sexta-feira, maio 07, 2010

IQUE - No Jornal do Brasil


É possível uma sexualidade feliz? Essa pergunta provocou o filósofo espanhol José Antonio Marina a escrever o livro "O Quebra-Cabeça da Sexualidade".

A ética da paixão
Folha de São Paulo. Caderno Mais - 15/06/2008
EM "O QUEBRA-CABEÇA DA SEXUALIDADE", O ESPANHOL JOSÉ ANTONIO MARINA RETRATA A UTOPIA DA FELICIDADE NAS RELAÇÕES AMOROSAS
MIRIAN GOLDENBERG ESPECIAL PARA A FOLHA
É possível uma sexualidade feliz? Essa pergunta provocou o filósofo espanhol José Antonio Marina a escrever o livro "O Quebra-Cabeça da Sexualidade". Um dos intelectuais mais famosos e lidos na Espanha, Marina escreveu mais de 25 livros desde 1992, quando iniciou sua carreira de pesquisador independente. "O Quebra-Cabeça da Sexualidade" é seu primeiro publicado no Brasil, apesar de não ser o mais vendido de sua lista de sucessos editoriais. Nele, é possível encontrar preocupações e idéias já presentes em livros anteriores, como a questão da ética como meio mais inteligente de viver e de fazer escolhas amorosas e sexuais.
Saber prático
Para Marina, a ética é um saber prático sobre a felicidade. É a inteligência colocada a serviço dos afetos, dos interesses e das esperanças. A ética inventa projetos de vida e indica os deveres necessários para realizá-los. À ética pertence tudo o que é imprescindível para a felicidade e para a dignidade do próprio indivíduo e dos outros.
O autor é irônico e, ao mesmo tempo, sério em suas reflexões. Logo no início, constata a verdade de nossos tempos: a família está em crise, o casamento está em crise, o amor está em crise.
E provoca: "Espero que algum dia a crise entre em crise".
Para Marina, a vida a dois e a vida familiar produzem alegrias e satisfações, mas, também, muita dor, sofrimento e violência. Com a atual ausência de modelos, as relações sexuais e amorosas têm que ser reinventadas individualmente, o que, na teoria, é maravilhoso, mas, na prática, é fonte de conflitos e enormes dificuldades.
O amor tornou-se mais do que nunca necessário para a felicidade e, ao mesmo tempo, quase impossível de ser realizado. Ele analisa a tensão insuperável da atualidade.
Somos impulsionados por duas grandes motivações: o desejo de bem-estar (que é conservador, utilitário, calculista) e a expansão de nossas possibilidades vitais (que é arriscada, incômoda, instável, inovadora). No amor e no sexo queremos nos sentir, paradoxalmente, tranqüilos e exaltados, seguros e intensos, ternos e apressados, fiéis e livres, imanentes e transcendentes.
Pró-liberação
"O Quebra-Cabeça da Sexualidade" é um manifesto em favor da liberação sexual. Para Marina, o que mais se parece com a sexualidade criadora e feliz é uma conversa.
É impossível o diálogo lingüístico, amoroso e sexual para aqueles que só sabem e gostam do monólogo. A verdadeira conversa tem um ar de liberdade compartilhada. Não é possível impor o seu rumo ou obrigar o outro a participar dela sem desejo.
Não é um debate ou uma discussão, uma competição entre dois indivíduos que acreditam serem os donos da verdade ou os proprietários do ser amado.
Ela é imprevisível, cheia de surpresas e descaminhos.
O mesmo acontece com a conversa erótica. O monólogo sexual, para Marina, é como uma masturbação solitária que exclui o outro amante. As conversas eróticas são estimulantes, podem ser intermináveis e dependem do respeito e do cuidado com que se ouve e se presta atenção ao interlocutor.
É a capacidade não só de compreender o que o outro diz, mas de se deixar afetar pelo outro, em todos os níveis. A partir da idéia de uma conversa erótica, Marina desenvolve outras questões que considera básicas para uma sexualidade feliz: o cuidado com o outro, a dignidade da convivência e uma ética própria ao casal.
A vida amorosa, para ele, não é fruto da casualidade nem pode existir com o descaso. O amor tem que cumprir suas tarefas para ser feliz. O amor tem uma ética própria.
O filósofo diz que não deveriam existir monólogos amorosos, mas que é muito raro encontrar um bom interlocutor.

