sexta-feira, setembro 24, 2010

O pilar da liberdade

O pilar da liberdade
Roberto Freire - BRASIL ECONÔMICO
Desde seu surgimento na Ágora ateniense, a democracia se distinguiu como um sistema de governo que sempre teve por base a autonomia de seus participantes e a liberdade de expressão.
Local de exercício do logos - capacidade de por meio da palavra e do pensamento, influir na organização da cidade -, a polis grega foi o lócus da emergência das mais fundas tradições do mundo ocidental: a ideia de liberdade como norma para participação da política e do livre pensar como definidor da cidadania.
Desde então, até sua consolidação como sistema de governo adotado por nossa tradição ocidental, muitas lutas foram travadas ao longo da história da humanidade, até que os ideais de autonomia e liberdade fossem transformados em valor inquestionável e conquista do humanismo.
Não por acaso, todo governo autoritário, ou com essa vocação, a primeira coisa que busca de forma persistente é tentar tornar letra morta o preceito da liberdade de expressão e obstar a liberdade de imprensa, como primeiro e inevitável passo para cercear a própria atividade política, materializada no Parlamento.
Em nosso país, a liberdade de imprensa sempre foi um estorvo para forças não democráticas, justamente pelo papel que sempre representou de instrumento da cidadania ao denunciar seus abusos contra a ordem democrática, quando na gestão do Estado.
Não por acaso, a intelligentsia do PT, bem como suas mais destacadas lideranças, desde sua fundação sempre teve a imprensa como inimiga de seu projeto de poder.
Como ficou evidente, logo após a posse de Lula, atente-se para os primeiros projetos de lei visando "regular" o exercício do jornalismo no país, por meio da criação de um Conselho Federal de Jornalismo e Conselhos Regionais de Jornalismo, integrados por jornalistas com a atribuição de "orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão de jornalista e da atividade do jornalismo".
Sem falar do desejo de expulsar do país o correspondente do New York Times, Larry Rohter, por conta de suas matérias que muito desagradaram ao presidente Lula, usando para tanto a legislação oriunda da ditadura militar, de triste memória.
O fato é que depois do mensalão, e dos variados casos de corrupção no governo, coroado agora com mais um escândalo envolvendo diretamente a Casa Civil, responsável pela articulação política do governo, o PT, a partir do presidente da República, e suas entidades cooptadas decidiram partir para o ataque direto contra a imprensa e a liberdade de expressão.
No exato momento em que se avoluma uma série de denúncias que põem a nu a estrutura de funcionamento do governo Lula, sem que sejam desmentidas, todo seu governo é mobilizado contra a missão essencial de todo jornalismo, que é de informar a sociedade. E coloca-se frontalmente contra o direito constitucional de liberdade de expressão, ameaçando de forma clara o Estado de Direito, tão duramente conquistado.
Sabemos, por experiência própria, que sem liberdade de imprensa não existe sociedade livre! A hora, pois, é de mobilização em defesa da democracia!
Roberto Freire é presidente do PPS

