões”, de Euclides da Cunha. Hoje, o município tem pouco mais de 15 mil habitantes, dos quais 2.461 famílias são beneficiárias do programa. Ainda cerca de 500 estão cadastradas e aguardam a sua vez: são um excelente instrumento eleitoral com promessas de que irão fazer parte da lista de pagamentos do programa. As famílias já beneficiadas ficam à mercê do dirigente local: permanecem recebendo o benefício se apoiarem o oligarca local. E como cada família sertaneja, em média, não tem menos que cinco pessoas, hoje representam cerca de 12 mil pessoas, cerca de 80% da população.
No município não há nenhum trator, porém tem 473 motos. A dependência dos recursos da União ou do governo estadual é absoluta. Basta ver que o imposto territorial rural recolhe aos cofres municipais pouco menos de 5 mil reais; já do Fundo de Participação dos Municípios recebem 8 milhões. Dos 15 mil habitantes, pouco mais de 600 são assalariados, e o PIB per capita é de 2.700 reais.
Em 2006, no segundo turno da eleição presidencial, Lula obteve 5.768 votos, e Alckmin, 1.621, isto de um total de 7.389 votos válidos. Quatro anos depois, em um universo um pouco maior, de 7.481 votos válidos, Dilma saltou para 6.454, e Serra recebeu apenas 1.027, isto sendo um político muito mais conhecido na cidade, pela atuação no Ministério da Saúde, do que Alckmin. Se nas esferas municipal e estadual mantiveramse os políticos tradicionais, na eleição presidencial o fortalecimento do domínio petista é inconteste.
E o quadro de Canudos repete-se em centenas de municípios do semiárido.
Foi forjada uma sólida aliança entre o petismo federal e as oligarquias, transformando a população da região em celeiro de votos para os candidatos governamentais. Se nos últimos anos os indicadores sociais tiveram leve melhora, a sociedade local continua petrificada. Os mandões locais continuam tão poderosos como antes. O potencial de revolta foi domado pelos programas assistencialistas.
É como se a roda da história não se movesse. E, para piorar o quadro, o Brasil virou as costas para o Nordeste.
Marco Antonio Villa é historiador e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos (SP).

Não seja competitivo

Não seja competitivo
Celso Ming - O Estado de S. Paulo - 09/11/2010
Há uma boa probabilidade de que a reunião de cúpula de chefes de Estado do Grupo dos 20 (G-20), marcada para quinta e sexta-feira, em Seul, Coreia do Sul, não desemboque em lugar nenhum. Em todo o caso, o governo dos Estados Unidos está conseguindo dois sucessos.
O primeiro deles consiste em desviar a enxurrada de queixas pela sua política de desvalorização do dólar executada por meio do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). E o segundo por levar todos os demais a discutir a única proposta que está sobre a mesa, a do secretário do Tesouro americano, Tim Geithner.
As reclamações são de que o despejo de dólares por meio das operações de afrouxamento quantitativo do Fed estão inundando os mercados, valorizando as moedas dos demais países e, assim, tirando competitividade do produto da vizinhança.
A proposta de Geithner leva em conta que, nas suas relações com o resto do mundo, as economias se dividem entre deficitárias (e o campeão do déficit são os Estados Unidos) e superavitárias (entre as quais estão China, Alemanha e Japão). A ideia é a de que os países deficitários reduzam seu rombo com o exterior a alguma coisa em torno dos 4% do PIB e os superavitários se contentem em faturar menos.
Do ponto de vista matemático, está tudo certo quando se procura o equilíbrio: é fazer com que os dois pratos da balança pesem a mesma coisa. Mas a proposta Geithner produz dois efeitos colaterais. O primeiro é tirar as discussões da órbita do câmbio, onde estavam até recentemente, pelo menos em relação com a China, porque não dá para arrancar manobras cambiais da Alemanha, que não tem moeda própria. O segundo é exigir dos parceiros comerciais que abram mão de vantagens comparativas, princípio consagrado em teoria econômica.
"O crescimento das exportações alemãs não está baseado em trapaças no câmbio, mas na crescente competitividade de suas empresas", lembrou ontem à revista Der Spiegel o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble.
Essa forte competitividade da Alemanha de fato não tem truques. Foi obtida com arrocho de salários e aposentadorias e contenção das despesas públicas. Leva uma alta dose de sacrifício e de disciplina. Assim, impor à Alemanha um corte do faturamento com exportações é o mesmo que exigir da loja que mais atrai a clientela que aumente seus custos e seus preços para que o concorrente do outro lado da rua possa voltar a vender.
O problema é que até agora não apareceu proposta melhor. Ainda ontem, a ministra de Finanças da França, Christine Lagarde, fez um apelo para que as autoridades do mundo criem nova moeda internacional de reserva que ocupe o lugar do dólar. Mas isso é o mesmo que propor que chova ou faça sol. Coisas assim não acontecem só porque alguém quer que aconteçam.
O que os chefes de Estado reunidos no G-20 têm de examinar agora é se entram num acordo com o governo americano e deixam que as empresas de lá voltem a exportar e a empregar pessoal ou se preferem que tudo fique como está.
Nesse caso, o Fed continuará olimpicamente no uso de suas prerrogativas. Seguirá inundando os mercados com dólares despejados pelas suas impressoras. E assim empurrará para o resto do mundo a conta do seu ajuste.
Subindo, subindo...
As cotações do ouro ultrapassaram ontem, pela primeira vez, os US$ 1,4 mil por onça-troy. No acumulado do ano, já subiu 28,3%. Apenas nestes seis dias úteis do mês, avançaram 3,5%. Essa forte alta tem a ver com dois fatores: desvalorização do dólar e redução da confiança dos mercados em uma solução para a crise.
Volta do padrão ouro
Também ontem, o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, fez a surpreendente proposta de que o sistema monetário internacional volte a adotar o padrão ouro.

