quinta-feira, novembro 11, 2010

A rota da seca... #fotografia #fotojornalismo #photography #photographer #photog Posted on November 12, 2010 by Johnguardacosta

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Solda, para O Estado do Paraná


Cláudio Humberto

Cláudio Humberto
“Nenhum ministério é propriedade de ninguém”
JOSÉ EDUARDO DUTRA, PRESIDENTE DO PT, PARA QUEM, NO PMDB, QUER MANTER MINISTÉRIOS
DEM DÁ AO PMDB TEMPO NA TV E MAIOR BANCADA A negociação para a fusão do DEM, revelada com exclusividade nesta coluna na segunda (8), oferece dois trunfos ao PMDB: tempo maior na TV, na próximas eleições, e o acréscimo de 43 deputados à bancada do partido de Michel Temer, que passaria de 79 para 122, assegurando o direito de indicar o próximo presidente da Câmara. O PT elegeu 88 deputados e, segunda maior bancada, perderia a sonhada presidência.
CONSEQUÊNCIA A fusão com o DEM garantiria a presidência da Câmara a Henrique Alves (RN), amigo de Michel Temer, sem precisar de acordo com o PT.
EGOCENTRISMO No DEM, as negociações para a fusão com o PMDB são atribuídas ao prefeito paulistano Gilberto Kassab,candidato ao governo em 2014.
SENADO CONTRA O líder do DEM no Senado, Antonio Carlos Junior (BA), é contra a fusão. Acha que o DEM deve manter-se coeso e ainda mais aguerrido.
“É UM CRIME” O deputado Onyx Lorenzoni (RS) promete resistir. Considera “um crime antidemocrático” a extinção do DEM e a consequente fusão ao PMDB.
BRASIL FAZ AEROPORTO INTERNACIONAL... NA ÁFRICA Já de olho talvez na sua nova “plataforma” africana de projeção internacional, Lula autorizou o BNDES a emprestar US$ 18 milhões para a construção de um aeroporto internacional em Nampula, Moçambique, na atual base área da cidade. É parte do pacote de US$ 300 milhões do Brasil para a infraestrutura local. Já os principais aeroportos brasileiros vão continuar a porcaria de sempre.
OLHA NÓS Maputo foi à última visita presidencial ao continente africano. Nosputo ficou fora do roteiro – deve ser um rincão perdido no Brasil.
TOC-TOC A polêmica saúde da presidenta cria spams para roubar dados do bobonauta, com link para “fotos de Dilma tendo ataque cardíaco”.
QUEM QUER DINHEIRO? Lula nega que encontrou Silvio Santos para tratar de empréstimo ao banco do empresário. Queria entrar no “Topa ou não Topa”, só isso.
BOM HUMOR O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) foi indagado no twitter se Lula ou Dilma ligaram para ele. Seu bom humor revela que ele superou sua demissão do ministério da Educação: “Dilma não tem razões para me ligar, e Lula, se ligar, vou pensar que quer me demitir de alguma coisa”.
OLHANDO BEM......a ameaça da presidente Dilma de juntar no ministério formosuras como Maria da Graça Foster e Ideli Salvatti, revela que o filme As Bruxas de Eastwick vai entrar em cartaz no cineminha do Alvorada.
ESTÁDIO MENOR O governador eleito do DF, Agnelo Queiroz (PT), confirmou o que esta coluna antecipou ontem: sua decisão de reduzir à metade o tamanho e os custos do Estádio Nacional de Brasília, subsede da Copa de 2014.
VOANDO A mulher do ministro Jobim (Defesa) vai ganhar a Medalha do Mérito Aeronáutica, após republicarem o decreto às pressas no Diário Oficial da União: esqueceram o nome de Adrienne entre os 207 “medalhados”.
BABAQUICE Como não há nada mais urgente para resolver no País, a CCJ do Senado aprovou a emenda babaca que inclui o “direito à felicidade” na Constituição. Agora só falta incluir o “direito de respirar”.
COISA FEIA A turma de Gilberto Kassab informou que o caminhão flagrado jogando lixo no município de Guarulhos era terceirizado, mas na porta exibia a logomarca da prefeitura de São Paulo e a matrícula: EBZ 4754.
MINA TERRESTRE África foi a salvação: Lula ficou bem longe da tradicional Feira do Livro, ao ar livre em Porto Alegre, onde, há 50 anos, crianças ganhavam livros de Monteiro Lobato – hoje perseguido no “Lulaworld”.
SEBRAE FOR EXPORT O diretor da Fundação Guineense para o Desenvolvimento Empresarial e Industrial, Califa Seidi, realiza nesta quinta uma visita ao Sebrae-DF. A intenção é implantar uma experiência semelhante em Guiné Bissau.
PENSANDO BEM...... O antigo Proer de FHC virou Bafban – Baú da Felicidade dos Bancos.
PODER SEM PUDOR
ATRASO PERDOADO
Em maio de 1991, o senador Esperidião Amin liderou um grupo de políticos catarinenses numa audiência marcada com o ministro da Educação, Carlos Chiarelli. O grupo começou a se irritar com o chá-de-cadeira quando o ministro finalmente apareceu na sala de espera com a atriz Cláudia Raia:
– Desculpem o atraso, é que eu estava falando com a Cláudia...
– Está perdoado, ministro – respondeu Amin, extasiado –, principalmente depois de trazer o álibi pessoalmente.

