sexta-feira, junho 04, 2010
Pátria dividida
Pátria dividida
Luiz Garcia - O Globo - 04/06/2010
Brasileiros e israelenses têm razões de sobra para serem bons amigos. Não apenas porque o antissemitismo tem, entre nós, escassas e geralmente detestadas manifestações: a sociedade brasileira tem no seu perfil — graças a Deus, Alá e Jeová — um traço histórico de boa convivência com diferentes etnias e religiões. Por isso mesmo, vemos com mais tristeza do que indignação o comportamento das autoridades israelenses no caso da flotilha de ajuda humanitária atacada por Israel quando se aproximava da Faixa de Gaza. O pretexto para o ataque foi o argumento de que haveria terroristas ligados ao Hamas a bordo da flotilha. E o Hamas é uma organização palestina historicamente associada a atos de terrorismo contra Israel.
Terroristas a bordo não foram encontrados.
De qualquer forma, a ação de Israel foi obviamente excessiva — paranoica, diriam, caso existissem, psicanalistas especializados em governos e regimes políticos.
Nos primeiros momentos depois do ataque à flotilha, as autoridades israelenses agiram com mão pesada. Prenderam todos os 682 passageiros e tripulantes dos seis navios, acusando-os de reagir com violência à abordagem. Mas não conseguiram mostrar sinais claros dessa violência, principalmente porque só os soldados israelenses tinham armas de fogo.
A bordo dos navios não havia terroristas, e sim dez mil toneladas de mantimentos, remédios e material de construção.
Não era, obviamente, uma operação militar.
Tratava-se, sem dúvida, de uma operação política, destinada tanto a levar ajuda aos palestinos como a chamar a atenção da opinião pública mundial para os sofrimentos deles.
E a reação de Israel, no fim das contas, só serviu para ajudar que o segundo objetivo fosse atingido plenamente. Como também outra meta do comboio foi alcançada: despertar a irritação ou pelo menos o desalento da opinião pública mundial ante a falta de tato — se assim se pode dizer — com que Israel administra o problema histórico da convivência com as comunidades palestinas em seu território.
Todos os passageiros e tripulantes da flotilha humanitária acabaram sendo libertados sem que autoridades israelenses conseguissem provar ligações de qualquer um deles com organizações terroristas.
Israel ganhou apenas uma queda de braço na ONU: a organização aprovou um pedido de investigação imparcial do episódio. Críticos de Israel pediam uma apuração independente. Como ficou, a imparcialidade vai estar por conta de Tel Aviv. No que interessa, nenhum passo foi dado no sentido de amenizar o problema histórico da convivência de árabes e judeus na terra que, historicamente, é a pátria de todos eles.
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