Waldez, no Amazônia Jornal


Anatomia de um aparelho lulopetista

Anatomia de um aparelho lulopetista
Editorial O Globo - 24/09/2010
Acena do vídeo em que Maurício Marinho embolsa, sem cerimônia, um maço de cédulas foi o estopim da crise do mensalão. Chefe do Departamento de Compras e Contratações dos Correios, plantado na estatal pelo PTB de Roberto Jefferson, Marinho era a prova viva da montagem de um esquema de corrupção dentro da empresa pública, com fins político-eleitorais. Jefferson considerou aquilo uma manobra palaciana contra ele, um fiel aliado, e, então, decidiu denunciar o esquema montado por José Dirceu e outros - segundo autos do processo a ser julgado no STF - com a finalidade de bombear dinheiro sujo para um esquema de compra de apoio parlamentar ao governo.
A grande repercussão do caso deixou os Correios em segundo plano. Mas agora, na descoberta do bunker lobista montado na Casa Civil, em que atuavam um filho da ministra Erenice Guerra e pelo menos mais dois funcionários de livre passagem pela portaria do Planalto, a estatal retorna ao noticiário, e, na essência, pelo mesmo motivo que em 2005: traficância de interesses, facilitada porque a empresa continuou a ser moeda de troca no jogo de baixa política que o Planalto aceitou executar na montagem de uma ampla e eclética aliança partidária.
Se aparelhos foram montados na Era Lula por motivação ideológica, como nas capitanias doadas a movimentos ditos sociais (MST e satélites) no Incra, Ministério do Desenvolvimento Agrária e outros recantos da máquina sustentada pelo contribuinte, os Correios (ECT) ficaram reservados para nomeações políticas companheiras e de aliados, com prioridade para o PMDB - partido também agraciado com o setor elétrico, assim como corporações sindicais lotearam o Ministério do Trabalho e se apossaram da Petrobras. O caso de Erenice e sua grande família, se não destampou por inteiro a caixa-preta dos Correios, ao menos permitiu se ter alguma ideia dos estragos feitos pelo aparelhismo numa empresa que já foi sinônimo de eficiência entre as estatais, durante muitos anos bem situada nos rankings de confiabilidade feitos com base em pesquisas de opinião. Noticia-se que Erenice Guerra, sucessora de Dilma Rousseff, de quem era principal assessora na Casa Civil, tomara os Correios para si. Por este motivo, deduz-se, o filho lobista Israel Guerra foi pilhado mercadejando facilidades para uma empresa de cargas aéreas junto à ECT. Soube-se depois que os Correios também serviram para a prática do nepotismo cruzado: o presidente da estatal, David José de Matos, do PMDB de Brasília - outro território de fácil trânsito da ministra recém-defenestrada - teve a filha, Paula Damas de Mattos, contratada como assessora da Casa Civil. Em troca, azeitou a contratação de um dos irmãos de Erenice, José Euricélio, na Novacap, de Brasília, empresa sob influência de David José, e da qual foi secretário-geral. O conjunto da obra de demolição da ECT pela politicagem, compadrio, corrupção e outras mazelas fatais reforça a necessidade de um projeto de privatização inteligente dos serviços de correios. Como o executado nas telecomunicações, com empresas privadas competindo entre si. Na telefonia, um dos resultados é que hoje existe quase um aparelho celular por habitante, e ainda há sobra de linhas fixas, um sonho delirante há 20 anos.
Mas a oposição será grande, por motivos evidentes. Mesmo que se esteja às portas de um apagão postal, pelas mesmas razões.

Pijama e capa preta

Pijama e capa preta
RUY CASTRO - FOLHA DE SÃO PAULO - 24/09/10
Poucos meses depois do suicídio de Getulio Vargas, em agosto de 1954, o presidente Café Filho abriu o palácio do Catete para visitas ao quarto onde Getulio se matara. Meu pai me tomou pela mão e fomos de bonde até lá. Não que ele simpatizasse com Getulio. Ao contrário, tinha-lhe horror desde 1937, gostava mesmo era de Carlos Lacerda. Acho que só queria certificar-se de que Getulio morrera de verdade.
Na minha memória de garoto de seis anos, ficou a imagem da cama cercada por uma corda verde-amarela e o pijama listrado, dobrado sobre a colcha creme. Mas o pijama pode ser uma ilusão da memória. De tanto ver na Cruzeiro as fotos do peito nu de Getulio e do paletó de pijama, ambos chamuscados e com o buraco da bala, o pijama exposto ao público seria, talvez, imaginação.
Naquela época, para mim o pijama de Getulio só tinha paralelo nos jornais com a capa preta de Tenório Cavalcanti. Tenório era deputado federal, dono do jornal popular A Luta Democrática e morava numa casa-fortaleza em Caxias (RJ). Vivia sofrendo atentados, aos quais respondia com a metralhadora, chamada 'Lourdinha', que escondia sob uma sinistra capa coimbrã.
Enquanto um único tiro matara Getulio, dizia-se de Tenório que tinha 47 marcas de balas no corpo, fora as facadas. Era a capa que o tornava inexpugnável e, de tanto ser fotografada, ficou famosa. Certa vez, na Câmara, tirou dela um revólver e o apontou para seu colega, o jovem Antonio Carlos Magalhães, que o chamara de ladrão. O futuro ACM foi poupado porque teve incontinência urinária.
A capa dava a Tenório um quê de Zorro da Baixada Fluminense. Pois acabo de saber que, nos anos 80, o lendário Tenório, já aposentado, deixava seu neto, Fabio Tenório, brincar de Zorro com ela pelos corredores da fortaleza. Que mimo. Nenhum símbolo dura para sempre.

