quarta-feira, junho 22, 2011

A marcha dos indignados - Carlos Alexandre

A marcha dos indignados - Carlos Alexandre
Correio Braziliense
No último domingo, 200 mil pessoas tomaram as ruas da Espanha para protestar contra a grave crise econômica que golpeia o país — como de resto Portugal, Grécia e Itália. A manifestação dos "indignados" reproduziu o modelo inovador das revoluções do Oriente Médio, onde a revolta saiu dos fóruns da internet, transportou-se para o plano real e implodiu ou desestabilizou governos há décadas instalados em regimes ditatoriais.
A veia da indignação também pulsa em Brasília. A Marcha das Vadias representa a resposta das mulheres à segunda agressão sofrida pelas vítimas de violência sexual — o preconceito. É também uma voz rebelde contra a criminalidade na capital federal, que exige medidas efetivas do poder público. Com 400 participantes, a Marcha das Vadias se juntou a outros protestos de ocasião, em particular ao grito dos defensores da legalização da maconha. A decisão do Supremo Tribunal Federal de autorizar a marcha em favor de uma nova visão sobre a droga, com as devidas restrições para não se cometer apologia, dá força a um dos pilares da democracia: a liberdade de expressão.
Não importa a motivação, há sempre uma causa a reivindicar. Protestos dessa natureza dão novo alento ao jogo democrático. Com ajuda da tecnologia, a manifestação popular e presencial adquiriu poder de mobilização notável, capaz de mudar a realidade pós-Guerra Fria. A Praça Tahrir, no Cairo, será lembrada como a base de um movimento que derrubou o regime de 30 anos de opressão instaurado por Mubarak. Na França, passados mais de dois séculos da queda do Ancien Régime, a Praça da Bastilha permanece como símbolo de resistência ao status quo.
Seria recomendável a criação de outras marchas, a fim de marcar a nossa indignação contra desmandos generalizados ou específicos do Distrito Federal. Há muito os brasilienses podem se organizar em favor de uma marcha para salvar a saúde pública, o trânsito, o transporte público, a segurança, o meio ambiente. Esses movimentos têm a capacidade de aprofundar o debate sobre a realidade, fortalecer vínculos entre grupos sociais, dar sentido à evolução política do país ou da nossa cidade.
O risco ocorre quando interesses nefastos passam a contaminar essas iniciativas. E o cidadão torna-se refém do oportunismo e da vilania.

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