domingo, agosto 29, 2010

Gersus, para Charge Online

Nouvelle vague "dance with me" from bande a part

Zope, para Charge Online

Luiz Carlos Mendonça de Barros: "Violação de sigilo equivale à tortura"

Luiz Carlos Mendonça de Barros: "Violação de sigilo equivale à tortura"
O ex-ministro diz que não vai se calar diante do acesso ilegal a seus dados fiscais
Guilherme Evelin e Helio Gurovitz – Revista Época

O engenheiro Luiz Carlos Mendonça de Barros, UM dos alvos da quebra ilegal de sigilo perpetrada nas dependências da delegacia da Receita Federal em Mauá, São Paulo, diz que tem a obrigação política, como cidadão, de levar a questão aos tribunais. “Se eu me calar, será uma vitória para eles”, diz Mendonça de Barros, em alusão às pessoas que tinham interesse em seus dados fiscais. Apesar de partilhar a suspeita de que a violação tenha motivação político-eleitoral, o ex-ministro, que ocupou a pasta das Comunicações no governo de Fernando Henrique Cardoso, isenta o núcleo do governo Lula e da campanha da ex-ministra Dilma Rousseff de responsabilidade no episódio.
ENTREVISTA - LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

QUEM É
Engenheiro e economista, ligado ao PSDB

O QUE FEZ

Foi diretor do Banco Central, presidente do BNDES e ministro das Comunicações

O QUE FAZ
Atua no mercado financeiro. É acionista da Quest Investimentos

ÉPOCA – O que o senhor pretende fazer depois dessa denúncia de violação de seu sigilo fiscal?  Luiz Carlos Mendonça de Barros – Não sei ainda responder com precisão o que eu vou fazer, mas o que eu não vou fazer é ficar quieto. Meu ponto de vista é muito claro: essa violação do sigilo fiscal guarda a mesma proporção de uma tortura física contra o cidadão pela polícia ou pelo Exército porque se trata de direitos constitucionais do cidadão: o direito à defesa pessoal física e ao seu sigilo sobre as informações que você concorda em partilhar com o governo pela Receita Federal. O Estado é constitucionalmente obrigado a manter o sigilo por meio de um funcionário seu. O crime está caracterizado. Eu não vou ficar passivo porque também isso aparentemente é um padrão de comportamento de um grupo dentro do governo. É uma responsabilidade política minha entrar na Justiça e fazer disso uma questão legal, porque é assim que a gente deve agir em sociedade. Se eu me calar, evidentemente é uma vitória para eles.

ÉPOCA – Havia uma operaçãopolítico-eleitoral em curso?  Mendonça de Barros – É difícil saber a motivação. Há alguns sinais externos. Há aquele jornalista que parece ter sido contratado para fazer os dossiês. Há as características comuns dos quatro nomes ligados ao candidato José Serra. Além disso, a gente sabe que esse pessoal é dado a usar esse tipo de arma no embate político. Mas não sou eu quem vai fazer esse julgamento. Vou simplesmente exigir meus direitos como cidadão.

”Essa ação é tão truculenta que certamente não vem do núcleo do governo e da campanha da Dilma”

ÉPOCA – A Receita abriu uma sindicância e identificou suspeitos da quebra de sigilo. A atuação interna da Receita basta para deter essas ações ilegais?  Mendonça de Barros – Estive no governo duas vezes em dois momentos distintos. Aprendi na prática a respeitar muito a Receita Federal como instituição. Aliás, sempre digo que o Estado brasileiro conta com instituições bastante corretas e independentes em relação às forças políticas. O Banco Central, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) são instituições que estão acima do grupo político que está no controle do Estado. Não tenho dúvida de que o grosso dos funcionários da Receita está revoltado com esses episódios, porque eles só denigrem a imagem da Receita. Aparentemente, dois ou três desses funcionários colocaram o interesse político acima do interesse da instituição. Não tenho dúvida de que esse pessoal vai ser punido. O problema vai ser saber exatamente quem de fora da Receita comandou esse processo. Aí, é mais difícil.