SPONHOLZ


Filho de Franklin deu palestra na fase de criação da EBC

Filho de Franklin deu palestra na fase de criação da EBC
Cláudio Martins fez uma exposição técnica para os funcionários da estatal[br]na implantação da TV Brasil, entre 2007 e 2008
Leandro Colon / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
 O jornalista Cláudio Martins, filho do ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, deu sua contribuição para a criação da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Até fez exposição técnica aos funcionários da estatal durante a implantação da TV Brasil, entre 2007 e 2008. O comando da EBC sabia, ainda, que ele trabalhava na Tecnet em dezembro de 2009, quando a empresa fechou contrato de R$ 6,2 milhões para cuidar dos arquivos digitais da TV Brasil.
As informações foram confirmada ontem pela própria EBC, em respostas enviadas ao Estado. "No início da implantação da EBC, ele (Cláudio Martins) foi convidado pela área técnica para fazer uma exposição sobre cenários virtuais e não recebeu qualquer remuneração por isso", disse a TV estatal. Segundo a EBC, Ricardo Collar, secretário executivo da emissora, "tinha notícias de que Claudio Martins era funcionário do grupo Tecnet".
Foi Collar quem assinou, no dia 11 de dezembro de 2009, documento autorizando a EBC a fazer o pregão presencial, às pressas, no dia 30, que deu vitória à Tecnet na concorrência contra a Media Portal. Cláudio é representante comercial da Tecnet há dois anos. A empresa faz parte do grupo que dirige a RedeTV!. O filho do ministro negocia softwares e tecnologia da empresa no exterior e no Brasil.
Em entrevista ao jornal Brasil Econômico, publicada ontem, ele admite que mostrou ao pai o produto oferecido pela Tecnet e comprado pela EBC. Segundo o jornal, a frase foi a seguinte: "Ele (Franklin) nunca me deu bola sobre esses assuntos. O que eu fiz foi mostrar (o sistema) e dar minha opinião. É como se eu dissesse que o Playstation é melhor do que o Wii".
"Ser filho de ministro é pior que ter Aids", afirmou Cláudio. Também disse que nenhum outro veículo de comunicação tentou falar com ele. O Estado tenta desde segunda-feira - por telefone, ligando de Brasília para a empresa, e na sede, em São Paulo.
A EBC confirmou que o filho de Franklin esteve na festa de inauguração da TV Brasil, em São Paulo, em dezembro de 2008. Segundo a assessoria, a direção da EBC tinha ciência das relações de Cláudio com a RedeTV!. O Tribunal de Contas da União investiga o contrato. O procurador Marinus Marsico, que representa o Ministério Público no TCU, vai pedir os documentos sobre a concorrência e apurar suspeita de tráfico de influência. A EBC é a única emissora de TV brasileira cliente da Tecnet na área digital. Dono da Media Portal, única adversária da Tecnet na concorrência, Fábio Tsuzuki admitiu ao Estado que ajudou a EBC no edital da licitação. E-mails da EBC mencionam que Franklin deu "prioridade zero" ao contrato.