Uma boa conversa
Apesar de tão rara (ou, quem sabe, exatamente porque é rara), a conversa amorosa é um modelo desejado em quase todas as culturas existentes, e a sua ausência é vivida como um enorme fracasso individual e coletivo.
Marina acredita que nos enganamos ao dizer que o grande valor de nossos tempos é a liberdade. Para ele, o grande valor é a autonomia, ou seja, a capacidade de escolher nosso projeto de vida e realizá-lo.
Em uma relação amorosa, certamente, perde-se em parte a liberdade individual, mas, por outro lado, pode-se conquistar a autonomia, aumentar as possibilidades vitais e criativas de cada um dos amantes, despertar poderes adormecidos ou embrionários e construir um novo modo de vida.
Em tempos de banalização das relações amorosas, de extrema superficialização das pessoas, da ditadura do orgasmo obrigatório, de indivíduos infantis, chatos, preguiçosos, covardes e fracassados no amor e no sexo, o filósofo propõe a valorização profunda e terna da intimidade, a reciprocidade equilibrada entre os amantes, o cuidado, a admiração, a valorização e o respeito pelo outro, o exercício da capacidade de se deixar afetar e de afetar o ser amado.
Ele acredita que, mais do que necessário, é urgente desenvolver a capacidade de amar com ética. Só assim responderia positivamente à sua pergunta inicial: sim, é possível uma sexualidade feliz!

MIRIAN GOLDENBERG é antropóloga e professora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do RJ e autora de "Os Novos Desejos" (Record).  O QUEBRA-CABEÇA DA SEXUALIDADE Autor: José Antonio Marina Tradução: Diana Araujo Pereira Editora: Guarda-Chuva (tel. 0/xx/21/ 2572-6103) Quanto: R$ 38 (308 págs.)

Entrevista com o filósofo José Antonio Marina

Clique nas imagens e elas aumentarão de tamanho para a leitura.

Um filme inédito que mostra a rainha Elizabeth 2ª foi divulgado como parte de uma exposição a ser inaugurada sábado no Castelo de Windsor, na Inglaterra.

O filme mostra a monarca britânica com cerca de quatro anos de idade e inclui fotos tiradas por Marcus Adams. Ele ocupava o posto de Fotógrafo Real e registrou com suas lentes duas gerações da monarquia britânica, entre 1926 e 1956. A curadora Lisa Heighway disse que é notável a mudança na expressão de Elizabeth depois que o pai dela, George 6º, subiu ao trono inesperadamente após a abdicação do tio, em 1936. O rei Edward 8º abdicou do trono para se casar com a americana divorciada Wallis Simpson. Diante da nova posição do pai, Elizabeth passou a ser a herdeira do trono e começou a aparecer com uma fisionomia mais séria. A mostra fica em cartaz até 6 de fevereiro de 2011.

