terça-feira, maio 18, 2010

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PATRÍCIA BRASIL e CLÁUDIO TADEU DANIEL-RIBEIRO - O Globo - 17/05/2010
 Engenheiros, missionários, executivos, militares, pesquisadores: é crescente o número de funcionários de empresas brasileiras na África. Como muitos países daquele continente comportam extensas áreas de transmissão da malária, também cresce, infelizmente, o número de mortes entre viajantes. No Brasil, fora da Amazônia, a malária mata, proporcionalmente, 80 vezes mais do que em áreas de endemia. Não é difícil entender: se na Amazônia a doença é comum e até o porteiro do posto de saúde arrisca (e acerta) o diagnóstico ao ver adentrar o paciente febril.
Fora da área endêmica a febre leva comumente à confusão com outros diagnósticos, como dengue. A pouca familiaridade com o diagnóstico da malária por parte de médicos de áreas sem transmissão acaba levando ao retardo no diagnóstico e ao tratamento tardio, principal causa de morte da malária.
No Rio de Janeiro, Recife ou Porto Alegre temos o mesmo problema que em Berlim, Nova York ou Sidney: dispomos de todas as possibilidades metodológicas e recursos técnicos para identificação da doença, mas eles de nada servem se o médico não pensar na malária como possibilidade diagnóstica.
Em 2007, deu entrada no Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas da Fiocruz uma missionária de 40 anos, com febre, após retorno de uma viagem a Moçambique. Após um périplo de seis dias por hospitais das redes pública e privada do Rio, onde recebeu invariavelmente o diagnóstico de dengue, a paciente foi orientada a procurar um especialista em doenças infecciosas. Na Fiocruz, o diagnóstico foi feito imediatamente e o tratamento adequado instituído, mas era tarde demais.
Este relato triste é para chamar a atenção para o fato de que o diagnóstico precoce e o tratamento adequado da doença são nossas maiores armas para impedir a evolução para formas graves e óbito por malária. Tivesse a paciente sido diagnosticada no primeiro dos hospitais onde buscou socorro, sua vida teria sido certamente poupada. Ela foi mais do que vítima da virulência do parasito. Foi vítima da desinformação.
Informar médicos e viajantes é, portanto, tão importante quanto tratar os pacientes e controlar a transmissão no país. A existência de Centros de Informação, Aconselhamento e Atendimento — com infectologistas treinados para orientar os viajantes e diagnosticar doenças infecciosas fora de suas áreas habituais de transmissão — é uma realidade que precisa ser divulgada e reproduzida em vários estados do Brasil.
Os autores são médicos e pesquisadores da Fiocruz

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