Alecrim


Filinto Müller: Prestes foi vítima da própria vaidade

Filinto Müller: Prestes foi vítima da própria vaidade
JORGE BASTOS MORENO – O Globo
Se um dia eu escrevesse um livro, minhas histórias começariam por um dos mais polêmicos personagens da política brasileira: Filinto Müller, que, entre as inúmeras funções públicas que ocupou, algumas até mais relevantes do que esta, será sempre lembrado como o chefe de Polícia do Estado Novo, o carrasco de Vargas.
Por que começar com Filinto? Nasci e cresci ouvindo esse nome. Amado pelo povo da minha terra, Mato Grosso, só quando deixei a província é que descobri que Filinto era odiado pelo país inteiro. E ele cruza minha vida profissional logo que passei a conviver com Ulysses Guimarães e Tancredo Neves. A memória de Ulysses era mais fresca, pois conviveram muito, cada um de seu lado — ele como presidente do único partido de oposição e Filinto como presidente da Arena.
Biograficamente, a história de Filinto é, no mínimo, instigante. Esse homem participou dos momentos mais interessantes da nossa História: da Revolução de 22 à ditadura de 64 e até o governo Geisel, em cujo mandato morreu, como presidente do Senado, vítima de acidente aéreo.
— O Filinto me confessava que tinha medo de ser assassinado, tanto que só andava com seguranças — contava Ulysses.
Entre as atrocidades praticadas pelo carrasco da ditadura Vargas, uma das mais conhecidas foi a prisão de Luiz Carlos Prestes, de quem tinha sido companheiro na Coluna Prestes, e a deportação da mulher do líder comunista, Olga Benário, para a Alemanha nazista.
Não convivi com Filinto Müller, mas a generosidade dos amigos me ajudou a colecionar histórias fantásticas da sua vida. De Tarcísio Hollanda, um dos maiores repórteres deste país, ganhei, por exemplo, um depoimento histórico de Filinto, onde ele conta tudo e, pela primeira vez, fala de Olga Benário. Parte dessa preciosidade foi publicada pelo "Jornal do Brasil", onde Hollanda trabalhou. Do jornalista e escritor Fernando Morais, autor de "Olga", recolhi histórias fabulosas, como a de uma chantagem, nunca comprovada, de que Filinto teria sido vítima, ainda na ditadura de Vargas, por consumo de entorpecentes.
Mas eu destaquei para vocês um trecho muito interessante do perfil de Prestes, traçado por Filinto. O depoimento é suspeito, já que a mágoa era recíproca. A de Prestes, naturalmente, por razões mais nobres.
Eis o trecho:
"( ...) O próprio Prestes é sincero em suas convicções. Homem inteligente e culto, deixou-se dominar por suas ideias políticas a ponto de colocar sempre a URSS acima de tudo, esquecido de que sua Pátria é o Brasil.
Além desse imperdoável aspecto de sua personalidade, há outro defeito que reputo muito grave em Prestes: é a sua extrema vaidade. Foi por vaidade que Prestes sempre colecionou, metodicamente, cópias de suas cartas, relações de pessoas com as quais mantinha contato, tornando-se assim, por ironia da sorte, um bom informante da polícia.
Quando apreendemos seu arquivo na Rua Paul Redfern, encontramos nele um rico repositório de informações. Entre outras, ali estavam referências a Harry Berger, o enviado de Komintern. Mais tarde, o arquivo apreendido na Rua Honório Gurgel, no Méier, nos proporcionou elementos para efetuar diligências importantes e comprometeu muita gente. Finalmente, em 64, um terceiro arquivo de Prestes deu dados valiosos à polícia.
É certo, portanto, o que afirmo: a vaidade pessoal transformou Luiz Carlos Prestes num ótimo 'informante' da polícia."

O resultado da capitalização da Petrobrás

O resultado da capitalização da Petrobrás
Adriano Pires O Estado de S. Paulo - 24/09/2010
 Encerrou-se ontem o bookbuilding da oferta da Petrobrás. A capitalização da Petrobrás vai ser concluída hoje com a presença na Bovespa do presidente Lula e de outros ministros no lançamento das novas ações da empresa. A oferta, que será a maior já realizada no Brasil e no mundo, deverá atender tanto aos interesses da estatal, com a entrada de dinheiro novo e a possibilidade de contrair novos empréstimos, quanto do governo, que terá aumentado a participação acionária na empresa.
A oferta pública total de papéis deve variar entre R$ 111 bilhões e R$ 132 bilhões. Desse total, R$ 74,8 bilhões serão usados pela Petrobrás para comprar da União os 5 bilhões de barris de petróleo oriundos da cessão onerosa. Segundo notícias que circulam no mercado, o governo já teria conseguido aportar algo em torno de R$ 70 bilhões do montante de R$ 74,8 bilhões. Caso isso tenha ocorrido, subiria a participação atual de 39,2% para perto de 45%. Essa participação pode ser maior dependendo do preço final da ação e da decisão da empresa e dos bancos coordenadores de colocar o lote adicional integralmente. Ou seja, caso o lote adicional chegue a 20% da distribuição original. A expectativa é que o preço final das ações preferenciais fique em torno de R$ 25.
A capitalização é essencial para a Petrobrás fazer face aos investimentos de US$ 224 bilhões previstos para os próximos cinco anos no plano de negócios da empresa divulgado em 21 de junho, sem incluir os investimentos nas áreas do pré-sal tratadas no Projeto de Lei que permite a capitalização por meio da cessão onerosa. Com uma dívida total de R$ 100 bilhões, a estatal está próxima do seu limite máximo de endividamento. No fim do ano passado, a taxa de alavancagem da empresa, dada pela relação entre a dívida líquida (R$ 71 bilhões) e o patrimônio líquido era de 31%, a maior desde 2004. Para manter a classificação de investment grade das agências classificadoras, a empresa deve manter a sua alavancagem abaixo do teto de 35%, índice imposto pela sua política financeira. Sem a capitalização, portanto, a captação de empréstimos comprometeria esta política e encareceria o próprio custo dos empréstimos.
A capitalização da Petrobrás é mais uma jabuticaba. Será a maior do mundo, porém sem nenhum risco de não ter sucesso, já que no limite o governo compraria todas as novas ações e é uma capitalização com cara de estatização, dado que entre 80% a 90% da oferta total será adquirida com dinheiro público.

