terça-feira, agosto 17, 2010

Ônibus Espacial Endevour


A cauda de fumaça persegue o ônibus espacial Endeavour , que decola de Cabo Canaveral, Florida, em 11 de março de 2008. Fotografia por Robert Garrett

SPONHOLZ

Mundo pode ter "buraco" na proteção ao clima

Mundo pode ter "buraco" na proteção ao clima
Cancún não deve gerar desenho de novo tratado contra o aquecimento

Ricos e pobres brigam sobre cumprimento de metas; novo tratado dificilmente poderá entrar em vigor em 2013
CLAUDIO ANGELO DE BRASÍLIA - Folha de São Paulo
É cada vez maior entre negociadores internacionais o sentimento de que o mundo ficará sem um acordo de proteção ao clima por algum tempo após 2012, quando expira a primeira fase do Protocolo de Kyoto.
Brasileiros ligados à discussão ouvidos pela Folha afirmam que seria ambicioso demais até mesmo ter o desenho do novo acordo pronto na conferência de Cancún, em novembro. No máximo, alguns pontos pendentes desde a malfadada conferência do clima de Copenhague seriam resolvidos neste ano.
ADIAMENTO
O debate mais importante -quanto os países se dispõem a cortar em suas emissões de gases de efeito estufa- só começaria no ano que vem, na reunião da África do Sul. E nada garante que ele seja resolvido lá.
Como leva um tempo entre a adoção de um acordo internacional e sua ratificação pelos parlamentos dos países (Kyoto, por exemplo, levou oito anos para ser ratificado), dificilmente um tratado entraria em vigor em 2013.
É o que os especialistas chamam de "buraco de implementação".
"Isso teria impactos na luta contra o aquecimento global, sobre o mercado de carbono e sobre o próprio mercado", diz Luiz Alberto Figueiredo Machado, na foto, negociador-chefe do Brasil. Segundo ele, o buraco de implementação poderia sinalizar para a economia que tecnologias limpas não são uma prioridade de investimento, retardando sua entrada no mercado. Foi o que aconteceu com o setor de energia limpa nos EUA em 2001, depois que o presidente George W. Bush rejeitou Kyoto. "Quero que em Cancún sejam dados passos na direção certa, independentemente de chegarmos ao resultado ou não", afirma Figueiredo.
O problema é que "ninguém consegue entrar em acordo sobre qual é o caminho", diz o cientista político David Victor, da Universidade da Califórnia em San Diego, nos EUA.
A CURTOS PASSOS
"O buraco é muito mais do que de implementação. Há um vácuo internacional de governança", afirma Victor. Nesse vácuo, diz, será difícil levantar dinheiro para projetos como para redução de emissões por desmatamento.
Cancún pode ter avanços: é possível que seja anunciada a criação de centros regionais de tecnologias limpas, que usariam a verba de US$ 30 bilhões até 2012 combinada em Copenhague.
Mas o principal avanço, paradoxalmente, deve ser a morte oficial do Acordo de Copenhague.

Pelicano, para Bom Dia (SP)