ÉPOCA – O corregedor da Receita, Antônio Carlos Costa D’Ávila, mencionou a existência de um balcão de venda de informações fiscais. Que tipo de objetivo poderiam ter as pessoas interessadas na compra de seus dados?  Mendonça de Barros – Algum tipo de ação ilegal. É muito difícil não perceber que o único elemento mais forte que une o Eduardo Jorge, eu e os outros dois que tiveram o sigilo violado é a proximidade com o Serra. Eu trabalhei com o Serra e somos amigos desde a época da faculdade. Se há um grupo mais abrangente misturando pessoas de diferentes interesses, isso é uma coisa que a Corregedoria tem de explicitar. Não me sinto em condições de fazer um julgamento.

ÉPOCA – Já houve outras situações em que ocorreu violação de direitos constitucionais por questões políticas. O que a sociedade pode fazer para que as garantias constitucionais sejam preservadas? Mendonça de Barros – A primeira resposta óbvia é não calar. Aqueles que foram afetados têm de agir e fazer valer seus direitos. O responsável tem de ser condenado. É a União, em última instância, a responsável por manter o sigilo fiscal. No caso do grampo do BNDES, eu solicitei a abertura de um inquérito da Polícia Federal. Foram identificados os três funcionários públicos que tinham feito o grampo, e eles foram condenados. Hoje, há uma quantidade de livros e de testemunhos sobre a época do nazismo na Alemanha, ou do fascismo na Itália, ou do stalinismo na Rússia. Há pessoas que viveram naquela época e se penitenciam por ter visto agressões aos direitos individuais e ter se calado. A escalada desse tipo de violação acaba numa situação crítica para a sociedade como um todo. Acho que estou cumprindo minha função como cidadão de levar isso aos tribunais.

ÉPOCA – Estamos distantes desse tipo de situação no Brasil, mas há governos na América Latina lançando mão de todo tipo de expediente condenável para manter o controle sobre a sociedade. Qual é o risco de que isso aconteça no Brasil?  Mendonça de Barros – Esse tipo de comportamento político se desenvolve muito rápido em sociedades estruturadas institucionalmente de modo mais frágil. O Brasil tem instituições muito mais fortes e muito mais preparadas para enfrentar esse tipo de situação. Há outra vantagem aqui no Brasil. Se o governo tentar alguma coisa nessa linha, vai ser mais fácil identificar. E, se isso acontecer, não tenho dúvida de que a sociedade aqui no Brasil vai reagir. A começar pela imprensa. Se há alguém com condição de saber aonde isso chega, é a imprensa, porque é o primeiro veículo da sociedade a ser atacado e com mais virulência. Sinceramente, considerando os oito anos de governo Lula, não me parece crível que uma sucessora sua vá trilhar esse caminho. Mas aí vale aquela máxima: não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem.

ÉPOCA – A campanha da candidata petista Dilma Rousseff negou envolvimento com a quebra do sigilo, e o presidente do PT, José Eduardo Dutra, disse que o partido é o maior interessado em esclarecer os fatos e na punição dos culpados. O senhor acredita nisso?  Mendonça de Barros – Acredito. Porque esse tipo de ação é tão truculento, tão medíocre e tão limitado que certamente vem de pessoas com menos sofisticação política do que o núcleo central do governo. Que vantagem eles teriam com uma coisa dessas? Mas sabemos que, dentro do todo político do governo Lula e, agora, da campanha da ex-ministra Dilma, existe um grupo mais truculento mesmo. Os nomes dessas pessoas sempre estiveram vinculados a ações desse tipo, como foi no caso da compra de dossiê contra o Serra em 2006 (no episódio que ficou conhecido como “escândalo dos aloprados”).

