domingo, outubro 31, 2010

Voto de confiança

Voto de confiança
Panorama Econômico
Miriam Leitão – O Globo
Confio na democracia. Ela traz em si mesma as sementes de seu próprio aperfeiçoamento. Confio na sabedoria do voto que tem, no Brasil, distribuído o poder entre partidos diferentes e até adversários, para que cada um tenha uma vitória para contar, e nenhum tenha o controle total do país. Confio nas instituições que limitam os excessos de cada poder.
Não acredito nas alternativas.
O voto é soberano e ele decide hoje quem governará o Brasil. Esse processo eleitoral teve ruídos e erros, mas, ao final, o que se pode ouvir é a informação de que ninguém é dono do Brasil. A convicção de alguns de que um governante popular dita sua vontade e, como um midas, transforma em vencedores todos os que toca, não se confirmou no mapa do poder dos estados e na ocorrência do segundo turno. O eleitor quis pensar melhor e hoje vota novamente.
A pessoa que tiver mais votos hoje passou por um duplo teste de força e sairá com mais legitimidade das urnas.
Há sempre em cada final de eleição os eufóricos e os deprimidos. Peço licença para escolher um terceiro sentimento: o da alegria de ver mais uma vez no país o belo processo da escolha direta para Presidência da República, que o Brasil um dia exigiu nas praças, sob o comando dos líderes da oposição ao regime militar, como Ulysses e Tancredo.
Os que terminarem o dia eufóricos devem pensar naqueles que não os escolheram, porque eles fazem parte do mesmo país e seu não tem significado. Os que forem dormir derrotados devem pensar nos votos que receberam como um mandato para exercer o fundamental trabalho de ser oposição, sem o qual o sistema de pesos e contrapesos falha.
Confio na democracia sem adjetivos porque assim ela fica mais simples.
Exige que governo governe e decida; que a oposição critique, fiscalize e mostre opções. Não dispensa equilíbrio entre os poderes e não sobrevive sem imprensa livre. Deve-se rejeitar, por contraditória, a adjetivação da liberdade.
Uma imprensa monitorada por conselhos corporativos terá limitações intoleráveis ao exercício de sua função. Quem consome notícias e análises na era da revolução digital e a superoferta de informação sabe onde encontrar o que quer. Tem discernimento.
Monitorar é uma forma de limitar a liberdade de imprensa e subestimar o consumidor de informação.
A geração que viu a supressão das liberdades é compelida a defendê-la. Hoje se enfrentam nas urnas dois integrantes dessa geração.
José Serra foi para o exílio depois de uma experiência de liderança política estudantil que o levou a ter diálogos com grandes autoridades da República daquele início dos anos 1960. Do Chile fugiu quando viu, pela segunda vez, ruírem as instituições democráticas.
Voltou ao Brasil, anos depois, para reconstruir a democracia. Seu primeiro cargo público de peso foi reorganizar o planejamento e a administração no estado de São Paulo demolidos pela desastroso governo de Paulo Maluf. Depois, passou por seguidos testes das urnas, conhecendo vitórias e derrotas, e assumiu desafios de gerir até áreas que desconhecia e pelas quais se apaixonou: como a saúde. Dilma Rousseff foi atraída para o movimento mais pesado de contestação à ditadura no período de radicalização que ocorreu após o Ato Institucional número 5. Aquele era um tempo em que os ditadores dobraram o grau de violência contra os opositores.
Jovens com cabeça política viram os caminhos da participação política se estreitarem.
Foi assim que Dilma, e outros, optaram pela luta armada. Foi presa e torturada.
Na volta da democracia pegou um dos vários rios em que se dividiu a oposição e ficou ao lado do brizolismo. Foi para a administração pública fazer carreira de gestora estadual e depois, já no PT, assumir cargos no alto escalão do governo federal. Dilma e Serra se enfrentam hoje no esforço pela confiança do eleitor. Uma disputa que tem Dilma como favorita nas pesquisas, mas que só termina quando se contarem os votos, porque eleitor exige que se espere com calma até o fim do dia pelo veredicto coletivo.
Não se deve jamais subestimar os riscos que a democracia corre num país que já teve tantos períodos autoritários e numa região em que alguns governantes decidiram modificar a democracia com suas próprias mãos. O resultado das experiências de alguns dos nossos vizinhos não é animador. As instituições vão sendo moldadas para caber no modelo que os serve mais, e vão sendo desfiguradas até não lembrarem em nada a forma original. Adversário é tratado como inimigo, crítica ao governo é acusada de ser torcida contra o país, divergências são silenciadas, fiscalização é condenada como golpismo ou tentativa de desestabilização do governo popular.
Que o maniqueísmo do segundo turno tenha ficado para trás. Os grupos que se enfrentam hoje nas urnas fizeram juntos a melhor obra recente. Os historiadores terão dúvida de demarcar o terreno dos últimos 16 anos. Fernando Henrique iniciou no governo Itamar Franco e avançou nos seus dois mandatos a obra da modernização do Brasil. Lula consolidou o que herdou e aprofundou o processo de inclusão social.
No entanto, os dois grupos pelejaram no campo de batalha nos últimos meses, com armas nem sempre recomendáveis.
 Confio na democracia.
Ela tem filtros para decantar os excessos, corrigir os rumos e restabelecer a sensatez perdida no furor da campanha.
 Cesse tudo agora que o voto vai ser digitado na urna. São dois números e um aperto na tecla confirma.
Simples e decisivo.
Às urnas, cidadãos.

