segunda-feira, junho 14, 2010
A ética e as "esquerdas"
A ética e as "esquerdas"
Paulo Guedes
A quase completa "esquerdização" da elite intelectual brasileira foi uma importante consequência das duas décadas de autoritarismo do regime instalado pela intervenção militar em 1964. A insensibilidade social do capitalismo de Estado esculpido no regime militar incendiou os corações da resistência democrática. E, se a ditadura era de "direita", o natural desdobramento foi uma vitória digna de Gramsci na dimensão política: a ocupação de todo o espectro partidário relevante após a redemocratização. A hegemonia e ubiquidade da "esquerda" entre políticos e religiosos, jornalistas e líderes sindicais, professores e estudantes.
Intelectualmente alinhados, mas em feroz batalha pelo poder político, tucanos e petistas disputam, sob acusações de assistencialismo, a preferência popular, cooptando políticos conservadores e empresários oportunistas com o pretexto da governabilidade. Não sou eu quem o diz, isso é o que dizem uns dos outros. "Ao ser oficializado ontem candidato à Presidência, o tucano José Serra atacou o aparelhamento do governo Lula e disse que não tem esquadrões de militantes pagos com o dinheiro público. Também criticou quem justifica deslizes morais dizendo fazer o mesmo que outros fizeram, chamando-os de neocorruptos e citando o mensalão", estampou a primeira página do GLOBO de ontem.
Os petistas, por sua vez, denunciaram os tucanos nos episódios da reeleição de FHC e das privatizações, acusando-os ainda de criarem o mensalão no governo de Minas Gerais. Quando muita gente que sempre se considerou do mais alto calibre moral fica sob suspeita, há algo de profundamente errado com nossos costumes políticos. Será portanto incontornável nesta eleição presidencial o debate sobre a ética em nossas práticas políticas.
"As virtudes intelectuais e morais exigem instrução, bons hábitos, tempo e seu exercício repetido para serem finalmente adquiridas. Tornamo-nos educados pela aprendizagem contínua, justos pela prática da justiça, prudentes pelo exercício da prudência, heroicos pelas atitudes de coragem. As leis, portanto, formam bons cidadãos pela força do hábito. Essa deveria ser a intenção de todos os legisladores. Faz toda a diferença que hábitos são estimulados pelas leis. Tudo o que temos de aprender devemos desde cedo aprender praticando", advoga Aristóteles, em seu clássico tratado "Ética a Nicômaco".
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