Renovar o Enem

Renovar o Enem
EDITORIAL - FOLHA DE SÃO PAULO - editoriais@uol.com.br
Exame enfrenta percalços por manter o gigantismo de teste único; saída é aplicar provas equivalentes, mas distintas, em tempo e locais variados
O açodamento com que o Ministério da Educação (MEC) se lançou na transformação do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) em principal porta de acesso às universidades federais está na raiz de seus sucessivos fiascos. Com um pouco mais de planejamento, seria possível evitar o grave prejuízo à imagem de um sistema que possui inegáveis méritos.
A formulação do Enem se baseia em técnicas modernas de avaliação. O mesmo tipo de prova é aplicada em exames reconhecidos como eficazes em diversos países. É o caso do SAT norte-americano (sigla que significa teste de avaliação escolar, em inglês) e também o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), adotado por membros da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
Essas provas são baseadas em questões classificadas por grau de dificuldade. O escore final de cada participante resulta de cálculos estatísticos que levam em conta o desempenho do candidato nas perguntas consideradas mais e menos difíceis. Dito de outro modo, a necessária isonomia entre os participantes fica garantida por essa ponderação. Não é obrigatório que todos os estudantes respondam um rol de perguntas de conteúdo idêntico, como no vestibular -basta que elas se equivalham em grau de dificuldade.
É consensual que essa técnica permite comparar de forma justa alunos que fizeram exames diversos, mesmo que em diferentes momentos e países.
Tanto é assim que o SAT americano conta com sete aplicações ao longo de um ano. No plano original do Ministério da Educação, o novo Enem deveria ter três edições anuais.
Boa parte dos percalços que a prova enfrenta vem da tentativa de conjugar esse modelo com o gigantismo do velho vestibular: um sistema de avaliação que, embora imaginado para permitir a compilação de múltiplas provas, tem de ser realizado em escala nacional como prova única.
O pesadelo logístico de fazer chegar um exame de conteúdo idêntico a mais de 3 milhões de estudantes, num país do tamanho do Brasil, carrega consigo o germe do fracasso. O método cria um prêmio alto demais para o vazamento, valorizando as muitas oportunidades de quebra de sigilo.
A saída não está em uma marcha à ré. Ao contrário, cabe persistir na lógica do Enem e apressar a constituição de um grande banco de questões codificadas.
Isso permitiria diversificar as provas, que poderiam ser organizadas de forma regionalizada -ou mesmo com a aplicação de vários exames numa mesma região. Também seria possível propor mais de um teste ao longo de um mesmo ano. Não seria um exame à prova de fraude, o que não existe, mas contribuiria para evitar problemas e superar o arcaísmo dos grandes vestibulares.