Os desafios da liberdade

Mauro Santayana - 06/05/2010 - Jornal do Brasil

O que tem faltado ao nosso tempo é o respeito ao lugar-comum. Quando tentamos fugir do pensamento singelo, quase sempre caímos em esparrelas, algumas risíveis, outras, trágicas. Um dos lugares-comuns da história do homem é o de que ele só se libertou de sua condição animal com a palavra. A palavra foi o resultado de uma conjunção favorável da anatomia e da fisiologia dos primatas superiores com a necessidade de sua sobrevivência. O homem é homem porque se comunica, revela-se ao outro. Para que continuasse a crescer, foi preciso que inventasse a escrita, registrável em suportes duradouros, como as pedras, o papiro, o pergaminho – e o papel. Verba volant, scripta manent. 
É inconcebível – e voltamos a outro lugar-comum – que se arrolhem as gargantas, que se costurem os lábios, que se amordacem os homens. Se é inconcebível que assim se faça, igualmente inconcebível é que se atem os dedos e as mãos, a fim de impedir que se escreva.
Cada um de nós tem o direito de escrever o que pensa e divulgar o que escreve, como assegura a Constituição, na definitiva interpretação do STF. Não podemos admitir que se impeça a difusão do que se escreve. Assim chegamos às ameaças constantes à liberdade de imprensa. A discussão pode parecer anacrônica, quando a irrupção da internet, como meio instantâneo de comunicações, permite a qualquer um dizer o que pensa. Pela internet podemos reproduzir os belos sonetos de Shakespeare, mas, da mesma forma, propagar nefandas ofensas.
As empresas brasileiras de comunicação, de acordo com o que se informa, pretendem criar sistema autorregulador que discipline a atividade. Por mais generosa seja a ideia, ela em pouco difere de outra, nascida do corporativismo sindical, de se criar um Conselho Nacional de Jornalistas, que a consciência de muitos jornalistas e dos cidadãos repudiou. As empresas de comunicação, ao conceber o órgão autorregulador, nos ameaçam com a consolidação do pensamento único, de que a sociedade está sendo vítima, a partir da predominância dos interesses econômicos sobre os direitos sociais – enfim, do mal chamado neoliberalismo. 
A História é uma construção dos rebeldes, dos inconformados, dos hereges e dos subversivos de cada tempo. Assim, o primeiro cuidado dos totalitarismos é tentar algemar as ideias. Mediante a censura, eles conseguem – por algum tempo, mas nunca para sempre – esconder seus crimes, dissimular a tirania, converter ditadores em sujeitos comuns, como ocorreu no Brasil durante o governo Médici, no qual o general de plantão se tornou simpático torcedor de futebol. 
Há totalitarismos escancarados e totalitarismos manhosos. Os escancarados, além da censura direta dos meios de comunicação, valem-se da violência do Estado, cujos poderes usurpam, para a eliminação dos inimigos – ou seja, dos que lutam pela liberdade e pela dignidade dos seres humanos. Os manhosos torcem a semântica, e a liberdade essencial de ser passa a ser entendida apenas como a liberdade de ter. O princípio fundamental da democracia é a isonomia: cada cidadão tem o mesmo valor e o mesmo direito na sociedade política, seja rico ou pobre, intelectual ou artesão. Os ricos, no entanto, sempre foram ocupantes privilegiados do poder. A única forma de se lhes oferecer resistência é a liberdade de expressão, de que a autonomia dos jornalistas é o natural prolongamento.
Os que, usando dessa liberdade, cometam crimes de calúnia, infâmia e injúria, que sejam punidos de acordo com o Código Penal, como qualquer cidadão comum. O jornalismo não pode ser o escudo dos canalhas, mas sim o instrumento para a promoção da justiça.
A liberdade de imprensa já vem sendo ameaçada pela concentração, em poucas organizações, da propriedade dos veículos. A esse perigo se acrescenta agora a generalização da autocensura, com a criação do órgão “autorregulador”: uma arbitrariedade contra os jornalistas dignos de seu ofício e o direito dos cidadãos à informação e à opinião. Cabe a cada jornal estabelecer sua linha editorial, mas não é bom para a sociedade que ela seja comum a todos os veículos, como parece ser a intenção de alguns. Só na pluralidade e na controvérsia podemos encontrar a verdade possível.

Fernando Pessoa

Enquanto não superarmos a ânsia do amor sem limites,
não podemos crescer emocionalmente.
Enquanto não atravessarmos a dor de nossa própria solidão,
continuaremos a nos buscar em outras metades.
Para viver a dois, antes, é necessário ser um.