Tarefa inadiável

Tarefa inadiável
Merval Pereira - O GLOBO - 31/10/10
O presidente eleito hoje terá pela frente como uma de suas tarefas inevitáveis desarmar os espíritos, radicalizados nesta eleição como há muito não se via neste país, mais precisamente desde a eleição de 1989, que colocou frente a frente um Lula e um Collor no grau mais acentuado de suas radicalizações políticas.
No processo eleitoral que se encerra hoje, quem radicalizou a ação política foi o próprio presidente Lula, provocando um retrocesso que custará caro ao amadurecimento institucional do país, se o próximo presidente não tiver noção do que aconteceu e não se dispuser a reverter essa tendência.
O país que vinha desde a redemocratização num processo de aperfeiçoamento de suas instituições viu a máquina do Estado, aparelhada politicamente como nunca antes, ser usada de maneira escancarada para viabilizar a eleição de uma candidata cujo surgimento no cenário político nacional deve-se única e exclusivamente à vontade de um homem que se considera o próprio "pai da pátria".
O país que vinha mantendo um processo continuado de equilíbrio das contas públicas viu o governo abandonar qualquer cautela, se não por pudor, pelo menos por prudência, e se jogar num gasto público crescente e descontrolado, na mais pura demagogia.
Utilizando empresas públicas emblemáticas como a Petrobras não apenas como símbolo de uma fantasiosa campanha contra as privatizações, mas também como máquina política, a ponto de antecipar a exploração de um campo de petróleo do pré-sal, provocando a desvalorização do patrimônio de seus acionistas - o maior dos quais é a própria União.
Os avanços conquistados nos últimos anos no governo Lula, como a redução da pobreza e da desigualdade, com a distribuição de renda através de programas sociais, e a inclusão de uma vasta camada da população no mercado consumidor, ao mesmo tempo sinalizam as deficiências que ainda temos, como a baixa qualidade da educação e a falta de infraestrutura, de que a melhor definição é a constatação de que quase 100% dos lares brasileiros têm acesso à energia e à televisão, mas apenas 50% têm rede de esgoto.
O aumento da demanda interna, se por um lado ajuda a manter o crescimento da economia, por outro força os limites desse mesmo processo, com o risco de gerar inflação.
Dois temas dessa campanha informam ao estrangeiro que chega ao país o atraso de nossa sociedade: as privatizações como ícone de um nacionalismo ultrapassado, que ainda vê o Estado como o provedor da segurança individual sem se importar com a ineficiência de seus serviços, mesmo com uma das maiores cargas tributárias do mundo; e a descriminalização do aborto, já aprovada em países tão ou mais religiosos que o Brasil, como Portugal e Itália.
Se as pesquisas de opinião, ao contrário do primeiro turno, estiverem certas, o mais provável é que a candidata oficial Dilma Rousseff seja eleita hoje, mas a distância que a separa de seu oponente José Serra, do PSDB, é pequena para padrões lulísticos de popularidade, o que demonstra que, se não tivesse perdido as estribeiras institucionais, o presidente Lula não conseguiria obter o que ele acredita ser - e a grande maioria dos eleitores de Dilma também - o seu terceiro mandato consecutivo por interposta pessoa.
Durante esta campanha ficou claro o contraste entre um país que exibe orgulho por certas instituições próprias de democracias avançadas, como a possibilidade de alternância no poder na mais absoluta normalidade, e a livre manifestação de opiniões, com sinais de atraso evidentes, com destaque para o fato de que, paradoxalmente, o presidente da República utilizou todos os meios a seu alcance, legais e ilegais, justamente para tentar impedir uma eventual alternância no poder.
E comandou uma campanha contra a liberdade de expressão que tem nas diversas iniciativas governamentais e partidárias a correspondência de sua retórica palanqueira.
