terça-feira, maio 18, 2010

J. BOSCO, para O Liberal



Trotes eletrônicos

Trotes eletrônicos
CARLOS HEITOR CONY – Folha de S. Paulo

RIO DE JANEIRO - Quando o uso do telefone tradicional tornou-se comum, ao alcance de quase todos, os mais conservadores temeram que a privacidade de cada um ficasse ameaçada. Afinal, com o número do aparelho num catálogo geral podia-se penetrar na intimidade do lar, da empresa, na vida de todos.
Houve época em que os trotes eram frequentes. Quem não tinha muito o que fazer pegava o telefone, discava um número qualquer, xingava a mãe do sujeito, acusava a mulher de adultério, cobrava uma dívida inexistente.
Lembro um sujeito que, nos anos 40, deu um tiro no seu telefone porque um gaiato ligava todos os dias para cobrar maior vigilância sobre a mulher, que, segundo a voz anônima, era uma galinha.
Com o computador começou a haver não apenas o trote, mas a informação ociosa, poluidora da telinha. Ofertas de dinheiro fácil, de mulheres também fáceis, em épocas eleitorais a agenda dos candidatos pelos grotões do Brasil afora, campanhas mirabolantes disso e daquilo, um mundão de propostas que não interessam a ninguém.
Há também trotes, encontros que não se realizam, convites falsos, denúncias de falências, de corrupção, de pedofilia, que agora entrou na moda.
Certa vez, fiquei sabendo que um cidadão famoso havia morrido e fora sepultado no São João Batista às escondidas. Empresário importante no mercado, sua morte não podia ser divulgada. Teriam arranjado um sósia, que ocupou seu lugar na família, na empresa e na sociedade.
Tempos atrás, recebi uma oferta de um apicultor que me queria vender uma colméia de abelhas. Nos meus delírios mais extravagantes, já pensei em chegar a papa, a ser barítono do Metropolitan, a craque do Real Madrid. Mas Deus é testemunha de que nunca pensei em mexer com abelhas.

Justiça determina que pais de aluno indenizem professora agredida no RS

Justiça determina que pais de aluno indenizem professora agredida no RS

Docente teria levado tapas no braço e no ombro ao repreender estudante. Decisão foi tomada em segunda instância; cabe recurso.

A Justiça do Rio Grande do Sul determinou que os pais de um aluno que agrediu uma professora, em Jaguarão (RS), devem indenizá-la em R$ 2 mil por danos morais. De acordo com o Tribunal de Justiça do estado, a decisão foi tomada em segunda instância. Cabe recurso.
Segundo o TJRS, a professora foi agredida depois de repreender o aluno, que estava atirando bolinhas em outra estudante durante o recreio. A professora afirmou à Justiça que o garoto, de 13 anos, teria dado tapas em seu braço e em seu ombro. Após o fato, a educadora tirou licença para acompanhamento psicológico. O Tribunal de Justiça não informou a data em que ocorreu o caso.
Em primeira instância, a Justiça determinou o pagamento de indenização de R$ 690 por danos materiais e R$ 3,5 mil por danos morais, mas os pais do aluno recorreram da decisão. Em segunda instância, a Justiça manteve a condenação, mas reduziu a indenização para R$ 2 mil por danos morais, por entender que a quantia é suficiente para compensar os danos sofridos pela vítima. A Justiça manteve o valor fixado para danos materiais, pois os gastos foram comprovados por recibos.