ÉPOCA – O fato de terem sido acessados irregularmente os dados do Ricardo Sérgio de Oliveira, também personagem do grampo de privatização da Telebrás, chama a atenção do senhor?  Mendonça de Barros – A única coisa que me chama a atenção é que esse pessoal tem um software muito ultrapassado das relações do Serra. O Ricardo Sérgio, ao que eu saiba, não tem relação nenhuma hoje com o Serra. Um dos indícios de que a origem desse processo é de gente que tem mais truculência do que inteligência são esses pequenos detalhes. Eles usaram uma relação que talvez tenha sido importante e forte no passado, mas que não tem mais nada a ver nos dias de hoje. 

Duke, hoje no Super Notícia (MG)

O enterro do PSDB

O enterro do PSDB

Lula vai exterminar a oposição. Serra já foi, Aécio é o próximo e Alckmin, se sobrar, não fará diferença

Leonardo Attuch – ISTOÉ Independente
Foi em 2006, em plena campanha presidencial, que o PSDB decretou a sua própria sentença de morte.
O partido começou a definhar quando o candidato Geraldo Alckmin, rendido ao discurso e à patrulha petista, vestiu uma jaqueta com os logotipos das estatais para sinalizar que não privatizaria nenhuma joia da coroa. De lá para cá, o ninho tucano viveu uma lenta agonia até o dia em que o atual candidato, José Serra, atirou a legenda de vez na sepultura, utilizando imagens do presidente Lula no seu programa eleitoral. Se é tão bom aparecer ao lado de Lula, melhor ainda deve ser votar na candidata que Lula indica. E, se o PSDB tem tanta vergonha do que fez no passado, não merece mesmo voltar ao poder.
Diante da falta de rumo dos adversários, Lula se comporta como um predador com sede de sangue e que espreita a possibilidade de exterminar qualquer rastro de oposição no País. José Serra já faz parte do passado. O próximo alvo será Aécio Neves, que, se vier a perder as eleições estaduais em Minas Gerais, sem fazer de Antonio Anastasia seu sucessor, será apenas um senador perdido num Congresso dominado por PMDB e PT. ­Restaria aos tucanos a possibilidade de se encastelar no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, com a provável vitória de Geraldo Alckmin. O que não significaria absolutamente nada, pois o PSDB continuaria incapaz de viabilizar um projeto nacional de poder – e Alckmin poderia estar abrigado em qualquer partido.
É possível até que a história seja generosa e reserve ao PSDB uma boa imagem futura: um partido que nasceu para estabilizar a moeda, reformar algumas estruturas do Estado e depois desse pequeno interregno se dissolveu. Cumprida a missão, o Brasil retornou ao seu leito natural. Voltou a ser a sociedade patrimonialista de sempre, na qual petistas, peemedebistas e assemelhados disputariam cada fatia de um setor público hipertrofiado e também lucrativo para os amigos do poder que o exploram. E como o Brasil de hoje, com suas riquezas naturais, é cada vez mais importante para o resto do mundo, o ciclo de prosperidade atual poderá durar por muitos anos, perpetuando no poder os que aí estão. Em 3 de outubro de 2010, a história do PSDB poderá estar chegando ao fim, ainda que o partido faça alguns governadores. E a oposição ao PT, como previu o ex-presidente José Sarney, nascerá do ventre do próprio lulismo, quando os aliados do projeto de poder petista estiverem em guerra e insatisfeitos com o critério de partilha do pão estatal.

Volta da França, Paris


Fotografia de Nicolas Sohl  Ciclistas do Tour de France passando na Rue Rivoli, em Paris, na fase final da corrida e espectadores . 