CAPA do Jornal EXTRA de 24/09/2010


Uma campanha que ensurdece

Uma campanha que ensurdece
Maria Cristina Fernandes - VALOR ECONÔMICO
Nos comícios que tem animado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva custa a falar. Ao ser anunciado, é precedido pela plateia que grita seu nome e canta o "Lula-lá" da campanha de 1989. Quando começa a falar, Lula ainda divide espaço com o barulho da multidão, que silencia aos poucos até ser novamente inflamada.
Num desses comícios, Lula disse que os donos de jornal e revistas não devem ler suas publicações senão se envergonhariam do produto que estão entregando a seus leitores. O argumento pode não estar completamente desprovido de razão, mas a voz rouca dos comícios que frequenta o está ensurdecendo. O presidente também não deve estar assistindo às reprises de seus comícios. Veria que não há do que se orgulhar.

Política é comunicação, teorizou seu antecessor, que ganhou duas eleições sem o dom de se dirigir às massas. Inspirado pela convicção de que não tem rival em palanque, Lula tem sido abandonado por sua proverbial inteligência ao reagir à onda de denúncias em que se afunila a campanha.
Eleitor não passa de mãos nem é joguete de mistificações
É um despautério que o presidente da República suba num palanque e diga que os donos da voz lhe têm ódio. A animosidade é transmitida à sua candidata, que exibiu descontrole e a veia saltada na lateral da testa ao brandir papeis no ar em contestação a uma reportagem. Não é improvável que o rancor já tenha ensurdecido todo seu entorno.
Parece inacreditável que, depois do histórico de batalhas de fatos e versões que o PT já enfrentou em cinco eleições presidenciais, não apareça ninguém para dizer a essa gente que serenidade é um atributo de vencedores. É a uma situação de desvantagem que o eleitor associa o destempero. Ao se colocar na sintonia do descontrole, parece que é a campanha petista e não a oposição que está desesperada. Não deve ser outro o motivo por que Marina e sua inabalável compleição apareçam como a herdeira dos eleitores afugentados do embate tucano-petista.
A campanha de 2006 é pródiga em indícios de que foi a reação de Lula, e não as denúncias em si, que levaram a disputa ao segundo turno. Na comparação das pesquisas o impacto do noticiário negativo hoje parece mais concentrado na classe média escolarizada do que em 2006.
No sempre arriscado prognóstico de planilha, a queda, para ser representativa, precisará atingir a base da pirâmide eleitoral. Há que se considerar, ainda, que Dilma hoje tem uma vantagem muito mais homogênea no eleitorado do que Lula na sua reeleição.
Gente de pesquisa costuma usar a imagem da boca do jacaré para descrever as curvas de intenção de voto de dois candidatos que, ao longo da campanha invertem suas posições. Nesta campanha a boca do jacaré começou a se escancarar entre julho e agosto. O Datafolha foi o último instituto a registrar que a boca se abria e o primeiro a detectar que está se fechando.
A reação destemperada do PT indica que, na sua avaliação, a curva decorre de noticiário que se arvora no papel de polícia, promotor e juiz. Se esse diagnóstico, por mais preciso que seja, insistir em municiar a virulência da reação petista, virá o bote do jacaré.
Não deve ser fácil para Lula, às vésperas de deixar o governo no panteão dos presidentes mais bem avaliados da história, assistir à valoração de teses que põem em dúvida o Estado de Direito, e de analogias estapafúrdias com Hitler, Mussolini e Putin.
Sua liderança nasceu com a redemocratização e cresceu com a liberdade de imprensa. Como presidente, resistiu a conquistar mais um mandato e, com isso, deu uma demonstração mais radical de respeito pelas instituições do que o governo que o precedeu.
Se Lula avalia que o governo e a campanha de sua candidata são injustiçados pela imprensa não é seu papel como presidente da República comprar essa briga em palanque. A militância petista deslocou-se da porta de fábrica para a blogosfera com agressividade suficiente para enfrentar movimentos que reúnem desde os 60 manifestantes do Largo São Francisco até a caserna de pijama.
O destempero com que os petistas se conduzem nessa reta final de campanha é filho do mesmo emocionalismo despolitizante com que a inauguraram. No principal jingle da campanha Lula diz a Dilma que entregará em suas mãos o seu povo. Inconformados pela estabilidade das pesquisas e movidos por paixão parelha, editoriais chegaram a questionar se o povo de Lula é feito de consumidores ou de cidadãos.
O público leitor de jornal equivale a pouco mais de 1% do colégio eleitoral do país. É preferível que a indignação se explique por esse descompasso do que pelo preconceito em relação às convicções democráticas de quem acabou de entrar no mercado de consumo.
O voto sela o contrato entre o eleitor e o eleito. Será tão mais importante para a cidadania quanto melhor se conhecerem as propostas de governo que, a dez dias da eleição, continuam recônditas - por desinteresse dos candidatos e obra e graça do denuncismo.
Num país de plenas liberdades políticas como o Brasil, o eleitor não passa de uma mão para outra nem é joguete de mistificações. Merece uma campanha melhor.
Maria Cristina Fernandes é editora de Política. Escreve às sextas-feiras

