sexta-feira, setembro 17, 2010

ORIENTE MÉDIO Diálogo sob bombardeios

ORIENTE MÉDIO
Diálogo sob bombardeios
Construções de colônias judaicas na Cisjordânia e tentativa do Hamas de sabotar encontro entre Hillary e líderes ameaçam processo de paz. Após ser alvo de foguetes e morteiros, Israel ataca a Faixa de Gaza, matando palestino
Viviane Vaz – Correio Braziliense
 As negociações de paz entre Israel e Palestina devem prosseguir sob os auspícios dos Estados Unidos, mas cambaleiam com atos de violência, teimosia e desânimo na região. Ontem, enquanto israelenses e palestinos trocavam foguetes e bombas na fronteira com a Faixa de Gaza, a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, se reunia em Jerusalém com o premiê israelense, Benjamin Netanyahu; o presidente Shimon Peres; e o líder da Autoridade Palestina (AP), Mahmud Abbas. No fim da noite, a mídia israelense revelou mais um balde de água fria no processo: Netanyahu teria dito a Abbas que manterá as construções de colônias na Cisjordânia — a questão dos assentamentos judaicos é ponto crucial para o acordo de paz. Segundo uma fonte do alto escalão da AP, que pediu para não ser identificada, Abbas teria respondido: “Se a colonização prosseguir, colocarei fim às negociações”.
Na fortificada residência de Netanyahu, Hillary reconheceu que a questão dos assentamentos israelenses no território palestino da Cisjordânia ainda é um grande impasse. Ela elogiou, porém, o comportamento de Netanyahu e de Abbas. “Eu acredito que eles estão sérios sobre chegar a um acordo. Este é o momento e são eles os líderes que deverão tomar as decisões difíceis”, disse a chefe da diplomacia norte-americana. O encontro permitiu que Abbas visitasse a residência oficial do premiê israelense pela primeira vez, desde que Netanyahu chegou ao poder, há um ano e meio. O presidente palestino brincou que “eles não se viam há algum tempo”. O palestino já tinha sido recebido pelo antecessor, Ehud Olmert. “Hoje, retorno a esta casa após longo período de ausência para levar adiante as conversações e negociações, com a esperança de chegarmos a uma paz eterna em toda a região, e especialmente à paz entre os povos israelense e palestino”, escreveu Abbas, no livro de visitantes.
Em coletiva de imprensa, Peres afirmou que “quanto mais rápido” se moverem, melhor será para todas as partes. “Há alguns meses, não pensávamos que podíamos ir às conversações diretas, mas aconteceu”, completou Peres. Questionado sobre se houve avanço nas negociações, Netanyahu respondeu que era “muito trabalho”. “Estou muito satisfeito pela oportunidade de receber o presidente Abbas e a secretária Clinton aqui para buscar a paz, e acho que precisamos continuar com o trabalho”, desconversou.
Retaliação
O grupo fundamentalista islâmico Hamas lançou dois foguetes e nove morteiros contra o sul de Israel, numa tentativa de sabotar o processo de paz lançado pelos Estados Unidos(1). Os militares israelenses, por sua vez, devolveram com um ataque aéreo contra um sistema de túneis supostamente usado para contrabando, na Faixa de Gaza. A ofensiva deixou um palestino morto e quatro feridos. Eles alegaram que os palestinos usaram bombas de fósforo branco, proibidas pela Convenção de Genebra sobre Armas Convencionais de 1980. A denúncia foi reforçada, mais tarde, pela polícia israelense. “Nós podemos confirmar que dois dos nove morteiros continham fósforo”, disse o porta-voz da polícia, Micky Rosenfeld, ao jornal The Jerusalem Post.
Segundo o jornal israelense Yedioth Ahronoth, esta seria a primeira vez que os milicianos palestinos utilizam este tipo de arma. O fósforo branco pode provocar a morte por queimadura, inalação ou ingestão. O Exército israelense também foi acusado de disparar bombas de fósforo branco durante a ofensiva militar realizada sobre Gaza, entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009. Na época, após forte repercussão internacional, o governo de Netanyahu admitiu o erro.
Pessimismo
Nas ruas de Israel, a maioria dos habitantes está desanimada com o processo de paz. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Yedioth Ahronot, apenas 36% dos israelenses creem que Netanyahu tenha intenções reais de alcançar um acordo. Mais da metade dos entrevistados (56% ) acreditam que suas atitudes se devem à pressão dos EUA. Por outro lado, os israelenses também estão pessimistas quanto a Abbas. Apenas 23% dos israelenses apostam que a Autoridade Palestina seja capaz de firmar um acordo com Israel.
Alerta de atentado
A Embaixada dos Estados Unidos em Amã alertou ontem sobre a possibilidade de um atentado terrorista em Ácaba, na Jordânia, e recomendou aos cidadãos norte-americanos que evitem a cidade. A representação diplomática anunciou que recebeu informação de uma fonte confiável de que um ataque terrorista atingiria a cidade, perto da fronteira da cidade litorânea israelense de Eilat. “Todos os cidadãos norte-americanos residentes em Ácaba devem evitar o centro da cidade e a zona portuária, na medida do possível”, completa um comunicado oficial. O anúncio irritou o governo israelense, que respondeu que o alerta deveria se limitar a Ácaba. As autoridades jordanianas disseram desconhecer a suposta ameaça de ataque.

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