Vencendo a candidata oficial Dilma Rousseff, veremos se a busca do equilíbrio da economia voltará a vigorar, ou se o novo governo será a continuação da política econômica posta em prática a partir do segundo mandato do presidente Lula, com um papel acentuado do governo na economia.
Mesmo recebendo um Congresso onde cerca de 70% dos eleitos fazem teoricamente parte dos partidos da base parlamentar do governo, um futuro governo Dilma dependerá principalmente do PMDB, cujo presidente é o seu companheiro de chapa Michel Temer.
Ele será o responsável, se não formal, certamente na prática, pela negociação com o Congresso. A disputa entre o PMDB e o PT por espaços de poder terá um problema adicional: Dilma não é Lula, falta a ela a capacidade de negociação de seu tutor, e sua maneira rude de comandar não parece ser o melhor caminho para se chegar a um acordo parlamentar.
Ao mesmo tempo, a oposição saiu da eleição menor na sua representação parlamentar, mas mais unida e com trunfos importantes, como o domínio dos principais colégios eleitorais, São Paulo e Minas, e o comando dos estados do Sul como Paraná e Santa Catarina, este a ser governado pelo DEM.
Cravou, também com o DEM, sua estaca no Nordeste, com vitória no Rio Grande do Norte; e no Norte, com o governo tucano de Tocantins; e hoje pode confirmar os governos do Pará, de Alagoas e de Goiás.
Tudo indica que mesmo com a confirmação da vitória de Dilma, as urnas mostrarão um país dividido, com a oposição ampliando sua votação nesse segundo turno.
E os tucanos ainda sonham com uma reviravolta que, se acontecer, ficará na história das eleições brasileiras como a vitória de Harry Truman sobre Thomas Dewey, em 1948, quando o jornal "Chicago Daily Tribune" garantiu na sua manchete na noite das eleições, com base em projeções de pesquisa de opinião, "Dewey derrota Truman".
Truman não só ganhou as eleições como posou sorridente com o jornal nas mãos, numa foto que se tornou famosa.

Pater, para A Tribuna


Fechou-se o cerco

Fechou-se o cerco
ELIANE CANTANHÊDE
BRASÍLIA - Foi-se o tempo em que o petróleo era nosso. Agora, o petróleo é de Lula. As fotos do presidente mais popular da história, de capacete da Petrobras, num macacão cor de abóbora e com as mãos sujas de óleo da nova bacia são a principal imagem da campanha de 2010 e o símbolo da simbiose do Estado com um projeto de poder.
Como ensina o marqueteiro do rei, João Santana, campanhas não trabalham com a realidade e a verdade, mas com símbolos e com a emoção e o imaginário coletivos.
Foi por isso que as estatais e até o BNDES -que não é banco de varejo nem presta serviço- entraram na dança da propaganda subliminar, veiculando durante meses na TV, antes e durante a campanha, um paraíso onde tudo é lindo e todo o povo, feliz e satisfeito. Mas nada se compara ao uso da Petrobras. E assim foi-se definindo a eleição.
Dilma assumiu cedo a dianteira e só veio caindo desde o final do primeiro turno sob pressão da entrada em cena de Erenice Guerra. Serra passou a subir no segundo, herdando parte dos votos de Marina.
O ponto de equilíbrio, com ambos batendo no teto, chegou antes do cruzamento das duas linhas. Daí à certeza da vitória de Dilma, à desmobilização da oposição, à praia do eleitor tucano no feriadão. Com dez pontos de diferença, o resultado está praticamente definido.
Hoje, a eleição acaba e muitas perguntas começam: Lula se contentará em ser o líder mundial contra a fome, ou vai continuar presidente de fato do Brasil? Dilma assumirá de vez a fantasia da candidata ou voltará a ser a gerentona? Quem, e como, vai controlar o PT, o PMDB e PSB (além dos menos cotados)?
Com o cenário externo a favor e a casa arrumada em 16 anos, Dilma tem tudo para fazer um bom governo. Mas torcendo para não haver sobressaltos na economia. Ela, a economia, deu a liga para a imensa aliança vitoriosa a favor de Dilma. O carisma de Lula, o marketing e a falta de prurido fizeram o resto.
elianec@uol.com.br