Belém do Pará vista do rio Guamá Por land.nick

http://www.flickr.com/photos/nick_land/

Solda, para O Estado do Paraná


Fiocca e Landim serão sócios em gestora de recursos

Fiocca e Landim serão sócios em gestora de recursos
Maria Cristina Frias - Folha de S. Paulo - 09/11/2010
Dois nomes muito lembrados para cargos no governo Dilma Rousseff sinalizam que não estão disponíveis. Demian Fiocca, ex-presidente do BNDES, e Rodolfo Landim, ex-presidente da OGX, de Eike Batista, serão sócios em uma gestora de recursos. O foco vai estar no setor de petróleo e gás.
Landim, que esteve à frente de todas as aberturas de capital das empresas de Eike, de quem era tido como braço direito no desenvolvimento de novos negócios, construiu carreira na Petrobras.
Foi presidente da BR Distribuidora. Foi em seus tempos na estatal que o ex-"cavaleiro" de Eike, hoje desafeto do empresário, trabalhou com a futura presidente.
"Tenho uma dívida de gratidão com Dilma. Foi ela que me fez permanecer na Petrobras. Mas tenho outros planos", diz Landim.
É o que diz também Demian Fiocca, que foi diretor-executivo da Vale, presidente da Nossa Caixa, e secretário de assuntos internacionais do Ministério do Planejamento.
"Estamos em um mesmo momento. Demos nossa contribuição [no setor público]. Agora cuidaremos da nossa "lojinha'", brinca Fiocca.
A nova gestora, cujo nome provavelmente será Mare, terá sede no Leblon, no Rio, e vai investir em ativos da cadeia de suprimentos do setor de petróleo e gás.
"Não entraremos na área de maior risco que é a de produção e a exploração de petróleo", diz Fiocca.
A ideia é funcionar como um fundo de "private equity", que deverá captar cerca de R$ 2 bilhões, entre investidores internacionais, que serão a maioria, e brasileiros. O empreendimento ainda está em fase de captação de recursos e prospecção de investimentos.
Não há nada totalmente fechado, "mas olhamos principalmente áreas de logística de apoio, infraestrutura e equipamento".
Eles pretendem atuar na decisão de alocação de capital e na gestão de empresas em que investirem. "Sei o que vai precisar de investimento, onde não há suprimento", afirma Landim
A Mare terá ainda dois sócios minoritários: Nelson Guitti, que trabalhou com Landim na Petrobras, e Claudio Coutinho, que vinha atuando na área de crédito para a cadeia do setor.
"Tenho uma dívida de gratidão com Dilma. Foi certamente ela a pessoa que me fez permanecer na Petrobras, a partir de 2003. Mas tenho outros planos. Essa fase passou"
RODOLFO LANDIM ex-presidente da OGX
DEVO, NÃO NEGO
A inadimplência completa um ano em queda em outubro, na comparação interanual na região metropolitana do Rio e a parcela de financiamentos sobe. Pesquisa da Fecomércio-RJ mostra que 16% das famílias estavam com alguma conta fixa em atraso, abaixo dos 21% em outubro de 2009. Na tomada de financiamentos, em 2009, 51% dos entrevistados pagavam prestações, sendo que 14% deles tinham parcela atrasada. No mesmo mês deste ano, o percentual de famílias comprometidas com financiamentos chegou a 56%, só 9% com atraso.
PODER AQUISITIVO
Os usuários do iPhone, da Apple, gastam mais no cartão de crédito que os donos do Blackberry, Windows Mobile ou Android, segundo levantamento da companhia americana Pageonce.
A fatura média mensal no cartão de quem possui um iPhone é de US$ 6.872, ante US$ 5.693 dos donos do Blackberry.
Os usuários do Android vêm em seguida, com US$ 5.330. A menor despesa registrada é de quem possui o Windows Mobile: US$ 5.076 por mês, em média.
A empresa analisou 275 mil contas selecionadas aleatoriamente de 1º de outubro a 1º de novembro deste ano. Foram consideradas apenas novas compras.
Prefeitura de SP anuncia PPP de R$ 2 bilhões
A Prefeitura de São Paulo anuncia nesta semana o lançamento da maior PPP (Parceria Público-Privada) já firmada pelo órgão.
Em um contrato previsto em mais de R$ 2 bilhões, a Secretaria Municipal da Saúde vai construir hospitais e centros de diagnóstico, além de reformar os existentes.
O edital de licitação deve sair ainda neste ano, após o período de consulta pública.
Nervos de aço O consumo de inox deve aumentar 25% neste ano, segundo estimativa do Núcleo Inox (associação do setor). As vendas do produto devem retomar o patamar de 2008, antes da crise. Em 2015, o consumo de inox pode alcançar 2,5 quilos por habitante.
Toalha de mesa As vendas do segmento de cama, mesa e banho cresceram 5,5% no mês passado sobre setembro. O levantamento é do Sindicato do Comércio Atacadista de Tecidos de São Paulo, que aponta como uma das causas da alta a demanda de final de ano.
MODELO
Jim Collins, especialista em comportamento de grandes corporações, vai dar hoje uma palestra para executivos do Grupo Pão de Açúcar.
O encontro, que terá 300 convidados, é uma extensão da visita feita pelos diretores-executivos do Grupo a Boulder, Colorado, onde participaram de debates, em junho.
Collins foi trazido ao Grupo por Abilio Diniz, após a leitura de seu best-seller. As análises do pesquisador americano têm servido como reflexão a decisões e modelos adotados pelo grupo.