Ahmadinejad diz que pedido de Lula é inútil

Ahmadinejad diz que pedido de Lula é inútil
O GLOBO
Em rejeição à oferta brasileira de asilo, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, disse que a iraniana Sakineh Ashtiani, condenada à morte, não será enviada ao Brasil. Para ele, não "há necessidade de criar mais confusão para Lula". A Embaixada do Irã questiona se o asilo a Sakineh não faria do Brasil um lugar de criminosos internacionais.
Sem saída para Sakineh Ashtiani
Ahmadinejad rompe silêncio, rejeita asilo e diz não querer criar problemas para Lula
BRASÍLIA e TEERÃ - O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, rompeu o silêncio e entrou em cena ontem para colocar um ponto final no caso de Sakineh Mohammadi Ashtiani a iraniana condenada à morte por adultério e pelo suposto assassinato de seu marido. Após uma semana de intenso vaivém diplomático acerca da proposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de dar asilo à prisioneira, no primeiro pronunciamento público sobre o caso, Ahmadinejad afirmou que não vê necessidade de enviar a condenada ao Brasil.
Há um juiz e, no fim das contas, os juízes são independentes. Conversei com chefe do Judiciário e o Judiciário também não concorda com a proposta do Brasil afirmou Ahmadinejad, em entrevista à estatal Press TV. Acho que não há necessidade de criar mais confusão para o presidente Lula levando-a ao Brasil sentenciou o líder iraniano.
Esquivando-se de polêmicas, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, evitou comentar as declarações.
Mas, o assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, disse acreditar que ainda há espaço para negociação.
Se nós acreditássemos que não ia adiantar, não estaríamos insistindo afirmou Garcia. Essa não é uma questão jurídica, filosófica, teológica, essa é uma questão política, portanto tem que ser tratada pelo governo do Irã como política.
De Teerã, a decisão ecoou em Brasília.
Num comunicado, a embaixada do Irã afirmou que não aceitará nenhuma forma de interferência de outros países em seus assuntos internos.
A embaixada disse considerar a oferta brasileira como um pedido de um país amigo, baseado nos sentimentos puramente humanitários e no espírito do presidente Lula mas insinuou também que há quem tente tirar proveito da condenação de Sakineh para obter benefícios eleitorais.
Infelizmente, alguns grupos de pessoas dentro do Brasil, aproveitando a situação e desconsiderando o interesse nacional de seu país, utilizam esse assunto como um instrumento para reforçarem suas forças políticas e obterem melhor aproveitamento na campanha eleitoral, acusa o texto.

Ahmadinejad é ditador, diz ministro
Na semana passada, o embaixador iraniano em Brasília, Mohsen Shaterzadeh, havia negado que o Brasil fizera uma proposta formal de asilo à mulher.
Desde então, tanto o Itamaraty quanto a diplomacia iraniana têm evitado confrontos e declarações sobre o caso. O texto do comunicado, no entanto, não hesitou em questionar se a concessão de asilo a Sakineh não poderia estimular novos crimes no Irã.
Será que esse ato não promoverá e não encorajará criminosos? Será que a sociedade brasileira e o Brasil têm que ter, no futuro, um lugar dos criminosos de outros países em seu território?, questiona a embaixada.
A pena de Sakineh inicialmente condenada à morte por apedrejamento está suspensa, por enquanto, e muitos acreditam que a Justiça do Irã não deve se pronunciar até o fim do Ramadã. Apesar da negativa oficial de Teerã, o ministro dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, disse que o governo brasileiro segue negociando para que ela venha ao país.
O governo Lula está pressionando diplomaticamente o governo iraniano para que permita que ela venha para o Brasil. E se esse ditador (Ahmadinejad) tiver um mínimo de bom senso, deveria permitir que ela venha morar no Brasil e seja salva afirmou o ministro à Agência Brasil.
Além do Brasil, os apelos insistentes pela vida da mulher se espalharam pela Europa. A porta-voz da Chancelaria francesa, Christine Fages, garantiu que vários países do continente estão estudando todos os meios para impedir a execução.
Presa na cadeia iraniana de Tabriz há quatro anos, a mulher, de 43 anos, mãe de dois filhos, teria sido torturada e obrigada a confessar os crimes de adultério e assassinato numa entrevista na TV estatal iraniana na semana passada.

Waldez, no Amazônia Jornal

Incólumes no lamaçal

Incólumes no lamaçal
O Itamaraty opera no terreno do pragmatismo frio e dos interesses brutos, especialmente os comerciais, mas gostaria de atravessar a lama vestido de branco e sair limpinho do outro lado
Por Alon Feuerwerker – Correio Braziliense

