quarta-feira, junho 22, 2011

O povinho - Martha Medeiros

O povinho - Martha Medeiros
Todos que sonham com um Brasil mais íntegro e desenvolvido batem na mesma tecla, a de que devemos investir maciçamente em educação. Bato nessa tecla também, mas às vezes meu desânimo faz com que não acredite nem nisso.
Ao ver a matéria que foi ao ar no último Fantástico sobre médicos e dentistas que embolsam salários sem comparecer aos plantões, deixando centenas de pessoas doentes sem atendimento, pensei: isso lá é problema de falta de educação?
São profissionais que fizeram faculdade, tiveram formação acadêmica. Não passaram a infância soltos pelas ruas. E, mesmo assim, não possuem o menor senso de compromisso e ética. São tão corruptos quanto os políticos que eles xingam em mesas de bar, pensando que são diferentes.
Aí lembro daquela piada que diz que Deus criou o Brasil com uma natureza exuberante, um clima espetacular, um solo fértil, uma abundância de rios, sem risco de terremotos, “mas espera pra ver o povinho que vai ser colocado ali”.
Jamais deixaria de cumprir minhas obrigações, ainda mais se trabalhasse numa área tão essencial quanto a saúde pública, mas não adianta apontar o dedo para os outros e se excluir do problema. O povinho somos todos nós.
Uns sem nenhum caráter, outros com algum caráter (mas fazendo suas picaretagens habituais) e outros com um caráter muito bom, porém molham a mão do policial para evitar uma multa e bebem antes de dirigir, ninguém é perfeito.
Generalizando, somos um povinho essencialmente egoísta. Pensamos apenas no nosso próprio bem-estar. E ainda por cima vulgares, loucos por dinheiro, todos emergentes querendo mais, mais, mais. O governo rouba de nós através de impostos que não são revertidos em benefícios sociais e a gente desconta passando a perna em quem estiver por perto.
Se alguém encontra uma carteira de dinheiro e devolve para o dono, vai parar na primeira página do jornal como se fosse um peixe com braços, uma anomalia.
Seguimos morrendo no trânsito, a despeito das campanhas de conscientização, pois somos arrogantes, achamos que nada pode dar errado conosco, e se der, a culpa será sempre do outro. Obediência, respeito, espírito coletivo, nada disso pegou no Brasil. Nem vai pegar.
A miséria pode diminuir, o poder aquisitivo aumentar, haver mais emprego, mais crianças na escola, tudo ótimo, mas não soluciona a raiz dos nossos problemas: a índole. Algo que se depura em casa, na infância, no ambiente familiar, mas quem vai regulamentar isso, como controlar as regras internas, quem vai determinar o que é legal e ilegal entre quatro paredes?
Cada lar é um país. Somos milhões de presidentes. Está tudo nas nossas mãos. Um poder transformador, se soubéssemos fazer a coisa direito.