Milton Nascimento - Outro Lugar

Em acelerada contramão

Em acelerada contramão
JOSÉ RENATO NALINI - O Estado de S. Paulo - 11/11/10
Noticia o Estado que o TJ paulista quer mais 2.199 comissionados (8/11, A18), e chama de polêmico o projeto de lei que cria 2.199 cargos em comissão para assistentes de juízes de primeiro grau. Salienta a reportagem, do jornalista Roberto Almeida, que o Judiciário paulista se compõe de 45 mil funcionários na ativa e de 10 mil aposentados. R$ 4,3 bilhões é o valor da despesa anual do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP) com os seus servidores. Isso equivale a 90% do orçamento do Judiciário e essa contratação elevaria em 5% o quadro atual de funcionários.
Sem entrar no aspecto polêmico, o de se delegar uma função parajurisdicional a funcionário que não foi selecionado por concurso público, outra reflexão se impõe.
Esse projeto de lei não é o único em trâmite pelo Parlamento paulista. Ainda recentemente o Órgão Especial do tribunal aprovou a criação de mais de um milhar de cargos de escrevente técnico. O argumento foi o de que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) determinara a devolução aos quadros das Prefeituras de todos os funcionários que colaboram com o setor de Execuções Fiscais.
A voz dissonante no plenário foi a deste escriba, que insiste em propor ao Judiciário uma verdadeira revolução, que não se resumiria a multiplicar Varas, unidades judiciais, quadros e cargos.
A recente divulgação do Justiça em Números, do CNJ, comprova a constatação empírica: a administração pública é a maior cliente do Judiciário. Grande parte do trabalho confiado a juízes e servidores advém da cobrança da dívida ativa estatal. São milhões os processos em curso e a cada ano as estatísticas são infladas por distribuição de outros milhares de ações.
Enfrentar esse tema não se resume a ampliar o quadro funcional. É preciso ter coragem para dizer que o Judiciário não é agente de cobrança das dívidas públicas. As execuções fiscais oferecem nível escasso de litigiosidade. A maior parte delas consiste em quantias ínfimas, que não justificam a movimentação da dispendiosa máquina judicial.
Os agentes estatais desincumbem-se do seu dever de não tergiversar com o dinheiro do povo e atulham o Judiciário com essas verdadeiras lides ilusórias. Parcela dos devedores é insolvente e não possui bens que possam garantir um processo que a lei prevê, de trâmite peculiar e cujo início é a penhora dos bens de quem não honrou a sua obrigação. Outra parcela não é mais localizável.
Por isso é que o montante imenso de mandados resulta em reduzido número de citados que satisfazem o débito. Outros nunca são encontrados, ou, caso localizados, não há bens a penhorar. Poucos são os que embargam a execução, isto é, oferecem defesa para evidenciar a ausência de razão do Estado.
É frequente que as entidades credoras anistiem as dívidas ativas de milhares de devedores. Com isso, frustra-se a expectativa de cobrança judicial e é desperdiçado o dispêndio de trabalho e de recursos do já combalido Judiciário.
Se viesse a liberar-se dessa incumbência de agência de cobrança, a Justiça poderia cuidar melhor das demais contendas. Fazendo-o com a celeridade cobrada pelo constituinte de 1988 e de difícil enfrentamento, mercê de diversos fatores.
É preciso reconhecer que o problema central da Justiça não é a insuficiência de pessoal. É o mau aproveitamento de quadros desmotivados, destreinados, incapazes de encarar os desafios de um século em que a velocidade é um signo insuperável.
Pouco adianta repetir o truísmo de que o tempo da Justiça não é o tempo da mídia, ou que a resposta rápida pode não ser a ideal. O esmaecimento dos símbolos e dos valores atinge também a função judicial. Ela é remunerada com dinheiro do povo e precisa funcionar. Tem a obrigação de responder, com efetividade e em tempo oportuno, às demandas que a sociedade formula.
O juiz é um profissional que, em tese, julga bem, sabe apreciar as controvérsias à luz do Direito. Mas não foi treinado para administrar. E quando falha a atividade-meio, está comprometida a atividade-fim.
Seria preciso haver a coragem de se entregar a administração da Justiça a profissionais capazes de imprimir o choque de gestão presente em vários discursos, mas ausente na realidade. Deixar que a competência - em sentido vulgar - alargue os funis, elimine os nós burocráticos, para que o juiz julgue. Compreendendo que julgar é solucionar conflitos reais, não se manifestar sobre formalismos, procedimentalismos, no êxtase da elaboração de peças eruditas. Prenhes de precedentes e ajustadas à doutrina, mas de nenhum significado para aquele que aguarda a resposta para um problema concreto.
Quem é que já se preocupou em apurar qual é a porcentagem de respostas judiciais que se resumem a aspectos processuais e não chegam à substância?
Qual o tempo despendido em análise dos conflitos de competência, em que colegiados discutem qual a seção ou qual a câmara ou turma encarregada de apreciar a causa, quando o que interessa para as partes é que qualquer juiz decida quem, na verdade, está com o melhor direito?
Essa produção autofágica, destinada a satisfazer requisitos internos calcados em grande parte na burocrática visão compartimentada de um Judiciário cada vez mais especializado, poderia ser considerada índice satisfatório de produtividade?
Foi essa a escala de respostas que o constituinte quis reclamar a um Judiciário proativo, também responsável por edificar uma Pátria justa, fraterna e solidária?
No momento em que a Justiça repensasse a sua missão, que não é, dentre outras anomalias, a de fazer cobrança de dívidas públicas, ela poderia melhor desempenhar o papel institucional que o povo lhe atribuiu, pela voz do constituinte.