O PT contra os excessos da democracia

O PT contra os excessos da democracia
Guilherme Fiuza – Revista Época

A polícia federal voltou. Quem achou que os bravos combatentes do FBI brasileiro estavam de férias até o final das eleições enganou-se. Aí estão eles de novo, operativos, reativando sua famosa fábrica de manchetes de jornal. No auge da campanha eleitoral, o alvo da Polícia Federal é o bom e velho José Roberto Arruda, ex-governador do Distrito Federal, aquele que na literatura política tirou do PT o monopólio sobre a palavra “mensalão”.
O público já estava com saudades daquelas operações com nome de tragédia grega e embalagem de novela das oito. Depois de longo silêncio, eis que a Polícia Federal lança seu relatório sobre o caso Arruda. É basicamente o mesmo press release de sempre, acusando o investigado de chefiar uma organização criminosa, mais um punhado de adjetivos picantes do vocabulário da delinquência. A expressão “organização criminosa” pode até não significar nada, mas é sem dúvida uma grande contribuição da polícia para o jornalismo contemporâneo.
Com todo o cuidado para não fazer marola na campanha da candidata do chefe, nada melhor do que bater em cachorro morto – que não grita e ainda por cima é de oposição. Com o relatório Arruda, a PF dá uma forcinha à expressão “mensalão do DEM”, enquanto o mensalão original, nacional, autêntico e insuperável dorme no Supremo Tribunal Federal, esperando o fim da licença médica de seu relator.
Está certíssimo. Afinal, Dilma Rousseff, a líder disparada nas pesquisas, obedece a José Dirceu – apontado pelo Ministério Público como o chefe do mensalão. Não fica nem bem mexer com esse assunto numa hora dessas. Não se sabe o dia de amanhã. Talvez por isso também não saiam releases sobre a organização criminosa (com todo o respeito) de Sarney e seu filho Fernando. Os justiceiros do Estado brasileiro não põem a mão em cumbuca. Melhor chutar o Arruda.
Na Receita Federal também está tudo calmo. Sabe-se agora que não foi só o tucano Eduardo Jorge Caldas quem teve o sigilo fiscal espionado. Entre outros, Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-ministro de Fernando Henrique Cardoso, também foi “pesquisado”. Tudo normal. É para isso mesmo que serve o Estado. Leva-se tanto tempo para tomar o poder que o mínimo a fazer, uma vez lá, é usá-lo para perseguir os inimigos e alimentar os amigos. Quando Lula foi eleito e disse que a Presidência da República era o ponto máximo a que um ser humano podia chegar, em tom de final feliz, não entendeu quem não quis.
A PF dá uma forcinha à expressão “mensalão do DEM”, enquanto o mensalão autêntico dorme no STF
Qual é a graça de ter o poder e não mandar a Receita aliviar a família Sarney? Ou não dar uma bisbilhotada nas contas da ex-primeira-dama Ruth Cardoso? Ou não dar uma checada no Imposto de Renda do Mendonção, que, além de ex-ministro, é rico?
Dilma Rousseff já declarou que não tem nada com isso. A ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira contou que foi convocada ao gabinete dela para receber ordens, mas as imagens do circuito interno do Palácio sumiram. Ninguém sabe, ninguém viu. É o mesmo silêncio que cerca a apuração da violação fiscal de Eduardo Jorge. Ele, o cidadão violentado pelo Estado, é quem tem de empreender uma cruzada quixotesca para ter seus direitos reparados, como se fosse um fanático caçando um autógrafo do papa. E, no momento em que aparecem outros adversários políticos do PT na mesma espionagem, o que diz a Receita Federal? Nada.
O negócio é ficar quieto e esperar a imprensa esquecer o assunto. A imprensa, aliás, atrapalha muito nessas questões íntimas do poder. O governo tem quase 80% de aprovação e ainda tem de dar satisfação do que faz ou deixa de fazer com a máquina pública – conquistada com tanto sacrifício na apoteose lulista.
Talvez por isso o partido de Dilma venha propondo tantos projetos de controle social da mídia. O ideal seria, com esses 80%, governar também a pauta dos jornais e das TVs. A candidata do PT quer a convocação de uma Constituinte restrita. Pelo visto, está disposta a acabar com os excessos da democracia. 