Força da natureza

Força da natureza
Folha de S. Paulo - 18/05/2010

Com biografia incomum e amplo reconhecimento, a candidata Marina Silva representa a reciclagem da política verde no Brasil
O LANÇAMENTO da candidatura da senadora Marina Silva à Presidência é um sinal de amadurecimento das propostas ambientais no país.
Em 1986, a fundação do Partido Verde refletia, no Brasil, um movimento da política europeia. No final dos anos 1970, militantes pacifistas e ex-simpatizantes de organizações de esquerda, frustrados com os rumos teóricos e práticos do socialismo, encontraram na causa ecológica uma nova perspectiva de militância radical.
Tratava-se, àquela altura, de contrapor-se à ameaça nuclear e ao modo como o desenvolvimento técnico e industrial era concebido tanto no Ocidente quanto na esfera de influência soviética. Não por acaso, a versão brasileira do PV nasceu da iniciativa de ex-exilados políticos, ligados à luta armada, que viram de perto a experiência da Europa.
Sem envergadura para voos próprios, o partido e os primeiros simpatizantes das teses verdes acabaram por se tornar uma espécie de ornamento ecológico das agremiações de centro-esquerda -como o PSDB e, sobretudo, o PT. A identificação entre reivindicações ambientalistas e militância petista não era difícil de acontecer num país marcado por conflitos fundiários e desigualdades na economia rural. Propostas como reforma agrária, apoio à agricultura familiar e preservação das florestas facilmente enquadravam-se na lógica primitiva do confronto entre representantes arcaicos do poder agrário, habituados a seguir sua própria lei, e a massa de despossuídos do campo, submetida a condições precárias, quando não sub-humanas, de vida.
O país no entanto mudou. Não superou as assimetrias e não se tornou um perfeito exemplo de equilíbrio nas relações entre economia e natureza. Mas certamente avançou em diversos aspectos e adquiriu um tipo mais sofisticado e amplo de entendimento da questão ambiental. Da mesma forma que na Europa o movimento verde abandonou posições isolacionistas, dispôs-se a fazer política e conseguiu atrair o apoio de governos e empresas, no Brasil, a sociedade vai se habituando à pauta ambiental como algo que não diz respeito apenas a esta ou àquela área ou doutrina.
É o que a candidata Marina Silva, com seu léxico característico, costuma chamar de "transversalidade". Sua presença na disputa eleitoral, depois de atritos com o que se poderia chamar de "desenvolvimentismo de alto carbono" do governo Lula, na figura da tocadora de obras Dilma Rousseff, representa a reciclagem da proposta verde no Brasil. Pela biografia incomum e pelo reconhecimento que conquistou, Marina reúne condições de obter apoio de empresários, encampar bandeiras como a reforma do Estado e influenciar a agenda das demais candidaturas. Seja qual for o resultado da eleição, não poderá ser ignorada. Terá, ao menos, exercido papel relevante para retirar a política ambiental de seu antigo gueto.

Veja a transformação física de Ronaldo Fenômeno

Itzchak Tarkay

"Three Ladies At Tea"

Coisas que eu sei - Jorge Vercillo e Dudu Falcão

Ousar é pecado?

Ousar é pecado?
BENJAMIN STEINBRUCH - Folha de S. Paulo - 18/05/2010

O Brasil não pode perder oportunidades por puro conservadorismo, tanto na economia como no futebol