Sinfrônio, charge para o Diário do Nordeste


As coisas mais importantes o dinheiro não compra – David Coimbra


As coisas mais importantes o dinheiro não compra – David Coimbra
Zero Hora
Passeava com meu filhinho, fim de semana desses, aí ele viu um brinquedo luzindo na vitrine de uma loja e apontou:
– Eu quero, papai! Respondi que não, não ia lhe dar, porque era muito caro e porque ele já tem muitos brinquedos parecidos. Ele ficou triste, começou a chorar, e eu argumentei:
– A gente não pode ter tudo o que quer.
Então ele me fez a pergunta definitiva, a questão que resume tudo o que é importante na vida:
– Por que não?
Por que as pessoas não podem ter tudo? Não está precisamente aí a base de toda a cizânia, de todo o crime, de toda a injustiça, de tudo o que há de ruim no mundo?
Respirei fundo. Estava consciente de que minha resposta podia ser fundamental para o desenvolvimento da sua personalidade. Podia construir, ali, naquele instante, um ser humano generoso ou um egoísta, um homens consciente ou um pervertido.
Fui em frente.
Tentei explicar que há muitas pessoas para poucas coisas no mundo. As pessoas querem carros, casas, maçãs, sorvetes de creme, imaginex e televisores, só que não há carros, casas, maçãs, sorvetes de creme, imaginex e televisores para todos. Alguns precisam se contentar em ter uma casa e não ter um imaginex, por exemplo. Ou ter um sorvete de creme e não ter uma maçã. Uma coisa ou outra. Não se pode ter tudo.
Ele me olhou e rolou o bico entre os dentes, pensativo. O raciocínio foi crescendo em minha mente.
– Além disso, filhinho – acrescentei, começando a me empolgar. – As coisas mais importantes da vida o dinheiro não compra. Pode comprar boas festas, mas não compra amizade; pode comprar lindas mulheres, mas não compra amor; pode comprar remédios e médicos, mas não compra saúde. Não compra nem o prazer, nem o afeto, nem a paz, não compra a harmonia da tua família, nem um domingo de sol ou a risada das pessoas de quem tu gostas num sábado à noite! Sim! Sim! – ele me olhava, espantado, mas agora eu já não conseguia mais parar, agora estava realmente empolgado:
– Imagina o Campeonato Brasileiro, filhinho! – é claro que ele não sabe o que vem a ser Campeonato Brasileiro, mas ainda assim prestou muita atenção. – Imagina! Vinte times. E só um vai ser campeão. Os outros, a grande maioria, têm que se contentar. Uns ficam com a Libertadores, uns com a Sul-Americana, uns com a Copa do Brasil.
– Do Basil, papai?
– BRA-sil. Copa do Brasil. Cada um com seu quinhão, entende?
– Quinhão?
– Mas ainda que uma pessoa seja generosa e compreensiva, ainda que ela entenda que o mundo é vasto, mas mais vastas são as ambições, ainda assim ela deve tentar conquistar o seu espaço. Com urbanidade, com civilidade e, sobretudo, com honestidade e lealdade!
Ele tirou o bico dos lábios, abriu a boca, ia perguntar algo, mas eu não conseguia mais parar:
– É por isso que, nesse trabalho pela conquista de espaço, temos de nos preparar. Um clube grande, o Grêmio, por exemplo, não pode entrar no campeonato e montar o time em meio à competição. É preciso haver planejamento para que, depois, não fique se repoltreando na parte baixa da tabela!
– Re...pol?...
– Isso é que não pode! Não pode! Há que se ter alguma ambição, entende? Mesmo que o importante seja apenas participar. Mesmo que seja necessário se contentar com menos! Às vezes é preciso querer mais, filhinho! Querer! Querer!
– Eu quero, papai – ele apontou para a vitrine. Entrei na loja e comprei o maldito brinquedo.

