domingo, junho 06, 2010
Faixa de Gaza: um povo sufocado pelo bloqueio
Faixa de Gaza: um povo sufocado pelo bloqueio
Joana Duarte, Jornal do Brasil - 16:43 - 05/06/2010
RIO DE JANEIRO - A morte de nove civis que integravam a frota de ajuda humanitária a Gaza, atacada pela Marinha israelense na segunda-feira, voltou a centralizar as atenções do mundo sobre o cerco à Faixa palestina, iniciado depois que o movimento islâmico Hamas tomou o controle da região em 2007. Desde então, Israel considera a Faixa uma “entidade hostil”, e alega que o bloqueio à região é necessário para evitar ataques com foguetes contra cidades israelenses, enfraquecer o Hamas, bem como pressionar os palestinos a libertarem o soldado Gilad Shalit, capturado pelo movimento islâmico em 2006. Analistas afirmam, entretanto, que o ataque de segunda-feira serviu para mostrar a ineficiência do cerco, que serve apenas como uma resposta parcial ao contrabando de armas na região, mas que não resolve as outras ameaças.
“Os interesses de Israel seriam mais bem servidos se o bloqueio a Gaza fosse levantado, mas com garantias de que as importações de armas sejam controladas”, escreveu o israelense Ehud Eiran, cientista político de Harvard, em recente artigo para o New York Times. “Gaza é controlada por uma organização que prometeu destruir Israel, no entanto, nunca conseguirá fazê-lo, pois somos muito mais fortes. Se a finalidade do cerco era derrubar o Hamas, falhou terrivelmente. O bloqueio tornou-se apenas uma desculpa usada pelo Hamas para justificar sua ineficiência governamental”. Para Eiran, Israel pode aliviar o sofrimento em Gaza e também criar estratégias eficazes,tecnologias e novas alianças, sobretudo com o Egito, para manter em níveis insignificantes a entrada de armas na região.
Escassez
Devido ao bloqueio, cerca de 80% da população de Gaza depende da ajuda internacional para sobreviver. Segundo dados oficiais, mais da metade dos habitantes vive abaixo da linha de pobreza e pelo menos 40% estão desempregados. Desprovidos de recursos naturais, os palestinos em Gaza sofrem uma escassez crônica de água e quase não tem indústria. De acordo com dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), 61% deles vivem em situação de insegurança alimentar.
Agências humanitárias e altos funcionários da ONU reconhecem que o auxílio prestado à região não é suficiente para suprir as necessidades da população do território, nem para a reconstrução da região devastada por uma operação militar israelense em 2008. Nos últimos dois anos de bloqueio, a quantidade de ajuda que chegou a Gaza raramente atingiu os 20% do total de bens que Israel permite chegar ao território, denuncia a advogada americana Allegra Pacheco, que trabalha para o Programa de Desenvolvimento da ONU (Pnud).
“Recentemente, o Pnud publicou um relatório afirmando que a comunidade internacional não tem sido eficaz em atender as necessidades básicas da população de Gaza, seja por omissão ou intenção”, pontuou Allegra.
Israel ainda mantém uma lista de itens proibidos de entrarem em Gaza que, de acordo com as autoridades de segurança do país, poderiam ser usados para fabricar armas, como canos de metal e fertilizantes. Mas segundo a ONG israelense Gisha, que monitora a passagem de bens para Gaza, muitos outros produtos – que vão de carros e frigideiras a lâmpadas, chocolate, café, papel e computadores – quase sempre têm sua entrada recusada por serem considerados artigos de luxo. “A tentativa de controlar Gaza a partir de Israel, através da alimentação de seus moradores e listas especificas de importações permitidas, mancha a reputação moral do país e aumenta seu isolamento internacional”, argumentou Aluf Benn, colunista do Haaretz. “Todos os israelenses deveriam se envergonhar da lista de bens elaborada pelo Ministério da Defesa, que permite a entrada de canela e baldes de plástico em Gaza, mas não autoriza plantas e coentro. É hora de acharmos tarefas mais importantes para nossos burocratas fazerem além da atualização de listas arbitrarias”.
Apesar de inúmeras solicitações feitas por agências humanitárias ao tribunal distrital de Israel, autoridades se recusam a revelar os critérios que os orientam na determinação de que mercadorias são permitidas ou proibidas na Faixa de Gaza.
“Se qualquer produto pode entrar em Gaza exceto aqueles que poderiam ser usados para a fabricação de armas, então os militares que operam nas passagens de fronteira desconhecem essa política, pois não estão agindo de acordo com ela”, conclui o diretor do Departamento Jurídico da Gisha, Feldman Tamar.
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