terça-feira, dezembro 28, 2010

Pôr do Sol, Indonésia

Fotografia por Gaotama Wandy

O silêncio

O silêncio
RUBEM ALVES – Folha de São Paulo
Parte da disciplina do mosteiro era participar da liturgia. Tenho horror a sermões. Mas me conformei
O VENTO FRIO, aos golpes, anunciava que o inverno estava se aproximando. Nuvens cinzentas cobriam os Alpes, navios que navegavam velozes. Era um velho mosteiro de freiras que praticavam o silêncio, costume abençoado que libertava as pessoas da obrigação de conversar com os vizinhos às mesas de refeições. Conversar por delicadeza quando não se quer falar e não se tem sobre o que falar é uma maldição.
Hóspede naquele mosteiro, eu deveria obedecer aos horários e participar dos eventos. Fui, então, informado de que parte da disciplina do mosteiro era participar da liturgia três vezes por dia: às 6 da manhã, ao meio-dia e às 6 da tarde. Estremeci. Tenho horror a sermões. Mas me conformei.
O santuário era um velho celeiro de madeira hexagonal, muito grande e escuro, sem janelas. Os arquitetos, para por luz nas sombras, abriram buracos nas paredes de madeira, cobrindo-os com vidros coloridos. A luz do sol, entrando pelos orifícios e atravessando os vidros coloridos, faziam desenhos no espaço vazio, desenhos que se deslocavam à medida em que o sol caminhava pelo céu.
Era uma atmosfera de luz mortiça, iluminado por algumas velas sobre o altar, uma mesa simples com um ícone oriental de Cristo, ao estilo da arte bizantina.
Uns poucos bancos arranjados em "U" definiam um espaço vazio, no centro, onde quem quisesse podia se assentar numa almofada, sobre um tapete. Cheguei alguns minutos antes da hora marcada. Era um grande silêncio. Muito frio.
Cheguei pontualmente. Havia umas poucas pessoas. Os mosteiros não são lugares que atraiam turistas. Fiquei à espera do início da liturgia, que deveria iniciar-se suiçamente ao repicar dos sinos às 6 da manhã. Os sinos repicaram, mas a liturgia não começou.
Como nada acontecia, nenhuma reza, nenhum hino, nenhuma leitura bíblica, pus-me a examinar o espaço e as luzes que se entrecruzavam. O exercício de simplesmente ver tem o efeito de fazer parar o pensamento. Tornamo-nos só olhos. Alberto Caeiro já dizia que "pensar é estar doente dos olhos..." Os pensamentos, produtos internos da cabeça, são perturbações que distorcem a pureza da visão.
Aí, ao misticismo do ver seguiu-se o misticismo do ouvir. O vento descia furioso das montanhas, em golpes, lufadas que torciam a estrutura de madeira, provocando aqueles ruídos típicos de navios à vela batidos pelo vento.
Ao lado do santuário havia uma plantação de macieiras nuas -o vento havia arrancado suas folhas todas e somente seus galhos pelados ficaram. Quando o vento sacudia a galharia era como se houvesse um mar enraivecido quebrando ondas. Aí os sons e as cores começaram a invocar poemas ancestrais.
"E a terra era um abismo sem forma e o vento de Deus soprava violentamente sobre a superfície das águas... E disse Deus: "Haja luz...'"
E aí meus pensamentos foram possuídos pela poesia.
Mas e a liturgia? Só depois de 20 minutos é que eu percebi que tudo já se iniciara 20 minutos antes. A liturgia era o silêncio.
FIM

