quarta-feira, junho 22, 2011

As coisas mais importantes o dinheiro não compra – David Coimbra


As coisas mais importantes o dinheiro não compra – David Coimbra
Zero Hora
Passeava com meu filhinho, fim de semana desses, aí ele viu um brinquedo luzindo na vitrine de uma loja e apontou:
– Eu quero, papai! Respondi que não, não ia lhe dar, porque era muito caro e porque ele já tem muitos brinquedos parecidos. Ele ficou triste, começou a chorar, e eu argumentei:
– A gente não pode ter tudo o que quer.
Então ele me fez a pergunta definitiva, a questão que resume tudo o que é importante na vida:
– Por que não?
Por que as pessoas não podem ter tudo? Não está precisamente aí a base de toda a cizânia, de todo o crime, de toda a injustiça, de tudo o que há de ruim no mundo?
Respirei fundo. Estava consciente de que minha resposta podia ser fundamental para o desenvolvimento da sua personalidade. Podia construir, ali, naquele instante, um ser humano generoso ou um egoísta, um homens consciente ou um pervertido.
Fui em frente.
Tentei explicar que há muitas pessoas para poucas coisas no mundo. As pessoas querem carros, casas, maçãs, sorvetes de creme, imaginex e televisores, só que não há carros, casas, maçãs, sorvetes de creme, imaginex e televisores para todos. Alguns precisam se contentar em ter uma casa e não ter um imaginex, por exemplo. Ou ter um sorvete de creme e não ter uma maçã. Uma coisa ou outra. Não se pode ter tudo.
Ele me olhou e rolou o bico entre os dentes, pensativo. O raciocínio foi crescendo em minha mente.
– Além disso, filhinho – acrescentei, começando a me empolgar. – As coisas mais importantes da vida o dinheiro não compra. Pode comprar boas festas, mas não compra amizade; pode comprar lindas mulheres, mas não compra amor; pode comprar remédios e médicos, mas não compra saúde. Não compra nem o prazer, nem o afeto, nem a paz, não compra a harmonia da tua família, nem um domingo de sol ou a risada das pessoas de quem tu gostas num sábado à noite! Sim! Sim! – ele me olhava, espantado, mas agora eu já não conseguia mais parar, agora estava realmente empolgado:
– Imagina o Campeonato Brasileiro, filhinho! – é claro que ele não sabe o que vem a ser Campeonato Brasileiro, mas ainda assim prestou muita atenção. – Imagina! Vinte times. E só um vai ser campeão. Os outros, a grande maioria, têm que se contentar. Uns ficam com a Libertadores, uns com a Sul-Americana, uns com a Copa do Brasil.
– Do Basil, papai?
– BRA-sil. Copa do Brasil. Cada um com seu quinhão, entende?
– Quinhão?
– Mas ainda que uma pessoa seja generosa e compreensiva, ainda que ela entenda que o mundo é vasto, mas mais vastas são as ambições, ainda assim ela deve tentar conquistar o seu espaço. Com urbanidade, com civilidade e, sobretudo, com honestidade e lealdade!
Ele tirou o bico dos lábios, abriu a boca, ia perguntar algo, mas eu não conseguia mais parar:
– É por isso que, nesse trabalho pela conquista de espaço, temos de nos preparar. Um clube grande, o Grêmio, por exemplo, não pode entrar no campeonato e montar o time em meio à competição. É preciso haver planejamento para que, depois, não fique se repoltreando na parte baixa da tabela!
– Re...pol?...
– Isso é que não pode! Não pode! Há que se ter alguma ambição, entende? Mesmo que o importante seja apenas participar. Mesmo que seja necessário se contentar com menos! Às vezes é preciso querer mais, filhinho! Querer! Querer!
– Eu quero, papai – ele apontou para a vitrine. Entrei na loja e comprei o maldito brinquedo.

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