sexta-feira, setembro 24, 2010

Um País Corrupto

Um País Corrupto
THEÓFILO SILVA – Blog do Moreno
A quantidade de escândalos que ocorreram no Brasil este ano nos faz perguntar como é que um país tão simpático, como dizem os europeus, pode produzir uma tão vasta quantidade de corruptos? E pior: como as pessoas podem roubar tanto dinheiro do governo e continuar impunes, como se nada tivesse acontecido? Outra coisa, como é que o Brasil aguenta pagar a conta? Tanto pelo que é roubado, quanto pela a quantidade de demandas policiais e judiciais que são geradas aumentando violentamente os gastos do estado com o aparato coercitivo necessário para cuidar de tudo isso.
Claro que, pelo fato de ser um ano eleitoral, o número de denúncias é bem maior. Mesmo assim, 2010 foi um ano raro em termos quantitativos de denúncias e prisões contra autoridades acusadas de desviar dinheiro público. São tantos que vou lembrar apenas os mais clamorosos. O de maior repercussão, por sua magnitude, ocorreu no Senado Federal, envolvendo o presidente do Senado e muitos outros senadores e diretores da instituição, apontando um descalabro inimaginável na “honrosa” Casa; tivemos os dois primeiros governadores presos do Brasil, o de Brasília e o do Amapá, ambos envolvidos, segundo a polícia federal e o ministério público, no desvio de mais de um bilhão de reais; numa pequena cidade do Mato Grosso do Sul, Dourados, a justiça prendeu, também por desvios de recursos, o prefeito, o vice, a primeira dama, secretários, vereadores - criando um vácuo ao ponto de o juiz da cidade teve que assumir a prefeitura, também por desvio de recursos; o escândalo da Câmara Legislativa de Brasília levou a cassação de deputados, prendeu um e vários outros foram processados, provocando, inclusive a invasão da Casa por parte dos estudantes universitários; no Ceará, a Polícia Federal prendeu a assessora de um deputado, acusada de desviar dinheiro para o governador e seu irmão deputado, apontados pelo desvio de mais de trezentos milhões de reais - dinheiro das prefeituras; o caso do Detran do Rio Grande do Sul ganhou as manchetes nacionais; ainda temos o caso dos Correios e da Casa Civil. Em Alagoas, Espírito Santo e Maranhão, denúncias de corrupção em todas as esferas do poder público ocorrem todos os meses e já se tornaram banais. E mais denúncias chegam de todos os estados diariamente.
A pergunta que a sociedade mais faz é sempre esta: como os cofres brasileiros suportam tantos saques sem ficarem vazios? Ou noutra linguagem, o Brasil aguenta tanta roubalheira sem ir à falência? Todo esse descalabro no trato do dinheiro dos impostos do povo brasileiro gerou, na sociedade civil, um projeto de iniciativa popular para impedir que as pessoas envolvidas nessas acusações condenadas pela justiça – os ficha suja – pudessem ser candidatos a cargos eletivos. Mesmo assim, o Supremo Tribunal Federal não atendeu ao apelo da sociedade. O STF rachou no meio!
A resposta para o comportamento descarado desses acusados pela justiça é óbvia e antiga: o poder. O acesso às chaves dos cofres permite a essas pessoas abri-los de acordo com suas conveniências. O que impede que elas ajam assim? Resposta: a justiça. Como a justiça não as condena, elas continuam no crime. Se não há punição, por que ter medo!
Quero fazer uma comparação citando Shakespeare – não lembro o nome da peça – diz o Bardo: “tudo que esse sujeito precisa para roubar é de uma faquinha e uma pequena aglomeração”. No Brasil tudo que os corruptos precisam é de um cargo público e uma caneta... E uma justiça leniente!
Theófilo Silva é autor do livro “A Paixão Segundo Shakespeare”.

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