SPONHOLZ


Droga do Brasil paga pedágio à Al-Qaeda na África

Droga do Brasil paga pedágio à Al-Qaeda na África
Grupo do norte da África ligado à rede de Bin Laden cobra ''pedágio'' pela passagem de carregamento vindo do Brasil com destino à Europa
Jamil Chade - O Estado de São Paulo
Estado fraco. Policial patrulha mercado
 na região do Deserto do Sahel,
uma das regiões mais pobres
de todo o planeta; associações ilícitas
A droga que sai do Brasil na direção à Europa é um dos pilares do financiamento da rede terrorista Al-Qaeda.
Isso é o que revela uma investigação feita pelo governo da Argélia obtida com exclusividade pelo Estado. Ele mostra que, cada vez mais, o norte da África tem se transformado em um dos motores das finanças do grupo terrorista. Entre as maiores fontes de renda hoje da organização está a cobrança de "pedágio" para os carregamentos de drogas vindos dos portos brasileiros, que têm a Europa como destino final.
A informação vem no mesmo momento em que o grupo WikiLeaks torna pública a constatação da diplomacia americana de que a África e alguns de seus governos se transformaram nos últimos anos no principal centro de apoio e de distribuição da droga sul-americana, tanto para a Europa como para o próprio mercado americano (mais informações nesta página).
Por décadas, a droga que saía da Colômbia era embarcada diretamente para a Europa, em navios ou aviões que chegavam à Espanha e Portugal. Mas desde que esses governos passaram a adotar um controle mais rigoroso sobre as cargas e reforçar as fronteiras marítimas, o narcotráfico foi obrigado a buscar novas rotas.
Segundo a Interpol, essas rotas passam agora pelos portos brasileiros, com a droga colombiana. Santos e os portos do Nordeste seriam os mais utilizados. Em 2009, por exemplo, cerca de 10% de toda a droga que chegou à Europa de navio e 40% da que chegou à França usou o Brasil como rota, segundo o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC).
A caminho da Europa, porém, essa droga passaria pelo norte da África e, lá, encontram grupos dispostos a ajudar fazer a mercadoria chegar até os europeus. Um dos principais grupos que se beneficiam desse "serviço" seria a AQMI, o Al-Qaeda no Magreb Islâmico. O grupo é relativamente pequeno - tem cerca de 300 membros na cúpula da organização na Argélia, Marrocos e Tunísia. Mas vem ganhando espaço político, midiático e tem operações organizadas de forma cirúrgica para atingir seus objetivos. Em 2007, por exemplo, promoveu em Argel o maior atentado contra a ONU.
De acordo com o especialista marroquino em estudos sobre o terrorismo, Mohammed Benhammou, a AQMI de fato faz parte da estrutura mundial e nebulosa da Al-Qaeda, ainda que seja uma relação de lealdade, e não de comando. "Hoje, temos de ser claros e admitir que a Al-Qaeda representa uma ameaça real à segurança da região", disse.