Votando hoje

Votando hoje
JOÃO UBALDO RIBEIRO - O GLOBO e O ESTADO DE SÃO PAULO - 31/10/10
Minha primeira lembrança política é de um comício comunista, em noite muito remota, na Praça Pinheiro Machado, em Aracaju. Nossa casa ficava na praça e meu pai resolveu que ia dar uma espiada e me levar com ele.
Não lembro oradores, só lembro uma aglomeração de silhuetas agitadas, em frente ao palanque armado sobre o coreto.
Ficamos pouco tempo, mas me impressionei com o coro dos participantes, repetindo o que para mim soou como "luí-cálu-pré!", "luí-cálu-pré!", "luícálupré!". Apesar do medo de que ele me remetesse ao dicionário e, a depender da veneta, me mandasse copiar o verbete com boa letra, perguntei o que queria dizer aquilo.
- Não é luí-cálu-pré - respondeu o velho. - É Luís Carlos Prestes.
Desta vez receando que fosse alguém cujo nome eu devesse ter decorado de algum livro, não perguntei de quem se tratava, apenas assenti com a cabeça, imitando os gestos dos adultos.
Ele ainda acrescentou que aquilo era um comício, um comício dos comunistas, mas eu não quis abusar da sorte e novamente não me arrisquei a fazer perguntas. Mais tarde, fui ao dicionário (um Laudelino Freire descomunal, em cinco volumes maiores que tijolos), ver secretamente o significado de comunista, li-o várias vezes, não entendi, fechei o livro e não disse nada a ninguém, para esconder a vergonha.
Algum tempo depois vieram as eleições presidenciais e minha vida política não mudou muito. Foi a primeira vez em que torci pelo resultado de uma eleição, embora deva confessar que por uma questão de conveniência. O velho, já político pessedista, ficou, é claro, com o candidato de seu partido, Cristiano Machado. Mas minha mãe, embora não militante, era getulista - "queremista", como se dizia na época - e, como a mais vantajosa aliança doméstica era com ela mesmo, acho que mais ou menos vendi meu voto e juntos saímos vitoriosos.
Ainda mais ou menos nessa época, tive os primeiros contatos com o processo eleitoral, na casa de meu avô, em Itaparica. Meu avô era coronel do tempo em que Itaparica era interior mesmo e as eleições uma produção complexa, que requeria o concurso de diversos especialistas, sob a direção logística de minha avó, respeitada como a pessoa mais valente da família e comandante férrea de um batalhão de cabos eleitorais.
A festa da democracia era caprichada e, nos dias próximos às eleições, já estavam organizadas as mesas de refeições em rodízio contínuo, o pessoal do empréstimo de sapatos, do empréstimo de ternos (alguns eleitores só admitiam votar de paletó e gravata) e demais petrechos eleitorais. Antes, já se haviam acumulado meses de trabalho, sobretudo no frequentemente penoso ensinamento de como desenhar a assinatura, porque analfabeto não podia votar e era preciso providenciar um jeitinho de superar essa odiosa discriminação.
Tinha gente que levava mais de um ano para aprender o desenho, embora minha avó, que sempre professou ser "da realidade", comentasse que, com almoço e janta de graça todo dia, Ruy Barbosa não ia passar da cartilha.
Hoje, com tudo isso já envolto na bruma do tempo e da memória distante, as coisas certamente mudaram. Terei mudado eu, já mais coroa que o desejável, e mudaram as eleições. Não há mais minha avó e seus esquadrões eleitorais.

