sexta-feira, maio 28, 2010

A resposta desse grande artista merece uma reflexão atenta! E ainda há quem queira essas mazelas para o nosso País!

O jornal O Globo publicou no Segundo Caderno do dia 05 de março de 2010 uma ótima entrevista com o barítono brasileiro PAULO SZOT que venceu o Prêmio Tony, em 2009, na categoria melhor ator em musical, em Nova York (EUA). Ele foi indicado ao prêmio por sua atuação no musical "South Pacific", que ganhou sete prêmios no Oscar do teatro dos EUA. Pois agora, ele será o segundo brasileiro a estrelar uma ópera no Metropolitan Opera House (a primeira foi Bidu Sayão). Ele interpretará a personagem Kovalyov, protagonista da ópera "O nariz", de Shostakovich. A entrevista foi feita por Eduardo Frdkin e me chamou a atenção a resposta que o barítono deu a uma das perguntas. Nessa resposta há uma bela análise conjuntural de uma época e lugar. E é interessante que nós, brasileiros, assimilemos bem a essência do que foi relatado.

PERGUNTA: Shostakovich foi perseguido a vida toda pelas autoridades soviéticas e foi acusado de ¨formalismo" (que, na teoria, é a valorização da forma no lugar do conteúdo, mas na prática, era qualquer coisa que Stalin e seus supervisores da vida cultural não tivessem a capacidade de entender ou julgassem de caráter antipopular). Você tem uma forte ligação com a Polônia, que também sofreu muito com a opressão soviética. Isso faz com que você tenha algum sentimento especial em relação à Shostakovich ou a atuar em "O nariz"?

RESPOSTA DE SZOT: Eu vivi na Polônia durante oito anos e guardo memórias de grandes incentivos culturais apesar das enormes carências fundamentais naquele momento, naquela sociedade. Marcou-me, por exemplo, a dificuldade dos poloneses de viajar além dos países da Cortina de Ferro, portanto a falta de liberdade. Além disso, havia o racionamento de vários produtos de alimentação e higiene. Obviamente, minha experiência como estudante estrangeiro não se comparava à complexidade da realidade de Shostakovich e de várias outras pessoas que viviam dentro daquele regime. Gogol (autor da história "O nariz", que inspirou a ópera) retrata nesse conto vários absurdos vividos por Kovalyov (personagem principal do enredo) e a dificuldade de ser compreendido por uma sociedade extremamente burocrática. Muitos dos relatos de Gogol remetem a situações que vivi na Polônia e que realmente existiam naquele período. Lembro-me das filas em todas as lojas, da burocracia nas repartições públicas e da má vontade de alguns funcionários. Porém, o mais interessante é que, mesmo com a censura e as dificuldades daquele momento, a arte sublime de Shostakovich – assim como de vários outros artistas que viveram situações parecidas – sobrevive, provando que a genialidade está acima de qualquer imposição.

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