terça-feira, agosto 24, 2010

Heroísmo ou imprudência?PM vai premiar policiais que trocaram tiros em São Conrado; especialistas criticam operação

Heroísmo ou imprudência?
PM vai premiar policiais que trocaram tiros em São Conrado; especialistas criticam operação
Ana Cláudia Costa – O Globo

Entrada do prédio Village São Conrado, que ficou no meio do fogo cruzado | Foto: Fabio Gonçalves / Agência O Dia

Apesar do pânico criado pelo tiroteio entre policiais e traficantes e dos danos que o confronto causou à imagem da cidade, os quatro policiais militares que trocaram tiros com o “bonde” de cerca de 60 traficantes da Rocinha em plena Avenida Aquarela do Brasil serão condecorados e receberão menção honrosa do comandante do 23º BPM (Leblon), tenente coronel Rogério Leitão. Para o oficial, o sargento Juan Alasio, os cabos Luis Cunha e Robson Rodrigues e o soldado Augusto foram heróis ao enfrentarem sozinhos a quadrilha: — A ação dos policiais beirou o heroísmo. A princípio eram dois policiais e depois quatro que enfrentaram o bonde de traficantes. Até ontem (domingo) eles estavam sobressaltados.

Eles foram corajosos.
A opinião não é compartilhada pelo o coronel José Vicente da Silva Filho, ex-secretário Nacional de Segurança.
Para ele, a ação dos PMs foi uma temeridade, pois somente em último caso os PMs devem optar pelo confronto: — Eles foram corajosos no enfrentamento, mas um fracasso do ponto de vista operacional. Ao constatarem a presença de criminosos, os policiais tinham que chamar reforços e tentar fazer um cerco. O policial só atira para se defender ou proteger a população — diz.
Mesmo diante das cenas que mostravam os bandidos atirando, José Vicente é taxativo: — A polícia não pode atirar nos bandidos só porque eles estão atirando.
Se os criminosos estivessem indo para cima dos policiais, ou ameaçando terceiros, os PMs tinham que revidar. Mas se estavam atirando para fugir, não era preciso que a polícia atirasse. Ela tinha que tentar cercar — diz o coronel.
O especialista, porém, elogiou o cerco ao hotel, com a convocação do Bope, mais preparado pra a situação.
José Vicente se disse espantando com a condecoração aos policiais: — Não se faz nem premiação nem investigação precipitada.
Opinião parecida tem o sociólogo Michel Misse, para quem é preciso avaliar o que houve em São Conrado, no sábado: — Pode-se chegar a conclusão que foi heroico, mas equivocado.

Comandante nega operação irregular
O comandante do 23º BPM negou ontem que houvesse uma operação não autorizada com policiais sem farda na favela do Vidigal para prender o traficante Antônio Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha. Rogério Leitão também disse desconhecer um primeiro tiroteio no Vidigal e acrescentou que não haverá investigações administrativas no batalhão para checar tal informação.
Para o coronel, o que aconteceu foi mesmo um encontro de um grupo de traficantes que deixou o baile no Vidigal com a patrulha, que estava fazendo a ronda de rotina.
— Eles estavam fazendo o patrulhamento normal e se depararam com aquele número enorme de traficantes.
Eles estavam muito bem armados e ainda bem que tivemos um saldo positivo com dez presos e oito fuzis apreendidos.
Na manhã de ontem o comandante da PM, coronel Mário Sérgio Duarte, esteve no 23oBPM para conversar com a tropa. Após elogiar a atuação dos militares, Mário Sérgio anunciou que irá deslocar mais policiais e viaturas para reforçar o batalhão do Leblon.
O comandante negou ter havido irregularidades na ação dos policiais: — Até o momento, não chegamos a irregularidade alguma. O que nós temos é uma reação da PM, que foi atrás dos bandidos. Inclusive quatro policiais ficaram feridos no confronto com traficantes.
O coronel explicou que toda a equipe do batalhão foi acionada em poucos minutos pelos policiais que se depararam com bandidos. Após o alerta dado pelos PMs, o carro do Grupamento de Ações Táticas (GAT) que estava na Rocinha para patrulhamento de um evento chegou ao local em menos de dez minutos.
Ontem, o policiamento no entorno do Hotel Intercontinental e em São Conrado permaneceu reforçado, com rondas do Batalhão de Choque e do batalhão de motociclistas, além de policiais em patrulhas. Segundo o comandante do 23º BPM, o reforço na região será por tempo indeterminado, mas descartou uma operação na Rocinha de imediato: — Não vai ter revanchismo agora.
Precisamos ser pontuais e agir com inteligência — disse.
Dois dias após São Conrado ter virado uma praça de guerra, um morador do bairro, que não quis se identificar, contou ter visto quando os traficantes entraram no hotel e pensou que fossem policias civis, pois estavam vestidos de preto. Segundo ele, os criminosos tentaram travar a porta giratória do hotel, mas não conseguiram.
A testemunha pensou que os homens fossem assaltar a joalheria que fica na entrada do hotel: — Eles estavam muito assustados.

Todos armados com fuzis.
Acho que entraram na primeira porta que viram. Eles queriam fugir.
Ontem policiais civis da 15ª DP (Gávea) recolheram imagens do circuito interno do hotel e de condomínios na Avenida Aquarela do Brasil.
Policiais querem identificar os traficantes da Rocinha que escaparam.
Eles vão comparar os traficantes nas imagens com homens ligados ao tráfico de drogas na Rocinha que são investigados pela delegacia.
COLABOROU: Maria Elisa Alves

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