terça-feira, outubro 05, 2010
Sua excelência, o Tiririca
Sua excelência, o Tiririca
Marcelo Migliaccio – JORNAL DO BRASIL
Tiririca roubou a cena. Foi eleito com mais de 1 milhão de votos.
O palhaço de circo que encontrou trabalho na TV liderou as pesquisas para deputado em São Paulo. Na propaganda gratuita, apareceu fantasiado e dançando. Disse que nem sabia o que faz um deputado federal.
A massa se viu representada. A intelectualidade estrilou.
Uma revista o acusou de analfabeto. A justiça prometeu apurar se é ou não.
Vão submetê-lo a um ditado? Transmitido em rede nacional?
Nas retretas e nos velórios (como diria o mais citado cronista nacional), só se fala em Tiririca.
Acho que ele tem todo o direito de se candidatar, caso saiba mesmo ler e escrever, que é o mínimo a se exigir de alguém que vá encaminhar e votar projetos de lei. Mas o fato de ele se fantasiar e falar asneiras para pedir voto é uma opção dele.
Vota nele quem quer, quem acha que deve.
A experiência já nos mostrou que para sujar o nome do Legislativo não precisa estar vestido de palhaço. Os deputados pianistas, flagrados votando duas vezes, não estavam. Vestiam terno, assim como os anões da Comissão de Orçamento, lembra? Os atos secretos e indecentes no Senado também não foram assinados por ninguém que usasse um nariz vermelho de bolota.
Todo cidadão que paga impostos e vive na nossa sociedade pode sim postular um cargo público. Querer impedir nossos milhões de tiriricas de participarem da democracia é puro preconceito. É negar nosso povo e nossa realidade. É pressupor que todo ignorante é ladrão. Melhor do que abrir guerra contra um palhaço de circo é educar direito as crianças, investir mais e mais em escolas e universidades. Na verdade, toda essa celeuma era medo de saber quantos tiriricas há em São Paulo.
Agora sabemos: 1 milhão e 300 mil.
Mas não faço crítica aos paulistas. No Rio, há 550 mil Wagner Montes, em Alagoas 350 mil Collor, e por aí vai...
Bem-vindo ao Congresso, Tiririca.
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