domingo, outubro 31, 2010

Transposição do Rio São Francisco

Transposição do Rio São Francisco
Letícia Lins – O Globo
 Para o governo federal, a transposição das águas do Rio São Francisco é a redenção do semiárido nordestino, porque beneficiará 12 milhões de sertanejos que enfrentam o flagelo da seca. Para os prefeitos da região, o canteiro de obras fez florescer a economia das cidades por onde passam os canais. São cerca de 10 mil novos postos diretos de trabalho. Para especialistas, no entanto, a obra constitui um risco para o meio ambiente e pode significar o último suspiro do Velho Chico, que corta cinco estados ao longo de seus 2,8 mil quilômetros. Muitos também acreditam que a obra, tida como faraônica, vá beneficiar os grandes projetos de irrigação e não as populações pobres da caatinga.
O projeto, que se encontra em implantação desde agosto de 2007, prevê investimentos de R$ 7 bilhões, sendo R$ 4,6 bilhões provenientes do PAC. Esses recursos estão destinados à construção dos dois principais canais que, de acordo com o Ministério da Integração Nacional, deverão beneficiar 390 municípios de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.
Outros R$ 2,4 bilhões serão usados na implementação de 36 programas ambientais e ações de revitalização do rio.
Embora haja denúncias de paralisação das obras em alguns trechos, o Ministério da Integração alega que os trabalhos estão a pleno vapor e que 67% do Eixo Leste e 47% do Eixo Norte estão concluídos.
A Justiça Federal vem realizando jornadas de conciliações para apressar a desocupação das áreas necessárias para as obras. Burocracia à parte, a preocupação ronda estudiosos do rio, entidades como a Comissão Pastoral da Terra, sindicatos e até mesmo prefeituras.
— Estive recentemente com o presidente Lula e perguntei se a água da transposição também é para a gente ou se vai só para os graúdos. No sertão, o grande sempre teve poder e o pequeno nunca teve direito a nada — afirma Elias Eugênio da Silva, presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Floresta.
Do mesmo anseio compartilha o engenheiro agrônomo João Suassuna, autor do livro “Transposição do Rio São Francisco na perspectiva do Brasil Real” e um dos mais ferrenhos críticos da obra.
— Ninguém é maluco de ser contra um projeto que pretende levar água para 12 milhões de pessoas. Só que a forma como os canais foram dimensionados nos passa a impressão de que eles irão abastecer o agronegócio, as fazendas de criação de camarão e os projetos irrigados. O povo vai continuar sendo abastecido por caminhão pipa na caatinga e não vai ver a água da transposição.
Ele diz não entender por que o governo Lula ignorou o Atlas Nordeste de Abastecimento, que mapeia todas as fontes de água da região e que deveria beneficiar cerca de 30 milhões de pessoas do semiárido.
Caso tivesse sido implantado, como pretendia a Agência Nacional de Águas (ANA), o Atlas teria custado ao governo metade do investimento previsto com a transposição.
A sobrevivência do São Francisco também é uma preocupação. De acordo com Flávio Cappio, para quem o rio já não suporta tanta demanda.
Moradores de Barra se deparam este ano com o mais baixo volume de água do Velho Chico ao longo dos últimos 70 anos.
Polêmica à parte, a presidenciável do PT, Dilma Rousseff, diz que, se eleita, dará continuidade à obra, a que se refere como “a maior ação no setor de abastecimento de água em andamento no país”: — Esse projeto assegurará aSuassuna, ele está no seu limite.
Afinal, 95% da energia elétrica do Nordeste são gerados a partir da água do rio, que também irriga 340 mil hectares de terras, área de cultivo que cresce à razão de quatro por cento ao ano: — Se não houver um planejamento adequado no seu uso, a água poderá faltar.
A transposição já provocou até greve de fome do bispo da cidade baiana de Barra, Dom oferta de água a cerca de 12 milhões de habitantes de 390 municípios. Caso seja eleita, darei continuidade a este projeto fundamental para o desenvolvimento social e econômico do sertão e do agreste nordestinos, que assegurará o abastecimento de água para a produção e o consumo.
José Serra (PSDB) diz que “muitas críticas corretas têm sido feitas à forma como o atual governo tratou a transposição”.
Afirma ainda que até agora as obras têm sido realizadas pelo exército e que 80% das licitações estão atrasadas.
Mas promete continuar a obra, que considera “de alto interesse público”.
Paralelamente à transposição, Serra pretende realizar “um vigoroso processo de revitalização do rio, especialmente em Minas Gerais, já que 70% da contribuição hídrica da bacia ocorrem em território mineiro”. Afirma ainda que vai “promover a regularização e a navegabilidade do leito do São Francisco, com o seu desassoreamento”, além de “reflorestar suas matas ciliares e recuperar as áreas degradadas”.

Um comentário:

  1. Creio que a transposição sertamente ira beneficiar a classe mais pobre do sertão, até porque, não existe 12 milhões de de pessoas ricas num lugar onde não tém boa educação,saúde,saneamento, onde falta emprego e até mesmo comida.Essa é a realidade do sertão brasileiro.

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