Caetano Veloso e Maria Gadú - Raptme, camaleoa

Usurpação de cidadania

Usurpação de cidadania
Dora Kramer
O ESTADO DE S. PAULO
De todos os casos cabulosos ocorridos no governo Luiz Inácio da Silva, o da quebra indiscriminada de sigilo fiscal na delegacia da Receita Federal em Mauá é o mais angustiante.De Waldomiro Diniz à arquitetura de dossiês na Casa Civil na Presidência da República para atrapalhar o trabalho da CPI dos Cartões Corporativos; das urdiduras da direção do PT envolvendo empréstimos fraudulentos e desvios de recursos em empresas públicas (mensalão), à quebra do sigilo bancário de uma testemunha das andanças do ministro da Fazenda em uma casa de lobby de Brasília, todos tiveram objetivos específicos.
Pretendiam algo: Waldomiro, o homem encarregado pelo então chefe da Casa Civil, José Dirceu, de organizar as relações com o Congresso, cobrava propina de um bicheiro.
O dossiê com os gastos da Presidência quando ocupada por Fernando Henrique Cardoso pretendia (e conseguiu) inibir a atuação dos oposicionistas na comissão parlamentar de inquérito criada para elucidar as razões do aumento nos gastos dos cartões corporativos do governo todo e também para pedir acesso às despesas secretas da Presidência.
Os empréstimos simulados visavam a "lavar" dinheiro que financiava as campanhas eleitorais dos partidos aliados e mantê-los, por esse método, como integrantes da base parlamentar governista.
A quebra do sigilo do caseiro Francenildo Santos Costa na Caixa Econômica Federal deu-se com a finalidade de tentar desmoralizá-lo como a testemunha que desmentia o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, no caso da casa de lobby. Palocci negou no Congresso e em pronunciamento que frequentasse a tal casa e Francenildo, caseiro do local, atestava que o via sempre por lá.
Os personagens eram conhecidos e os episódios por mais nebulosos que fossem eram compreendidos. Dava para entender sobre o que versavam. Era corrupção e/ou política.
Agora, o que assusta é inexistência de uma motivação específica claramente definida, a amplitude das ações, a multiplicidade de alvos e a tentativa do governo de abafar o caso dando a ele uma conotação de futrica eleitoral.
Evidente que Dilma Rousseff sabe do que se trata quando ouve dizer que 140 pessoas tiveram o sigilo fiscal violado numa delegacia da Receita em cidade das cercanias de São Paulo.
Sabe que estamos diante de algo que pode ser qualquer coisa, menos o que alega: mero factoide, "prova do desespero" da oposição.
Como "mãe do povo", coordenadora do governo e responsável por tudo de maravilhoso que há no Brasil, Dilma deveria ser a primeira - depois do presidente Lula - a se preocupar com o fato de 140 cidadãos terem tido sua segurança institucional violada numa dependência do Estado.
No lugar disso, só faz repetir o mantra da candidata ofendida. Pode ser conveniente, mas não é um acinte?
Assim como soa a provocação ao discernimento alheio a proteção da Receita Federal aos investigados e a tentativa de "vender" a versão fantasiosa sobre a venda de sigilo no mercado negro de informações.
A atitude do governo alimenta a suspeita de dolo. Natural seria que as autoridades se levantassem em defesa da preservação dos direitos e garantias individuais.
Nesta altura, embora seja relevante, não é realmente o mais importante a filiação partidária dos agredidos.
Eduardo Jorge, Ana Maria Braga, Ricardo Sérgio, a família dona das Casas Bahia, tanto faz.
Foram eles, mas poderia ser qualquer um de nós. Quem, aliás, garante que não seremos os próximos a constar de um rol de pessoas vilipendiadas nas mãos de um Estado leviano?
A questão vai muito além do ato eleitoral, é um caso grave de insegurança institucional, pois não se sabe de onde vem isso, aonde vai parar, quem são os responsáveis, como agem e o que pretendem com essa manipulação que cassa a cidadania e espalha insegurança.
Digno. Aloizio Mercadante indigna-se com os modos - de fato indignos - de Tiririca no horário eleitoral, mas convive sem indignação com as indignidades de companheiros de "base" no Senado.

