segunda-feira, junho 14, 2010

Haiti: aqui se torce pelo Brasil

Haiti: aqui se torce pelo Brasil
População, que tenta se recuperar do desastre do início do ano, mobiliza-se para assistir aos jogos da seleção. Um telão, instalado no centro da capital, promete juntar multidão
Chico de Gois – O Globo

No país do improviso, não poderia ser diferente a maneira como os haitianos pretendem assistir à estreia da seleção brasileira na Copa do Mundo, amanhã, contra a Coreia do Norte. Na praça ao lado do Museu do Panteão Nacional Haitiano, próximo ao que antes era o Palácio Presidencial, o governo montou um telão, com patrocínio de uma empresa de telefonia celular, para a população. Ontem, no entanto, durante o jogo Gana x Sérvia, o telão, no meio da rua, ficou vazio. Os (poucos) que se interessaram pela partida preferiram ver a partida numa televisão menor, onde havia sombra - o calor estava na casa dos 30 graus, sob o sol do Caribe.
Amanhã, porém, a expectativa é outra. Haitianos prometem lotar a rua em frente ao telão e também se aglomerar diante das poucas casas onde ainda há luz elétrica, para torcer por nossa seleção. Telemaque Jean Enold, de 22 anos, funcionário do Ministério da Juventude, de onde partiu a iniciativa do telão, cuida do bom funcionamento do equipamento. O aparelho, diz ele, foi instalado na sexta-feira e permanece ligado mesmo quando não há jogos da Copa. Depois da competição, porém, será retirado.
- No dia do jogo do Brasil, isso aqui vai ficar cheio de fanáticos - acredita Telemaque, que diz gostar do esporte, mas não ser torcedor roxo de paixão pela seleção.

Vaquinha para ver TV
Nas ruas, é comum ver nos carros bandeirinhas brasileiras, além de vários moradores com camisetas do Brasil. Numa tradicional feirinha em frente ao Batalhão Brasileiro, no último sábado a camisa da seleção custava US$7. Sem dinheiro, a população prefere o genérico do genérico, enquanto os soldados brasileiros adquirem o produto à farta.
Mas nem todos têm possibilidade de ir ao centro acompanhar pelo telão. Nos locais onde não existe energia - aliás, a maioria -, há quem faça vaquinha a fim de comprar diesel e abastecer o gerador para poder ver os jogos. É o caso do bairro Carrefour - dizer que é um dos mais pobres de Porto Príncipe é redundância -, onde 187 famílias colaboraram com 10 gourdes - cerca de R$0,50 cada - para comprar o combustível e poder torcer pelo Brasil pela televisão de alguém. Em Citè Soleil, a maior favela da capital, os moradores também vão se valer dos vizinhos para assistir à partida.
Agnant David, de 17 anos, com uma camisa "genérico do genérico" da seleção, é um dos torcedores apaixonados pelo futebol brasileiro. Ele tem confiança de que o país será hexa:
- Nós, haitianos, adoramos a seleção brasileira e vamos parar tudo para ver o jogo.

Argentina também é paixão
Quando a seleção brasileira esteve no Haiti, em agosto de 2004, Agnant foi um dos que se amontoaram pelas ruas para saudar os jogadores. Ainda pequeno, não conseguiu entrar no estádio, nem falar com os jogadores, como era seu sonho. Desde então, é um dos fanáticos pela nossa equipe.
No período da Copa, quem não tem emprego - a maioria da população -, mas possui uns trocados, tenta faturar alguma coisa vendendo produtos relacionados ao tema. Morando numa barraca improvisada em frente ao Palácio Presidencial desde o terremoto de 12 de janeiro, quando perdeu um de seus quatro filhos, Leontus Yocelyn, de 42 anos, vende camisetas e bandeirinhas do Brasil e da Argentina - infelizmente, a nossa principal rival divide a paixão dos haitianos pelo futebol. Ele, que torce pelo Brasil, disse que vende mais objetos relacionados à nossa seleção. Mas o faturamento é pouco. Uma bandeirinha brasileira custa US$3, e a camiseta, "genérico do genérico", US$5.
Leontus não tem televisão e afirmou que vai utilizar um rádio para acompanhar a partida. Otimista ao extremo, ele faz um prognóstico: Brasil 5 x 0 Coreia do Norte:
- Serão três gols de Kaká e dois de Robinho.
A disputa pelo coração dos haitianos envolvendo as seleções do Brasil e da Argentina é tanta que, na noite de sábado, um programa de televisão ao vivo, transmitido das imediações do Palácio Presidencial, tinha como mote a disputa entre mulheres, vestidas com as camisetas das duas equipes, para saber quem dançava melhor. Além disso, homens, ora com camiseta brasileira, ora com a da argentina, tentavam conquistar as moças da equipe rival. Num país onde não há muitos motivos para sorrir, o programa trouxe alegria por alguns minutos.

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