Prejuízo à educação

Prejuízo à educação
EDITORIAL - FOLHA DE SÃO PAULO - editoriais@uol.com.br
Ao caudaloso histórico de erros e problemas da edição anterior do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), novas falhas vieram se somar neste fim de semana.
Cabeçalhos dos cartões-resposta foram trocados; parte das provas continha questões repetidas ou ausentes; brechas de segurança permitiram que alunos tivessem acesso ao celular e até enviassem mensagens durante o teste.
Em meio a queixas e medidas judiciais, o Ministério da Educação acenou com a reaplicação do exame para quem se sinta prejudicado. O problema é que, numa seleção como essa, o dano de um é a vantagem de outro. Ao não garantir condições de igualdade entre os 3,4 milhões de participantes, os organizadores prejudicaram o exame como um todo.
Até 2008, o Enem servia exclusivamente para avaliar o desempenho de estudantes e escolas do ensino médio. Ao torná-lo um gigantesco processo seletivo, substituindo o vestibular, o governo também pretendeu alterar o modelo pedagógico então vigente.
A nova prova abandonou a ênfase conferida pelos vestibulares aos conhecimentos estanques e à memorização. Questões multidisciplinares e a exigência de raciocínio abstrato, presentes no Enem, deveriam induzir as escolas de ensino médio a "ensinar a pensar" -segundo a gasta fórmula, raramente posta em prática.
Isso só acontecerá se o novo exame de fato se tornar o principal filtro de acesso ao ensino superior. Compete a cada uma das instituições públicas decidir se adere ou não a ele. Desde 2009, muitas universidades têm anunciado o seu desligamento do modelo.
Se o Enem continuar a acumular falhas e descrédito, será difícil convencer novas instituições a adotá-lo. Sucessivos erros de gestão terão inutilizado uma importante alavanca para a melhoria da educação brasileira.