Bello, hoje na Tribuna de Minas

Tsunami governista

Tsunami governista
Merval Pereira O GLOBO
Dada como perdida a eleição presidencial, a tentativa da oposição agora é não desmobilizar as campanhas regionais e resistir ao verdadeiro tsunami governista que vem tomando conta do país, subvertendo a geografia do voto com base na popularidade do presidente Lula.
Com a reviravolta da corrida pelo governo de Minas, com o candidato do ex-governador Aécio Neves tomando a dianteira, a oposição vai garantindo a manutenção do poder nos dois maiores colégios eleitorais do país.
Embora seja pouco provável que o presidente Lula se empenhe na defesa da candidatura de Hélio Costa em Minas, é certo que em São Paulo ele aumentará sua ação política para tentar uma reversão que leve a eleição para o segundo turno.
É em São Paulo que está o centro da disputa pela hegemonia do poder político nacional entre PT e PSDB, e a vitória da candidata Dilma Rousseff sobre o tucano José Serra é um indício de que o PT encontra um ambiente político propício para tentar quebrar o domínio de 16 anos do PSDB no governo estadual.
O crescimento de Mercadante, mesmo que tenha se dado mais sobre os votos do candidato do PP Celso Russomano, deve estimular ações mais agressivas por parte de Lula, que está se empenhando pessoalmente em alguns estados até mesmo na disputa pelo Senado.
Serra está tendo um desempenho na corrida presidencial mais próximo do que teve em 2002, quando perdeu em São Paulo e venceu apenas em um estado, Alagoas, obtendo 23,5% dos votos, do que do de Geraldo Alckmin em 2006, quando o então candidato tucano fechou o primeiro turno com 43% dos votos, tendo derrotado Lula em São Paulo por 3.800 milhões de votos.
Ambos foram para o segundo turno com poucas chances de vitória sobre Lula, e perderam pela mesma diferença: 61% a 39% dos votos válidos.
Não por coincidência, a mesma proporção que a candidata Dilma Rousseff vai abrindo sobre Serra já nesse primeiro turno, o que mostra que a antecipação da disputa prevista por Lula está se concretizando.
Mais grave para Serra é que os 40% de votos válidos que parecem ser o teto dos eleitores oposicionistas terão que ser divididos com a candidata do Partido Verde, Marina Silva, que vem tendo cerca de 10% dos votos válidos.
A disputa eleitoral passa a ser em torno dos nichos de voto oposicionistas nos tradicionais estados azuis, como São Paulo e Minas Gerais, cujo controle político será vital para que a oposição tenha voz num futuro governo Dilma.
Mas também em torno do Senado, onde está em disputa o controle de uma bancada que, até o momento, é o principal freio às investidas do governo federal.
Embora tenha uma maioria teórica nas duas Casas do Congresso, foi no Senado que o governo Lula encontrou maiores resistências, devido não apenas à atuação da oposição como ao posicionamento de senadores independentes.
Uma avaliação mais realista da correlação de forças partidárias num provável governo Dilma, portanto, depende desses dois fatores que darão a medida do nível de fragilidade da atuação da oposição.
Uma eleição de Antonio Anastasia como está se desenhando reafirmará a posição do ex-governador Aécio Neves como principal expoente da oposição no país, mesmo que Alckmin confirme sua hegemonia em São Paulo.
O mais importante estado onde a oposição vence, fora do sudeste, é o Paraná, onde Beto Richa tem possibilidade de vencer no primeiro turno. As vitórias de Marconi Perillo em Goiás e do peemedebista dissidente André Puccinelli no Mato Grosso do Sul serão importantes para garantir a influência política da oposição no CentroOeste do país.
A composição do Senado por enquanto está garantindo a permanência de oposicionistas de peso, que Lula gostaria de derrotar, como Tasso Jereissatti no Ceará, Artur Virgílio no Amazonas, e dos democratas José Agripino Maia no Rio Grande do Norte, Marco Maciel em Pernambuco, Demóstenes Torres em Goiás e Cesar Maia no Rio.
Há ainda eleições prováveis, como a de Germano Rigotto, do PMDB antipetista do Rio Grande do Sul, Itamar Franco, do PPS de Minas, e Cristovam, Buarque, do PDT de Brasília.
Algumas vagas estão em disputa acirrada e a partir delas se poderá ter uma idéia de como ficarão as bancadas no Senado. Em São Paulo, a petista Marta Suplicy permanece em primeiro lugar e dois candidatos disputam a segunda vaga: Orestes Quércia, do PMDB dissidente, e Netinho, pelo PCdoB.
Em Brasília, a tucana Maria Abadia está empatada tecnicamente com Rodrigo Rollemberg do PSB; no Rio de Janeiro, o bispo Marcelo Crivella está despencando, embora permaneça na primeira posição, e Lindberg Farias, do PT, e Jorge Picciani, do PMDB, estão crescendo, mas continuam longe de Cesar Maia, que apresenta estabilidade de votação.
Em Pernambuco, o presidente Lula decidiu fazer campanha contra o ex-vice de FH, Marco Maciel, para apoiar Armando Monteiro, do PTB, que está crescendo na disputa pela segunda vaga.
Dependendo da correlação de forças, é possível que o PSB tente uma aproximação com o PSDB para dar ao governo uma alternativa para equilibrar o poder que terá o PMDB, fazendo as maiores bancadas tanto na Câmara quanto no Senado.
Aécio Neves pode ser o centro numa aliança PSB, PT, PSDB, que já foi tentada em Belo Horizonte na eleição do prefeito Marcio Lacerda.
Na ocasião o PT vetou essa aproximação, mas diante do aumento de poder do PMDB é possível que reveja essa posição.
Este é um processo ainda em curso, faltando pouco mais de um mês para a eleição, e está sujeito a reviravoltas devido à onda governista que está assolando o país do Oiapoque ao Chuí, para usarmos a imagem inaugural da propaganda da candidatura oficial.