ELVIS, para o Correio Amazonense


Empresário confirma denúncias na PF

Empresário confirma denúncias na PF
Em depoimento, Fábio Baracat comprovou pagamentos à empresa do filho de Erenice Guerra, ex-ministra-chefe da Casa Civil
Vannildo Mendes / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
 Em depoimento que durou mais de seis horas, ontem, na Polícia Federal, o empresário Fábio Baracat deu informações que ajudam a montar o quebra-cabeças em torno do esquema de tráfico de influência montado na Casa Civil da Presidência da República pela família da ex-ministra Erenice Guerra, afastada do cargo na semana passada.
Foi ele quem denunciou à revista Veja um esquema que consistia em cobrar "comissão de sucesso" de 5% sobre cada negócio obtido junto aos Correios em favor da empresa de transportes aéreos MTA.
Baracat reafirmou o teor da entrevista e deu recibos de pagamentos para provar que, na condição de representante da MTA, manteve contrato com a empresa Capital Assessoria, controlada por filhos de Erenice, para obtenção de negócios nos Correios. Os recibos, anexados ao inquérito da PF, mostram pagamentos mensais de R$ 20 mil, por um período de seis meses, totalizando R$ 120 mil.
O delegado Roberval Vicalvi, encarregado da investigação, pediu evidências que caracterizassem o pagamento da "comissão de sucesso" que Baracat teria acertado com Israel, filho de Erenice e operador do esquema.
Com a ajuda dos filhos de Erenice, a MTA conseguiu contratos no montante de R$ 60 milhões na estatal, um deles sem licitação. O empresário confirmou um encontro mantido com a ex-ministra, intermediado por Israel, mas disse que foi de natureza "social" e negou que ela tenha tratado de negócios ou demonstrado qualquer atitude que indicasse ter conhecimento do lobby dos filhos, conforme relato do seu advogado Douglas Silva Telles. "Ele disse que a reunião foi meramente social e nada se discutiu relacionado a contratos ou negócios com o governo."
O delegado quis saber qual era o interesse de Baracat na MTA, já que não era dono ou diretor da empresa, e desde quando cessou seu vínculo de representante e por que foi afastado. Fez também várias perguntas relacionadas à participação do ex-diretor dos Correios, Eduardo Artur Rodrigues Silva no esquema.
Suspeito de ser testa de ferro do argentino Alfonso Rey, que seria o real controlador da MTA, conforme reportagem publicada no Estado, Silva foi ouvido a seguir, mas não quis dar declarações à imprensa e a PF não divulgou o teor do depoimento.
Na segunda-feira, será ouvido Vinícius Castro, cuja mãe figura como sócia da Capital Assessoria, junto com Saulo, o outro filho de Erenice. A polícia ainda não conseguiu entregar as intimações de Israel e Saulo, os próximos que terão de dar explicações no inquérito.