Clayton, no O Povo (CE)


Mais inundações e secas no Sul

Mais inundações e secas no Sul
Mudanças climáticas intrigam cientistas e provocam estragos na Bacia do Rio da Prata
Renato Grandelle – O Globo - Ciência
Uma região rica, populosa e ameaçada. Assim é a bacia hidrográfica do Rio da Prata, a quinta maior do mundo, cercada por Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia, berço de 70% do PIB desses países e habitada por mais de 100 milhões de pessoas. Nem o gigantismo de seus números a protegeu das mudanças climáticas, cujos principais efeitos são sentidos no Sul do país.
A precipitação diária aumentou 33% em meio século, segundo centros de pesquisa europeus e sulamericanos.
Com as tempestades vieram inundações, solos erodidos e inúteis para a agricultura.
As chuvas, porém, estão mal distribuídas, o que fez a estiagem também aumentar. A seca observada em algumas regiões argentinas no ano passado foi a pior em décadas.
Os prejuízos também atingiram plantações no Brasil, obrigando os produtores a pensar em novas formas de cultivo.
É para desenvolver novas estratégias de adaptação que 170 pesquisadores de 20 países estão reunidos desde segunda-feira em Florianópolis.
Patrocinada pela Comissão Europeia, a Rede para Avaliação da Mudança Climática e Estudos de Impacto na Bacia do Prata pretende propor, nos próximos dois anos, uma série de medidas que amenizariam o impacto das ihttp://draft.blogger.com/post-create.g?blogID=4759591329996691554nundações e secas sobre as atividades econômicas da região.
— Precisamos avaliar as vulnerabilidades locais frente às ameaças climáticas — explica Sandro Schlindwein, pesquisador do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa Catarina. — Registramos muitas geadas e vendavais fora de época, mas o maior problema são as estiagens, principalmente no verão. É quando normalmente ocorrem as fases de enchimento de grão e a floração, os momentos em que o clima desfavorável mais seria capaz de provocar prejuízos.
A seca também é preocupante no inverno. Nesta estação, o índice diário de chuvas caiu 60% desde 1950 no Rio Paraná, o principal da Bacia do Rio da Prata.
Enquanto os pesquisadores traçam uma estratégia e procuram parceiros no campo, os pequenos agricultores improvisam. O aumento da seca fez produtores do oeste de Santa Catarina desenvolverem variedades do milho mais resistentes à estiagem.
— Eles preferiram mudar o produto a dependerem cada vez mais da indústria de melhoramento do milho — avalia Schlindwein.
Causas ainda são desconhecidas
O aumento das chuvas e secas na região seria consequência de um processo natural, ainda não decifrado pela ciência. Mas há consenso entre os especialistas que, em no máximo 30 anos, as mudanças climáticas observadas hoje podem se acirrar por efeito do aquecimento global.

— Nos anos 60 e 70, houve um grande desmatamento no Paraná, o que alterou o uso do solo e aumentou as precipitações — lembra Carlos Tucci, consultor de recursos hídricos e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. — Mas este processo teve uma influência limitada a algumas regiões. Há variações naturais no clima de uma década para a outra que a ciência ainda não sabe desvendar com precisão.
O climatologista José Marengo, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, também é cauteloso ao comentar o papel do aquecimento global na Bacia do Rio da Prata.
— Por enquanto, vemos um fenômeno natural. Mas, até 2040, a emissão de gases-estufa pode tornar ainda mais comum esses eventos extremos. Aí poderemos atribuir com segurança a responsabilidade ao homem.
De acordo com as principais projeções climáticas, o aquecimento global poderia acelerar um dos mais importantes ciclos hidrológicos da América do Sul: a formação de precipitações na Amazônia, com a passagem da água pela planície do Pantanal e sua chegada à Bacia do Rio da Prata. As eventuais mudanças no escoamento dos rios locais provocariam revezes à biodiversidade desses ecossistemas.
O aumento do escoamento também provoca erosão do solo, reduzindo a área disponível para a agricultura. Os rios mudam de leitos, o que leva a alterações também nas matas ciliares, responsáveis por delimitá-los. E, como o material do fundo dos rios pode ser suspenso, a qualidade da água também fica comprometida.

