segunda-feira, setembro 13, 2010
Políticos pobres da Rússia se casam com mulheres milionárias
Políticos pobres da Rússia se casam com mulheres milionárias
Pilar Bonet – El País 12/09/2010
Embora sua influência na política e nos negócios ainda seja limitada, as mulheres se afirmam cada vez mais no peculiar sistema patriarcal da Rússia. Entre outras coisas, as russas administram fortunas como empresárias, como companheiras de altos funcionários e como filhas de poderosos e magnatas. À margem das regras vigentes do poder político e econômico, há um grupo de mulheres que ganha milhões com seu talento, como a cantora veterana Ala Pugachova, a escritora de livros policiais Daria Donzova, e a tenista Maria Sharapova. Na lista das cem fortunas mais importantes do Estado russo, elaborada pela revista Forbes, há apenas uma mulher, Yelena Baturina, empresária de 49 anos e esposa do prefeito de Moscou, Yuri Luzhkov - na foto. Baturina é a fundadora e proprietária do grupo Inteko, que tem investimentos na construção e no setor imobiliário. A Forbes calculou o seu patrimônio em 2,26 bilhões de euros (R$ 4,9 bilhões) e a colocou em 27º lugar da lista.
O prefeito de Moscou utiliza seu poder para promover os negócios de sua esposa, segundo afirmou o ex-vice-chefe de Governo da Rússia, Boris Nemtsov, num artigo crítico com intenções políticas publicado no final de 2009. Baturina confrontou Nemtsov e os juízes o obrigaram a eliminar duas frases do texto, mas não questionaram o fato de Luzhkov ter assinado “mais de 20 disposições do governo de Moscou em benefício da companhia Inteko, as quais permitiram que ela vendesse casas construídas e imóveis a preços comerciais, e desta forma Baturina se transformou numa multimilionária junto com seu marido.” Segundo a declaração de renda de Luzhkov, a mulher do prefeito moscovita ganhou quase 31 bilhões de rublos – quase 788 milhões de euros (R$ 1,72 bilhão) – em 2009, e dispõe de uma casa na Inglaterra e outra na Espanha, de 1.203 e 1.627,9 metros quadrados, respectivamente.
Na lista das empresárias mais influentes do país, o segundo lugar fica com Natalia Kasperskaya, presidente da junta diretora dos laboratórios Kaspersky e da Infowatch, uma companhia dedicada a produzir sistemas de proteção de dados confidenciais. Se Baturina representa a elite agressiva, enérgica e tradicional que soube aproveitar a época de Boris Yeltsin para fazer carreira, Kasperskaya, de 44 anos, faz parte do sofisticado grupo que está à frente da modernização tecnológica da Rússia. Ela se formou em matemática aplicada no Instituto de Construção e Maquinaria de Moscou e tem um currículo extenso. Com seu ex-marido, Yevgueni Kaspersky, fundou o laboratório que produziu um famoso antivírus. Kasperskaya tem quatro filhos e está casada pela segunda vez com um especialista em inteligência artificial. O grupo de empresárias influentes se completa com Olga Pleshakova, diretora da companhia de aviação Transaero.
Pela primeira vez, ao apresentar sua declaração de renda correspondente a 2009, os políticos e os funcionários russos tiveram que indicar os rendimentos de suas companheiras. O resultado foi a existência – formal ou real – de inúmeros casamentos de funcionários e políticos “modestos” com mulheres multimilionárias. Entre as esposas dos legisladores, a mais abastada é Raisa Olshanskaya (com rendimentos de quase 1 bilhão de rublos, ou mais de R$ 54,7 milhões), casada com o deputado Nikolai Oshanski. Entre as esposas dos governadores destaca a artista dramática Larisa Belobrova, casada com o governador da Região Marítima (no Oriente Distante) que declarou 540,6 milhões de rublos – quase 14 milhões de euros (R$ 30 milhões) – em Vladivostok. A esposa do presidente do Tatarstão, Gulsina Minnijanova, e as dos governadores de Krasnodarks e Rostov, no sul da Rússia, ou Altai, na Sibéria, ganham todas mais do que seus maridos.
Os ministros também têm esposas milionárias. A mais importante é Olga Shuválova, mulher de Igor Shuvalov, primeiro vice-chefe do governo, que declarou 641 milhões de rublos – mais de 16 milhões de euros (R$ 35 milhões) -, cerca de cem vezes mais que seu marido. Esta mulher coleciona carros de luxo (um Jaguar, três Mercedes, uma limosine Zil), além de ter três apartamentos e casas alugadas na Áustria e Reino Unido com 1.479 e 424 metros quadrados, respectivamente. Olga Shuvalova é coproprietária de mais de 15 hectares de terrenos contíguos à futura localização de Skolkovo, o equivalente russo ao Vale do Silício, que é o projeto bandeira da modernização tecnológica do Kremlin. Entre as esposas do Kremlin, destacam-se Natalia Duboviskaya, mulher do vice-chefe da Administração Viacheslav Surkov. Com 35 anos, ganhou mais de 56 milhões de rublos (1,5 milhões de euros ou R$ 3,2 milhões) – quase dez vezes mais que seu marido – em 2009, tem investimentos na produção de goma e está vinculada ao mundo do design.
Outras mulheres afortunadas aparecem nas listas de “filhas de oligarcas” ou “bons partidos” da revista Finance. Uma das herdeiras mais cotadas é Victoria Mijelson, filha única de Leonid Mijelson, diretor-geral da empresa da gás Novatek, cuja fortuna é calculada em 4,6 bilhões de euros (R$ 10 bilhões). Victoria desbancou Anastasia Potanina, depois que o pai dela, o empresário Vladimir Potanin, coproprietário da maior empresa de níquel do mundo, anunciou que destinaria seu dinheiro a causas beneficentes. Outro excelente partido é Gulnara Kerimova, de 20 anos, filha do oligarca Suleiman Kerimov, que pode herdar uma fortuna de 3,7 bilhões de euros (R$ 8 bilhões), e Natalia Rybolovleva, filha de Dmitri Rybolovlev, presidente do conselho de diretores da Uralkali, cuja possível herança está em torno de 3,3 bilhões de euros (R$ 7,2 bilhões). Em troca, Anna Abramovich, de 18 anos, um dos quatro descendentes de Roman Abramovich e sua primeira esposa, Irina, terá que compartilhar a herança com seus cinco irmãos (contando o caçula de Abramovich, fruto da união com Daria Zhukova). Anna pode ficar com 2,2 bilhões de euros (R$ 4,8 bilhões), calcula a Finance.
Por enquanto, entretanto, o protagonismo público da segunda geração dos oligarcas corresponde aos homens, garotos que acabam de sair da universidade e fazem carreiras meteóricas em empresas controladas pelo Kremlin.
Tradução: Eloise De Vylder
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