Os vastos Desertos do Sahel e do Saara, além da pobreza extrema e falta de presença do Estado, permitiram que o grupo passasse a controlar certas partes do território norte-africano, mesmo com um número reduzido de pessoas dedicadas exclusivamente ao grupo.
O pagamento de resgates por sequestros e o tráfico de drogas se transformaram em duas fontes de financiamento do grupo nos últimos anos. Estudos publicados nesta semana pelo Centro Africano de Estudos e Pesquisa sobre o Terrorismo indicam que o volume de recursos já seria tão grande, desde 2007, que o grupo já passou a ser um dos principais contribuintes para o comando central da organização Al-Qaeda.
Só no norte da África, essas duas fontes de arrecadação já permitiram que o grupo terrorista acumulasse 100 milhões de euros, dinheiro usado para a compra de armas, planejamento de ataques em todo mundo, manutenção de bases em diversos países, além de "comprar" a aliança de recrutas com salários e o pagamento de "heranças" a famílias de jovens que optaram por cometer atentados suicidas em nome do grupo.
Abdelmalek Sayeh, diretor do Escritório Nacional Argelino para a Luta contra a Droga, afirmou que, em 2008, 240 toneladas de cocaína haviam sido apreendidas no país, antes de ser levada à Europa. Em 2009, 52 toneladas foram identificadas apenas no Deserto do Sahel, no sul despovoado do país.
Segundo ele, o produto viria do Brasil, Peru e Colômbia e ao usar o norte da África como rota para a Europa, deixava milhões de dólares para a Al-Qaeda. "A comunicação entre os traficantes de drogas e os terroristas ocorre na região do Sahel", afirmou.
A direção da AQMI chegou a considerar entrar no próprio tráfico, segundo as investigações do governo argelino. Mas, em 2008, optaram por uma decisão mais pragmática. Permitiriam o uso do território do Sahel pelos traficantes, mas cobrariam uma taxa. Em troca do dinheiro, garantem a proteção ao carregamento e passe livre. Do deserto, os produtos chegam à Europa principalmente a partir de portos no Marrocos e Líbia.
Nos últimos dias, o governo da Argélia tem conduzido uma verdadeira guerra contra os narcotraficantes e suas relações com os terroristas.
Na semana passada, por exemplo, aviões da Força Aérea da Argélia anunciaram que bombardearam um comboio de oito caminhões que transportavam drogas em pleno deserto, na direção da fronteira com o Marrocos. A suspeita era de que o carregamento tinha como destino a Europa. Segundo as informações oficiais do governo de Argel, sete dos oito veículos foram totalmente destruídos.
Mas o próprio governo admite que a região onde operam traficantes e terroristas é de difícil controle. A AQMI surgiu oficialmente apenas em 2006, como um novo formato do Grupo Salafista de Combate (GSPC), que por anos usou o deserto como base de seus ataques contra o governo argelino. Nos anos 90, foi um dos líderes do conflito civil no país, com a meta de instalar um Estado islâmico, antes mesmo do 11 de Setembro de 2001.
O governo acabou derrotando os fundamentalistas. Mas, abandonado pelos governo do Níger, Mali, Mauritânia e Argélia, o Deserto do Sahel se tornou refúgio de terroristas e ponto de encontro de tráfico de droga, grupos criminosos e de imigração ilegal.