O SUBSTANTIVO ousadia foi muito usado na semana passada, quando o técnico Dunga anunciou os nomes dos jogadores convocados para a Copa do Mundo.
Vá lá que o Banco Central peque por falta de ousadia -que mantenha os juros desnecessariamente altos, que não se preocupe com o crescimento econômico e com a criação de empregos. Enfim, que seja conservador ao extremo, perdendo oportunidades de acompanhar o ritmo de outros países emergentes. Já estamos acostumados, embora isso seja muitas vezes incompreensível. Mas não poderíamos esperar que essa regra fosse adotada também no futebol. Nessa matéria, o Brasil é vanguarda, pode e deve ousar. A pátria em chuteiras, desde 1950, sempre foi um momento ímpar para o país. A cada quatro anos, quando chega a Copa, vai embora nosso complexo de vira-lata. Todos perdem a vergonha de vestir verde-amarelo, de carregar a bandeira e de gritar "Brasil, Brasil". Até espaços como este, de economia, são usados para palpites sobre futebol.
O que ocorreu na semana passada foi uma decepção para os brasileiros. É curioso, mas fazia muito tempo que a escolha dos nomes dos jogadores para a seleção não despertava tamanho interesse. Talvez porque os melhores jogadores, exportados para clubes europeus, não tivessem mais nenhum vínculo com as torcidas de clubes brasileiros.
Desta vez, porém, houve uma espécie de corrente de torcidas em favor de dois jovens jogadores do Santos, Neymar e Paulo Henrique Ganso. De uma hora para outra, os dois viraram unanimidade nacional.
Torcedores de todos os clubes passaram a defender a convocação desses "meninos" para a Copa. Eles passaram a representar o resgate de um futebol corajoso e ofensivo, característica brasileira.
A comissão técnica não teve sensibilidade para entender o que se passa no país do futebol. Misturar jovens talentos com profissionais experientes é uma das qualidades do bom administrador, não apenas no futebol. Em 1958, os novatos Garrincha e Pelé, este com 17 anos, viraram titulares na Suécia e foram heróis da conquista da primeira Copa. Em 1966, na Inglaterra, escalou-se um time de veteranos das duas Copas vitoriosas anteriores e foi um fracasso. Em 1998, alguns jogadores da campanha de 1994, fora de forma, jogaram na França e a campanha só não foi um fracasso total pelos milagres do goleiro Taffarel.
O argumento usado para justificar a não convocação dos dois jovens talentos é inaceitável. Diz-se que o técnico já tem uma base formada há três anos e que não pretende destruí-la. Desde quando a inclusão de duas pessoas pode destruir um grupo de 23? A base estaria mantida de qualquer forma.
Este artigo, porém, não é uma peça pessimista sobre a seleção na Copa. Até o Goldman Sachs considera o Brasil favorito. Com ou sem Neymar e Ganso, tem condições de ganhar o hexacampeonato. A tradição diz que seleções europeias não ganham Copas fora da Europa. Então, o Brasil é o maior favorito, seguido da Argentina.
Faço, portanto, apenas um protesto contra a falta de ousadia. Seria muito melhor ganhar jogando ofensivamente, como em 1958 e em 1970 ou mesmo em 1982, quando o Brasil perdeu a Copa, mas marcou época. O hexa que pode vir certamente será muito parecido com o tetra de 1994, burocrático, sofrido e sem arte.
O Brasil não pode perder oportunidades por puro conservadorismo, tanto na economia como no futebol.
BENJAMIN STEINBRUCH , 56, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