Herança maldita

Herança maldita
Eliane Cantanhêde - FOLHA DE S. PAULO
BRASÍLIA - Foi só passar a eleição com seus programas alegres e coloridos e a realidade insiste em pipocar nas suas mais variadas formas. Como uma chuva de bolinhas, não exatamente de papel.
Aliás, o escândalo da vez é no banco PanAmericano, do Sílvio Santos, que visitou Lula no meio da campanha e é dono também do SBT, a rede que reduziu o rolo de fita da agressão a José Serra no Rio a uma mera bolinha de papel. Deve ser só coincidência. De concreto, o rombo é milionário, a solução foi negociada com BC e CEF e tudo foi descoberto durante a campanha, mas só divulgado agora.
Outro "probleminha" detectado antes da eleição, mas que vem à tona depois dela, é que uma das turbinas da usina de Itaipu, com mais de 30 anos de uso, apresenta trincas de até 30 cm. Quantas outras estão assim? Taí uma boa pergunta, enquanto os dez partidos aliados se estapeiam pelo rico Ministério de Minas e Energia.
E como o país da urna eletrônica, um dos sistemas mais sofisticados de votação do mundo, não consegue fazer o Enem direito? Rolou de tudo um pouco. Teve prova repetida, erro de gabarito, aluno tuitando, um festival de irregularidades. É nisso que dá fazer as coisas sem licitação - uma semana depois do segundo turno.
Para completar, mal acabaram de fechar as urnas e lá vem a eleita falar em CPMF, enquanto projetos de aumentos salariais tramitam no Congresso e grassa a suspeita de que as contas públicas chegam a 2011 fora de controle.
Deve ser por essas e outras que se discute a tal regulamentação da mídia, uma das coisas que a gente sabe como começa e não sabe como acaba. Como as CPIs dos bons tempos do PT na oposição, lembra?
Lula deveria ter pensado bem antes de abandonar o governo às moscas e às Erenices para só fazer campanha. Até porque Dilma, coitada, não vai ter a surrada bengala da "herança maldita".

Codinome Beija flor - Barão Vermelho e Cazuza

Pater


Chão de ferro

Chão de ferro
Cora Rónai – O Globo – Segundo Caderno
Sempre gostei de tampas de bueiro, e durante algum tempo participei de uma comunidade no Flickr dedicada a fotografá-las. Há tampas muito variadas pelo mundo, e tenho fotos de uma mais linda do que a outra, em geral com os pés dentro do quadro, minha forma favorita de registrar por onde andei.
As tampas de bueiro brasileiras, infelizmente, são um fracasso estético na comparação com seus pares internacionais. Não passam de pragmáticas placas de metal, sem qualquer intenção de fazer bonito, perfeito exemplo do desleixo urbano que nos caracteriza. Uma tampa de bueiro bem decorada diz muito do capricho dos administradores da cidade.
Por outro lado, não conheço cidade tão cheia de bueiros quanto o Rio. No outro dia, andando por Ipanema e tendo de contornar uma obra que se fazia em torno de um deles, me dei conta de que a calçada era praticamente toda constituída de bueiros.
Decidi contá-los. Voltei para a esquina e comecei do começo. Vocês já tentaram contar bueiro? É muito difícil. O vaivém das pessoas atrapalha, amigos e conhecidos interrompem as contas e leva-se esbarrões de gente que não olha por onde anda, até porque o contador de bueiros anda sem olhar. Apesar disso, quando cheguei à outra esquina, tinha contado 161, e esbarrado em pistas da História das telecomunicações, com tampas da CTB, da Telerj e de um genérico Telefone convivendo lado a lado.
Também encontrei a preciosidade da foto, versão estapafúrdia da Light: depois a gente se espanta quando explodem.