O ministro Celso Amorim publicou artigo neste fim de semana na Folha de S.Paulo para refutar os críticos do tratamento que a política externa reserva aos direitos humanos. A essência do argumento do chanceler: mais vale agir cuidadosamente nos bastidores e obter resultados tangíveis do que fazer barulho e agravar os impasses.
Afinal, toda manifestação brasileira poderá ser vista como ingerência inaceitável nos assuntos internos de outra nação soberana.
Em teoria, uma beleza. Há porém pelo menos um problema na linha argumentativa do titular do Itamaraty. Ela cai bem nas situações para as quais foi confeccionada. Mas infelizmente não se encaixa em outras.
Uma exceção evidente é o duplo padrão dos votos brasileiros na ONU em temas de direitos humanos.
O Brasil comporta-se ali com extremo cuidado quando o alvo são tiranos aliados do atual governo brasileiro, ou países despoticamente comandados mas prenhes de oportunidades comerciais. Já quando a pauta traz acusações a adversários, explícitos ou não, somos tomados por um principismo granítico.
Aí os direitos humanos passam a ser inegociáveis.
Agir com cuidado, não soar os tambores antes da hora, respeitar (ou pelo menos fingir que se respeitam) os limites da interferência na economia doméstica alheia, eis o cardápio dos itamaratecas quando o cenário estratégico recomenda a defesa do status quo. Já quando interessa ao Brasil a desestabilização (ou impedir a estabilização) de regimes antipáticos, ou incômodos, a conversa é outra.
Tem sido o caso de Honduras. Quando o chanceler fala em discrição, lembro sempre de como ele veio a público, logo após a deposição do presidente Manuel Zelaya, para prognosticar que o novo regime não duraria muito e que deveria ser isolado internacionalmente. Aliás toda a estratégia brasileira no episódio baseou-se nisso.
Na solenidade de posse do novo primeiro mandatário colombiano dias atrás, Luiz Inácio Lula da Silva recusou-se a tomar o mesmo ônibus do presidente hondurenho, recentemente eleito. Afinal, a eleição em Honduras foi o epílogo de um golpe de estado. O fato de Zelaya ter desencadeado a confusão, tentado ele próprio um golpe antes de ser ilegalmente deposto, não entra na narrativa de Lula ou de Amorim.
O governo do PT milita na linha de frente pela readmissão plena de Cuba na Organização dos Estados Americanos (OEA), sem precondições. É razoável, à luz dos princípios da não ingerência. É aliás a posição brasileira desde a redemocratização. Mas o mesmo governo resiste heroicamente à normalização das relações hemisféricas com Honduras, porque tem objeções a aspectos da política interna hondurenha.
Ou seja, a coisa toda não para em pé. É a era dos argumentos à la carte. Para cada situação uma explicação diferente, sem que umas precisem necessariamente encaixar-se nas outras.
Não haveria problema se o Itamaraty assumisse abertamente que sua política é pragmática mesmo. Lembram-se do “pragmatismo responsável”? Pois é.
O Itamaraty opera no lodaçal da realpolitik e dos interesses brutos, especialmente os comerciais. Sua cartilha é a da relativização absoluta dos princípios, mas pretende atravessar o lamaçal vestido de branco e sair limpinho do outro lado.
Daí que de vez em quando alguma autoridade da área compareça ao palco para desfilar princípios morais e éticos, apenas para voltar à rotina em seguida.
E agora?
O Irã recusou a proposta brasileira de mandar para cá a condenada ao apedrejamento. Por “adultério” ou outros crimes, já que o singular sistema jurídico iraniano parece permitir a metamorfose das acusações conforme a conveniência de quem deseja condenar.
Independente do desfecho, Lula poderá dizer agora que tentou fazer algo para evitar a crueldade. E o Irã continuará a fazer o que bem entende na esfera dos (poucos) direitos humanos. O que não impedirá o Brasil de seguir aliado ao Irã.

