sábado, outubro 30, 2010

Martha Medeiros: “A separação é uma pequena morte”

Martha Medeiros: “A separação é uma pequena morte”
Em novo livro, a autora de “Divã” descreve as dores que marcam o fim de um relacionamento
Martha Mendonça – Revista ÉPOCA
Perder um amor é como sobreviver a um acidente de avião. Primeiro se ouvem as turbinas parando, então vêm a parada definitiva e um estrondo. É assim que começa o novo livro de Martha Medeiros, Fora de mim, o relato ficcional de uma mulher no fim de um relacionamento. Mal foi lançado, o livro já está na lista dos mais vendidos de ÉPOCA. Martha Medeiros é uma escritora que descobriu em si as vozes de várias mulheres. Além de seu livro Divã – que, depois de teatro e cinema, deverá virar série de televisão –, outros dois foram adaptados para o teatro e estão em cartaz no Rio de Janeiro: Doidas e santas e o monólogo Tudo que eu queria te dizer. Influente no universo feminino, ela diz que já recebe mais e-mails de homens: “Eles também querem relações estáveis”.
QUEM É Gaúcha de 49 anos, é separada e mãe de duas adolescentes
O QUE FEZ Colunista e escritora, tornou-se uma espécie de referência para assuntos relacionados ao universo feminino
O QUE PUBLICOU Dezenove livros, entre eles os best-sellers Divã, Doidas e santas e Tudo que eu queria te dizer
ÉPOCA – Por que um livro sobre a dor da separação?
Martha Medeiros – Separação deixou de ser uma situação excepcional na vida das pessoas. Acontece com recorrência, em função do maior número de relações que temos durante a vida. E é uma dor que nada tem de amena. A perda de um amor verdadeiro é algo com o qual não sabemos lidar com desenvoltura. É uma pequena morte.
ÉPOCA – De onde saiu a comparação entre a separação e um acidente aéreo?
Martha – Não me lembro de onde surgiu essa ideia. Gosto muito de uma música do Pedro Verissimo, filho de Luis Fernando Verissimo, em que a letra diz que O amor foi como um acidente/foi como quebrar os dentes/foi cortante e de repente/e olha o que restou. Escuto muito essa música em minhas caminhadas, talvez seja daí. A verdade é que a dor do amor parece mesmo com um acidente a que sobrevivemos. É preciso superar o choque.
ÉPOCA – O que há de autobiográfico em Fora de mim?
Martha – O começo do livro tem a ver com dores já vividas, com uma paixão turbulenta que tive. Quem já não passou por um sofrimento de amor? Mas, passado o início do livro, o resto foi ficção pura. Busquei a latin lover que há em mim, meu lado Almodóvar, meu lado Frida Kahlo. Tenho atração pela passionalidade do amor.
ÉPOCA – Por que as mulheres se identificam tanto com o que a senhora escreve?
Martha – Creio que tenha a ver com a facilidade da escrita. Sou uma devota da simplificação e da objetividade. Tenho horror a enrolação. Gosto de pegar atalhos e ir direto ao ponto. Mulheres gostam de quem “fala” com elas de igual para igual.
ÉPOCA – Como se pode responder à pergunta “o que as mulheres querem”?
Martha – As mulheres querem tudo. Simples assim – e impossível assim.
ÉPOCA – No que o mundo de hoje está mais fácil e mais difícil para as mulheres?
Martha – Está mais fácil conquistar uma liberdade que sempre foi sonhada e que antes não passava de uma utopia. Hoje ela é palpável, real. O difícil é lidar com o preço que temos de pagar por ela.
ÉPOCA – A senhora está perto dos 50 anos, uma idade em que são comuns mudanças e questionamentos. Quais são os seus?
Martha – Pela primeira vez estou acusando o golpe da idade. O que me preocupa é que tenho um espírito muito jovem. Temo a falta de sintonia entre saúde física e saúde mental. Estou solteira, como só estive antes dos 20 anos. É um reencontro muito bacana comigo mesma, estou reconectando os fios que me unem a minha essência, mas pela primeira vez dá um friozinho na barriga quando penso em solidão. Ainda pretendo amar de novo.
ÉPOCA – Seus livros têm virado peças de teatro e ao menos um filme, Divã. A senhora vê sua criação nessas adaptações?
Martha – Tenho consciência de que, ao autorizar adaptações, deixo de ser a proprietária privada de minha obra. Passa a ser um trabalho de equipe. Aprendi a me desapegar, não posso exigir fidelidade absoluta ao que escrevi.
ÉPOCA – A senhora recebe centenas de e-mails e cartas. São sempre de mulheres?
Martha – Os homens estão quase se tornando maioria entre as mensagens que me chegam por e-mail, o que confirma que é um estereótipo a ideia de que eles só se interessam por sexo, carros e futebol. Eles também desejam relações estáveis, também têm medo da solidão, se preocupam com os filhos, não gostam da ideia de envelhecer...

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