O problema é que o financiamento não vem apenas das drogas. Parte dos milhões de euros arrecadados pelos terroristas também vem dos sequestros. O GSPC já tinha iniciado essa tendência em 2003, obtendo 5 milhões de euros do governo alemão em troca de quatro turistas. Por sua proximidade com a Europa, o Saara e o Sahel passaram a ser um dos principais destinos de turismo. A AQMI não perdeu o hábito de seu antecessor e passou a usar os turistas como alvo de sequestros.
No Marrocos, o jornal Magharebia há poucas semanas publicou uma entrevista com um ex-membro do grupo Al-Qaeda, confirmando que a região, os turistas e as drogas haviam se consolidado como a base financeira dos terroristas hoje no mundo. "Esse é o grande terreno fértil para o terrorismo hoje", afirmou o ex-terrorista, identificado apenas como Noureddine ao jornal. "Os recursos da AQMI não foram tocados nem mesmo pela crise econômica mundial", afirmou. "Em troca de proteção, os traficantes são obrigados a pagar tarifas e impostos altos para usar a região", disse.

Distribuição de produtos da indústria farmacêutica cresce no Nordeste

Distribuição de produtos da indústria farmacêutica cresce no Nordeste
Maria Cristina Frias - Folha de S. Paulo - 28/12/2010
A distribuição de produtos da indústria farmacêutica refletiu neste ano a expansão do Nordeste, onde está o maior número de pessoas que recebem benefícios sociais, como o Bolsa Família.
A região se consolidou como a segunda colocada em participação na entrega de medicamentos, segundo a Abafarma (Associação Brasileira do Atacado Farmacêutico). Depois do Sudeste, foi o Nordeste que mais recebeu produtos da indústria.
Do total de unidades vendidas para as farmácias neste ano, 17,4% foram repassados para estabelecimentos nordestinos, ante os 17,29% registrados no ano passado.
A participação neste ano representa movimento de cerca de R$ 5,2 bilhões.
Para todo o país foram levados 2 bilhões de unidades de remédios.
"[O Nordeste] foi a única região que elevou sua participação nos últimos dois anos. O crescimento do PIB [Produto Interno Bruto] acima da média nacional e o aumento da renda refletiram em mais consumo e em maior demanda do varejo", afirma Luiz Fernando Buainain, presidente da Abafarma.
Farmácias do Sudeste foram o destino de 54,2% dos medicamentos neste ano. No ano passado, esse índice era de 54,7%. Apesar de leve, a queda representa uma tendência, segundo a entidade.
O Sul, que está em terceiro lugar com 16,9%, também caiu na comparação com o ano passado, quando registrava 17,1%.
COMÉRCIO FLUMINENSE EM ALTA
O faturamento do comércio do Estado do Rio de Janeiro cresceu 4% em novembro, ante o mesmo mês de 2009, segundo levantamento da Fecomércio-RJ.
No ano, o faturamento acumula alta de 2,8%.
Em novembro, todos os grupos pesquisados pela entidade registraram resultados favoráveis em relação a igual mês do ano anterior.
O aumento mais expressivo ocorreu no segmento de bens não duráveis, que teve alta de quase 6%, devido aos ganhos de massa salarial.
Combustíveis e lubrificantes também se destacaram (5,3%), impulsionados pela venda de veículos.
Os bens semiduráveis (3,5%) e os duráveis (2,4%) foram beneficiados pela expansão do crédito.
Entre os subgrupos, calçados (6,7%), supermercados (6,3%) e tecidos (4,8%) apresentaram os melhores resultados no mês, segundo a Fecomércio-RJ.
Banco da escola Cresce a demanda por treinamento "premium" para profissionais que atendem clientes de alta renda nos bancos. Na Trader Brasil Escola de Investidores, o número de alunos aumentou 150% após o lançamento de cursos on-line para profissionais que trabalham em instituições financeiras, inclusive em corretoras.