Alecrim

O colapso da polícia científica

O colapso da polícia científica

Estadão
 Enquanto no plano político dirigentes governamentais acenam com a possibilidade de construção do trem-bala e de outros projetos de duvidosa prioridade que exigem investimentos vultosos da União e dos governos estaduais, no cotidiano de algumas áreas da administração pública a situação é de carência de recursos humanos, de infraestrutura adequada e de equipamentos modernos. Isso pode ser visto nas escolas públicas, na rede médico-hospitalar e na área de segurança.
Reportagem publicada domingo no Estado mostra que, em matéria de perícia criminal, o quadro é sombrio. Em quase todo o País, a polícia científica não dispõe de maletas com kit de varredura de locais de crime e acidentes. Os peritos carecem de notebook, trena a laser, máquina fotográfica digital e até de material para exame de DNA e exame de balística com microcomparador. Sem esses equipamentos, é quase impossível produzir provas documentais para esclarecimento de homicídios e latrocínios. Muitas vezes, os peritos são obrigados a trabalhar somente com lápis e papel.
Em vários Estados, a polícia científica também não conta com laboratórios nem com reagentes químicos para fazer os exames mais elementares com o objetivo de identificar causas de mortes e produzir provas materiais. Faltam ainda cromatógrafos gasosos, luz forense, luminol e laboratório de fonética.
Por falta de veículos, há municípios em que os corpos de vítimas de acidentes de trânsito ficam até dez horas à espera de remoção. E as câmaras frias para a conservação de corpos têm mais de 30 anos de funcionamento e vivem quebrando. E, como também não há geladeiras em número suficiente, muitas vezes os corpos têm de ser sepultados às pressas, sem a realização de autópsia - e depois, havendo necessidade de apurar se a morte derivou de crime, acidente e causas naturais, é preciso exumar o corpo.
Para atender os 5.560 municípios brasileiros, existem somente 60 Institutos de Criminalística e Institutos de Medicina Legal. Segundo os especialistas, seriam necessárias, no mínimo, mais 300 unidades. A média considerada adequada é de um instituto para cada 15 cidades.
Para atuar nas 32 especialidades de perícia criminal adotadas pelo Brasil, conforme a legislação penal, existem cerca de 12 mil peritos. Como pelas recomendações dos organismos internacionais a média adequada é de 1 perito para cada 5 mil habitantes, o País tem uma carência de 26 mil peritos.
Os serviços mais precários estão no Norte e Nordeste e os mais eficientes, no Sul e Sudeste. E as deficiências mais graves estão nos Estados de Sergipe, Rio Grande do Norte, Maranhão e Roraima, nos quais a maioria dos equipamentos para a realização de perícias e exames científicos está faltando.
Na falta de câmaras frigoríficas, por exemplo, os IMLs do Maranhão utilizam geladeiras comuns para guardar corpos. Em vez de luz forense multiespectral, a polícia científica sergipana utiliza nas análises uma precária luz ultravioleta - e ela está queimada. Em Pernambuco, o Instituto de Criminalística não está preparado para fazer exame de DNA e as poucas maletas de perícia não dispõem de notebook digital. Já o Rio Grande do Norte conta com laboratório de DNA, mas não tem funcionários para operá-lo. Em Roraima, como faltam equipamentos laboratoriais e reagentes químicos, determinadas perícias somente são concluídas se houver empréstimo de material pela iniciativa privada. Embora não disponha de laboratório de DNA, câmaras frias no IML, cromatógrafos e luz forense, o Piauí conta com um microcomparador balístico, que compartilha com o Maranhão e o Ceará.
A consequência inevitável do sucateamento da polícia científica no País é o baixo índice de esclarecimento de homicídios. A média nacional é de 25 crimes esclarecidos a cada 100. Mas nos Estados onde a perícia criminal praticamente inexiste, o índice cai para 2,8%.
Para reduzir a violência não basta só a repressão - acima de tudo, é preciso inteligência, equipamentos de ponta e uma polícia científica preparada e devidamente equipada. Sem isso, não há como debelar a crise de segurança pública.

AROEIRA

O paradoxo vai às urnas

O paradoxo vai às urnas
16/08/2010 - 23h19min - Por Wilson Figueiredo - Jornal do Brasil
A contribuição decisiva de Lula, nos dois mandatos insuficientes para dar conta do que se propôs e do que não se propôs fazer, mas faz, será inevitavelmente o teste de carga a que está submetida a democracia nesta campanha presidencial. Depois de se eleger, se reeleger com mais votos e não poder mais ser candidato, o presidente resolveu transferir o excesso de popularidade à candidata que lançou antes que o PT e a arraia miúda da representação parlamentar retomasse o terceiro mandato e comprometesse o Congresso Nacional nas consequências que esperam apenas oportunidade. O nó político que amarra o explícito e o implícito na sucessão presidencial é que tudo está sendo feito para a vitória, sem um plano B. Pesquisas não têm o monopólio da verdade nem o dom de ler o futuro em urnas vazias.
Nos períodos precariamente democráticos, nunca o governo brasileiro funcionou como partido político de maneira escancarada, sem salvar as aparências: do alto da popularidade, o presidente Lula descortina mais do que a vista e a lei alcançam. A ordem para os ministros se organizarem num comitê eleitoral superior e municiarem a candidata oficial de versões e números (sem falar no que não deve ser falado) era o que faltava para viciar o jogo eleitoral e comprometer diretamente o próprio presidente. Não falta mais. Governo envolvido até o pescoço em eleições não sai impunemente de uma derrota. Perdedor não escreve a história. A candidata pode, mas o governo não pode perder. Seria, no mínimo, o fim da picada (no bom sentido).
Eis a questão que agrega preocupação à atual versão de democracia à beira do abismo. Na série da eleição direta de presidentes por maioria absoluta de votos, este que se desenha diferente é o sexto mandato, e o primeiro digno de atenção, pois a candidata já sabe que não pode cogitar de reeleição, que é reserva de mercado eleitoral do próprio Lula. A derrota seria de consequências inesgotáveis, mas a vitória poderá ser pior. Na versão constitucional anterior (1946 a 1964), quatro presidentes eleitos pelo voto direto eram vulneráveis pela maioria simples com que se elegiam governantes em nome da democracia, mas em proveito da crise oculta. Foi o ciclo da dúvida sistemática em relação à legitimidade dos vencedores por maioria simples. 
A iniciativa de instrumentalizar o poder federal para garantir a vitória de uma candidata que não pode perder arrastará nas consequências o todo-poderoso dono de intenções de votos que aprovam seu modo de governar. Não há como disfarçar o paradoxo inédito que está se armando: o governo não pode perder mas, se vencer, não terá como resolver o dilema da reeleição com dois candidatos inseparáveis. A reeleição entrou equivocadamente na vida brasileira e não será retirada sem abalar, no mínimo, os alicerces da República.