Os marqueteiros são diferentes e, no máximo, podem ser acusados de manipulação, mas nunca de comandar diretamente o eleitor. Também não há mais coronéis e, embora mande a verdade reconhecer que os esquemas de sapatos, dentaduras e correlatos ainda existem, somos, afinal, um país moderno, livre desses velhos vícios.
Mas houve mesmo mudanças e, se houve, estamos melhor agora? Talvez, mas me ocorrem novamente as reformas, elas sempre me ocorrem, quando penso no Brasil. Todos aparentemente concordam em que o país precisa de reformas. Não são mais chamadas, como antigamente, de reformas de base, mas não se discute sua necessidade e talvez apenas se debatam prioridades, entre a fiscal, a política, a judiciária e outras, fáceis de arrolar. Contudo, só se fala nelas de raspão e, na campanha agora encerrada, elas não mereceram atenção, a não ser passageira. As reformas continuarão a ser algo em que se fala, não algo que se faz. Será que não precisamos mais delas? Nenhum dos candidatos ofereceu uma visão do futuro, um projeto, uma vocação nacional, um plano coerente de ação, nem mesmo um símbolo ou um slogan, como os "50 anos em 5" de JK, que pelo menos tinha uma força inspiradora e aglutinadora. Ouviram-se deles arrolamentos de providências, como se a tarefa do governo não passasse de ir tocando uma série de medidas pontuais, uma aqui, outra lá, sem integração numa estrutura orgânica, que deixasse claro para onde se pretende que rume a sociedade. Qual a face programática, qual, por assim dizer, a filosofia de governo que se pretende adotar o eleitor não sabe, ou se sabe, é por meios particulares ou adivinhação, pois dos candidatos é que ele não ouviu senão afirmações genéricas e vagas, fáceis de dizer e com as quais qualquer um concorda, como educação de qualidade para todos, inclusão social, melhor distribuição de renda, segurança e assim por diante.
Tanto assim que é bem ilustrativo um comentário feito pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, num programa de televisão. Com um risinho, ele observou que as diferenças entre os candidatos são na verdade muito pequenas.
Não está havendo, observou ele, disputa por uma causa, mas apenas uma disputa pelo poder. Ele deve saber do que está falando. Não vamos hoje, de jeito nenhum, escolher o quê, isso já era. Vamos apenas escolher quem. Entendo aquele que achar úni-dúni-tê um bom critério.
*JOÃO UBALDO RIBEIRO é escritor.

Humberto, hoje no Jornal do Commercio (PE)