Conto “Lodaçal”, de André Sant’anna, do livro “Essa História Está Diferente – Dez Contos Para Canções de Chico Buarque”, organizado por Ronaldo Bressane

Conto “Lodaçal”, de André Sant’anna, do livro “Essa História Está Diferente – Dez Contos Para Canções de Chico Buarque”, organizado por Ronaldo Bressane
Brejo da Cruz
Chico Buarque
a novidade 
que tem no brejo da cruz
é a criançada
se alimentar de luz
alucinados
meninos ficando azuis
e desencarnando
lá no brejo da cruz
Eletrizados
cruzam os céus do brasil
na rodoviária
assumem formas mil
uns vendem fumo
tem uns que viram jesus
muito sanfoneiro
cego tocando blues
uns têm saudade
e dançam maracatus
uns atiram pedra
outros passeiam nus
mas há milhões desses seres
que se disfarçam tão bem
que ninguém pergunta
de onde essa gente vem
são jardineiros
guardas-noturnos, casais
são passageiros
bombeiros e babás
já nem se lembram
que existe um brejo da cruz
que eram crianças
e que comiam luz
são faxineiros
balançam nas construções
são bilheteiras
baleiros e garçons
já nem se lembram
que existe um brejo da cruz
que eram crianças
e que comiam luz
Ocaso, e o Brejo da Cruz é uma cidade, é uma aldeia, é um lodaçal, é umas quatro/cinco casas, é nada, é um brejo em cima de um campo de futebol submerso pelo lodaçal com uma cruz bem no meio do círculo central que nunca fora traçado no campo de terra seca rachada, onde antigamente nunca chovia, antes, até o dia em que um cara, meio padre, meio cangaceiro, mandou acabar com esse negócio de futebol e levantar uma cruz bem em cima do círculo central inexistente daquele lugar meio aldeia, meio campo de futebol, meio nada, fazendo com que, depois de erguida a cruz, passasse a chover demais sobre o campo de futebol sem círculo central, e só sobre o campo de futebol sem círculo central, por milagre de Deus, que existe, fazendo com que o meio nada, o meio cidade de quatro/cinco casas, se tornasse um brejo com uma cruz no meio e sapos, onde chove muito, chove sempre, chove o tempo todo, sem parar, em cima da cidade, da aldeia, das quatro/cinco casas, apenas lá, em cima do campo de futebol lodaçal e quase nunca ao redor, um redor onde só chove raramente, onde há nada, onde há algumas poucas plantações de maconha de uns caras que só aparecem de vez em quando para colher maconha, para plantar maconha, para tratar mais ou menos da maconha e só.
Ocaso, e o Chiquinho e o Toninho ainda não comeram nada neste dia, já que o Chiquinho e o Toninho e todo mundo no Brejo da Cruz só comem sapo, já que nem rã há naquele brejo com uma cruz no meio, e o Chiquinho e o Toninho não aguentam mais comer sapo, mas é ocaso e a lua está nascendo cheia, e há a luz da lua e o Chiquinho e o Toninho sentem um troço por dentro, que não é fome, já que o Chiquinho e o Toninho já estão acostumados a não comer sapo, que é uma comida que enjoa logo, que é um bicho que quase não tem carne, já estão acostumados a não comer, já estão acostumados a comer nada, já estão ficando acostumados a sentir um troço por dentro, que é um troço que dá neles sempre que a luz da lua aparece cheia no ocaso. O Chiquinho e o Toninho não comeram nada, o Chiquinho e o Toninho nem têm vontade de comer nada.
