terça-feira, outubro 05, 2010
Cruzada pelo voto conservador
Cruzada pelo voto conservador
Dilma e aliados traçam estratégia para tentar reconquistar evangélicos e católicos
Cristiane Jungblut, Gerson Camarotti e Maria Lima – O Globo - BRASÍLIA
Depois do anticlímax para os petistas com a realização do segundo turno, o comando da campanha da candidata Dilma Rousseff iniciou uma ofensiva ontem mesmo, com ajuda de uma força-tarefa formada por governadores e senadores eleitos, para reanimar a militância e reverter a sangria dos votos evangélicos e católicos ocorrida na reta final do primeiro turno. Na reunião fechada, Dilma e aliados reconheceram que perceberam tarde demais o efeito da campanha na internet com boatos de que ela era contra valores da vida e a favor do aborto. E que subestimaram o movimento de perda de votos entre cristãos. A reconquista desses votos passou a ser uma das principais estratégias para o segundo turno.
— Foi uma campanha perversa, com inverdades sobre o que penso, o que digo. Lançaram inverdades. Estou analisando como vamos nos comportar.
Vamos fazer um movimento no sentido de esclarecer com muita tranquilidade nossas posições. (A campanha) foi feita com base em calúnias e difamações. Estávamos inocentes.
Mas estamos muito atentos a isso. A gente percebeu tarde, mas percebeu — disse Dilma, em entrevista acompanhada de dez governadores aliados eleitos, senadores e apoiadores num hotel de Brasília.
Ela não acusou ninguém diretamente sobre a autoria da campanha.
— Não apareciam — disse.
Além dos aliados eleitos domingo, parlamentares do PT ligados às questões religiosas estão entrando em campo para desfazer a imagem negativa de Dilma nesses setores, em especial entre evangélicos. Parlamentares reclamam que avisaram a cúpula do PT da campanha sobre o crescimento de Marina e a “demonização de Dilma”, mas não foram ouvidos.
Aliados veem erro de planejamento
Estão sendo arregimentados Gilmar Machado (PT-MG), da Igreja Batista, amigo de Marina, e Benedita da Silva, do Rio, além do chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, que tem fortes laços com a Igreja Católica. O secretário executivo do PT e coordenador da campanha de Dilma, José Eduardo Cardozo, disse que ela já explicou “à exaustão” sua posição.
— Foi uma jogada pouco ética — disse Cardozo.
O governador Marcelo Déda (PTSE), um dos primeiros a chegar ontem a Brasília para a força-tarefa de Dilma, disse que essa boataria quase atingiu sua reeleição na reta final e estimou que tenha perdido cerca de seis pontos percentuais nos últimos dias com os ataques religiosos.
— Essa queda de Dilma e um crescimento de Marina Silva no final se deve ao recrudescimento do fundamentalismo religioso. É o efeito do púlpito nas igrejas — disse Déda.
— Nos últimos 30 dias houve muitas críticas e nos últimos 15 dias, especialmente, houve uma campanha fascista de boataria — reforçou o governador Eduardo Campos (PSB-PE).
A campanha de Dilma também identificou que, em vários segmentos da Igreja Católica, principalmente dioceses comandadas por bispos conservadores e moderados, houve cartazes de Dilma e Lula chegam para decorar hotel em Brasília, onde governadores e senadores eleitos se reuniram para decidir os rumos da campanha André Coelho/ recomendação de voto contrário à petista. Por isso, além dos evangélicos, haverá trabalho especial para recuperar o voto dos católicos.
Ontem, o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, confirmou que em igrejas evangélicas houve pregação contrária à Dilma e reconheceu que isso teve influência. Ele aposta que é possível reverter parte da evasão de votos com um trabalho de conscientização. E explicou que a reunião da semana passada com líderes católicos e evangélicos não foi suficiente para conter a sangria.
— Aquela reunião da semana passada não chegou na amplitude necessária.
Os pastores podem ter dificuldade para conseguir votos dos fiéis. Para tirar o voto, o efeito é inverso e os pastores têm muita influência — disse Crivella, afinando o discurso para o público evangélico.
O governador Jaques Wagner (PTBA) chegou a admitir que o grande erro da campanha foi ter feito previsão de vitória em primeiro turno.
— O erro foi de planejamento e de imaginar que venceríamos no primeiro turno. Numa campanha de dois turnos, é um equívoco apostar numa vitória no primeiro turno.
Agora, a campanha de Dilma ficou refém dos aliados para ter novo impulso.
Vários aliados não escondiam o alívio com a mudança de comportamento.
A própria Dilma passou a telefonar pessoalmente para todos para o evento.
— Imagine se a Dilma tivesse sido eleita em primeiro turno. A vida estaria difícil. Voltamos a ter importância no jogo — revelou um senador.
Sem um só dia de descanso, Lula e Dilma acordaram ontem disparando telefonemas e fazendo uma convocação imediata de governadores e senadores eleitos. O governador eleito do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, foi um dos primeiros a ser contactado.
Genro e os petistas gaúchos creditam a realização do segundo turno ao bombardeio da grande mídia.
— Não sei se os ataques vão cessar.
Foi uma estratégia bem montada pelo PSDB com seus apoiadores na grande mídia — disse Tarso.
Eles acusaram os meios de comunicação de alimentar “fundamentalismo religioso” na campanha.
— Não podemos estimular o fundamentalismo religioso na política. A mídia acabou estimulando isso — disse Raul Pont, deputado estadual.
Além de tentar esvaziar os boatos, eles vão reforçar a comparação com o governo Fernando Henrique e voltar a tratar da privatização.
— Vamos desfazer os boatos envolvendo temas sensíveis que falsearam a posição da candidata. Vamos mostrar que vão fazer mais privatizações, que a segurança para exploração do pré-sal é o nosso projeto, as comparações vão ser aprofundadas — disse o ex-líder do governo na Câmara Henrique Fontana (PT-RS).
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