Transposição do Rio São Francisco

Transposição do Rio São Francisco
Letícia Lins – O Globo
 Para o governo federal, a transposição das águas do Rio São Francisco é a redenção do semiárido nordestino, porque beneficiará 12 milhões de sertanejos que enfrentam o flagelo da seca. Para os prefeitos da região, o canteiro de obras fez florescer a economia das cidades por onde passam os canais. São cerca de 10 mil novos postos diretos de trabalho. Para especialistas, no entanto, a obra constitui um risco para o meio ambiente e pode significar o último suspiro do Velho Chico, que corta cinco estados ao longo de seus 2,8 mil quilômetros. Muitos também acreditam que a obra, tida como faraônica, vá beneficiar os grandes projetos de irrigação e não as populações pobres da caatinga.
O projeto, que se encontra em implantação desde agosto de 2007, prevê investimentos de R$ 7 bilhões, sendo R$ 4,6 bilhões provenientes do PAC. Esses recursos estão destinados à construção dos dois principais canais que, de acordo com o Ministério da Integração Nacional, deverão beneficiar 390 municípios de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.
Outros R$ 2,4 bilhões serão usados na implementação de 36 programas ambientais e ações de revitalização do rio.
Embora haja denúncias de paralisação das obras em alguns trechos, o Ministério da Integração alega que os trabalhos estão a pleno vapor e que 67% do Eixo Leste e 47% do Eixo Norte estão concluídos.
A Justiça Federal vem realizando jornadas de conciliações para apressar a desocupação das áreas necessárias para as obras. Burocracia à parte, a preocupação ronda estudiosos do rio, entidades como a Comissão Pastoral da Terra, sindicatos e até mesmo prefeituras.
— Estive recentemente com o presidente Lula e perguntei se a água da transposição também é para a gente ou se vai só para os graúdos. No sertão, o grande sempre teve poder e o pequeno nunca teve direito a nada — afirma Elias Eugênio da Silva, presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Floresta.
Do mesmo anseio compartilha o engenheiro agrônomo João Suassuna, autor do livro “Transposição do Rio São Francisco na perspectiva do Brasil Real” e um dos mais ferrenhos críticos da obra.
— Ninguém é maluco de ser contra um projeto que pretende levar água para 12 milhões de pessoas. Só que a forma como os canais foram dimensionados nos passa a impressão de que eles irão abastecer o agronegócio, as fazendas de criação de camarão e os projetos irrigados. O povo vai continuar sendo abastecido por caminhão pipa na caatinga e não vai ver a água da transposição.
Ele diz não entender por que o governo Lula ignorou o Atlas Nordeste de Abastecimento, que mapeia todas as fontes de água da região e que deveria beneficiar cerca de 30 milhões de pessoas do semiárido.
Caso tivesse sido implantado, como pretendia a Agência Nacional de Águas (ANA), o Atlas teria custado ao governo metade do investimento previsto com a transposição.
A sobrevivência do São Francisco também é uma preocupação. De acordo com Flávio Cappio, para quem o rio já não suporta tanta demanda.
Moradores de Barra se deparam este ano com o mais baixo volume de água do Velho Chico ao longo dos últimos 70 anos.
Polêmica à parte, a presidenciável do PT, Dilma Rousseff, diz que, se eleita, dará continuidade à obra, a que se refere como “a maior ação no setor de abastecimento de água em andamento no país”: — Esse projeto assegurará aSuassuna, ele está no seu limite.
Afinal, 95% da energia elétrica do Nordeste são gerados a partir da água do rio, que também irriga 340 mil hectares de terras, área de cultivo que cresce à razão de quatro por cento ao ano: — Se não houver um planejamento adequado no seu uso, a água poderá faltar.
A transposição já provocou até greve de fome do bispo da cidade baiana de Barra, Dom oferta de água a cerca de 12 milhões de habitantes de 390 municípios. Caso seja eleita, darei continuidade a este projeto fundamental para o desenvolvimento social e econômico do sertão e do agreste nordestinos, que assegurará o abastecimento de água para a produção e o consumo.
José Serra (PSDB) diz que “muitas críticas corretas têm sido feitas à forma como o atual governo tratou a transposição”.
Afirma ainda que até agora as obras têm sido realizadas pelo exército e que 80% das licitações estão atrasadas.
Mas promete continuar a obra, que considera “de alto interesse público”.
Paralelamente à transposição, Serra pretende realizar “um vigoroso processo de revitalização do rio, especialmente em Minas Gerais, já que 70% da contribuição hídrica da bacia ocorrem em território mineiro”. Afirma ainda que vai “promover a regularização e a navegabilidade do leito do São Francisco, com o seu desassoreamento”, além de “reflorestar suas matas ciliares e recuperar as áreas degradadas”.

As obras que navegam nas águas da polêmica

As obras que navegam nas águas da polêmica
Novo presidente herdará projetos como a usina de Belo Monte, a transposição do São Francisco e a implantação do trem-bala, que estão entre os mais caros do PAC
O Globo - BRASÍLIA, RECIFE e RIO.
Três megaprojetos. Três orçamentos bilionários.
 O presidente que será eleito hoje herdará obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que ficaram no meio do caminho: a implantação do trem-bala entre Rio, São Paulo e Campinas; a construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, e a transposição do Rio São Francisco, a única já em curso.
O desafio não é apenas financeiro — as obras somam R$ 59 bilhões. Desde a greve de fome do bispo da cidade baiana de Barra, Dom Flávio Cappio, a transposição do São Francisco rema contra uma maré de críticas.
A construção de Belo Monte também foi alvo de uma enxurrada de protestos: de populações indígenas ao cineasta James Cameron, de “Avatar”. Já o trem-bala, projeto mais ambicioso do PAC, tem pela frente um caminho pontilhado de dúvidas.
A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, promete dar continuidade aos três projetos.
José Serra (PSDB), mesmo com críticas ao modo pelo qual o atual governo conduziu Belo Monte e a transposição do São Francisco, diz que continuará essas obras. Quanto ao trem-bala, sustenta que é preferível deixar o projeto a cargo da iniciativa privada e usar recursos públicos na ampliação dos metrôs.

