quinta-feira, setembro 30, 2010

EUA mudam de tática contra o Irã

EUA mudam de tática contra o Irã
Em medida inédita, Washington aplica sanções a oficiais acusados de violar direitos humanos
O Globo - TEERÃ e WASHINGTON
 Depois das sanções econômicas decretadas devido ao avanço do programa nuclear do Irã, os Estados Unidos decidiram punir a república islâmica por violações dos direitos humanos durante os violentos choques entre milícias pró-governo e oposicionistas que se seguiram à reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, em junho de 2009, quando estima-se que pelo menos 150 pessoas tenham morrido e mais de 500 sido presas. A medida, até então inédita, atinge oito altos funcionários do governo iraniano — entre ministros e generais — que terão bloqueados quaisquer bens que tenham nos EUA, além de serem proibidos de fazer negócios com americanos e terem negados vistos de entrada no país.
 As sanções foram autorizadas por um decreto executivo assinado na terçafeira pelo presidente americano, Barack Obama, e confirmado ontem pela secretária de Estado, Hillary Clinton, e pelo secretário do Tesouro, Timothy Geithner. Segundo a Casa Branca, a lista de nomes sujeitos a punições “vai continuar crescendo baseada nos eventos no Irã, e à medida que se tenha acesso a informações e evidências adicionais”.
Entre os oito punidos está Mohammad Ali Jafari, comandante das Guardas Revolucionárias do Irã, que teria liderado as forças que reprimiram os protestos da oposição. A relação inclui Qolam Hossein Mohseni-Ejei, atual Procurador-Geral do Irã e ministro de Inteligência na época, Said Mortazavi, ex-procurador-geral de Teerã, e Heydar Moslehi, ministro da Inteligência desde agosto de 2009.
Imprensa americana questiona atraso
À lista negra foi incorporado ainda o ministro da Segurança Social, Sadeq Mahsouli, então à frente da pasta do Interior — tendo autoridade sobre as forças de segurança. Outros marcados pelos EUA são Mostafa Mohammad Najjar, vice-comandante das Forças Armadas, Ahmad-Reza Radan, vicediretor da Polícia Nacional e Hossein Taeb, vice-comandante de Inteligência das Guardas Revolucionárias.
A secretária de Estado Hillary Clinton justificou as sanções, alegando que as medidas são uma declaração dos valores americanos.
— Falamos por aqueles que não conseguem falar por si por temer violência contra si e suas famílias. Sob o olhar desses funcionários ou sob seu comando, cidadãos iranianos foram arbitrariamente espancados, torturados, estuprados, chantageados e assassinados — afirmou a secretária.
Diante do clima de campanha e da crescente expectativa americana pelas eleições legislativas de novembro em Washington, a mudança de tática da Casa Branca — alçando a atraente temática dos direitos humanos como mola propulsora de novas sanções — fez repórteres questionarem o motivo da punição mais de um ano depois dos protestos que chacoalharam a capital iraniana. Hillary justificou a demora baseada na legislação.
— Sempre condenamos as violações dos direitos humanos. Hoje estamos avançando nas críticas ao governo, estamos marcando os responsáveis dentro desse governo, que podem ser rastreadas por abusos — afirmou, citando a legislação recémaprovada pelo Congresso, que permitiu sanções unilaterais ao Irã, como facilitadora das investigações financeiras dos oficiais punidos.
Antes de deixar Nova York, onde participou da Assembleia Geral da ONU, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Manouchehr Mottaki, alfinetou o presidente Barack Obama, afirmando que “alguns políticos americanos aconselharam o presidente a demonstrar ações duras contra o Irã até as eleições parlamentares de novembro”.
 O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, também deixou os EUA em tom crítico, falando da “ guerra travada contra a imprensa”.
— Essas entrevistas foram verdadeiras batalhas, uma guerra, apesar de dizerem que existe liberdade de imprensa, na verdade eles trabalham em favor dos responsáveis americanos — afirmou ele, à Press TV.
Vírus atrapalha projeto nuclear
Apesar das hostilidades, a chanceler da União Europeia, Catherine Ashton, afirmou ontem que Teerã voltará a negociar a questão nuclear com o chamado P5+1 “dentro de algumas semanas”.
Ahmadinejad, no entanto, — que insiste em minimizar os já aparentes efeitos das sanções na economia — sofreu um revés estratégico: foi forçado a adiar a inauguração da usina nuclear de Busherh, a primeira do país.
O atraso se deve a uma pane no sistema de computação geral iraniano, afetado por um vírus. O ministro de Telecomunicações iraniano, Reza Taghipour, negou que dados importantes tenham sido afetados, mas culpou EUA e Israel pela ofensiva virtual.
— Os EUA e outros inimigos que sofreram pelo discurso justo do presidente iraniano na ONU querem uma cyberguerra com o Irã — denunciou o ministro à estatal agência Irna.

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