Lute, hoje no Hoje Em Dia (MG)


Queda de braço

Queda de braço
Miriam Leitão - O Globo - 09/11/2010
Os cenários para 2011 ainda estão muito confusos. As incertezas sobre a economia americana e sobre as reações do resto do mundo à guerra cambial não ajudam nesse momento de transição por aqui. O mercado está atento a todos esses movimentos e continua a passar seus recados. O mais evidente é em relação à inflação e à taxa de juros.
Ontem, o Banco Central divulgou pesquisa feita com 64 instituições financeiras, que reforça a posição do mercado, endossada pela autoridade monetária. A pesquisa indica que a queda na taxa de juros, sem risco de inflação, passa necessariamente pela redução dos gastos correntes do governo.
Acontece que no governo não há consenso sobre essa receita, nem na atual equipe econômica, nem entre assessores próximos da presidente eleita, Dilma Rousseff.
No discurso pós-eleição, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, tem defendido uma gestão mais austera das contas públicas para “arrumar a casa” e facilitar a transição de Lula para Dilma. Mas a pressão por gastos é muito grande, em parte por compromissos assumidos no ano eleitoral, e o cobertor do Orçamento é curto. Assim, é provável que o novo governo anuncie alguma medida de impacto na área fiscal para ajustar as contas em um horizonte de quatro anos, mas dificilmente haveria um corte nos gastos correntes na ordem de 1% do PIB, sugerido pelo mercado como saída segura para a redução da inflação e dos juros.
Nos bastidores da transição, colaboradores próximos de Dilma buscam tranquilizar a quem pergunta como seria essa estratégia de testar um novo patamar para a taxa Selic, abaixo da atual. Dizem que não seria na “canetada”, nem abalaria o tripé da economia, mas fica cada vez mais evidente que alguma coisa será tentada além do que sugere a cartilha.
Dinheiro verde I
Estudo da FGV e da Pnuma sobre a atuação de bancos públicos no financiamento de uma economia de baixo carbono mostra que a eficácia do credito verde ainda é pequena. De um lado, falta interesse dos empresários nessas linhas pela complexidade e excesso de exigências na liberação. De outro, é baixa a representatividade do tema no planejamento estratégico das instituições. Isso faz com que o crédito fique disperso nas políticas dos bancos.
— As instituições reconhecem a importância do financiamento público como indutor de uma economia de baixo carbono, mas o processo decisório ainda é orientado por objetivos pontuais, de curto prazo e com baixo envolvimento da alta gerência — diz Paula Peirão, do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV/EAESP.
Dados do TCU mostram que, entre 2008 e 2009, as linhas de crédito público para sistemas sustentáveis e recuperação de áreas degradadas, por exemplo, tiveram só 25% de utilização.
Dinheiro verde II
A maior parte do crédito é destinado à mitigação da emissão de gases de efeito estufa, mas falta criar produtos que financiem a adaptação das áreas atingidas.
— Áreas que sofrem alagamentos, por exemplo, precisam receber dinheiro para minimizar os estragos.
A mesma coisa em regiões que sofrem com a seca — explica a pesquisadora Paula Peirão.
O estudo, que será divulgado hoje, analisou balanços do BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, e também de Fundos Constitucionais de Financiamento.
Sustentável
O Ministério do Planejamento começa a testar um novo modelo de obras na Esplanada dos Ministérios.
Encomendou a escritórios de arquitetura pré-projetos para a construção de um prédio anexo “ambientalmente sustentável”.
A ideia é usar tecnologia que economize água e energia, tornando o edifício modelo para a construção de outros prédios públicos. O vencedor receberá R$ 2 milhões para a elaboração do projeto. Com o sinal verde de Dilma Rousseff, o edital para a construção pode sair no começo do ano que vem.
Figurinhas
A presidente eleita, Dilma Rousseff, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, embarcaram ontem à noite rumo a Seul, para participar da reunião do G-20, em voo que chegará à capital da Coreia do Sul na quarta-feira.
Serão quase 30 horas de convívio na primeira classe, onde haverá tempo para muita conversa. Mantega figura na lista de cotados para permanecer no cargo no governo de Dilma, mas ainda não foi confirmado.
AGILIDADE: A Confederação Nacional dos Municípios (CMN) lança hoje um novo sistema de pregão eletrônico, com software mais moderno, que atenderá a mais de 4 mil municípios, reduzindo custos de suas compras.

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