Carga... O volume de carga escoada pelo aeroporto do município de Jundiaí (SP) ficou em 653 mil toneladas entre janeiro e novembro. O número representa crescimento de 157% nos últimos 12 meses.
...na pista A administração do aeroporto espera superar 700 mil toneladas até o fim do ano. Em 2010, a iniciativa privada anunciou investimentos de mais de R$ 900 milhões, que serão empregados na instalação de 13 novas empresas, além da ampliação de outras quatro, segundo a Prefeitura de Jundiaí.
Cadeiras O Instituto Geoc, que representa as empresas de cobrança do Brasil, acaba de eleger nova diretoria. Jair Lantaller assumirá a presidência no lugar de Adilson Melhado.
Gestão... A consultoria Roland Berger Strategy, de gestão empresarial, vai abrir escritórios na América Latina em 2011. Colômbia, Chile e Argentina estão nos planos da empresa. As unidades se reportarão ao escritório brasileiro, que centralizará as ações.
...latina Nos próximos três anos, a Roland Berger vai investir, mundialmente, cerca de ? 70 milhões em expansão. Outra meta da consultoria para o próximo ano no Brasil é aumentar a atuação nos segmentos automotivo, energia, infraestrutura e logística.
CARRÕES PELO INTERIOR
O grupo Eurobike, rede de concessionárias de carros de luxo, vai investir R$ 35 milhões para abrir quatro lojas em 2011.
Os novos pontos serão nas cidades de São Paulo, com a bandeira Audi, em Ribeirão Preto (SP), com a marca Mini, e em Caxias do Sul (RS), com uma multimarcas. O grupo ainda negocia uma bandeira para a loja de Uberlândia (MG).
O investimento inclui ampliações em unidades de São José do Rio Preto (SP), segundo Henry Visconde, presidente da rede.
A loja na capital paulista será inaugurada em fevereiro e trará dois lançamentos da Audi: o novo A7, um cupê de cinco portas, que custará R$ 320 mil, e o A1, o primeiro compacto da marca, por R$ 90 mil.
"Com o crescimento do consumo de carros "premium", as vendas cresceram em média 50% neste ano. A expectativa é que em 2011 o aumento seja de 40%", diz Visconde.

Leandro, no Diário de Guarulhos


FH afirma que ele, e não Lula, mudou o Brasil - Entrevista na íntegra

FH afirma que ele, e não Lula, mudou o Brasil
O GLOBO
Ex-presidente critica seu sucessor e Dilma, além de dizer que tem dificuldades para entender a presidente eleita
SÃO PAULO. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse anteontem ao programa "Manhattan Connection", do GNT, que ele, "sem falsa modéstia", e não o presidente Lula, mudou o Brasil. Segundo o ex-presidente, o Brasil era um, antes da consolidação da economia conquistada em seu governo. E disse que Lula só não herdou um país melhor por causa do medo que o mercado tinha do que o petista poderia fazer. O ex-presidente disse ainda que a presidente eleita, Dilma Rousseff, encontrará um país num bom momento, mas frisou que, em função do aumento de gastos públicos no governo Lula, terá que fazer "ajustes na economia". E afirmou ter dificuldades para entender o que ela, por vezes, quer dizer:

