quinta-feira, maio 27, 2010

UM PLANO DE TRANSPORTES PARA O RIO

UM PLANO DE TRANSPORTES PARA O RIO
EDITORIAL - O GLOBO - 26/5/2010
Diante do evidente esvaziamento da greve dos ônibus, o sindicato dos motoristas dobrou-se e encerrou a paralisação. Felizmente para a população carioca os efeitos do movimento foram mínimos. Mas, após um dia em que a cidade não sabia se ficaria ou não refém da exorbitância de trabalhadores de uma atividade essencial, fica o temor: quais seriam as consequências se, de fato, os motoristas conseguissem parar o sistema de transporte coletivo sobre rodas? As respostas a tal dúvida passam pela análise das alternativas dentro do sistema de transportes da capital e, por amálgama, da região metropolitana. Elas não são animadoras.
Não é de hoje que o Rio vive uma crise sistêmica no setor: os ônibus têm tarifas altas e linhas que se superpõem, provocando disparidades como oferta excessiva em trechos mais lucrativos e número de veículos bem inferior à demanda em outros percursos; o metrô e os trens urbanos rodam com composições superlotadas, sem conforto e registram atrasos frequentes; o serviço de barcas beira o caos. Um quadro crônico, que, ao longo dos anos, praticamente só tem sido objeto de promessas em plataformas e discursos de campanha eleitoral, das quais resultam pouca ação efetiva dos governos que se sucedem na prefeitura e no estado.
O receituário contra a falência do sistema de transportes não prescinde do bilhete único. Ele é ao mesmo tempo instrumento de racionalização do uso dos meios de locomoção e de distribuição de renda. No primeiro caso, por facilitar ao usuário o acesso ao local de trabalho e a opções de lazer, e eventualmente até por estimular a substituição do transporte individual pelo coletivo — o que significa menos automóveis nas ruas e mais fluidez no trânsito. No segundo caso, pela economia direta nos gastos com tarifas, benefício palpável principalmente no orçamento das famílias de baixa renda. O bilhete único já é realidade em São Paulo. No Rio, o sistema ainda engatinha. Foi implantado a partir da frota de ônibus intermunicipais, o que condiciona seus benefícios aos usuários da região metropolitana.
Além disso, a eficácia do serviço esbarra no pouco tempo de duração da tarifa (apenas duas horas, contra três horas em São Paulo), na rede de transportes que não dá conta da demanda e num sistema viário marcado por engarrafamentos e trânsito caótico.É preciso, no entanto, reconhecer que passos importantes têm sido dados para ordenar o caos. Há bons exemplos na rua: a própria implantação do bilhete único, a par a necessidade de ser aperfeiçoado; a convocação, pela prefeitura do Rio, de licitações gerais para reordenar as linhas de ônibus da cidade (ao fim da qual também começará a ser implantado o bilhete único municipal, que precisa incluir trens e barcas); as ações sérias de regulamentação das vans.
São movimentos, porém, que carecem de maior articulação entre estado e município.
Como são entes conjunturalmente comandados por aliados políticos, tal particularidade deveria estimular o entendimento na elaboração de uma política pública de transportes.
Uma política séria, que não dependesse dos humores dos governos da hora, mas se transformasse em plano de ação de Estado. É idêntico ao caso da segurança pública.

FOTO:Carlos Eduardo Rodrigues/O Dia Passageiros lotam ponto de ônibus na Avenida Brasil

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