terça-feira, novembro 09, 2010

Tudo incerto

Tudo incerto
EDITORIAL - FOLHA DE SÃO PAULO - editoriais@uol.com.br
Vitória republicana questiona políticas anticrise adotadas por Obama e torna mais nebuloso o destino das finanças internacionais
O incisivo voto de desconfiança no governo de Barack Obama e em seu Partido Democrata afeta o clima ideológico mundial e pode ter influência decisiva no rumo da economia norte-americana e, por conseguinte, internacional.
Obama e os democratas foram por ora relegados ao canto dos governos e partidos de "centro-esquerda" derrotados em quase toda parte do Ocidente rico.
A maior crise das economias de mercado em 80 anos por ora redundou em vitórias políticas de partidos conservadores, em renovadas críticas às despesas sociais, na reemergência da xenofobia e em discretos protecionismos. Nada menos parecido com o novo mundo de Obama ou dos animados anseios dos críticos do "neoliberalismo" em 2008.
De interesse mais imediato para a economia, a vitória do Partido Republicano no mínimo suspende decisões emergenciais de uma política econômica já hesitante e de sucesso ainda incerto.
De acordo com os críticos mais à "esquerda", Obama foi tímido no estímulo à economia por meio de gastos do governo, além de não ter desenvolvido um programa de incentivo a investimentos em novos setores, como engenharia ambiental, que poderia favorecer uma retomada econômica sem recursos a "bolhas" -uma constante americana desde 1990.
À "direita", o teor dos reparos é o mesmo, mas com sinal trocado. Tal crítica foi vitoriosa nas urnas. Além de refutar todo o programa do presidente americano, os republicanos atacam duramente a intervenção do BC americano.
Do colapso de 2008 até junho de 2011, o Fed terá injetado ao menos cerca de US$ 2,3 trilhões na economia, seja por meio de financiamento direto e indireto a instituições financeiras privadas ou semiprivadas, seja por meio da compra de dívida do governo em poder do mercado. O objetivo dessa abertura inédita de comportas monetárias é reduzir ainda mais as taxas de juros.
Os melhores pensadores da economia americana têm visões opostas sobre a conveniência da diretriz heterodoxa do Fed e da opção por gastos públicos de Obama, políticas que no entanto evitaram uma depressão. Se tal resultado é duradouro ou terá efeitos colaterais daninhos é também motivo de polêmica acerba.
Notório, porém, é o fato de que a combinação de excesso de dólares com baixo crescimento do PIB provoca a desvalorização da moeda americana e a consequente valorização da maioria das moedas do mundo -real inclusive.
Se antes da eleição já era duvidosa a intenção de Obama de criar novos incentivos fiscais, sua derrota deve sepultá-la. A tarefa maior de reavivar consumo e investimento recairá sobre o Fed.
Aventa-se a hipótese de que os republicanos tentem contrair despesas e até pressionar o Fed a moderar seus planos expansionistas. Na visão econômica padrão, o radicalismo republicano poderia reconduzir os EUA à recessão.
Passada a euforia da vitória, o cálculo político mais racional dos republicanos deve levar em conta que medidas radicais por eles propostas poderiam atrair a responsabilidade por uma nova crise, à beira do pleito presidencial, em 2012. Certo é que a vitória republicana tornou ainda mais nebuloso o destino das finanças da maior economia do mundo e, assim, da economia mundial e dos conflitos políticos que ora a envolvem.

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