sábado, outubro 30, 2010

De volta a 1952

De volta a 1952
RUY CASTRO
RIO DE JANEIRO - Uma nota no jornal, há dias, me intrigou: Georgia Jagger, 18 anos, filha de Mick Jagger e Jerry Hall, disse à revista "Harper's Bazaar" que "sua família não se chocou" com as fotos em que aparece fazendo topless para a campanha de lançamento de um jeans. Que bom, sua família não se chocou.
Embatucado, li de novo a nota. O pai da garota, Mick Jagger, seria um certo Sr. Michael Brewster-Jagger, 58 anos, corretor de imóveis em Gloucestershire, influente paredro do Rotary local e filatelista amador? E sua mãe, a Sra. Geraldine Hall, 56, de prendas domésticas e autora de uma receita de torta de fígado famosa na Cornualha?
Não. O dito Mick Jagger é o roqueiro de 67 anos, líder dos Rolling Stones, que há quase meio século incendeia fantasias e por quem mulheres e homens já se rasgaram, se mutilaram e até se mataram. E Jerry Hall, 54, é a mulher com quem ele passou séculos casado, a supermodelo, a favorita do fotógrafo Helmut Newton e rainha do infernal Studio 54, em Nova York. Os amigos do casal incluíam Salvador Dali, Andy Wahrol e Truman Capote, e sua dieta envolvia pansexualismo, drogas, rock'n'roll, cultos satânicos e o uso de omeletes psicodélicos para fins imorais.
Folgo em saber que Mick e Jerry não se chocaram pelo topless de Georgia para o anúncio. Em compensação, os jornais, principalmente os online, vivem se chocando com notícias sobre esta ou aquela atriz ou cantora que apareceu em público com uma blusa transparente ou foi fotografada beijando seu galã fora do expediente. A continuar assim, onde vamos parar?
Já parou. Eu me pergunto que fim levaram a revolução sexual, as relações adultas, o alegre desbum, o fim das culpas e, principalmente, a imprensa que não se espantava com nada nos anos 60 e 70. A folhinha de hoje diz século 21, mas não é verdade - voltamos a 1952.

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