A luta antimanicomial e a psiquiatria

A luta antimanicomial e a psiquiatria
JAIR MARI e GRAHAM THORNICROFT - Folha de S. Paulo - 18/05/2010

Nenhum sistema de saúde mental pode funcionar sem que haja a disponibilidade de leitos suficientes para acolher o paciente em crise
HOJE É O DIA reservado para comemorar a luta antimanicomial. Dia de levantar a questão: quais os princípios que devem nortear as políticas de saúde mental? Os serviços de assistência à saúde mental em países em desenvolvimento não estão conseguindo atender às necessidades de tratamento dos pacientes, face à alta morbidade psiquiátrica na população. Um princípio fundamental da disseminação da assistência mental à comunidade é a noção da igualdade de acesso das pessoas aos serviços em seu bairro ou região de moradia.
Outro princípio fundamental é a garantia dos direitos de autodeterminação e autonomia dos indivíduos com transtornos mentais como cidadãos. Esses princípios foram ratificados pela Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, adotados em 1991.
São textos que estabelecem três pontos importantes, em se tratando da pessoa com transtorno mental: o direito de ser tratada sem discriminação; o direito à presunção de capacidade legal, a menos que a incapacitação fique claramente demonstrada; e a necessidade de envolvimento dos usuários dos serviços e seus familiares no desenvolvimento de políticas que afetam diretamente suas vidas.
As mudanças nas políticas de saúde mental podem ser divididas em três fases: o estabelecimento dos asilos psiquiátricos, a partir de 1880 até 1955; o declínio do sistema de institucionalização e isolamento, pós-Segunda Guerra; e a reforma dos serviços de saúde mental de acordo com abordagem baseada em evidências, no equilíbrio e na integração de serviços comunitários e hospitalares.
A integração entre comunidade e serviços hospitalares é reconhecida como um "modelo de assistência equilibrado", no qual a maioria dos serviços funciona na comunidade, em centros próximos à população atendida, onde a internação hospitalar é reduzida e, geralmente, efetivada nas enfermarias psiquiátricas dos hospitais gerais.
Os países em desenvolvimento devem estruturar cinco categorias de recursos para organizar o desenvolvimento dos serviços: clínicas ambulatoriais para atendimento de pacientes; equipes de saúde mental comunitária; serviços de atendimento ao paciente em crise; assistência domiciliar baseada na comunidade; e serviços de encaminhamento para emprego, ocupação e reabilitação.
A assistência orientada para a comunidade deve preencher, ainda, os seguintes requisitos: atender às necessidades de saúde pública, com prioridade para o tratamento dos doentes mais graves; desenvolver centros locais e acessíveis; mobilizar a participação dos usuários e seus familiares nas políticas de planejamento; e provisionamento dos serviços de saúde mental.
A Associação Mundial de Psiquiatria nomeou uma força-tarefa para produzir diretrizes sobre as etapas, os obstáculos e os erros a serem evitados na implementação de um sistema de saúde mental comunitário. O conteúdo desse editorial estará no próximo número da "Revista Brasileira de Psiquiatria" e o relatório completo será divulgado na edição de junho do "World Psychiatry".
O relatório levantou vários erros-chave. Primeiramente, não há planejamento de saúde mental sem a participação de psiquiatras e usuários. Em segundo lugar, o planejamento deve ser acompanhado por sucessão racional de eventos, de modo a evitar o fechamento de um hospital psiquiátrico antes que o serviço comunitário de assistência esteja solidamente estabelecido na mesma área.
Nenhum sistema de saúde mental pode funcionar sem a disponibilidade de leitos suficientes para acolher o paciente em crise. Outro erro comum é associar a reforma a um interesse ou grupo político particular, o que pode fazer com que qualquer mudança de governo comprometa as ações tomadas por predecessores. Concluindo, os princípios fundamentais de orientação das políticas de saúde mental nos países em desenvolvimento preveem que estas devem se basear nas necessidades de saúde pública, levar em consideração a proteção dos direitos humanos e serem projetadas levando em conta sistemas de saúde mental baseados em evidência e custo-efetividade.
É o momento, portanto, de se buscar um consenso para a defesa da melhoria de serviços de saúde mental de qualidade, capazes de atender milhões de pessoas sem recursos e completamente desassistidas, nos países em desenvolvimento.

