quinta-feira, maio 27, 2010
O ANTIEXEMPLO JAMAICANO
O ANTIEXEMPLO JAMAICANO
EDITORIAL - JORNAL DO BRASIL - 27/5/2010
O narcotráfico é um problema que atingiu uma dimensão global cuja principal característica é não distinguir suas vítimas. No plano micro ou local, destrói a saúde e a vida de consumidores boa parte deles pertencentes às classes médias e altas da sociedade e leva violência, medo e morte às áreas depauperadas, que servem de entreposto do comércio e onde os chefes do negócio ilegal se escondem, erguem suas fortalezas e criam suas próprias leis. As populações dominadas sofrem duplamente, pelo arbítrio dos bandidos e pela exposição permanente à guerra entre quadrilhas rivais e/ou ao confronto entre traficantes e polícia. No plano macro ou internacional, o processo se reproduz. O narcotráfico é um fenômeno disseminado, uma chaga tanto para países pobres quanto para ricos.
Viver num mundo sem as consequências destruidoras das drogas, ao que parece, é uma utopia pois sempre haverá pessoas dispostas a correr o risco do vício, que sustenta uma indústria de crime e de violência. A diferença, no entanto, está no grau de penetração do narcotráfico. Nações mais desenvolvidas têm um mercado atraente, com mais circulação de dinheiro. Mas, em princípio, estão mais preparadas para combater o problema. Têm recursos, instituições fortes e políticas públicas para evitar que, pelo menos, o mal se alastre a ponto de a população ter mais confiança nos criminosos do que no governo oficial.
É o que está se passando agora na capital jamaicana. Em Kingston, a caçada a um traficante, como publicado ontem pelo JB, já provocou a morte de mais de 60 pessoas, numa explosão de violência, que é o resultado de uma anomia ainda maior do que a simples e conhecida ausência do Estado.
Se em alguns países as relações promíscuas entre a política e o submundo da ilegalidade se dão no nível individual, com a eleição de candidatos ligados ou mesmo pertencentes a organizações criminosas, na Jamaica os traficantes contaram com a ajuda dos próprios partidos políticos para crescerem. Ganharam tanta importância que recebem o apoio incondicional dos moradores, agradecidos pelas benfeitorias realizadas nas comunidades, e das agremiações políticas, que financiam suas atividades em busca dos votos do curral eleitoral que controlam.
É uma situação de total inversão de valores e à qual, felizmente, o Brasil ainda não chegou. Pelo contrário, parece cada vez mais se afastar, como mostra, no Rio, a experiência bem sucedida das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), que estão expulsando o tráfico, levando o Estado de direito às populações antes dominadas e até servindo de modelo para outros países. Quem sabe, uma saída para o antiexemplo jamaicano.
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