O número não me saiu da cabeça. Cento e sessenta e um?! Como era possível a existência de 161 bueiros num único trecho de calçada?! Eu devia estar errada, mas ainda que tivesse errado por cem, sobrariam 61 bueiros num único lado de um único quarteirão, muito mais do que se vê em qualquer outra parte. Resolvi voltar no dia seguinte para uma recontagem... e cheguei a 164! Joguei a toalha. O fato é que, por uma ou por outra conta, está sobrando bueiro em Ipanema. Houve um tempo em que o gosto musical da Bia ficou tão diferente do meu que quase não havia o que pudéssemos escutar juntas; uma das raras exceções era “Hair”, o musical que fez a cabeça da minha geração e que continuou vitorioso nas paradas até a adolescência da minha filha.
Perdi a conta do número de vezes em que vimos e revimos o filme de Milos Forman, e a quantidade de vezes em que os dois CDs, o da produção teatral e o da versão para o cinema, foram trilha sonora para nossas viagens de carro.
“Hair” resumia tudo em que eu acreditava com 14 anos, época em que geralmente se acredita em tudo ou em nada com a mesma intensidade.
Eu acreditava em paz e amor, e achava, de verdade, que bastava um pouco de boa vontade para que todos os seres humanos passassem a conviver em harmonia; tinha uma saudável descrença de ritos religiosos, mas achava muito bonitos os mantras indianos, adorava aquelas túnicas coloridas e tinha enorme prazer em sentir cheiro de incenso pela casa. No mais, até pelo histórico da família, tinha horror a guerra, qualquer guerra.
Quando a Bia e as suas amigas descobriram “Hair”, o mundo já era outro. A identificação da sua geração com o “meu” musical passava por outros circuitos, talvez pela nostalgia de uma postura de rebeldia que, no fim dos anos 80, já não fazia sentido. Independentemente da motivação, porém, a história nos fisgou por igual, e até hoje sabemos as músicas de cor.
Agora, passados tantos anos, fomos juntas à estreia de “Hair” no Casa Grande — e saímos de lá com o mesmo encantamento antigo. A produção está linda, e tem um elenco jovem, afinado e cheio de garra: mesmo os atores que ficam no fundo do palco, encobertos pela sombra, dançam e cantam cheios de entusiasmo.
Os figurinos e o visual da tribo estão ótimos.
O mais importante de tudo, porém, é que Claudio Botelho conseguiu o prodígio de traduzir as músicas sem torturar as palavras: elas caem naturalmente onde devem cair, e não causam estranheza ao ouvido acostumado à versão original. Uma coisa é traduzir um musical do qual ninguém se recorda, ou do qual ninguém conhece as letras; outra é mexer com o ícone de tantas gerações, com músicas que todos cantaram milhares de vezes.
Sem essa tradução de alto nível, não poderia existir “Hair” em português. Nada como o tempo para aproximar as gerações.
Nos idos de “Hair”, a geração dos meus pais, e dos pais dos personagens, me parecia irremediavelmente perdida — uma geração que não sabia nada da vida, que tinha mania de trabalho e obsessão com contas e contracheques. Hoje, que já sou mais velha do que era aquela geração naqueles tempos, me pergunto como imaginávamos sobreviver.
Era fácil ser hippie com mesada, e relativamente simples viver à margem da sociedade com casa e comida na retaguarda.
Os pais de Claude, que eram ridículos quando foram escritos, hoje, apesar de caricatos, me despertam certa simpatia. A mãe aspira a casa porque, afinal, alguém precisa cuidar da limpeza; e o pai cobra um trabalho do filho porque, até prova em contrário, seres humanos precisam trabalhar para garantir seu sustento.
O fato de exigirem que o filho se aliste são outros quinhentos; essa é uma parte do “sistema” que nunca vou conseguir entender. Não acredito mais que a convivência entre os bípedes deste planeta seja exatamente uma coisa simples, mas continuo firmemente convencida de que não é brigando que a gente se entende.
Blog: cora.blogspot.com. E-mail: cora@oglobo.com.br