Fernando Pessoa

Das Vantagens de Ser Bobo - Clarice Lispector

Nervosismo em alta

Nervosismo em alta
Grécia leva pânico a bolsas do mundo
Jornal do Brasil - 07/05/2010

 Grécia aprova pacote, mas violenta reação interna leva bolsas dos EUA a queda acentuada.  O Parlamento da Grécia aprovou o pacote com aumento de impostos e redução de salários, exigido para que o país receba verbas do FMI. A decisão gerou revolta, e criou temor de que o governo grego vá recuar e decretar o calote. Com isso, as bolsas de todo o mundo tiveram mais um dia ruim: o índice Dow Jones chegou à queda recorde de 9%, fechando em baixa de 3,19%. A Bovespa também fechou em queda de 2,31%. Já o dólar teve alta de 2,84%, e bateu R$ 1,849, a maior cotação desde 12 de fevereiro.
As principais bolsas de valores de todo o mundo viveram um dia de profundo nervosismo, com quedas anormais dos índices dos pregões, arrastadas pelos temores de que, mesmo com a aprovação de um pacote de medidas de austeridade pelo parlamento grego, o governo do primeiro ministro George Papandreou seja obrigado a retroceder, devido aos protestos que se alastram pelo país. Nesse caso, a ajuda seria suspensa e o país se veria obrigado a declarar incapacidade de pagamento (default) da dívida A violenta queda dos mercados coincidiu com transmissão pela TV de imagens das manifestações na Grécia, com o parlamento cercado por manifestantes contrários às medidas de contenção e a violenta repressão policial que ocorreu em seguida. Em meio a persistentes temores de uma propagação da crise grega na zona do euro, a bolsa de Londres fechou em queda de 1,52%, enquanto Paris baixou 2,20% e Frankfurt, 0,88%. A bolsa de Madri caiu 2,93% e a de Milão, 4,26%. Paradoxalmente, a bolsa de Atenas teve leve alta de 0,98%. Na Ásia, as mesmas preocupações atingiram a Bolsa de Tóquio, que fechou a sessão de quinta-feira com uma perda de 3,27%, enquanto Xangai encerrou em queda de 4,11% e Hong Kong, de 0,96%. No pregão da Bolsa de Valores de Wall Street, em Nova York, houve momentos de pânico, com a queda do principal índice (Dow Jones) chegando a 9%. No fechamento, entretanto, a queda baixou para 3,2% depois de movimentos que operadores classificaram como “emocionais e i ndiscriminados”. A Bolsa de Valores de São Paulo chegou ter queda de mais de 6%, mas ao final estabilizou-se em 2,31%, em 63.414 pontos. No mercado de câmbio, o dólar fechou em alta de 2,84%, vendido a R$ 1,849, depois de ter subido mais de 5%, aproximando-se de R$ 1,90. A cotação é a maior desde 12 de fevereiro, quando terminou a R$ 1,859. No mundo, o euro caiu abaixo de US$ 1,27, o menor patamar registrado desde março de 2009.
Contenção Sob protestos das centrais sindicais, o pacote grego incluiu aumento de impostos e redução de salários, e é condição para que o país tenha acesso ao à ajuda de 110 bilhões de euros (US$ 146 bilhões) patrocinado pelas nações da zona do euro e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). O projeto teve apoio de 172 deputados socialistas e de ultra-direita. Votaram contra 121 deputados da oposição de direita, do Partido Comunista e da esquerda radical. Houve três abstenções. As medidas incluem também aumento no imposto de valor agregado (IVA), alta de 10% nos impostos sobre combustíveis, álcool e tabaco, além de uma redução de salários no setor público. A partir daí, o governo prevê que o país tenha uma contração de 4% do PIB em 2010 e 2,6% em 2011. O crescimento voltaria em 2012, com cerca de 1,1%. O programa implica esforço fiscal de 11 pontos do PIB. Ou seja, 30 bilhões de euros em três anos (até 2013), em adição ao anunciado no programa econômico para 2010. Os bancos europeus começaram a revelar a sua exposição à crise grega, confirmando que estão comprometidos com o país e o custo deste envolvimento foi estimado em até US$ 188,6 bilhões (141,8 bilhões de euros). A França é a mais exposta (53 bilhões de euros), seguida de Alemanha (40 a 45 bilhões), Grã-Bretanha (11,28 bilhões) e Holanda (8,95 bilhões).