J. Bosco para O Liberal

População brasileira está envelhecendo, diz IBGE

População brasileira está envelhecendo, diz IBGE
Valor Online
O primeiro balanço do Censo 2010 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) comprova a tese dos economistas de que a população brasileira está envelhecendo, registrando crescimento considerado praticamente vegetativo.
Além disso, o arranjo familiar no Brasil está sendo modificado, com cada vez mais pessoas morando sozinhas e com famílias dirigidas por apenas uma pessoa, na maioria das vezes por mulheres.
Dos 9,6 milhões de domicílios já visitados pelo IBGE desde o início de agosto, foi possível perceber redução da média de moradores por unidade. No último censo, realizado em 2000, a média era de 3,8 pessoas por domicílio, enquanto neste ano a média já é de 3 a 3,4 moradores.
"Isso é reflexo do processo de envelhecimento da população, de crescimento quase vegetativo, e, principalmente, de uma mudança nos arranjos familiares no Brasil, o que mostra que vão encontrar muitos domicílios com pessoas que não são idosas morando sozinhas. Isso não é somente porque as famílias estão diminuindo, as famílias estão mudando", disse o presidente do IBGE, Eduardo Pereira Nunes.
A meta do IBGE é visitar 58 milhões de domicílios até 31 de outubro. Somente nas duas primeiras semanas de trabalho, já foram visitados 16,5% do total. Foram recenseados mais 33 milhões de habitantes, o que equivale a cerca de 17% da população.
Há locais em que o ritmo das entrevistas é mais rápido. Em Rondônia, 28,2% dos domicílios programados já foram recenseados. Em seguida, aparece Sergipe (27,2%) e Ceará (25,5%).
Nas grandes cidades, o ritmo de entrevistas realizadas pelo IBGE é um pouco mais lento, devido, em parte, à recusa de moradores em receber o recenseador, mas também pela dificuldade de encontrar o morador. Muitas vezes, o representante do IBGE vai a domicílios no horário em que os moradores estão trabalhando ou estudando, podendo voltar à noite ou no final de semana.
Em São Paulo, já foram recenseados 11% dos domicílios programados e, no Rio, 18,6%.
Na região norte do país, há dificuldades adicionais em realizar as entrevistas com os moradores, devido às grandes distâncias entre as casas e à existência de regiões com dificuldade de acesso.
O presidente do IBGE disse que a instituição não encontrou dificuldades em áreas consideradas de risco nas grandes cidades. No entanto, foram registrados problemas de acesso a condomínios de alto luxo. "Isso não é exclusividade do Brasil. Acontece no mundo todo."
Os estados do Rio Grandes do Sul, Santa Catarina e São Paulo registraram atrasos maiores na realização das entrevistas devido à demora na entrega dos coletes utilizados pelos recenseadores para a visita à população.
Dos 250 mil coletes encomendados, cerca de 40 mil não haviam sido entregues até o dia 1º de agosto, quando começou a pesquisa.

