quarta-feira, junho 22, 2011

RUAS DA ESPANHA: 200 MIL CONTRA O ARROCHO


RUAS DA ESPANHA:  200 MIL CONTRA O ARROCHO
               A indignação das ruas ainda não tem programa, diz Slavoj Zizek. No seu entender, significa que não saberia o que fazer no fatídico 'dia seguinte ' de uma eventual chegada ao poder. Mas a julgar pelo que ocorreu na Espanha neste final de semana, quando 200 mil pessoas tomaram as ruas de Madrid, Barcelona, Valencia, Sevilha etc a indignação já tem um alvo claro a mirar: o Pacto do Euro. “No, no nos representan!", protestavam os manifestantes espanhóis neste domingo, quando compactos cordões humanos se acercavam dos parlamentos, deixando clara a rejeição ao acordo dos 17 países europeus firmado em março último. Acordo entre aspas. Talvez fosse melhor dizer pacto entre a corda e o pescoço para denominar o que vem sendo tentando desde o início da crise na zona do euro, quando Alemanha e França buscam fixar as condicionalidades para ministrar soro financeiro adicional às economias combalidas (Grécia, Espanha, Portugal, Irlanda etc). Entre as 'reciprocidades' agora escorraçadas pelas ruas estão cortes e regras restritivas para aposentadorias, cortes de serviços sociais, reajustes salariais vinculados exclusivamente à produtividade, cortes drásticos nos déficits públicos (os mesmos que cresceram porque o setor público, em muitos casos, socorreu a banca privada pega no contrapé da bolha de crédito e especulação). O 'pacto do Euro'  de março já é uma adaptação 'suavizada' da austeridade prussiana requerida no início da crise por Angela Merkel como condição para colocar dinheiro alemão extra no caixa dos governos em dificuldades. O que ninguém previa nos idos de março é que multidões de pescoços sairiam às ruas para rechaçar as ‘ofertas' da corda, como tem ocorrido com frequência e intensidade crescentes. Zizek tem razão: não há um programa para ' o dia seguinte', o que representa um flanco histórico perigosíssimo (não por acaso a direita radical venceu as eleições regionais espanholas recentemente e ganhou o governo em Portugal). Ao mesmo tempo, quando o rechaço à espoliação financeira toma as proporções e a contundência registradas na Espanha e na Grécia a questão é saber se o outro lado tem  legitimidade para esmagar um imaginário social que lhe é francamente hostil. No caso das privatizações impostas à Grécia, por exemplo, que partido assumirá o ônus de nomear um síndico de massa falida, sabendo de antemão que o sacrifício é, ao mesmo tempo, leonino e insuficiente, sangrento e inútil? Isso nos próprios termos da lógica insaciável que pretende cortar o déficit público de 12,7% para 3%, a toque de caixa. A semana promete.
(Carta Maior; 2º feira,20/06/ 2011)

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