Belo Monte: desenvolvimento hidrelétrico sustentável - Marcelo Corrêa


Belo Monte: desenvolvimento hidrelétrico sustentável - Marcelo Corrêa
Valor Econômico
A alternativa mais econômica e eficiente para aumentar a oferta de energia
A Usina Hidrelétrica Belo Monte, cujas obras se iniciam neste momento no rio Xingu, no Pará, é um exemplo contundente da possibilidade de se ter energia oriunda de aproveitamentos hidráulicos e, ao mesmo tempo, estabelecer garantias aos direitos sociais e respeito ao meio ambiente. O projeto final da usina, que recebeu no último dia 1º de junho a Licença de Instalação (LI) pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), foi elaborado com a preocupação de mitigar os impactos sociais e ambientais da obra, garantindo a elevação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da região do Xingu.É verdade que Belo Monte, que será a maior usina 100% brasileira, mudará a condição de desenvolvimento da região. Nem poderia ser de forma diversa, pois se trata da maior obra atualmente em construção no Brasil, com capacidade de geração de 11.233,1 MW e energia assegurada de 4.571 MW. Mas, é também a alternativa mais econômica, eficiente e de alta confiabilidade para aumentar a oferta de energia elétrica e ajudar no esforço de desenvolvimento, pois energia representa indústrias, empregos, saúde, escolas, cultura e, sobretudo, maior conforto e bem-estar para todos os brasileiros.
O projeto de Belo Monte prevê uma série de ações para reduzir o impacto da obra e para transformar a usina em um fator de desenvolvimento econômico e social para a região do Xingu. Com tais ações, a população de Altamira e dos dez municípios na área do entorno da usina poderão experimentar, no curto prazo, uma elevação da qualidade de vida que, em condições normais, levaria décadas para ser alcançada. Para as cerca de 5 mil famílias que moram atualmente em palafitas, sem qualquer condição de saneamento básico e que anualmente enfrentam problemas com a cheia do rio Xingu, serão construídas casas de alvenaria, com abastecimento de água, rede de esgotos, drenagem pluvial, áreas de lazer e postos de saúde. Também estão sendo construídas unidades de saúde, creches e escolas em vários municípios localizados na área do empreendimento.
Ainda, as obras da usina serão fundamentais para garantir a absorção da mão de obra local, sendo para isso já criados centros de treinamento A expectativa é de que, no pico da obra, Belo Monte empregue diretamente 18,7 mil pessoas, gerando ainda o triplo de empregos indiretos. Muitos desses empregos serão absorvidos pelos 360 mil habitantes da região.
Também estão sendo adotadas providências para evitar o impacto ambiental com a construção do reservatório, com tamanho estimado em 502,8 km2.
Protesto indígena contra a construção de Belo Monte
 O projeto de Belo Monte prevê o resgate prévio da flora existente na área de inundação, evitando o problema de emissão de gases, resultante da desintegração de materiais orgânicos. Há vários programas para preservar e manter as áreas indígenas. Em hipótese alguma o projeto prevê inundação dessas terras e nem a realocação de qualquer comunidade indígena. Essas terras permanecerão intocadas, tanto na fase de construção quanto na fase de operação, prevista para iniciar-se em 2015. A vazão do Xingu estará preservada, mesmo na época de seca, afastando-se definitivamente a possibilidade do rio secar e a população ribeirinha ficar sem o seu sustento.
A opção mais viável para o país continua sendo a hidreletricidade, em razão de seu baixo custo de operação e da disponibilidade hídrica do país. Apesar do desastre da usina nuclear de Fukushima, no Japão, ter sido causado por fatores naturais, a expansão de usinas nucleares deverá ser impactada até que os efeitos desse acidente possam melhor ser diagnosticados. As energias solar e eólicas são complementares, sendo que mesmo que usadas em larga escala não eliminam a necessidade de expansão da capacidade de geração de outras fontes. Termelétricas movidas a óleo combustível, diesel, carvão mineral, ou, na melhor das hipóteses, a gás natural, cumprem o seu papel como complemento à matriz energética, mas não como substituição à hidreletricidade, por seu custo mais elevado e emissão de dióxido de carbono.
Não se pode desprezar o potencial hidráulico do Brasil, com cerca de 260 mil MW, dos quais 40,5% estão localizados na nova fronteira hidroenergética brasileira, a Bacia Hidrográfica do Amazonas. Esses números ainda são uma aproximação do real potencial, uma vez que apenas 63% desse potencial foram inventariados. Um levantamento da Empresa de Planejamento Energético (EPE) mostra que há 16.000 MW disponíveis na Amazônia, além de Belo Monte.
Belo Monte, assim como as novas usinas em construção, dentre as quais a Usina Hidrelétrica Teles Pires, de 1.820 MW, no Mato Grosso e as de Jirau (3.450 MW) e Santo Antonio (3.150 MW), ambas em Rondônia, representam um paradigma no modelo energético brasileiro, tanto pela utilização de novas tecnologias quanto na observância da rigorosa legislação ambiental e na execução das medidas antecipatórias e das condicionantes impostas pelas licenças ambientais.
Obedecidos os critérios para a mitigação dos efeitos sócio-ambientais, não há como se opor à implantação e à construção de hidrelétricas na Amazônia, obras que beneficiarão as populações das respectivas regiões e a toda a população brasileira, pois abrir mão deste potencial energético poderá significar abrir mão do desenvolvimento da região.
Marcelo Corrêa é membro do conselho de administração da Norte Energia S/A e diretor-presidente da Neoenergia S.A.

OBS: Será essa uma visão otimista demais? E os custos sociais e ambientais?

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