JAIR MARI é professor do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo).
GRAHAM THORNICROFT é professor do Instituto de Psiquiatria do King's College, em Londres.

CECÍLIA MEIRELES


CANÇÃO DE OUTONO

Perdoa-me, folha seca,
não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo,
e até do amor me perdi.

De que serviu tecer flores
pelas areias do chão,
se havia gente dormindo
sobre o próprio coração?
E não pude levantá-la!
Choro pelo que não fiz.
E pela minha fraqueza
é que sou triste e infeliz.
Perdoa-me, folha seca!
Meus olhos sem força estão
velando e rogando àqueles
que não se levantarão...

Tu és a folha de outono
voante pelo jardim.
Deixo-te a minha saudade
- a melhor parte de mim.
Certa de que tudo é vão.
Que tudo é menos que o vento,
menos que as folhas do chão...

CECÍLIA MEIRELES

Claude Monet - Le jardin a Giverny


Noiva, Havana, Cuba Fotografia por Markine Dmitri. Esta foi tirada durante uma sessão de fotos de casamento, em Havana, Cuba.


Diplomacia ingênua ou astuta?

Diplomacia ingênua ou astuta?
Matias Spektor - Jornal do Brasil - 18/05/2010

Não se sabe ainda se o acordo firmado ontem entre Irã, Turquia e Brasil irá frustrar uma nova série de sanções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, patrocinadas pelos Estados Unidos. Nem se os iranianos serão parceiros de confiança quanto ao cumprimento.
Para muitos em Washington, o Brasil tem sido ingênuo. Outros veem a atitude do Brasil como a combinação de nacionalismo enraizado e uma futura corrida presidencial.
Ainda aguardando que o último capítulo desta crise se desenrole, é importante entender a nova afirmativa diplomática brasileira. Nos últimos anos, o país abriu mais de 30 embaixadas na África; e o governo de Luiz Inácio Lula da Silva lançou uma política no Oriente Médio que incluiu desenvolver comércio e conferências políticas com o Irã, o mundo árabe, e Israel. A percepção dominante em Brasília é que problemas com os quais diplomatas podiam arcar há apenas alguns anos, hoje exigem uma resposta. Como normalmente acontece com potências em ascensão, o Brasil está redefinindo seus próprios interesses em termos de expansão.
O Brasil, atual membro não-permanente do Conselho de Segurança, insistiu que as sanções das Nações Unidas contra o Irã serão ineficazes e contraprodutivas. O país compartilha a visão de que o Tratado de Não-Proliferação se tornou uma ferramenta para os mais fortes repreenderem os mais fracos à sua própria vontade.
Israel e Índia nucleares não serão punidos por permanecerem fora do regime. Talvez sejam até recompensados.
Mas o Irã terá seus direitos de enriquecer urânio para abastecer um reator médico de pesquisa rejeitado. Não é de se surpreender que estes países tenham incentivos para abandonar um regime que necessita de um reparo profundo. O Brasil acredita que tem autoridade moral para protestar porque é o único membro não-nuclear do grupo Bric (o maior grupo de nações emergentes que inclui Rússia, Índia e China) e porque o país abandonou qualquer ambição de adquirir armas nucleares.
É improvável que esta tendência política mude qualquer questão que traga a vitória para o presidente Lula nas eleições presidenciais de outubro. Pode haver uma retirada parcial da exposição diplomática atual em locais como a África e o Oriente Médio, e até mesmo uma mudança na retórica. Mas a busca por mobilidade ascendente continuará intacta, assim como a crença fundamental de que os ventos estão se movendo a favor do Brasil.
Como o embaixador dos Estados Unidos em Brasília, Tom Shannon, colocou recentemente, Enquanto o Brasil se torna mais assertivo globalmente e começa a declarar sua influência, vamos dar de cara com o Brasil em novos assuntos e novos lugares.
Isso porque, na visão brasileira, modelos existentes de governo não conseguiram produzir um sistema internacional justo e estável.
Tradução: Maíra Mello