Debate CNBB com os presidenciáveis – 23/09/2010

Praia de Grama, Escócia

Fotografia por Jim Richardson, a National Geographic

E o câmbio continua matando!

E o câmbio continua matando!
Luiz Aubert Neto - O Estado de S. Paulo - 24/09/2010
Temos chamado a atenção, insistentemente, para o processo de desindustrialização e desnacionalização que vem ocorrendo no Brasil. Nos últimos 20 anos passamos de 5.º maior produtor mundial de máquinas e equipamentos a um modesto 14.º lugar.
A verdade, comprovada em números, é que a indústria do Brasil está sem condições de competir em igualdade. O mais duro é que a perda de competitividade não ocorre do portão para dentro das empresas. Há décadas a indústria vem dando demonstração de força, com melhoria da produtividade, desenvolvimento e inovação tecnológica, numa luta pela sobrevivência, compreendida somente por quem realmente está envolvido com o processo produtivo.
Os desafios são enormes: custo Brasil, que torna as máquinas brasileiras cerca de 43% mais caras; as mais altas taxas de juros do mundo; carga tributária, que representa cerca de 35% dos custos; taxa de câmbio, que faz com que a indústria fique menos competitiva nas exportações e, por outro lado, abre o mercado brasileiro para os produtos importados.
Apesar das oportunidades existentes, a indústria vive um momento de incertezas, diante de um paradoxo que merece explicação do governo. Se, por um lado, a indústria de máquinas busca a sua sobrevivência, convivendo com a perda de competitividade sistêmica, por outro lado, o setor financeiro vem sistematicamente batendo recordes de lucratividade. No último trimestre o setor foi o mais lucrativo de todos, com lucro líquido de R$ 10,1 bilhões. Será que o sistema financeiro é altamente competente e nós, um bando de incompetentes? Será que não há nada de errado na política econômica?
A resposta é simples: falta uma política industrial que privilegie o investimento produtivo em vez do não produtivo, da mesma forma que fizeram os países hoje desenvolvidos, que compreenderam que a industrialização é o caminho para o desenvolvimento. É sempre bom lembrar que, para tornar as suas indústrias fortes, esses países adotaram a seguinte política: desoneração total dos investimentos, câmbio e financiamentos competitivos, incentivo às exportações de bens de alto valor agregado, desenvolvimento e inovação tecnológica.
Mas, enquanto não houver política industrial e competitividade sistêmica, o fato é que não podemos continuar reféns de um câmbio que, de forma acelerada, vem sendo o grande vilão do processo de desindustrialização e desnacionalização. Para ter uma ideia, no caso do setor de máquinas e equipamentos, o déficit acumulado da balança, de 2004 a 2010, já é superior a US$ 43 bilhões. As exportações vêm caindo de forma vertiginosa, enquanto as importações crescem assustadoramente. Somente as importações vindas da China aumentaram cerca de 57% no primeiro semestre de 2010, comparado ao mesmo período de 2009.

Diante desse cenário, não nos restou outra alternativa senão pedir, em caráter emergencial, o aumento da alíquota do Imposto de Importação. Após estudos, chegamos à conclusão de que essa é a única medida capaz, neste momento, de minimizar a perda de competitividade da indústria de máquinas ante os concorrentes internacionais.
Alguns vão dizer que tal medida se configura como "protecionismo" ou "reserva de mercado". Em nossa opinião, esse argumento não se sustenta, pois só se poderia falar em proteção se a indústria nacional estivesse concorrendo em condições isonômicas.
Também vale ressaltar que outros setores da economia contam com uma alíquota de 35%, a nosso ver uma proteção justa, porque sem ela esses setores já estariam extintos.
O momento é de atenção e o aumento da alíquota se faz necessário para dar sobrevida às nossas indústrias, pelo menos enquanto tivermos de conviver com um câmbio que inviabiliza o processo produtivo. O governo precisa ter a sensibilidade de que esse aumento da alíquota é o remédio imediato ou continuaremos a assistir ao câmbio matar as nossas indústrias.