- Eu mudei o Brasil. Sem falsa modéstia. O Brasil era um, antes da consolidação da economia, e passou a ser outro. O Brasil foi muito melhor do que o que o presidente Lula pegou. O ano que ele pegou piorou, mas por causa dele. Por causa do medo que o mercado tinha do que ele dizia que ia fazer. E, para sorte de todos nós, não fez. A Dilma vai pegar uma economia em bom momento, mas uma situação fiscal bastante difícil também.
Após criticar a ação de Lula na formação do Ministério de Dilma ("ele está se metendo em tudo, quando deveria deixar Dilma governar"), disse não entender direito o que ela quer fazer:
- A Dilma, às vezes, não termina um raciocínio. E eu confesso que tenho inteligência curta, porque ela não termina um raciocínio e eu não consigo entender o que ela ia dizer.
Um jornalista, provocando FH, perguntou então se Dilma fará outro dossiê sobre sua vida particular, como fez quando chefiava a Casa Civil, onde teria encomendado um dossiê contra os gastos da ex-primeira-dama Ruth Cardoso:
- Foi grave aquilo. Dilma telefonou para a Ruth e disse que não estava fazendo nada. E não tinham o que fazer mesmo. Fizeram aquilo para justificar gastos que até hoje não justificaram, na primeira parte do governo Lula. Eles ainda não explicaram. No meu tempo não tinha nem cartão corporativo. Fizeram aquela onda toda, aquela chantagem toda, que era para justificar gastos do governo. Mas, se quiserem fazer um dossiê sobre a minha vida, podem fazer porque eu não tenho nada a esconder.


FHC diz ter 'dificuldade' para entender o que Dilma fala
Anne Warth - O ESTADO DE S. PAULO
'É uma dificuldade minha, você sabe que eu sou curto em inteligência. Às vezes eu não consigo, ela não termina o raciocínio e eu não tenho imaginação suficiente para saber o que ela iria dizer', ironizou
SÃO PAULO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) afirmou ter sérias dificuldades para entender o que fala a presidente eleita, Dilma Rousseff (PT).
Em entrevista ao programa Manhattan Connection, exibido no domingo, 26, à noite pelo canal de TV por assinatura GNT, FHC ironizou a petista e disse não ter "imaginação suficiente" para adivinhar o que Dilma quer dizer quando começa algum raciocínio e não o conclui.
"Não, não entendo não, eu confesso a você que tenho uma série dificuldade (para entendê-la)", afirmou. "É uma dificuldade minha, você sabe que eu sou curto em inteligência. Às vezes eu não consigo, ela não termina o raciocínio e eu não tenho imaginação suficiente para saber o que ela iria dizer."
FHC disse que Dilma assumirá um País em condições muito melhores que as que encontrou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o sucedeu no cargo.
Na avaliação dele, o principal problema a ser enfrentado pela presidente eleita é a questão fiscal. "A Dilma vai pegar uma economia em bom momento, mas vai pegar uma situação fiscal bastante difícil também. Os gastos públicos aumentaram muito e é difícil você aumentar mais o imposto. Vai ter que ter algum ajuste."
Porém, o ex-presidente afirmou que não prevê um cenário pessimista para Dilma e enalteceu as conquistas que o País obteve nos últimos anos, principalmente durante seu governo (1995-2002). Ao falar de si mesmo, FHC fez um autoelogio. "Eu mudei o Brasil, vamos dizer com clareza aqui, sem falsa modéstia. O Brasil era um antes da consolidação da economia e passou a ser outro", afirmou.
"Vamos ser francos, o Brasil está melhorando, está melhorando muito, há muito tempo vem melhorando e vai melhorar mais. Depois que você põe em movimento uma máquina, você começa a pedalar e ela vai. Não sou pessimista nesse sentido, mas acho que ela (Dilma) vai ter que fazer alguns ajustes", afirmou.
FHC também aproveitou para criticar o presidente Lula. "O ano em que ele (Lula) pegou (assumiu o governo) piorou por causa dele, por causa do medo que os mercados tinham do que ele dizia que iria fazer e que, para a sorte de todos nós, não fez."
Dossiê
O tucano condenou a montagem de um dossiê sobre seus gastos e os de sua mulher, Ruth Cardoso (morta em 2008), durante sua gestão na Presidência. O dossiê teria sido feito em 2008 pela então secretária-executiva da Casa Civil Erenice Guerra a pedido da então ministra Dilma, quando o Congresso manifestou interesse em investigar os gastos do presidente Lula e de sua família com cartões corporativos.
"Realmente foi grave aquilo, porque ela (Dilma) telefonou pra a Ruth e disse que não estava fazendo nada", afirmou. "Era simplesmente para justificar os gastos que nunca foram explicados, até hoje, da primeira parte do governo Lula. Inventaram que nós tínhamos gastos que não tínhamos, não havia nem cartão corporativo, não havia nenhum gasto de coisa nenhuma, mas fizeram aquela onda, aquele chantagem toda, foi bastante desagradável."
FHC disse esperar que o ato não se repita durante o governo Dilma. "Mas se quiserem fazer espionagem da minha vida podem fazer à vontade, não tenho nada para esconder, mas espero que não", afirmou. "Eu digo não é o procedimento correto ficar fazendo dossiê." A entrevista com FHC foi a última do programa Manhattan Connection na GNT, que disponibilizou alguns trechos em seu site na internet.
“Eu mudei o Brasil. Sem falsa modéstia. O Brasil era um antes da consolidação da economia e passou a ser outro. O Brasil foi muito melhor do que o que o presidente Lula pegou. O ano que ele pegou piorou por causa dele. Por causa do medo que o mercado tinha do que ele dizia que ia fazer. A Dilma vai pegar uma economia em bom momento mas vai pegar uma situação fiscal bastante difícil também”, adianta.
Mas o ex-presidente evita maiores comparações de seu governo com o de Lula.“Fiz um governo de mudanças profundas. O presidente Lula aproveitou a economia e os programas que criamos, para expandir. Mas acredito que muito foi mérito dele também”, comenta.
Quanto a Dilma Rousseff, o ex-presidente diz não entendê-la com perfeição. “A Dilma, às vezes, não termina um raciocínio. E eu não tenho imaginação suficiente para entender o que ela ia dizer”, brinca. Ao final do programa, é questionado sobre o livro que sugeriria a Dilma. Ele diz “A Democracia na América”, de Alexis De Tocqueville. “Ela já deve ter lido. Eu espero”.
Previsões para economia do Brasil
Sobre as previsões que colocam a economia do Brasil em 5ª lugar, em 2016, o ex-presidente - que governou o Brasil de 1995 até 2003 - é realista. “Nós sabemos lidar com a economia. Não sabemos é lidar com as pessoas, com a segurança, com a justiça, com a saúde, com o meio ambiente... Essa preocupação se vamos ser uma das cinco maiores é desconversar o país. Nós já somos uma das 10 maiores economias do mundo. Vamos tentar ser uma das 10 melhores e não maiores”, opina FHC.