Voto do nordestino vale o mesmo que o do paulista

Voto do nordestino vale o mesmo que o do paulista
Maria Inês Nassif - VALOR ECONÔMICO
O Brasil elegeu, por dois mandatos, um ex-metalúrgico como presidente da República. Agora elege uma mulher. Ambos de centro-esquerda. Para quem assistiu de fora a eleição de Dilma Rousseff e os dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pode parecer que o país avança celeremente para uma civilizada socialdemocracia e busca com ardor o Estado de bem-estar social. Para quem assistiu de dentro, todavia, é impossível deixar de registrar a feroz resistência conservadora à ascensão de uma imensa massa de miseráveis à cidadania.
Ocorre hoje um grande descompasso entre classes em movimento e as que mantêm o status quo; e, em consequência de uma realidade anterior, onde a concentração de renda pessoal se refletia em forte concentração da renda federativa, há também um descompasso entre regiões em movimento, tiradas da miséria junto com a massa de beneficiados pelo Bolsa Família ou por outros programas sociais com efeito de distribuição de renda, e outras que pretendem manter a hegemonia. A redução da desigualdade tem trazido à tona os piores preconceitos das classes médias tradicionais e das elites do país não apenas em relação às pessoas que ascendem da mais baixa escala da pirâmide social, mas preconceitos que transbordam para as regiões que, tradicionalmente miseráveis, hoje crescem a taxas chinesas.
A onda de preconceito contra os nordestinos, por exemplo, é semelhante ao preconceito em estado puro jogado pelos setores tradicionais no presidente Luiz Inácio Lula da Silva e na própria eleita, Dilma Rousseff, durante a campanha eleitoral. É a expressão do temor de que os "de baixo", embora ainda em condições inferiores às das classes tradicionais, possam ameaçar uma estabilidade que não apenas é econômica, mas que no imaginário social é também de poder e status.
Há resistências à mobilidade social e regional
São Paulo foi a expressão mais acabada da polarização eleitoral entre pobres de um lado, e classe média e ricos de outro. Os primeiros aderiram a Dilma; os últimos, mesmo uma parcela de classe média paulista que foi PT na origem, reforçaram José Serra (PSDB). A partir de agora, pode também polarizar a mudança política que fatalmente será descortinada, à medida que avança o processo de distribuição regional de renda e de aumento do poder aquisitivo das classes mais pobres. A hegemonia política paulista está em questão desde as eleições de 2006 - e Lula foi poupado do desgaste de ter origem política em São Paulo porque era também destinatário do preconceito de ter nascido no Nordeste; e, principalmente, porque foi o responsável pela desconcentração regional de renda.
Com a expansão do eleitorado petista no Norte e no Nordeste do país, houve uma natural perda de força dos petistas paulistas, diante do PT nacional. Do ponto de vista regional, o voto está procedendo a mudanças na formação histórica do PT, em que São Paulo era o centro do poder político do partido. Isso não apenas pelo que ganha no Nordeste, mas pelo que não ganha em São Paulo: o partido estadual tem dificuldade de romper o bloqueio tucano e também de atrair de novos quadros, que possam vencer a resistência do eleitorado paulista ao petismo.
No caso do PSDB, todavia, a quebra da hegemonia paulista será mais complicada. Os tucanos continuam fortes no Estado, têm representação expressiva na bancada federal e há cinco eleições vencem a disputa pelo governo do Estado. No resto no do país, têm perdido espaço. Parte do PSDB concorda com o diagnóstico de que a excessiva paulistização do partido, se consolida seu poder no Estado mais rico da Federação, tem sido um dos responsáveis pelo seu encolhimento no resto do Brasil.
Mas é difícil colocar essa disputa interna no nível da racionalidade, até porque o partido nacional não pode abrir mão do trunfo de estar estabelecido em território paulista; e, de outro lado, o partido de Serra tem uma grande dificuldade de debate interno - como disse o governador Alberto Goldman em entrevista ao Valor, é um partido com cabeça e sem corpo, isto é, tem mais caciques do que base. Não há experiência anterior de agregação de todos os setores do partido para discutir uma "refundação" e diretrizes que permitam sair do enclave paulista. Não há experiência de debate programático. E aí o presidente Fernando Henrique Cardoso tem toda razão: o PSDB assumiu substância ideológica apenas ao longo de seu governo. É essa a história do PSDB. A política de abertura do país à globalização, a privatização de estatais e a redução do Estado foram princípios que se incorporaram ao partido conforme foram sendo assumidos como políticas de Estado pelo governo tucano.
Todos os partidos, sem exceção, estão diante de um quadro de profundas mudanças no país e terão que se adaptar a isso. Fora a mobilidade social e regional que ocorreu no período, houve nas últimas décadas um grande avanço de escolaridade. A isso, os programas de transferência de renda agregaram consciência de direitos de cidadania. O país é outro. Não se ganha mais eleição com preconceito - até porque o voto do alvo do preconceito tem o mesmo valor que o voto da velha elite. Se os grandes partidos não se assumirem ideologicamente, outros, menores, tomarão o seu espaço.
Maria Inês Nassif é repórter especial de Política. Escreve às quintas-feiras

Bello, na Tribuna de Minas


MARIA BETANIA & ALCIONE - O MEU AMOR

'Alta ajuda'