O bacharel sem carteira

O bacharel sem carteira
LUCY VEREZA
O GLOBO - 16/08/10

As numerosas e frequentes reprovações, de que se tem ciência, nos exames da Ordem dos Advogados do Brasil para o acesso à carreira jurídica retratam a situação em que se encontra o ensino de Direito no país.
Deficientes no domínio da técnica e do conteúdo jurídicos, acrescentando-se o uso desastroso da língua portuguesa, os recém-formados, provindos das faculdades de Direito, não apresentam, por suas limitações, capacidade para exercer as funções no campo de trabalho.
Há poucas décadas, atos surpreendentes praticados por novos advogados, desde erros na condução dos processos até a impossibilidade de fazer entender, por escrito e verbalmente, às autoridades judiciais, o motivo da lide que propuseram patrocinar, levaram muitos deles a cumprir sanções aplicadas pela Ordem dos Advogados do Brasil.
As restrições impostas pela Ordem dos Advogados do Brasil, cumprindo o seu objetivo de proteger e defender a prática jurídica em benefício da justiça social, desaguaram na adoção de um sistema seletivo rigoroso conferido aos novos bacharéis.
Avaliado o grau de competência e alcançada a aprovação, o bacharel faz jus à titularidade da Carteira de Advogado, passaporte para o exercício da profissão.
Configura-se uma situação educacional esdrúxula: as faculdades não atendem mais às exigências requeridas para a formação do bacharel em Direito. As informações recolhidas pelo estudante de Direito, ao longo do curso, representam uma indisfarçável escassez do conhecimento e da prática jurídica, tal prova a proliferação dos cursos de adestramento para os exames da Ordem dos Advogados do Brasil, cercados de variadas publicações de livros e de apostilas vendidas nas bancas de jornal.
A situação remete-me à lembrança um episódio do tempo em que lecionava na escola primária. Ao aconselhar um aluno que encapasse o caderno escolar, ouvi uma resposta ditada pelo ágil raciocínio infantil: “Então, vamos colocar uma capa e outra por cima desta, porque a de baixo pode estragar.” Penso que o exame da Ordem dos Advogados do Brasil é a segunda capa que cobre o ensino nas faculdades de Direito.
É de justiça assinalar que se excluem desta generalização as faculdades de Direito reconhecidas pela aptidão e idoneidade.

Na avaliação da aprendizagem promovida pelas faculdades de Direito, incidem fatores relevantes que estão aguardando a atenção dos interessados na proposta formativa dos novos profissionais. O primeiro desses fatores diz respeito aos que desejam ingressar na carreira de Direito.
Os pressupostos ao ingresso em uma faculdade de Direito estão se tornando cada vez mais inconsistentes e rarefeitos, facilitados pelos mecanismos atuais — nem sempre eficazes — de avaliação.
O inventário vestibular das qualidades do candidato não condiz, muitas vezes, com o nível do curso superior que o espera, onde a rotina didática requer o exercício constante da leitura, do raciocínio, da reflexão, sem aludir à formulação de conceitos e ideias. Não raro, os históricos escolares do candidato, vazios da aprendizagem dominante da leitura e da escrita, não o favorecem, ainda que transpostos nove anos letivos na escola fundamental e três no ensino médio.
Outro fator diz respeito ao corpo docente, o responsável pela dinamização do aprendizado e da interação com o grupo acadêmico.
O conhecimento jurídico seguro, o compromisso com a missão social que lhe incumbe, a utilização das estratégias didáticas, o interesse no aprendizado dos estudantes, obrigações conferidas ao professor, têm sido acompanhados e revistos? Da mesma forma, os conteúdos do programa de Direito, na diversidade das suas áreas e disciplinas, têm sido objeto de apreciação na correspondência do que é exigido para o exercício da profissão? O exame da Ordem dos Advogados do Brasil é uma iniciativa que visa a avaliar as lacunas e incorreções instaladas nos cursos jurídicos, ao encerramento destes.
Todavia, seria do maior brilho educacional que a Ordem dos Advogados do Brasil não só chamasse à seleção no término do curso, como vem operando, mas se determinasse a acompanhar e orientar paralelamente a evolução dos cursos jurídicos, passando pelos procedimentos de ingresso, execução docente e tratamento do conteúdo dos programas
Será uma empresa completa de começo, meio e fim, que, seguramente, renderá bons frutos ao ensino jurídico no país.
LUCY VEREZA é professora de Direito na Faculdade Hélio Alonso, no Rio

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