Lavoura Arcaica - Festa Cena belíssima.

Fernando Pessoa


Ninguém a outro ama, senão que ama
O que de si há nele, ou é suposto.
Ninguém te pese que não te amem. Sentem-te
Quem és, e és estrangeiro.
Cura de ser quem és, amam-te ou nunca.
Firme contigo, sofrerás avaro
De penas.
Ricardo Reis, um dos heterônimos de 
FERNANDO PESSOA
(1888-1935)

Pelicano para o Bom Dia, SP



Horowitz plays SchumannTraumerei in Moscow. Abril de 1986.

Praia do Rosado, pelas dunas multicores, município de Porto do Mangue, Rio Grande do Norte.

300 Km de dunas e litoral.
Belíssima foto do fotógrafo João Maria (no Twitter @Johnguardacosta)

A matriz energética brasileira

A matriz energética brasileira

 José Goldemberg - O Estado de S. Paulo - 17/05/2010

 O governo federal publicou recentemente (em 4/5) o Plano Decenal de Expansão da Energia 2019, que faz projeções sobre o crescimento da produção de energia no País e os caminhos que esse crescimento, provavelmente, vai seguir. É um documento importante porque é com base nele que são feitos os leilões para a construção de novas usinas e outros empreendimentos da área energética.

Os planos anteriores do atual governo (desde 2002) receberam sérias críticas porque estavam levando o País a abandonar uma matriz energética limpa, como se viu nos leilões de energia nova nos últimos anos. Esses leilões deram como resultado um aumento significativo da geração de energia elétrica por meio de usinas termoelétricas, queimando carvão e óleo combustível, o que reduziria significativamente a participação porcentual de energias renováveis (de hidrelétricas, biomassa e usinas eólicas).
O novo plano tenta corrigir alguns - mas não todos - desses desvios.
A mais importante correção é que ele indica "a retomada da participação de fontes renováveis na matriz elétrica a partir do ano 2014, em detrimento das fontes baseadas em combustíveis fósseis, contribuindo para o desenvolvimento sustentável das fontes de geração".
A orientação do plano anterior (2008-2017) é, pois, abandonada e o novo não prevê nenhuma expansão da geração com carvão, gás e óleo combustível além de 2013. A expansão deverá ocorrer com a biomassa (geração com bagaço da cana), usinas eólicas e hidrelétricas. O governo, que estava realmente na contramão da História, volta ao caminho correto. É uma vitória do bom senso!
A razão dada para esse resultado, segundo as autoridades do setor, na ocasião, foi a de que o governo encontrou sérias dificuldades na área ambiental para licenciar grandes usinas hidrelétricas. Sucede que há inúmeros outros aproveitamentos possíveis na Amazônia que criariam problemas ambientais menores, mas o governo negligenciou a execução de levantamentos hidrográficos necessários para leiloar essas usinas.
O novo Plano Decenal, contudo, mostra claramente que as autoridades responsáveis se deram conta de que estavam no caminho errado e tentam agora corrigir esses erros. Até 2019 é prevista a construção de cerca de 30 milhões de megawatts hidrelétricos (incluindo Belo Monte).
Há, porém, outras correções que o plano de expansão da energia elétrica ainda não absorveu, apesar dos esforços que vários especialistas têm feito para esclarecer as autoridades.
O novo Plano Decenal - como os anteriores - não dá a importância devida ao papel que a eficiência energética, isto é, a racionalização do uso de energia (em todas as formas) poderia ter no País. O que ele prevê são economias de energia de menos de 5% em 2019 (em 2010 ela é de apenas 1%), apesar de a experiência internacional mostrar que se poderia economizar muito mais, sem abrir mão dos confortos que a civilização moderna nos oferece. A União Europeia, por exemplo, estaria consumindo 50% mais energia se não tivessem sido adotadas sérias medidas de conservação energética - algumas delas são o uso de geladeiras mais eficientes, automóveis com maior quilometragem por litro de combustível e muitas outras, relativamente simples, que são bem conhecidas e testadas na prática.
É bem verdade que o consumo de energia per capita dos brasileiros ainda é baixo e precisa crescer, ao passo que o consumo per capita dos europeus é muito alto. O que é equivocado, contudo, é a ideia de que o Brasil precisa atingir o nível de consumo da Espanha ou da Itália nos próximos 10 ou 15 anos. O clima desses países tem invernos mais severos do que o nosso, de modo que o aquecimento residencial (que quase não existe no Brasil) representa um componente importante no consumo.
Além disso, nada impede que, ao crescer, o Brasil incorpore as melhores tecnologias existentes, de que necessitamos para nosso conforto, com menor consumo de energia, evitando ter de fazer reformas e substituições mais tarde, como acontece usualmente. Só para dar um exemplo, uma casa construída com técnicas modernas, usando iluminação e aquecimento solar, consome 25% menos energia do que uma casa tradicional.
O governo Fernando Henrique Cardoso entendeu bem esse problema ao fazer aprovar em 2001, no Congresso Nacional, uma lei autorizando o Poder Executivo a proibir a produção e comercialização de produtos de consumo que consumissem mais do que uma certa quantidade de energia. A lei só foi regulamentada em fins de 2008 e o governo Lula perdeu uma magnífica oportunidade de racionalizar a matriz energética brasileira. Tudo o que foi feito até agora foi uma campanha de esclarecimento sobre o consumo de energia de equipamentos de uso doméstico, como geladeiras. O que o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), do Ministério de Minas e Energia, fez foi classificar as geladeiras em categorias (melhores e piores), dando ao consumidor a opção voluntária de escolher entre elas, e só recentemente proibiu a fabricação das piores.
Com uma ação efetiva na área de conservação de energia, menos eletricidade será necessária, de modo que as usinas cujo licenciamento ambiental seja muito controvertido poderiam ser adiadas.
Uma consideração que deveria ser levada em conta, neste caso, é que usinas hidrelétricas podem também regularizar a vazão dos rios para evitar enchentes e armazenar água para períodos de seca. Como desde 1986 o volume de água armazenado nas represas brasileiras deixou de aumentar, essa foi a razão básica dos problemas da falta de energia em 2001.
Ninguém deseja que isso torne a acontecer.

AROEIRA



Descaso do Poder Público com a ciência explica perda do acervo do Butantan, diz pesquisador

Descaso do Poder Público com a ciência explica perda do acervo do Butantan, diz pesquisador