Ocaso, e o Chiquinho e o Toninho andando nada adentro, nada afora, o sol sumindo, a lua subindo cheia, aquele troço, aquela luz, lua e estrelas.
Lua, estrelas, o Chiquinho, o Toninho e o maconhal já meio afastados do Brejo da Cruz.
Nas bandas do Brejo da Cruz, criança é nada. Tudo nada. A lua, as estrelas e os pés de maconha seriam nada também, não fosse o troço que dão no Chiquinho e no Toninho e no pai do Chiquinho e no pai do Toninho e em todo mundo que é criança ou já foi criança no Brejo da Cruz.
Pode ser muito bom ser nada. E o bom de ser nada, o bom de só se ter sapo pra comer, o bom do nada é que tudo tanto faz, mas normalmente não é muito bom. Tudo, no nada, é vida interior. Poesia isso?
Luz da lua e das estrelas?
O Chiquinho é bem fissurado, gosta demais desse troço que dá, e acaba de puxar, do shorts meio rasgado, meio nada, aquela página inteira de jornal de há quinze anos, cheia de notícias e opiniões e de um monte de palavras e significados que, para o Chiquinho, significam nada, e o Chiquinho vai direto no pé de maconha, pega um punhadão de maconha assim, rasga a página de jornal no meio, joga a metade do punhadão de maconha assim numa metade da página de jornal e a outra metade do punhadão de maconha assim na outra metade da página de jornal.
Noite, luz da lua cheia, o Chiquinho, o Toninho e dois charutões enormes de maconha sem valor comercial.
No Brejo da Cruz, mato vale nada, custa nada. É só catar no pé, quanto quiser, quanto o Chiquinho quer. E o Toninho de noite sob a luz da lua. No Brejo da Cruz, maconha não tem preço, custa nada. O problema é fósforo. O Chiquinho e o Toninho têm uma caixa com três palitos. Depois, só Deus sabe... Deus existe, mas não se importa com palitos de fósforo, não se importa com crianças sem comida sentindo um troço, e caixas de fósforos só aparecem no Brejo da Cruz quando aparece alguém de alguma fazenda meio distante para escravizar alguma criança. Nessas raras ocasiões, as crianças deixam de valer nada e passam a valer um punhado de caixas de fósforos, um punhado de maços de cigarros, um punhado de qualquer coisa que valha um pouco mais do que nada. E o problema das caixas de fósforos no Brejo da Cruz é a baixa produção de crianças próprias para o consumo. Quatro/cinco casas, quatro/cinco famílias é muito pouca matéria-prima para a produção de crianças próprias para o consumo.
Então, caçadores de escravos, progresso e caixas de fósforos aparecem muito pouco mesmo no Brejo da Cruz.
Retirado do livro “Essa História Está Diferente – Dez Contos Para Canções de Chico Buarque” (Companhia das Letras)

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