Fim de época (24/09)

Fim de época (24/09)
Alon Feuerwerker – Correio Braziliense
É uma regra as revoluções devorarem seus propulsores, pois uma vez no poder a regra passa a ser mantê-lo. E a turma que não entende isso, ou não se sente bem contemplada na nova ordem, acaba entrando na fila da degola
Anos atrás, com o nascimento da Nova República, determinados valores passaram a ocupar o centro do palco. Na segunda metade dos anos 1980, as dificuldades do governo José Sarney e de seu multipolítico PMDB alavancaram o desejo por coisas como “coerência” e “ideologia”.
Com o ocaso do PMDB também caía em desuso a cultura das frentes políticas, da amplitude, da tolerância, do diálogo, da busca de convergências.
Era um tempo de jornalistas e politólogos clamando pelo fortalecimento dos “partidos ideológicos”. A eleição de 1989 preencheu o desejo, enterrando toda uma geração de políticos tradicionais, pragmáticos, centristas.
Mas, diferentemente do que imaginava a opinião pública, não deu nem para Luiz Inácio Lula da Silva nem para Leonel Brizola. Muito menos para o Mário Covas do “choque de capitalismo”. Aliás os dois mandatos seguidos de governador de São Paulo salvaram Covas de encerrar a carreira naquele naufrágio coletivo.
Pouco tempo depois, o desfecho prematuro do mandato de Fernando Collor introduziu a “ética” no portfólio.
E aí a coisa ficou completa, abriu-se uma era jacobina, na qual jornalistas adquiriam estatuto de juízes, separando os bons dos maus, decidindo com polegares para cima e para baixo quem deveria viver ou morrer no circo. Em íntima associação com políticos que surfavam nas ondas, em direção à praia do poder.
Em grande medida, as camadas petistas e peessedebistas que hoje cobrem o sistema são fruto dos valores então emergentes. Ao observar o cenário agora, os decepcionados podem até lamentar os fatos e fazer, a posteriori, o diagnóstico de farisaísmo, mas lá atrás era bacana ser principista.
Hoje os principistas da esquerda estão espremidos. Os da direita nem isso, estão escondidos.
É uma regra as revoluções devorarem seus propulsores, pois uma vez no poder a regra passa a ser mantê-lo. E a turma que não entende isso, ou não se sente bem contemplada na nova ordem, acaba entrando na fila da degola.
Como o ambiente aqui é razoavelmente democrático, a degola não é literal, restringe-se ao plano da política.
O primeiro golpe sério no jacobinismo tucano-petista do pós-Collor foi desfechado por Fernando Henrique Cardoso, quando trouxe o então PFL para apoiar seu PSDB na sucessão de Itamar Franco, em 1994.
Uma parte dos jacobinos do canto tucano da política engoliram a situação de fato, outros ficaram remoendo-se, mas sem maior possibilidade de reação.
E os demais órfãos da “nova política”, na qual os mais céticos enxergavam apenas o velho udenismo? Deslocaram-se para o polo petista e aí passaram a desenvolver sua militância. Com desenvoltura.
O cansaço com FHC em 2002 encontrou-os prontos a prosseguir a revolução inacabada.
Uma parte da radicalização nesta reta final das eleições é, como nos filmes em que o monstro sucumbe no fim em cenas horripilantes, o espetáculo da orfandade absoluta de quem, neste quarto de século, acabou por tornar-se massa de manobra de uns, de outros ou de ambos.
Estão por aí, meio avoados e perguntando, desconsolados: “O que faria o PT se denúncias como as de agora acontecessem num governo tucano?”.
É uma boa pergunta. Mas há uma melhor.
“E daí?”
Temas trocados
A imprensa está em chamas no debate sobre a liberdade de imprensa. Aqui Lula já vai no lucro. O que era uma discussão sobre corrupção virou polêmica sobre a “mídia”.
Corrupção é um tema popular. Liberdade de imprensa, bem menos. Tampouco é assunto positivo, causa também constrangimento, mas num grau bem menor.
É a velha receita de matar uma crise com outra crise. Vai funcionar?
Uma coisa é certa: em sagacidade e esperteza, o presidente continua deixando todo mundo na poeira.
Inclusive a imprensa. Lula segue aqui a receita clássica.
Manter o adversário ocupado defendendo-se.

Skoob

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