Anticoncepcional - Pílula pode reduzir libido nas mulheres

Anticoncepcional - Pílula pode reduzir libido nas mulheres
A Gazeta – ES - 06/05/2010

A falta de desejo sexual atinge cerca de duas em cada cinco mulheres, afirma a pesquisadora Lisa-Maria Wallwiener, da Universidade de HeidelBerg, na Alemanha. A perda de libido feminina é multifatorial. Porém, nos útlimos anos, cientistas estão dando mais atenção aos contraceptivos hormonais. O estudo alemão avaliou 1.046 mulheres em idade fértil que tomavam pílula há pelo menos seis meses. Destas, um terço tinha algum tipo de disfunção sexual. Segundo os pesquisadores, o maior problema da pílula é que ela diminui os níveis de testosterona, hormônio que ajuda a aumentar o desejo sexual.

A distância entre nós

A distância entre nós
por Carmen Hein de Campos*
Zero Hora - 06/05/2010

No livro A Distância entre Nós, Thrity Umrigar, em uma narrativa delicada e contundente, mostra como a violência aproxima as mulheres. A violência doméstica praticada pelo bem-sucedido marido da rica dona de casa e a gravidez não desejada da única neta da pobre empregada doméstica traça para sempre os destinos dessas mulheres.
Sem conseguir romper a relação violenta, a rica dona de casa usa roupas de manga longa, no forte calor indiano, para esconder as marcas dos socos e pontapés constantemente desferidos pelo marido. A pobre empregada, que vive em uma favela, luta com dificuldade para manter a neta na universidade. A gravidez inesperada da neta, oriunda de uma sutil violência, muda os planos e a vida de ambas. O aborto apresenta-se como a única solução para que a neta possa continuar estudando, já que ser uma jovem grávida e solteira na sociedade indiana significa viver estigmatizada e hostilizada, pondo fim ao sonho de uma vida um pouco melhor.
Mas a violência as une. A empregada silenciosamente acolhe, solidariza-se e trata dos ferimentos físicos e emocionais da dona de casa. Esta, por sua vez, apoia e acompanha a neta da empregada na realização do aborto, que para a jovem transforma-se em um pesadelo. No entanto, se a violência aproxima as duas mulheres, as condições sociais, econômicas e culturais criam um abismo entre elas. A empregada tem consciência de que o analfabetismo e a falta de cultura são responsáveis pela miséria (não apenas física) de sua vida. Se tivesse estudo e soubesse falar, não teria sido enganada e desrespeitada em sua vida.
A autora revela como as condições culturais são determinantes para a aceitação social da violência doméstica e as condições sociais e econômicas fundamentais para o acesso a serviços públicos de qualidade e à informação no campo da saúde.
A situação vivida pelas duas personagens centrais, embora se passe na Índia, é exatamente a mesma vivenciada pelas mulheres no Brasil. A violência doméstica e a gravidez não desejada são o cotidiano das mulheres brasileiras. Acolher, não julgar ou condenar as mulheres que não conseguem romper a violência ou que realizam abortos por necessidade ou por não terem tido acesso a serviços de saúde, informação ou atendimento adequado é uma forma de suavizar essa violência. Reduzir as desigualdades sociais é diminuir essa outra distância entre nós.
* Coordenadora do Cladem/Brasil – Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da mulher. Na Foto: Carmen Hein de Campos

Carroças Vazias

Reflexão
Certa manhã, meu pai convidou-me a dar um passeio no bosque e eu aceitei com prazer.
Ele se deteve numa clareira e depois de um pequeno silêncio me perguntou:
- Além do cantar dos pássaros, você está ouvindo mais alguma coisa?
Apurei os ouvidos alguns segundos e respondi:
- Estou ouvindo um barulho de carroça.
- Isso mesmo, disse meu pai. É uma carroça vazia...
Perguntei ao meu pai:
- Como pode saber que a carroça está vazia, se ainda não a vimos?
- Ora, respondeu meu pai. É muito fácil saber que uma carroça está vazia, por causa do barulho. Quanto mais vazia a carroça maior é o barulho que faz.
Tornei-me adulto, e até hoje, quando vejo uma pessoa falando demais, inoportuna, interrompendo a conversa de todo mundo, tenho a impressão de ouvir a voz do meu pai dizendo: Quanto mais vazia a carroça, mais barulho ela faz...
É meus amigos!! Existem pessoas assim infelizmente, que são muito vazias, que só trazem rancor, fofocas, que são como uma verdadeira carroça vazia fazendo apenas muito barulho em nossas vidas.