'Alta ajuda'
José Miguel Wisnik – O Globo – Segundo Caderno
A poesia do ocidente faz do poema o lugar de uma ausência, e dessa ausência a sua autoridade
Esta semana Francisco Bosco escreveu aqui sobre a canção como “um gênero absurdo”. Ele se referia à situação estranha de escrever um tipo de poema, a letra de canção, que não se basta como tal mas que tem que virar música, que se destina a outra coisa e que, por isso mesmo, deixa a sensação (em quem a escreve?) de não lugar, de incompletude.
No final, ele chega a falar de um “malestar incontornável”, de uma impossibilidade do gozo, de ejaculação precoce, de coito interrompido, do absurdo de um gozo que se consuma como exterior ao corpo, em sua ausência.
Acostumado a acompanhar os argumentos construídos e equilibrados do colega de coluna, sempre voltados ao esclarecimento da experiência compartilhada e ao estabelecimento de princípios de valor geral (Francisco Bosco está criando um gênero próprio que poderíamos chamar de “alta ajuda”, que eu admiro e invejo), estranhei com interesse a sua ênfase meio deslocada no absurdo do gênero canção como um impossível de gozo. O exagero não ficava caracterizado se era teórico ou confessional, embora ficasse claro que estava ligado à sua experiência de letrista, de quem escreve letras para que outro musique, pondo-se necessariamente na condição de uma espécie de poeta incompleto que não chega a ser músico.
Não acho que os cancionistas que fazem música e letra, isto é, não o poema para uma música que ainda não existe mas a letra para uma música que existe enquanto está sendo feita, partilhem o mesmo sentimento de algo que nunca se completa.O momento em que a canção é finalizada é bem comparável, me parece, ao instantâneo lum i n o s o a q u e Bosco se refere a propósito da conc l u s ã o d e u m p o e m a . B o s c o não se estendeu também sobre a experiência de fazer letra para uma música já existente, que é a tendência mais comum na música popular.
Mas o tema da cisão entre poesia e música tem sim a ver com um antigo mal-estar associado à canção, ou suscitado por ela, indissociável do fascínio universal que ela provoca. No conhecido texto sobre “Os compositores e a língua nacional”, Mário de Andrade diz, contrariando o senso comum, que “é coisa bem sabida que em todos os tempos o canto viveu em luta com a poesia”. Tendo como base comum o ritmo e a voz, presentes no canto e na palavra, as duas “artes gêmeas” são repuxadas para direções opostas uma vez que, no canto, o ritmo tende ao “puro dinamismo fisiopsíquico” e, na poesia, aos “processos de pensar por meio de palavras”. Podese dizer o mesmo do silêncio da página e dos volteios da entoação. Mário invoca o arco primitivo, arcaico, da tradição védica, que é arma de combate capaz de atirar setas e ao mesmo tempo instrumento musical capaz de produzir sons afinados.
A voz, diz Mário de Andrade, é arco e lira, instrumento de fala e de canto, que emite tanto significações como puras sonoridades, obedecendo cada polo, segundo ele, a “exigências e destinos diferentes” e irreconciliáveis.
Essa visão conflituada e agônica da relação entre a palavra e a música, em Mário de Andrade, talvez esteja ligada ao fato de ele ter renunciado à música, isto é, ao gozo de “tocar um instrumento”, quando se tornou escritor. Certamente também ao seu desejo de superar programaticamente, na época, a distância entre a empostação do canto lírico e a naturalidade da voz que fala, problema que a canção popular, e João Gilberto, resolveram depois para todo o sempre. Mas liga-se ainda à temática da fratura metafísica da presença no sentimento e no pensamento ocidentais, isto é, da não coincidência da expressão com o conteúdo, do significante com o significado, da palavra com o som que a sustenta e do desejo com o seu objeto, nunca alcançado.
Giorgio Agamben diz que “a única tentativa coerente do pensamento ocidental para superar a fratura metafísica da presença” foi dada pela lírica amorosa do século XIII. Nesta, o destino melancólico do desejo, fadado a nunca encontrar plenamente seu objeto, é revirado pelo “pneuma”, o sopro, a voz que vem do coração, que mobiliza o “fantasma”, isto é, as imagens da fantasia, que desembocam nas palavras que, por sua vez, voltam à voz que vem do coração.
É nesse movimento circular que se produz a “estância”, a estrofe da canção — o abrigo em que se contempla e gratifica a falta do objeto impossível.
No “pneuma” o arco e a lira divergem e convergem, como em Heráclito: ele desfaz a dualidade entre o canto e a palavra. Nesse jogo alegre (“joi d’amor”) o desejo, o fantasma e a palavra (isto é, o real, o imaginário e o simbólico) se entrelaçam na música da língua. “Assim vou entrelaçando as palavras e compondo o som: língua entrelaçada no beijo”, diz o poeta músico medieval, nos lembrando do nosso bem conhecido “deixa eu roçar a língua na língua de Luis de Camões”.
De Petrarca a Mallarmé a poesia do ocidente faz do poema o lugar de uma ausência, e dessa ausência a sua autoridade. Agamben diz que a questão pendula entre o Édipo, que quer superar a barreira entre o som e o sentido, e a esfinge, que porta o enigma da sua intransponibilidade.
Quem hoje poderia, pergunta ele sem esperança de resposta, dar o passo capaz de “voltar a medir-se” com aquela poesia do amor inspirante, do sopro do coração que insufla as palavras e a música, para trás e para além da melancolia? Dorival Caymmi e o vento, eu diria. Muitas das canções que dele se irradiam.
“Doce sereia”, de João Bosco e Francisco Bosco.

Skoob

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