Agência Brasil Publicação: 17/05/2010 20:38

A perda do acervo do Instituto Butantan, que reunia milhares de espécies de cobras e aranhas, pode ser atribuída a um descaso do Poder Público com relação à ciência. A avaliação é do diretor do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), Hussam Zaher. “A ciência foi deixada de lado”, criticou hoje (17), por telefone.
Segundo ele, o Prédio das Coleções do Instituto Butantan, que abrigava o acervo e foi praticamente destruído pelo incêndio ocorrido no último sábado (15), não tinha um sistema adequado de combate ao fogo – apesar das coleções científicas serem guardadas em álcool. Além disso, funcionava num galpão, tipo de construção inadequada para o acervo que guardava.
“A coleção era muito bem curada. Existe, no Instituto Butantan, uma tradição de 100 anos de curadoria de coleção. Os curadores e as pessoas responsáveis pela manutenção da coleção faziam um trabalho excepcional. O que faltou aí foi gestão do Poder Público, entender a real dimensão da importância daquilo que ele tinha e colocar à disposição os recursos necessários para proteger esse patrimônio”, afirmou Zaher, à Agência Brasil.
Zaher teme que o mesmo possa ocorrer no museu que dirige, na USP. “Espero que isso sirva de lição. Sou diretor de um museu que é o maior do Brasil e o maior da América Latina. No Museu de Zoologia, temos 10 milhões de exemplares preservados. Para se ter uma idéia, o Butantan perdeu 535 mil exemplares entre aranhas, cobras e escorpiões. Se esse museu queimar, não sei o que dizer”, lamentou. “Há anos estamos pedindo um prédio novo. Estamos esgotados. Não há mais espaço. Há anos clamamos por condições melhores. Estamos em condições precárias”, queixou-se. 
A perda do material do Butantan, segundo Zaher, não foi financeiro, mas científico. “O prejuízo foi do conhecimento, da perda de um patrimônio científico inestimável. Isso é uma perda que não se recupera mais. Não temos como recuperar esse acervo que foi construído ao longo de 100 anos de pesquisa, em muitas áreas que não existem mais. Durante esse período, exemplares foram coletados em regiões que, agora, são estacionamentos, cidades, fazendas ou que foram totalmente destruídas. Essa história não pode ser refeita”, explicou. 
O prejuízo com a perda do acervo para a sociedade, segundo Zaher, pode ser comparado à perda de uma Copa do Mundo. “Nós nos embrutecemos um pouco mais. O Brasil como um todo. Qual é a perda para o Brasil quando o time de futebol não ganha a Copa do Mundo? Ninguém morre de fome. Talvez uma pessoa se suicide, mas é difícil. Mas o impacto emocional é imenso. A perda científica que tivemos tem um impacto emocional e intelectual imenso. De alguma forma, mostramos que não fomos capazes de preservar nosso próprio patrimônio.”

Falta mais informação

Falta mais informação

PATRÍCIA BRASIL e CLÁUDIO TADEU DANIEL-RIBEIRO - O Globo - 17/05/2010
 Engenheiros, missionários, executivos, militares, pesquisadores: é crescente o número de funcionários de empresas brasileiras na África. Como muitos países daquele continente comportam extensas áreas de transmissão da malária, também cresce, infelizmente, o número de mortes entre viajantes. No Brasil, fora da Amazônia, a malária mata, proporcionalmente, 80 vezes mais do que em áreas de endemia. Não é difícil entender: se na Amazônia a doença é comum e até o porteiro do posto de saúde arrisca (e acerta) o diagnóstico ao ver adentrar o paciente febril.
Fora da área endêmica a febre leva comumente à confusão com outros diagnósticos, como dengue. A pouca familiaridade com o diagnóstico da malária por parte de médicos de áreas sem transmissão acaba levando ao retardo no diagnóstico e ao tratamento tardio, principal causa de morte da malária.
No Rio de Janeiro, Recife ou Porto Alegre temos o mesmo problema que em Berlim, Nova York ou Sidney: dispomos de todas as possibilidades metodológicas e recursos técnicos para identificação da doença, mas eles de nada servem se o médico não pensar na malária como possibilidade diagnóstica.
Em 2007, deu entrada no Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas da Fiocruz uma missionária de 40 anos, com febre, após retorno de uma viagem a Moçambique. Após um périplo de seis dias por hospitais das redes pública e privada do Rio, onde recebeu invariavelmente o diagnóstico de dengue, a paciente foi orientada a procurar um especialista em doenças infecciosas. Na Fiocruz, o diagnóstico foi feito imediatamente e o tratamento adequado instituído, mas era tarde demais.
Este relato triste é para chamar a atenção para o fato de que o diagnóstico precoce e o tratamento adequado da doença são nossas maiores armas para impedir a evolução para formas graves e óbito por malária. Tivesse a paciente sido diagnosticada no primeiro dos hospitais onde buscou socorro, sua vida teria sido certamente poupada. Ela foi mais do que vítima da virulência do parasito. Foi vítima da desinformação.
Informar médicos e viajantes é, portanto, tão importante quanto tratar os pacientes e controlar a transmissão no país. A existência de Centros de Informação, Aconselhamento e Atendimento — com infectologistas treinados para orientar os viajantes e diagnosticar doenças infecciosas fora de suas áreas habituais de transmissão — é uma realidade que precisa ser divulgada e reproduzida em vários estados do Brasil.
Os autores são médicos e pesquisadores da Fiocruz

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