Manoel de Barros - Tratado Geral das Grandezas do Ínfimo

Por que mulher não vota em mulher

Por que mulher não vota em mulher
Zero Hora - 06/05/2010
por Céli Regina Jardim Pinto*
Nunca se falou tanto na importância do voto da mulher como agora. De um momento para o outro, a mídia e os institutos de pesquisa acordaram para o fato de que mais da metade do eleitorado brasileiro é composto por mulheres, daí que o voto da mulher importa. E isto realmente é uma novidade, pois até agora o voto da mulher não era levado em consideração pelos candidatos como uma variável fundamental. Também a própria ausência da mulher na vida política parlamentar não preocupava os formadores de opinião e principalmente os partidos políticos. Somos hoje um dos países de menor presença de mulheres no parlamento. O Brasil ocupa o lugar 148 no ranking de mulheres no parlamento, em um total de 180 países. Nossos índices se assemelham aos dos países muçulmanos, onde, como é sabido, as mulheres têm enormes restrições para participar do mundo público. Na Argentina, por exemplo, as mulheres são 40% dos parlamentares; no Brasil, 9%. Aqui não é o espaço para discutir esta complexa questão, mas para levantar outro problema que tem vindo acoplado à “novidade” do voto da mulher, que é o fato aferido pelas pesquisas de opinião de que as mulheres votam menos em mulher do que os homens. São muitas as possibilidades de respostas, que transitam do preconceito das mulheres em relação às próprias mulheres na política até a ideia de um voto mais consciente e estudado e não definido muitos meses antes da eleição. Há inclusive estudiosos que apontam a íntima relação da mulher com a TV para afirmar que as eleitoras só definem o voto depois da propaganda eleitoral gratuita. Tenho acompanhado as campanhas das candidatas mulheres a todos os cargos no Rio Grande do Sul e mesmo fora dele nos últimos anos, e minha conclusão é um pouco diversa. Analisando as campanhas das candidatas na TV, no rádio, na internet, em panfletos, penso que uma das mais fortes razões para as mulheres não votarem em mulheres é o fato de que as candidatas mulheres não se apresentam como tal. Daí não haver razão para que as mulheres considerem na sua decisão de voto o fato de que um candidato seja mulher. Após 30 anos de feminismo e de importantes vitórias das mulheres, feministas ou não, tanto no campo dos direitos quanto no campo de comportamento, chega às raias do incompreensível o fato de as mulheres que se propõem a prefeitas, governadoras e presidente não falarem para as mulheres e para os homens como mulheres. Quando as candidatas tiverem consciência de que chegaram até onde chegaram não só pelos méritos individuais, que todas, evidentemente, têm, mas como resultado de uma luta de mais de 30 anos do movimento das mulheres pelo direito de existir plenamente como cidadã, certamente se apresentarão como candidatas mulheres. Neste momento, as mulheres começarão a votar nas mulheres.
*Professora do Departamento de História da UFRGS, doutora em Ciência Política e pesquisadora convidada na Universidade Livre de Berlim, Alemanha