Aos 79 anos, o ex-presidente diz não ser adepto das redes sociais mas admite gostar muito de Blackberry e iPad. “Facebook e Twitter eu não uso. Estou fora desse jogo de prestígio. Já o Blackberry eu gosto muito. Já até escrevi um artigo nele”.
No programa, Fernando Henrique ainda aproveita para revelar suas preferências gastronômicas e diz ir com frequência ao restaurante de Roberta Sudbrack, a primeira chef do Palácio da Alvorada.

É isso que queremos?

É isso que queremos?
RUBENS BARBOSA – O Estado de São Paulo
Um novo governo estará dando seus primeiros passos a partir de 1.º de janeiro, com novos desafios e novas esperanças.
O Brasil transformou-se profundamente nos últimos 16 anos. Se pudéssemos sintetizar em poucas palavras o ocorrido, o País modernizou-se com FHC e foi iniciado o processo de redução das desigualdades regionais e individuais com Lula.
O mundo igualmente passa por grandes mudanças. A Ásia emerge como o centro dinâmico das atividades econômicas e comerciais. O Pacífico substitui o Atlântico como polo dinâmico de crescimento e os países emergentes, nos próximos cinco anos, serão responsáveis por mais de 50% do PIB global.
Dados os positivos indicadores econômicos, políticos e sociais, a presidente Dilma Rousseff assumirá o comando do País em situação relativamente confortável. Essa condição, contudo, esconde problemas sérios, que vão requerer ações rápidas e enérgicas para serem corrigidos. A maior presença do Estado, base da visão nacional-desenvolvimentista, poderá facilitar a mudança de atitude, o fortalecimento das empresas e a expansão do emprego.
Em recente estudo, o National Intelligence Council, vinculado ao governo dos EUA, coloca o Brasil como uma das superpotências econômicas globais em 2025. A percepção externa é de que nosso país reúne as condições básicas de território, população e produção interna agrícola, industrial e de serviços (PIB) para desempenhar papel de realce no concerto internacional. O Brasil, durante o próximo governo, deve ultrapassar Itália, Espanha, Franca e Inglaterra, para assumir a posição de quinta economia mundial.
Apesar das consequências desses grandes avanços internos, com as exceções de praxe, nem os líderes políticos de todos os partidos, nem a burocracia estatal, nem os sindicatos, nem mesmo o setor privado se dão conta de que será necessária uma urgente e drástica mudança de atitude para enfrentar os desafios criados por essas transformações internas e externas.
O processo decisório governamental não está levando em conta que a agenda dos anos 90, que tornou possível o País que temos hoje, está esgotada e devemos partir para responder aos desafios do futuro.
Qual é a nossa visão do futuro? Vamos continuar como estamos ou vamos querer transformar o País para alcançar o lugar de destaque que o mundo espera que o Brasil ocupe?
Para atingir esse estágio de desenvolvimento e influência mundial, além de contar com condições externas positivas, o Brasil terá de fazer seu dever de casa para manter a estabilidade econômica, tornar o governo mais eficiente e crescer de maneira sustentável a taxas significativamente mais elevadas.
Com esse pano de fundo, chegou a hora de os partidos políticos, os sindicatos e o setor empresarial, sob a liderança da presidente Dilma, somarem esforços, numa parceria real, para pensar mais no Brasil e menos nos interesses pessoais e partidários. Essa mudança de atitude passa pelo incentivo à inovação e pelo aumento da competitividade, a fim de gerar mais de 150 milhões de empregos em 2030.
Conhecimento, inovação, educação, ciência e tecnologia, competitividade, rumos da globalização e inserção externa deveriam ser discutidos em profundidade, da mesma forma que se dá destaque a assuntos como violência, crime, MST, juros, câmbio e dança de cadeiras para o Ministério. O Ministério do Desenvolvimento deveria ser tão importante quanto o da Fazenda nesse desenho de nosso futuro.
Devemos estar conscientes da necessidade de olhar para a frente e estar atentos às tendências para os próximos anos, sobretudo com o aparecimento da China e da Índia como potências globais econômicas, comerciais e políticas que vão competir com o Brasil.
A dura realidade é que as mudanças, sendo tão rápidas e constantes, fazem o mundo avançar célere e sem esperar que consigamos entender o que está acontecendo ou nos ajustemos aos novos tempos e às transformações em curso.
Sem ameaçar a estabilidade econômica e política, novas políticas terão de ser aprovadas, com o objetivo de criar incentivos para aumentar a poupança e o investimento, reverter a tendência das taxas de câmbio e de juros, promover a redução dos gastos públicos e reduzir a carga tributária. A geração de empregos dependerá do aumento da competitividade do setor produtivo, com medidas concretas para reduzir ou eliminar o custo Brasil, responsável por mais de 35% nos preços finais da produção nacional. O comércio exterior deveria ser colocado num nível decisório mais elevado para que seja tratado com a prioridade que merece, eis que é uma das variáveis mais importantes do crescimento econômico.
Estamos de acordo em transformar o Brasil num país exportador de matérias-primas e produtos agrícolas? Com a perda de espaço dos manufaturados, mais de 50% de nossas exportações são de produtos primários, situação que poderá agravar-se com a entrada, nos próximos anos, da produção dos campos de petróleo do pré-sal.
Vamos deixar o setor industrial desaparecer, a exemplo do que ocorreu na Argentina? A indústria, que já representou mais de 20% do PIB, viu sua participação reduzir-se a 15%. O consumo doméstico, que era atendido pela produção nacional, hoje depende em mais de 20% das importações. As empresas brasileiras, sem capacidade de competir nem interna nem externamente, ou estão fechando suas portas, transformando-se em montadoras e importadoras, ou passaram a produzir no exterior. As importadoras representam o dobro das exportadoras. É isso que queremos?
Chegou a hora de focalizar os temas que possam colocar o Brasil em bases sólidas, e não ilusórias, entre os países de relevo na economia e na política mundiais.
PRESIDENTE DO CONSELHO DE COMÉRCIO EXTERIOR DA FIESP

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