sábado, outubro 02, 2010

Política externa

Política externa
EDITORIAL - FOLHA DE SÃO PAULO
Objetivos do Itamaraty estão corretos, mas sua execução perdeu-se em maniqueísmos, contradições e exibicionismo que é necessário superar
Toda política de um Estado em face dos demais países implica conciliar duas vertentes nem sempre acordes. De um lado, o interesse nacional, manifesto em necessidades de ordem econômica e apoiado, em última análise, na capacidade militar. De outro, o respeito a princípios que deveriam valer para todos os Estados.
No âmbito da civilização ocidental, a que bem ou mal pertencemos, esses princípios são os direitos humanos, a autodeterminação dos povos e a resolução negociada, pacífica até o limite extremo, dos conflitos internacionais.
Quanto mais harmônica for a relação entre os dois termos daquele dilema, mais eficaz será a política externa que a expressa e mais promissora a contribuição do Estado que a adota para a humanidade. É sob esse prisma que se deve avaliar a administração das relações exteriores do Brasil.
O Itamaraty tem acertado, na gestão petista como na tucana, ao enfatizar que o mundo evolui para uma dinâmica multipolar de poder, e ao aproveitar oportunidades que propiciem a países em desenvolvimento maior peso nos rumos da política internacional.
Se os objetivos estão corretos, o mesmo não se pode dizer do modo de alcançá-los durante o período Lula. Desvirtuou-se nossa política externa ao ser empregada para aplacar frustrações da militância partidária doméstica, erro acentuado pelo maniqueísmo tosco que tantas vezes prevaleceu nas decisões do presidente e de seus auxiliares.
Poucas vezes fomos tão incongruentes. Adotamos petulante rigor democrático, por exemplo, na crise de Honduras, mesmo depois de o país centro-americano realizar eleições livres, ao passo que festejamos ditaduras repulsivas como a teocracia do Irã e cultivamos, por sentimentalismo ideológico, não apenas o regime fossilizado de Cuba como seus imitadores autoritários na América do Sul.
O acervo de votos do Brasil nos foros internacionais que tratam de direitos humanos acumula equívocos, omissões e derrotas.
Temos um contencioso amplo e inevitável com os Estados Unidos, que só tende a crescer conforme o Brasil ganha dimensão comercial e geopolítica. Nenhum motivo recomenda incrementar artificialmente, por mero exibicionismo diplomático, uma frente de atritos já em si considerável.
Em relação ao Oriente Médio, a presença de expressivas comunidades de origem judaica e árabe em nossa sociedade, conjugada à distância que nos aparta daquela área conflagrada, deveria ditar uma política isenta, limitada a apoiar a negociação entre as partes. Depois de frenéticas e fúteis gestões numa região onde não temos interesse, perdemos isenção e credibilidade.
Tais percalços foram compensados pelo prestígio internacional que apesar deles continua a cercar o presidente Lula, com base no forte simbolismo de sua trajetória pessoal. Um(a) novo(a) presidente terá ocasião de corrigir os rumos de nossa diplomacia, que precisa ser mais eficiente no apoio à expansão comercial do país e menos contraditória na aplicação de princípios universais.

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