Telescópio europeu Herschel revela descobertas no universo

Telescópio europeu Herschel revela descobertas no universo
Com a ajuda de radiação infravermelha, o telescópio capta as imagens mais primitivas e distantes do universo
EFE | 06/05/2010
Herschel, o telescópio maior já lançado ao espaço, começou a fornecer dados surpreendentes sobre o universo profundo, que estão mudando a compreensão que os astrônomos tinham até agora da origem das estrelas e a evolução das galáxias. Engenheiros e cientistas da Agência Espacial Europeia (ESA) apresentaram hoje em Noordwijk (Holanda) os primeiros resultados obtidos da análise de seus dados, quando está prestes a completar um ano do lançamento deste observatório, fruto da cooperação de mais de 20 países europeus. As gêneses de uma estrela "impossível", a descoberta de distâncias inimagináveis de vapor de água ionizado - o chamado "quarto estado" -, ou a constatação que o ritmo de formação de estrelas se arrefeceu, são alguns dos resultados debatidos nesta semana em Noordwijk pela comunidade científica e apresentados hoje aos meios de comunicação. A partir do espaço, longe do muro que representa a atmosfera terrestre, Herschel oferece aos astrônomos imagens mais distantes do universo (e primitivas), captadas por meio da radiação infravermelha. Seu "olho", de uma resolução e sensibilidade inigualável, pode penetrar até as regiões mais frias do universo, completamente opacas aos demais telescópios. É a mesma sensação do camponês que entrava em uma catedral na época medieval, comentou durante a apresentação David Southwood, diretor de Ciência e Prospecção Robótica da ESA. Os astrônomos que decifram os dados de Herschel se sentem, insistiu Southwood, como autênticos pioneiros, como o marinheiro de Cristóvão Colombo quando avistou o Mundo Novo. Nestes meses, Herschel revelou milhares de galáxias e nuvens da Via Láctea imersas no processo de formação de estrelas. Uma de suas observações, na nebulosa RCW 120, revelou pela primeira vez em estado embrionário uma estrela "impossível", isto é, um astro com uma massa 8 vezes superior a do sol, algo que segundo as teorias astrofísicas atuais não ocorria. Os cientistas calcularam que o objeto contém "já" entre 8 e 10 vezes a massa do sol e que está rodeado do equivalente a 2 mil massas solares de gás e pó que seguirão alimentando-se até transformá-lo, dentro de centenas de milhares de anos, em uma das estrelas maiores e brilhantes da Via Láctea. Sabia-se da existência desses "monstros", mas nunca se tinha conseguido observar seu estádio inicial. Graças a Herschel, os astrônomos vão poder investigar onde falham as teorias que não permitem a existência de tais astros. Conhecer o processo de formação das estrelas mais maciças é fundamental porque são as que controlam, através da gravidade, a dinâmica e as transformações químicas que se produzem dentro da galáxia, segundo explicou a professora Annie Zavagno, do Laboratório de Astrofísica de Marselha. Herschel também está demonstrando que as galáxias evoluíram ao longo do tempo cósmico muito mais velozmente do que se imaginava. Os dados mostram que no passado nasceram diversas estrelas a um ritmo entre 10 e 15 vezes mais rápido que a Via Láctea na atualidade. O telescópio espacial europeu se revelou igualmente um instrumento de vital importância para a detecção de moléculas no cosmos e descobriu uma nova fase de água, o chamado "quarto estado". Nesta fase, a molécula de H2O está carregada eletricamente e, ao contrário das outras três (sólida, líquida e gasosa), não aparece de forma natural na Terra. Nas nuvens que rodeiam as estrelas jovens, onde a luz ultravioleta é bombardeada através do gás, a radiação arranca um elétron da molécula de água e a deixa carregada positivamente. "Descobrimos que a água está em todas as partes", afirmou Xander Tielens, da Universidade de Leiden. Para o diretor da ESA David Southwood "um novo universo" está emergindo desde que o telescópio europeu começou a proporcionar material. "Após um ano de operações, já não tenho dúvidas: superou todas minhas expectativas", disse. Na prospecção desse novo mundo visto pelo Herschel, os cientistas trabalham contra o relógio, porque o observatório tem uma expectativa de vida curta, deixará de enviar dados em dois ou três anos, quando acabar o hélio que utiliza para esfriar seus instrumentos. Southwood elogiou a cooperação espacial europeia e o "círculo virtuoso" que permite aos astrônomos decifrar as grandes dúvidas do cosmos enquanto proporcionam aos engenheiros da ESA desafios e objetivos para fazer com que avanço a tecnologia. 

Foto: ESA A bolha galática RCW 120

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