É hoje

É hoje
DANUZA LEÃO - FOLHA DE SÃO PAULO - 31/10/10
Que Deus proteja o Brasil. Quando novo presidente é eleito, tudo muda, para melhor ou para pior
BOA SORTE ao eleito de hoje.
Se for aquele em quem votei, ótimo; se não for, boa sorte assim mesmo, e que Deus proteja o Brasil -e nos proteja.
Hoje à noite, na hora em que Lula puser a cabeça no travesseiro, vai cair a ficha: agora é só uma questão de tempo, e pouco tempo.
Ele se acostumou com o sucesso e a popularidade, mas vai ter também que se acostumar a não ser mais presidente da República, só que não vai ser assim tão fácil. Para isso é preciso ter sabedoria e equilíbrio, qualidades que definitivamente o presidente não tem.
Lula sonhou alto; pretendia ser secretário-geral da ONU, pretendia que o Brasil fizesse parte do Conselho de Segurança, pretendia ganhar o Nobel da Paz, quis resolver o confronto no Oriente Médio, foi chamado por Obama de "o cara"; começou a se achar dono do mundo, meteu os pés pelas mãos e conseguiu, na hora de sair, ficar mal na foto. Bem mal.
Qualquer que seja o resultado de hoje, temos boas razões para comemorar. Não vamos mais ver na TV Lula andando com o microfone na mão, como se estivesse num auditório, dizendo "nunca antes nesse país", comparando tudo que acontece a um jogo de futebol, sem um pingo de graça.
Não vamos mais ver Marisa Letícia vestida de verde e amarelo nas comemorações da Independência ou de vermelho em carreata eleitoral, saudando o povo com os braços para o alto, como se fosse uma miss; sua voz, ninguém jamais ouviu, e seu único ato foi fazer um canteiro com uma estrela vermelha no jardim do Palácio da Alvorada. Que foi retirada, por sinal.
O Brasil, que já tinha ficado bem mal educado nos tempos de Collor, ficou ainda menos educado depois dos oito anos de Lula. A falta de cerimônia, os péssimos modos, a maneira de se dirigir a seus adversários, o pouco caso com que atropelou as leis eleitorais; dizer inverdades, agindo como se os fins justificassem quaisquer meios, e que a impunidade é lei. Tudo foi um péssimo exemplo.
Quando um novo presidente é eleito, tudo muda - para melhor ou para pior. Penso em Cristina Kirchner, que deve estar passando por maus momentos, em todos os sentidos. Como fará para governar o país, sem seu marido ao lado para encarar os problemas, maiores ou menores?
É o perigo de ser eleito/a um candidato/a que precisa de quem o dirija na hora do aperto, para que o país não fique à deriva. Já pensaram se a mulher de Joaquim Roriz vence a eleição no Distrito Federal e seu marido morre? Antes de votar, há que se pensar em tudo, até no que parece impossível poder acontecer. E se acontecer?
Lula deve estar cansado, merece umas férias, e será recebido com festa na Venezuela, em Cuba e também no Irã.
Vai, Lula, você merece: nós também estamos muito cansados de você.
PS - Não há mais o que falar sobre eleição; então, depois de votar, passe numa livraria e compre o livro "Contra um Mundo Melhor", de Luiz Felipe Pondé, editora Leya. Tive dificuldade em alguns trechos -difíceis para quem não tem uma grande cultura-, por isso aconselho a deixá-lo na mesa de cabeceira, pegar de vez em quando, abrir em qualquer página e reler. É uma leitura perturbadora, que nos faz pensar, o que fazemos pouco.
Dê a você essa chance, a de pensar. Juro que não dói.

Skoob

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